A guardiã do gelo escrita por Kashinabi Chan


Capítulo 73
Alguém roubou a deusa do fogo


Notas iniciais do capítulo

Hey Batatinhas Ambulantes o/

Agora sim to sem ideia do que escrever aqui kk mesmo assim, vamos fingir que estão lendo algo interessante aqui nas notas, tudo bem? hasuhsausahuh

No capítulo de hoje - o sumiço da pedra Elemental x.x

Tenham uma boa leitura o/



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Eu não conseguia acreditar que havia jogado água na deusa do fogo — e no rosto dela ainda por cima! Isso acabava entrando na minha lista de "coisas insanas que fiz em deuses". Nessa lista também tínhamos o soco bem dado na bochecha da deusa Alexia.

A morena passou as mãos pelo rosto, tirando a água embora boa parte dela tenha evaporado ao atingir sua pele. Seus olhos avermelhados recaíram sobre mim e assim que pisquei, ela simplesmente apareceu na minha frente — maldito teletransporte. Sua expressão estava neutra.

— Por quê? — questionou devagar.

— E-Eu juro que não tinha a intenção de te acertar — as palavras embolaram na língua. Fiz uma reverência desajeitada. — Era pra acertar a garota e...

— Minha filha?

Engoli em seco. Só estava piorando a situação. Caí de joelhos aos seus pés e neguei freneticamente com a cabeça.

— Me perdoa. É que ela estava prestes a matar meu amigo.

Graciosamente ela olha para trás, vendo a garota ruiva ainda bem próxima de Malek, com a foice na mesma posição. A ordem de sua mãe parecia tê-la feito hesitar, mas talvez fosse só uma questão de tempo até ela criar novamente coragem para cortar o pescoço dele.

— Latakara, eu disse para não mata-lo. Irá mesmo me desobedecer? — a voz de Héstia permanecia serena.

A ruiva levantou a foice, encolhendo-a por fim. Ela se levantou, deixando Malek deitado em paz no chão. Comprimi os lábios, pensando na possibilidade dele já estar morto.

— Perdão mamãe — disse a garota.

— Não gosto de conflitos, por isso te dei esse papel de ser guardiã da pedra, mas não quero que mate aquele da sua própria família. Isso é contra minha própria natureza.

Por isso ela impediu a morte de Malek. Ela também é deusa dos lares e famílias. Não é certo que um deus vá contra a própria natureza, meus pensamentos até que faziam algum sentido.

— Veja, Latakara, ela já está com o colar quase completo. Dê a pedra para ela.

Aquela fala de Héstia surpreendeu tanto a mim quanto a garota que supostamente era sua filha. Quer dizer que eu ganharia a pedra Elemental do fogo tão fácil assim? Franzi o cenho em desconfiança.

— Mãe, a senhora tem certeza? — sua filha também estava desconfiada.

A deusa afirmou com a cabeça e a expressão de Latakara ficou ainda mais rígida.

— Como quiser. — Ela fez mesura. — Vamos, filha de Quione e Zeus. Levarei vocês ao templo.

— Vou ver como está Malek primeiro. E pro seu bem, espero que ele esteja vivo.

Trocamos olhares mortais. Ela havia pegado minha "sutil" ameaça.

Caminhei com Utae ao meu lado na direção do garoto ruivo deitado no chão. Então me abaixei para ver seu estado. Sangue seco cobria seu rosto juntamente com pó negro. Seus olhos estavam fechados e alguns rasgos enfeitavam seu traje. Toquei seu rosto, percebendo o quanto estava quente e de repente, sua mão livre agarra meu pulso enquanto seus olhos alaranjados encontram os meus em alerta. Seu olhar suaviza ao encontrar o meu.

— Se sente vivo? — questionei com um pequeno sorriso.

Fracamente, ele me devolve o mesmo enquanto largava meu pulso.

— Não sei se isso é sorte ou azar. — Malek tossiu.

— Depois discutimos sobre isso. Preciso que se levante agora. Vão nos levar até à terceira pedra.

Percebi ele assentindo antes de eu lançar um olhar para Utae para que ele me ajudasse a erguê-lo. Aos poucos fomos colocando Malek de pé. Ele se apoiou em nós dois e nisso percebi que sangue ainda escorria do seu rosto. Passei a mão livre pelo corte para limpar o sangue. O corte ainda estava aberto e no momento não tínhamos nada para tapá-lo.

— Pode sugar um pouco da minha energia agora. Você merece — digo.

Não demora até eu sentir um puxão na linha que nos ligava e um tanto da minha energia de fato sendo sugada. Logo o corte se fechou e ele pareceu com mais força para se sustentar sozinho.

— Eu seguro ele agora, Kary — disse Utae.

Confirmei com a cabeça e o soltei. Vi Latakara revirando os olhos com toda a cena, mas enfim assumindo a frente do grupo.

— Bom, sem o meu cão ainda vai demorar um tempo até chegarmos lá — disse numa clara ignorância. — Não sei se esse seu poderzinho da água vai aguentar muito tempo — em seguida veio o deboche pra mim.

— Pode ficar tranquila que ainda tem muito poder dentro da minha pedra Elemental — abusei da ironia.

A ruiva soltou um suspiro alto e seguiu em frente, conosco bem atrás.

— Obrigada Héstia por... — eu ia dizendo, virando o rosto para encará-la.

Porém em segundos me dei conta que já não havia deusa alguma com a gente.️

Possivelmente havia se passado horas desde aquele ponto onde partimos juntamente com a filha de Héstia. Malek tinha melhorado bastante e já caminhava sem a ajuda de Utae. Nós três seguíamos atrás de Latakara e bem à frente eu já conseguia ver um templo enorme feito de pedras negras com lava escorrendo em linhas pela mesma.

Um lago de lava enfeitava a entrada e de longe eu já conseguia sentir o calor. A evaporação da água debaixo dos meus pés aumentou e mentalmente eu me desculpava intensamente com Poseidon por estar abusando do seu poder. Não sabia até quando ele poderia me sustentar daquela maneira.

Pedras avermelhadas muito parecidas com as que Héstia usava, enfeitavam também as paredes negras, completando o visual sombrio e tenebroso. Se ela é a deusa dos lares, ainda estou procurando o que há de aconchegante nesse lugar, pensei enquanto enfim entrávamos no que deveria ser o Templo de Héstia.

Ele era redondo, sustentado por grosas colunas que circundavam todo local. Já tinha lido algo sobre o mesmo antes, mas ainda assim achava o formato do templo intrigante. Geralmente esse povo antigo preferia coisas retangulares e aquele era exótico por ser redondo.

Apesar de ainda manter a água resfriando meus pés, por causa de tamanha quentura da pedra que cobria o chão, conseguia sentir ainda assim o calor. Utae agora usava seu poder para flutuar. Gotas de suor escorriam pelo seu rosto — o meu também era uma fonte de suor.

Por dentro, o templo não era muito grande. Não tanto quanto eu pensava que fosse. No centro dele havia um altar de pedra negra onde Héstia se encontrava com as pernas cruzadas feito indiana e os seus olhos permaneciam fechados. Fogo brincava ao seu redor como se ela fosse a própria chama. Ela parecia estar meditando.

Devagar seus olhos avermelhados foram se abrindo e nos encarando aos poucos. A mesma expressão neutra habitava o rosto da deusa do fogo.

— O que faz aqui, minha filha? — questionou a deusa calmamente.

Aquele altar onde ela estava sentada a deixava num tamanho sub-humano, dando um ar ainda maior de soberania. Aquilo me dava uma enorme vontade de me prostrar e adorá-la pela sua grandeza.

— Trouxe aqueles que a senhora pediu. Você disse para dar a pedra Elemental a eles.

O fogo que circundava o corpo de Héstia parou de imediato. Até mesmo a pedra no centro da sua testa parou de brilhar com tanta intensidade.

— Eu nunca disse tal coisa. Era para proteger minhas terras enquanto estava na minha meditação centenária.

— Mas... eu posso jurar que foi a senhora mesmo quem pediu.

Héstia nega com a cabeça.

— Por que eu daria a pedra Elemental, aquela que me sustenta, de bom grado para estranhos?

A ruiva franziu o cenho e até eu não estava entendendo o que estava acontecendo. Eu também havia visto a própria Héstia dizer que nos dava a permissão para ficar com a pedra e agora a mesma diz o contrário?

— Com licença, mas ela tá dizendo a verdade — digo. — Héstia... você, nos permitiu pegar a pedra Elemental por eu já estar quase com o colar completo.

Os olhos avermelhados da deusa recaíram sobre as duas pedras que circulavam o floco de neve no centro do meu colar. Ela ficou alguns segundos me estudando.

Héstia desceu do altar — nisso seu tamanho diminuiu até ela estar numa altura humana — e eu senti o local ficar mais quente. Então, ela se abaixou e me surpreendi que ela levantou uma espécie de tampa que ficava no local onde ela se sentara segundos atrás. De lá ela tirou um pequeno baú de pedra negra. Com suas mãos morenas, a mesma abriu o baú que se mostrou apenas com uma almofada aveludada em vermelho.

— Mamãe... — Ao olhar para Latakara, vi que seus olhos estavam arregalados. — A pedra sumiu.

A deusa se surpreendeu e decidiu conferir, vendo que era verdade.

— Qual de vocês me roubou? — questionou e embora estivesse séria, sua voz não deixou de ser serena.

— Tenho certeza que nenhum de nós — garantiu Utae.

— São os únicos que entraram na minha presença. O ladrão está entre vocês.

Neguei com a cabeça, insistindo de que era ela quem estava se enganando conosco.

— Quem mais poderia ser então? — Héstia questionou a ninguém em especial.

Comprimi os lábios, tentando colocar o cérebro pra funcionar. Não tinha como algum de nós termos roubado. Era a primeira vez que entrávamos naquele templo. A única pessoa que mais teve acesso a ele foi a sua própria filha.

— Bem, quem mais entrou aqui foi a Latakara — argumentei.

O olhar avermelhado de Héstia caiu sobre a filha.

— Você me traiu? — perguntou.

A ruiva balançou a cabeça freneticamente e se ajoelhou em desespero.

— Sabe que eu nunca teria coragem de fazer tal coisa — falou em sua defesa. — Me conhece bem, mamãe. Tanto que fui a escolhida para ser sua guardiã.

Um silêncio perturbador se seguiu por alguns segundos. Logo uma adaga de fogo começou a surgir entre os dedos da deusa enquanto seu olhar flamejante se prendia em Latakara.

— Uma devota nunca pode trair aquela que jurou seguir. — Assim que a adaga tomou uma forma nítida no fogo, Héstia a ergueu, caminhando até a filha. — Quando aceitou ser aquela que me protegeria, julguei que confiar minha eternidade nas suas mãos seria o certo a se fazer.

Eu, Malek e Utae assistíamos à cena, paralisados. Não era bom que interferíssemos.

— Mas por sua traição, precisa aceitar o destino que escolheu.

— Não mamãe. — Lágrimas deslizaram pelo rosto de Latakara. — Jamais a trairia dessa forma. É armação desses novatos.

— A princesa do gelo disse uma coisa certa: você foi a única que teve acesso ao meu templo. A única culpada. Aguente o fardo.

Latakara tapou o rosto com as mãos, continuando a chorar. Meu cérebro não entendia o porquê dela não estar fazendo nada para impedir que a mãe a matasse. Se ela puxasse a foice e lutasse contra a deusa, talvez ainda teria chance de sobreviver, mas entregar-se assim de bom grado... não fazia sentido.

— Se a senhora me julgou culpada — a ruiva tirou as mãos do rosto, fungando — Então não tenho do que reclamar do seu julgamento divino.

Ela se curvou, ainda ajoelhada, jogando os cabelos ruivos para frente, deixando seu pescoço livre para ser atravessado com a adaga flamejante. Héstia ficou um bom tempo com a arma perto da pele de Latakara e toda aquela demora só me deixava mais nervosa. Será que ela faria com que fôssemos as próximas vítimas alegando-nos cúmplices?

Precisamos dar o fora daqui, decidi dizer mentalmente ao Malek.

— Malek — a deusa o chamou. — Faça isso por mim. Minhas mãos devem estar limpas do sangue de um sacrifício. — Me surpreendi com a visível dor que foi carregada naquelas palavras. Possivelmente Héstia não tinha coragem o suficiente para matar a própria filha.

Malek demorou uns instantes para assentir. A deusa lhe entregou a adaga flamejante e deu alguns passos para trás. Finalmente consegui notar seu olhar demasiado triste. Ela não queria fazer aquilo, dava pra sentir, mas os deuses sempre precisam cumprir seus juramentos, por isso ela está cumprindo "à distância" a consequência desse juramento.

Num golpe certeiro, Malek separou a cabeça do corpo da garota, fazendo ambos caírem num baque surdo no chão. Sangue começou a manchar o chão do templo, porém, esse sangue começou a pegar fogo e a se transformar rapidamente em fumaça visivelmente cinza que se guiou por si só até o teto de pedra. Lá ele se espalhou pelo mesmo, ficando invisível por fim. O corpo da garota foi transformado num fiozinho ouro momentos depois.

— Obrigada por fazer esse sacrifício por mim — agradeceu Héstia, embora seu olhar estivesse seriamente triste. Ela ainda olhava na direção de onde havia o corpo caído de Latakara.

Então a deusa franziu o cenho.

— Onde está a pedra? Deveria ter aparecido.

Ela caminhou até o fiozinho dourado, olhando-o atentamente.

— Se estava com ela, deve ter escondido em algum lugar — sugeriu Utae.

— Bom, se prometi a pedra a vocês, sinto muito. Não há nada que eu possa...

A deusa teve sua frase interrompida quando desapareceu de repente. Arqueei uma sobrancelha sem entender. Então o floco de neve no centro do meu colar piscou e eu senti uma pinicada no estômago. Isso sempre significava que havia algo errado.

— Alguém realmente roubou essa pedra — digo. — E não foi Latakara.


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Notas finais do capítulo

Iiiiiiih, parece que eles têm um mistério para desvendar agora x.x quem será que roubou essa pedra Elemental? o.o

No próximo capítulo - a morte se aproxima para Kary...

Até o próximo capítulo o/



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