A guardiã do gelo escrita por Kashinabi Chan


Capítulo 70
Malek querendo dar uma de herói


Notas iniciais do capítulo

Hey Batatinhas Ambulantes o/

A sensação de ir postando todos os capítulos chega a dar alívio no peito... Sabe, aquela sensação de "dever cumprido" hasuhsauahsuh

No capítulo de hoje - uma garota em perigo o.o

Tenham uma boa leitura o/



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Engoli em seco e olhei pra trás, querendo saber se os outros dois me acompanhavam. Utae estava na árvore anterior a minha, juntamente com Malek. Cheguei pro lado e deixei que os dois chegassem até a árvore onde eu estava. Utae pulou primeiro e Malek veio em segundo. Aproveitei essa oportunidade para caçoar do último:

— A grama não estava tão quente, não é mesmo?

Malek pareceu rir.

— Não vou ir andando lá em baixo sozinho. Daqui de cima dá pra ver tudo.

— Não vem com desculpinha, Malek. Talvez o filho do fogo não aguente o calor como eu imaginava.

Ainda assim ele achou graça do meu deboche.

— Ah, ele aguenta mais calor do que você imagina. — E recebi uma piscadinha de brinde.

Tive que revirar os olhos naquele instante.

Focalizei a próxima árvore que seria nossa hospedeira, dei o impulso e novamente saltei em sua direção, agarrando um dos galhos. Pelo jeito teríamos um longo caminho até chegarmos na casa da terceira pedra Elemental.

— Então vamos pra dentro de um vulcão? — questionou Malek, possivelmente reparando agora que caminho estávamos tomando.

Afirmei com a cabeça enquanto pulava para próxima árvore. Eu já estava cansada e bolhas já surgiam nas minhas mãos por causa da temperatura da árvore. Suspirei, tentando não prestar atenção no quanto minhas mãos estavam avermelhadas e tomei impulso, parando na árvore seguinte. Olhei pra frente, vendo que faltavam diversas árvores até o vulcão de fato.

— Nesse ritmo não chegaremos nunca — choraminguei.

Faltava mais alguns metros até a lava também nos alcançar. Eu me perguntava o que aconteceria caso ela passasse por baixo de nós. Boa coisa eu tinha certeza que não daria. Na verdade, eu tinha medo de descobrir qual seria o resultado.

Pulei para próxima árvore e logo comecei a pensar que naquele lugar havia silêncio demais. Odiava pensar sobre esse detalhe pois onde há silêncio demais, há algo errado quase na certa. Novamente me arrisquei a olhar ao redor, meio que querendo achar algo errado. Se eu ao menos pudesse ver, talvez tivesse alguma ideia de como lidar.

— Kary, você tá vendo aquilo ali? — questionou Malek.

Sua pergunta me fez arquear uma sobrancelha. Ele aponta numa direção e logo consigo ver um ponto vermelho bem próximo da lava que se aproximava daquele ponto.

— SOCORRO! — o grito feminino se fez ouvir.

— Acho que ela tá em perigo — disse Utae.

— "Acho"? Ela tá em perigo, cara! — Nunca tinha visto um Malek tão alarmado.

— Malek, calma — digo. — Não vai dar tempo de chegarmos nela.

Sua expressão se tornou séria e quando ele pulou numa árvore ao lado, soube que tinha grandes chances dele ir mesmo até o local da garota para salva-la.

— O que você tá fazendo? — perguntei um tanto nervosa. — Ficou maluco? Não sabemos nem quem é!

— Eu? Maluco? Você faz isso o tempo todo e eu sou o maluco?

Fiquei alguns segundos encarando aqueles olhos alaranjados, surpresa. Dias atrás ele estava sendo bacana comigo, arrisco dizer até sendo um amigo, mas de repente pareceu tudo virar de cabeça para baixo num segundo.

Minha expressão também ficou endurecida.

— Não sei o que diabos deu em você, mas se quer mesmo se matar por quem nem conhece, vai em frente. Você nunca iria fazer falta mesmo — carrego a última frase de sarcasmo.

Sua resposta seguinte foi me dar as costas e continuar o caminho por cima das árvores na direção daquela garota, mulher, ou seja lá o que era. Tomara que seja um monstro que o devore numa abocanhada só, pensei um tanto brava pelo ocorrido.

— Vamos atrás dele? — perguntou Utae, subindo na minha árvore.

Comprimi os lábios, vendo Malek se arriscando cada vez mais para ir na direção da garota.

— Só por precaução — digo. — Deve ter batido a cabeça pra fazer uma loucura dessas.

Fui a primeira a tomar impulso na árvore que Malek havia pulado primeiramente. Agarrei o galho, sendo seguida por Utae. Malek se movia mais depressa que a gente por estar acostumado com todo aquele calor. Já minhas mãos ardiam e algumas bolhas haviam até estourado! Linhas de sangue já a manchavam.

— Olha, não querendo te deixar mais brava, mas... ele tem um pouco de razão.

Pulei pra outra árvore enquanto esperava que Utae concluísse o que queria dizer.

— Você já fez coisas assim.

Suspirei alto, indicando que não queria muito responder àquela afirmação.

— Vamos só tirar Malek dessa enrascada, tá legal? Depois eu escuto seu sermão com prazer — não consegui evitar a ironia na última frase.

Continuamos o caminho pelas árvores, tomando bastante cuidado para não cairmos pois a lava cada vez mais se aproximava de nós. Não demorou muito até eu e Utae chegarmos perto de Malek o suficiente para vermos ele encarando a garota de cima da árvore queimada. A garota estava sentada na grama carbonizada, parecendo esperar a lava engoli-la, embora estivesse com uma expressão aterrorizada.

— Malek, para com isso! — gritei.

Faltava apenas centímetros pra lava alcança-la. O filho de Héstia nem sequer virou-se para me ver. O nível dela brilhava em  vermelho, indicando que ela era da nossa equipe adversária.

— Ela vai matar você! — tentei avisá-lo.

Ah, como eu estava com um ódio mortal do Malek. Ele queria mesmo se sacrificar por quem nem sequer conhecia? Aquilo era simplesmente um absurdo!  Eu mesma quando tentava salvar alguém, tinha consciência dos riscos... não é?

Bufando, pulei na árvore que ele se encontrava, olhando fixamente para garota. Seus cabelos eram vermelhos e eu tentei procurar sua tatuagem, mas dali era meio complicado de enxergar algo que deveria ser tão pequeno. Quando eu ia segurar o Malek para que parasse com toda aquela loucura, ele pulou na grama queimada e correu até ela. Entretanto, acabou dando de cara com uma parede invisível que brilhou de maneira bruxuleante quando seu rosto a tocou. Ele balançou levemente a cabeça por causa do choque e voltou a tocar a parede. Nisso percebi que não passava de uma jaula encantada e invisível.

Em questão de no máximo dois minutos a lava a engoliria para sempre. Esse pensamento me fez pular naquela grama e ignorando a quentura, fiquei ao lado de Malek, dando um tapa em seguida no seu ombro.

— Chega! — gritei, batendo outra vez em seu ombro. — Ela vai morrer, não importa o que você faça!

Fiquei atônita quando Malek me empurrou, me fazendo cair na grama. Minha pele ardeu e eu gemi baixinho. Ganhei mais bolhas de presente, agora nos braços. Ele nem sequer me encarou depois de ter me empurrado. Quando seus olhos encontraram os meus, foi apenas para dizer:

— Desfaça o feitiço.

— Que feitiço? — questionei, me obrigando a levantar.

— Da jaula. Quebre ela.

Fechei a expressão.

— Não vou te obedecer!...

Então acabei olhando pra garota presa que estava com os olhos marejados e o rosto molhado. Lhe restava ainda alguns segundos de vida. Revirei os olhos. Eu queria negar a ajuda, só que parte de mim queria ajudá-la mesmo que fosse da equipe inimiga, afinal, seria algo que eu gostaria que fizessem por mim um dia.

— Tá bom, eu faço — digo num tom de rendição, abaixandodo-me para enxergar melhor.

Fazendo uma careta, usei a unha para rasgar um pouco da pele até sair sangue. Então comecei a usá-lo para escrever um feitiço: a-etrebil. Ele brilhou em azul e penetrou a jaula, acabando por ilumina-la. Por um segundo pensei que tínhamos conseguido salva-la, entretanto, quando a mesma tentou sair, a jaula continuou com aquele brilho bruxuleante.

Antes que eu pudesse tentar outra coisa, a garota começou a gritar e levou alguns segundos até eu perceber que a lava havia chegado até ela e bastava eu andar pro lado para me queimar também. Malek me puxou, pro lado, vendo a lava se aproximar de nós.

A garota continuava a gritar enquanto a lava tomava conta de seu corpo. Aquilo fez minha adrenalina aumentar, obrigando meu coração a acelerar pelo medo.

— Deixa pra lá. — A expressão de Malek estava dura.

Suspirei alto e acabei sendo puxada por ele mais uma vez, na direção da árvore mais próxima. Acabei subindo primeiro, puxando ele junto. Ao olhar na direção onde ficava a jaula da garota, percebemos que nada mais restava a não ser a lava vindo devagarzinho na nossa direção.

Quando me preparei para pular na próxima árvore a nossa começou a balançar. Ao olhar pra baixo, percebo que a lava havia alcançado o tronco. Meu coração começou a pular no peito, mas Malek ordenou:

— Pula!

Engoli em seco e pulei de mal jeito, quase não conseguindo agarrar o galho. Malek fez o mesmo e nós dois nos ajudamos a ficar de pé no grande galho ao qual havíamos agarrado. O estranho é que ele poderia ter caído na lava, mas preferiu não o fazer. Diante dessa hipótese, decido perguntar enquanto me preparava para saltar para próxima árvore:

— Por que não anda pela lava?

— Porque não tenho certeza se sou resistente a ela.

Então eu pulei pra próxima árvore e bastou ele pular para minha atual, para que a antiga fosse derrubada.

— Se a lava é feita de fogo e eu sei que é, então sim, provavelmente você é resistente a ela.

— Sim, provavelmente, mas e se não for? Prefiro não arriscar.

Pulo para próxima árvore e o encaro assim que consigo ficar de pé na mesma. Cruzo os braços. Ele pula para minha árvore novamente e quando nos preparamos para próxima, a árvore começa a balançar de um jeito terrível. Olhei pra seguinte e me surpreendi por ela também estar balançando. Mesmo assim decido arriscar e pulo. Só que ela acaba caindo com a ajuda do meu peso e eu logo grito desesperada. Fiquei em pé no galho enquanto a árvore começava a pegar fogo por causa da lava.

Não demorou muito até eu começar a suar. Meu coração voltou a acelerar no peito.

— Kary! — ouvi Malek gritar.

A parte do galho se desgrudou do tronco e foi deslizando como um mini-barquinho, me deixando ainda mais desesperada. Um pouco de alívio correu por mim ao avistar Malek, só que ele ainda permanecia na árvore, olhando a lava atentamente. Possivelmente estava pensando nas suas possibilidades de sobrevivência.

Mais bolhas surgiram nos locais já feridos e os segundos pareciam se arrastar enquanto eu praticamente era levada lentamente por aquele fogo líquido. Então Malek toma a decisão e pula na lava, correndo na minha direção em seguida ao perceber que não havia morrido. Pelo menos não de imediato.

Faltando bem pouco pra árvore se desfazer, sua mão encontrou a minha.

— Vou precisar carregar você.

— E o que você tá esperando? — digo alarmada.

Não precisou de nenhuma outra palavra para que Malek me puxasse para si, rapidamente, mas ao mesmo tempo se preocupando com a lava que já batia pouco abaixo do seu joelho. Fiquei em seu colo como se fosse um bebê gigante.

— Juro que imaginava você mais leve.

— Tá me chamando de gorda? — digo um tanto ofendida.

— Não. Estou dizendo que a expectativa foi diferente da realidade.

— Tá. Já entendi. Estou gorda. — Revirei os olhos.

— Eu não disse que você tá gorda.

— É a armadura que me deixa pesada!

Malek suspirou alto e decidiu terminar a discussão. Aquela cena seria engraçada se eu não tivesse grandes chances de morrer caso ele me soltasse. Era como se ele fosse "meu herói". De novo.

— Consegue ver onde ele está? — questionei me referindo a Utae.

Malek negou com a cabeça.

— Quer dizer que o perdemos? Droga, devia ter deixado você se virar com aquela garota.

Por alguns segundos Malek acabou ficando em silêncio e eu aproveitei esse momento para tocar seu colar que era de uma chama. Frazi o cenho quando senti que o mesmo estava quente. Será que era por causa do contato dele com o fogo...? Só que senti algo mais do que aquilo. Um poder começou a sair do seu colar e a entrar em minhas veias sem nem sequer pedir permissão. Nisso, minha visão escureceu e quando voltei a abrir os olhos, estava naquele chão terroso e naquele céu avermelhado. A Quarta Dimensão.

Olhei pros lados, querendo entender o motivo de ter ido parar ali, afinal, nada tinha feito. Ou será que Malek aproveitou a oportunidade pra me matar e me jogou na lava? Entretanto, logo eu o avistei de pé, segurando o próprio colar e com o olhar vazio.

Me levantei devagar, caminhando até ele com curiosidade. O rodeei, querendo descobrir o que diabos tinha acontecido. Então comecei a ouvir duas risadas ternas femininas. Isso me fez virar na direção das vozes. Uma eu sabia exatamente quem era: Quione. Já a outra, com seus cabelos brilhantes na cor do fogo, roupas vermelhas, olhos da mesma cor que os cabelos e pele morena, eu imaginava que fosse Héstia, a deusa do fogo. Mãe de Malek.

— O que vocês duas estão fazendo aqui? — questionei.

As duas se entreolharam. No momento, quem mais me chamava a atenção era Quione. Seus vestidos antes esvoaçantes, estavam rasgados. Sua pele cheia de cicatrizes e seu cabelo cortado de maneira irregular. Naquele momento ela não parecia ser tanto uma deusa, já Héstia...

— Você sempre faz a Conexão sem querer, não é? — Quione estava achando graça.

— Conexão? Quê? — eu estava incrédula.

— Você acabou de fazer uma Conexão com meu filho — disse Héstia, meneando a cabeça na direção do Malek.

Soltei uma risada nervosa.

— Você só pode tá de brincadeira com a minha cara...

— É sério — falou Quione. — E você já sabe o que tem que fazer. Ou vai acabar matando ele. Não quer perder mais um membro da equipe, quer?

Abri a boca para falar um "sim" bem enfático, porém, lembrei que Héstia estava bem ali e eu acho que ela não gostaria muito de me ver querendo matar seu filho. Respirei fundo, sabendo que pelo olhar das duas, estava sendo obrigada a completar aquele maldito ritual.

Caminhei até Malek que segurava o colar coloquei minha mão sobre a sua, sentindo o calor emanar de si. Comprimi os lábios, evitando alguns gritos que estavam ansiosos para escapar. As bolhas nas minhas mãos ainda ardiam e aquele calor só piorava a dor. Quando tudo parecia mais do que insuportável, as linhas pretas começaram a pinicar minha pele, logo ficando visíveis. Ainda lembrava muito bem de toda aquela sensação incômoda. O pior é que eu tinha total certeza de que as duas deusas me observavam atentamente para ver se eu não cometeria algum erro.

Quase agradeci em voz ao sentir a dor passar. As linhas já tinham virado bruxuleantes tatuagens entre os meus dedos. Ao soltar seu colar, o ruivo balançou levemente a cabeça e me encarou, querendo saber o que tinha acontecido. Num piscar de olhos estávamos de volta a todo aquele lugar cheio de lava, porém, nossos olhares ainda estavam focados um no outro.

— O que foi aquilo? — questionou Malek, claramente confuso.

Apenas ergui minha mão pra que ele visse as linhas negras.

— Acabamos de fazer uma Conexão. Somos obrigatoriamente parceiros agora.


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Notas finais do capítulo

huashsauhasuhas então né, quando a gente menos espera, algo ruim acontece com a Kary kk bem, isso é o que ela acha, né? Duvido que os leitores que shippam esses dois acham que o que acabou de acontecer é algo ruim e.e

No próximo capítulo - dedos queimados kk

Até o próximo capítulo o/



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