A guardiã do gelo escrita por Kashinabi Chan


Capítulo 7
O resgate e o estranho


Notas iniciais do capítulo

Hey Batatinhas Ambulantes o/

Como estão? Gente, semana passada eu acabei esquecendo de dizer que era meu aniversário kkk, como o erro foi meu, juro que estou aceitando "feliz aniversário" atrasado kkk sério, desculpa xD

E pras pessoas que lembraram ou sabiam, obrigada ♥

No capítulo de hoje - Um estranho o.o

Tenham uma boa leitura o/



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Depois de uns três dias, eu não me aguentava de tanta fome que sentia — não que a gente não recebia comida, nem nada. É só que a gente recebia comida pra sobreviver, o que não era um hábito tão comum assim pra mim.

Eu e Imma tentávamos planejar alguma coisa, mas sempre ficávamos receosos por achar que alguém pudesse ouvir nossos planos.

Naquele dia, estávamos sentados no chão de pedra, frente a frente, com as pernas cruzadas. Falávamos baixinho, atentos a qualquer coisa suspeita ao nosso redor.

— Quando Equidna vier trazer a comida — falei. — É o único momento que temos para fugir.

Imma assentiu, concordando.

— Ela vai colocar os dois pratos juntos — digo —, o que vai me dar tempo o suficiente para correr até a outra cela. E você vai me dar cobertura.

Ultimamente, vendo Equidna indo e vindo com a comida, descobrimos que ela sempre abre as duas celas paralelas pra colocar a comida — o momento perfeito para escapar.

Já Utae só estava cansado aquele dia — ele estava cochilando — em que chegamos. Trocávamos algumas palavras de vez em quando — só parávamos quando o leão gigante rugia pra gente tão alto que por alguns minutos eu jurava que ficava surda (sério, um leão gigante rugir dentro de uma caverna é algo que você nunca vai querer ouvir) —, mas Utae estava ciente de que logo sairíamos dali.

Equidna veio na primeira refeição do dia, trazendo como de costume nosso café da manhã. Ela abriu as celas paralelas e colocou os dois pratos em ambas as celas ao mesmo tempo e foi naquele momento que eu me levantei e corri o mais rápido que consegui, parando na outra cela e puxando Utae do chão.

Ele levantou num sobressalto e juntos corremos pelos corredores de pedra enquanto Imma fazia algumas coisinhas pra distrair Equidna que estava muito brava por sinal.

Utae deu um chute nas grades pesadas de Malek e Kameel, conseguindo abrir — eis a sorte de ter um filho de Zeus do nosso lado —, então puxo Imma pelo braço pra que ele não fizesse nenhuma besteira.

O rastejo da Mãe dos Monstros era muito lento, então ela gritou naquela língua estranha pro seu bichinho de estimação: o Leão de Nemeia. O bicho veio derrubando tudo o que havia na sua frente, correndo atrás da gente feito louco.

Corríamos ao máximo, mas uma hora ou outra iríamos cansar e esse era o meu maior medo. Um deslize e viraríamos comida daquele leão gigante. Malek começou a expelir uma fumaça que começou a ficar densa depois de um tempo e foi em direção ao monstro que nos perseguia, fazendo-o hesitar e se confundir pelo caminho.

Quando vi estávamos mais perdidos do que nunca. Paramos numa espécie de laboratório de pedra com vários experimentos e poções.

— Procurem... alguma coisa... — pedi ofegante, parando por um tempo.

Alguns conseguiram assentir antes de sair procurando pelas etiquetas de poções. A maioria delas era igual a que Equidna tinha no bolso: de uma coloração verde que provavelmente servia pra ela... diminuir!

— Bebam as poções verdes! — me vi dizendo e pegando um frasco.

— Tem certeza de que isso é seguro? — Imma questionou.

Eu assenti e engoli em seco antes de virar o frasco dentro da boca. O gosto era amargo. Tanto que fiz uma careta e ameacei pôr tudo pra fora, mas respirei fundo e mantive a poção dentro do estômago. Minha cabeça girou e minha visão ficou turva. Quase desmaiei e pressionei os olhos com força ao sentir uma dor de cabeça. Segundos depois eu estava pequenininha.

Olhei ao redor, procurando os outros quatro, esperando que estivessem vivos e logo eles aparecem com uma mão na cabeça — provavelmente por causa daquela dorzinha do começo.

Um estrondo vindo de algum lugar me deixou em alerta.

— Melhor irmos — minha voz saiu mais fina do que eu gostaria.

Além de baixinha agora tenho voz de rato, pensei revirando os olhos.

Eles concordaram e saímos correndo sem rumo e eu juro que estava rezando pra conseguirmos achar a saída daquele lugar — que agora seria ainda mais difícil já que estávamos pequenos.

Logo meio que uma fila indiana se formou em que Utae era quem estava à frente de tudo. Eu conseguia ouvir barulhos por todos os lados, como se alguém procurasse algo desesperadamente que não conseguia encontrar.

— Tem certeza que sabe pra onde estamos indo? — perguntou Kameel ao Utae que andava na frente da fila.

— Sou filho de Zeus. Tenho naturalmente um senso de direção mais apurado — disse, mas felizmente seu tom não foi esnobe.

Enquanto corríamos, ouvi o grito de Equidna meio longe:

— SEUS MISERÁVEIS! BEBERAM DA MINHA POÇÃO! — ela estava realmente brava. — VOU ACHAR VOCÊS E QUANDO ACHAR, VÃO DESEJAR NUNCA TER SAÍDO DAQUELA CELA!

Sua ameaça só me deu mais vontade de sair daquele lugar e acho que Utae também teve a mesma ideia quando começou a correr pelo caminho. Comecei a ouvir também mais alguns estrondos — provavelmente era o Leão de Nemeia — e mais gritos raivosos de Equidna.

Quando senti aquele ar gelado, sabia que meu senso de direção me guiaria direto pra neve, então comecei a correr ao lado de Utae, como se tivesse mais certeza onde seria a saída que tanto procurávamos.

Foi por uma brecha pequena na pedra que conseguimos sair da caverna. Assim que avistei a neve, meu coração automaticamente se encheu de alegria e eu pulei na mesma, me deixando ser engolida por aquele manto branco que eu tanto estava familiarizada.

— Kary, não é hora de fazer anjo na neve — disse Imma. — Precisamos ir.

Ele me puxou pelo braço e nos infiltramos neve adentro. Era muito mais complicado andar pela neve com um tamanho minúsculo e se continuássemos assim, levaríamos séculos pra chegar na nossa cabana.

— E agora? — disse Malek, já parecendo cansado com a corrida. — Não vamos chegar nunca na cabana com esse passo.

— Não sei. Não sabemos como voltar. Kary, tem alguma ideia? — questionou Kameel.

— Por que eu? Você é filho de Apolo. Sabe curar as coisas. Deveria saber sobre isso.

— Mas quem nos meteu nessa enrascada foi você Kary — ralhou Malek. — Se não tivesse feito a gente beber aquela coisa...

— Nós teríamos morrido — o tom cortante de Utae me surpreendeu. Ele estava... me defendendo? — Deveria agradecer ela, não ficar de mi-mi-mi. Estamos tentando achar uma solução e não consigo pensar com você enchendo a droga do saco.

Comprimi os lábios, quase não conseguindo segurar uma risada da cara que Malek acabou fazendo. Ele estava completamente sem graça. Anda! Fala alguma coisa agora, seu idiota!, desafiei ele mentalmente.

— Obriga... — antes que eu pudesse completar meu agradecimento, algo estranho aconteceu.

Senti um poder envolvendo minhas entranhas e dando um nó no meu estômago. Um brilho azulado começou a brilhar ao meu redor como uma áurea e logo eu estava levitando, sendo envolvida por aquela luz. Voltei ao meu tamanho normal num passe de mágica e com uma armadura nova — nem tanto assim porque era a mesma só que com um pouco mais de metal, cobrindo um pouco mais meus seios e minha intimidade.

Olhei pros outros quatro e não entendi porque eles não cresceram junto comigo.

— O que foi que...? — não consegui terminar a frase.

Ouvi alguém dizer algo, mas foi tão baixinho que mal consegui ouvir. Peguei todos eles com a palma da mão e os trouxe pra perto do rosto para que eu pudesse conseguir ouvir. Oh, céus, e num é que eles estão realmente pequenos?, penso, olhando o fato de que os quatro cabiam numa palma minha.

— Você evoluiu de nível — falou Imma por fim. Achei graça da sua voz estar mais fina que o habitual. — Lembra do que eu te falei? Se fizesse algo de grande importância...

Não consegui conter um sorriso. Yes! A garota aqui agora é nível 2, baby!

Segundos depois me lembrei de que tínhamos um problema agora para resolver.

— Mas por que vocês não evoluíram? Vocês só vão crescer quando passarem de nível? — questionei tudo muito rápido, de repente me vendo em puro desespero.

Antes que algum deles pudessem responder alguma coisa, ouvi alguns barulhos no meio do mato e senti medo. Estava praticamente sozinha numa floresta, sem arma nem nada e com meus amigos encolhidos na palma da minha mão. E embora o jogo tenha considerado beber aquela poção algo memorável, na verdade eu estava começando a achar que havia sido uma péssima ideia.

Resolvi me manter imóvel, mas sabia que tinha de me mover e bem rápido. A qualquer momento Equidna podia decidir vir atrás de mim em seu leão gigante e eu não estava tão afastada da caverna dela assim pra ter o luxo de não estar sentindo medo naquela hora.

Uma sensação ruim tomou conta de mim. Tudo estava quieto demais e aquilo estava começando a me incomodar.

— Kary, o que foi? — perguntou Imma e eu fiz um sinal pra que ele se calasse, embora ele estivesse pequeno e de longe fosse quase impossível ouvi-lo.

Eu não poderia me cobrir com neve porque iria congelá-los, o que só me deixou mais vulnerável. Então eu comecei a sentir medo. Muito medo. Havia algo por ali e eu não sabia o que poderia fazer pra evitar o que quer que fosse.

Decidi seguir em frente.

Sei que esse é o pior erro de todos — filmes de suspense e terror comprovam isso —, mas senti que se continuasse parada, as coisas poderiam ser pior.

— Kary...

Ignorei a voz de Imma me chamando.

— Kary... — ele me chamou de novo.

Continuei concentrada em achar algum lugar pra poder me esconder.

— Kary...

— Que foi? — questionei ríspida, só querendo que ele calasse a boca.

Foi aí que olhei pra Imma e percebi que ele levitava, só que de uma maneira como se alguém estivesse levitando ele porque mexia os braços e pernas desesperados pelo doce apoio do chão. Por Zeus, isso só pode ser bruxaria, me vi pensando e eu desejava que não fosse. Existindo ou não bruxas na mitologia grega, não estava a fim de enfrentar nada do tipo no momento.

Aquela sensação de medo voltou. E Imma foi puxado da minha mão pra algum lugar. Entrei em desespero. Algo muito errado estava acontecendo ali. Agradeci pelos outros três manterem o silêncio, embora notasse que todos demonstravam medo por não fazer ideia do que quer que estivesse acontecendo.

— Você perdeu alguma coisa? — ouvi uma voz masculina diferente das que eu estava habituada a ouvir.

E das sombras surgiu um garoto pálido e magrelo de cabelos negros e olhos tão escuros que nem se via diferença entre a íris e a pupila.

— Me devolve ele — pedi, usando a voz mais firme que consegui.

— Por que deveria? — questionou ele em tom de deboche.

— Porque... ele é meu amigo.

O garoto achou graça.

— Tudo bem, filhinha de Quione. Só me diga como conseguiu deixar ele desse tamanho e eu devolvo seu amigo.

— Equidna.

Aquele nome fez despertar nele alguma coisa porque ele chegou em mim tão rápido pra tapar a minha boca que quase deixei todos os meus amigos caírem no chão pelo susto.

— Não recomendo falar o nome das criaturas em voz alta por aí — ele sussurrou no meu ouvido o que fez um arrepio subir pela minha espinha.

— Tá... bom — falei sem jeito, dando alguns passos pra me afastar dele. — Agora devolva meu amigo — digo estendendo a mão pra ele.

Ele simplesmente jogou Imma pra cima e numa tentativa desesperada eu peguei, quase derrubando os outros três da minha mão de novo.

— Que transporte ruim esse, hein? — resmungou Malek e eu simplesmente decidi ignorar.

— Pra onde estão indo? — questionou o estranho.

— Pra nossa cabana. Vou tentar fazer eles voltarem ao tamanho normal.

Fiz uma careta quando senti algo beliscar minha mão. Utae havia enfiado sua espada minúscula na minha mão! Por que fez isso? Antes era meu amigo e agora simplesmente mudou de ideia?, protestei mentalmente.

— Hmmm, pra cabana... E eu posso ir? Ainda quero descobrir como foi que ficaram desse tamanho.

— Pode ser.

E novamente senti aquela pinicada na mão. Fiz outra careta, mas decidi ignorar a dor enquanto levava o estranho pra nossa cabana.

Assim que pisamos dentro da cabana, instantaneamente todos os quatro voltaram ao tamanho original e eu pude ver que havia alívio estampado na cara de todos eles.

O estranho parecia avaliar tudo com o olhar, parecendo curioso e intrigado pelo fato de todos terem voltado ao normal só por pisarem num lugar como esse.

— Kary, preciso falar com você — pediu Utae na frente dos outros.

— Alguém está muito ferrada — Malek disse entredentes.

Lancei um olhar feio pra ele e ignorei seu comentário enquanto Utae me puxava pro lado de fora da cabana, onde o manto de neve deixava a floresta menos sombria.

— Olha, eu to muito feliz que você tenha conseguido conquistar o nível dois e que tenha sido muito inteligente na hora de me salvar, o que faz com que eu te deva uma. — O líder da cabana me devendo uma. Quem diria, pensei, orgulhosa de mim mesma. — Só que quando for trazer gente estranha pra cabana, eu gostaria de que me avisasse antes de tomar a decisão sozinha, ok?

— Mas e o ditado que diz que "quanto mais gente, melhor"?

Ele segurou meus braços e eu encarei seus olhos. A cor violeta estava dando alguns riscos mais claros como se fossem raios cortando o céu imaginário da íris.

— Kary, isso aqui é um jogo — disse exasperado. — Eu quero muito ganhar e pra isso, tenho que ser inteligente em escolher meus aliados. Pessoas em quem posso confiar. Não qualquer garoto que mal sabemos de onde veio ou com que intenções.

Fiquei meio envergonhada em receber a repreensão. Ele pareceu notar, porque suavizou a expressão brava que tinha antes no rosto.

— Você é muito inteligente. Bem-vinda oficialmente ao grupo.

Por mais que naquele grupo tivesse o resto de aborto do Malek, não consegui deixar de me sentir satisfeita. Finalmente fui aceita em algum lugar. Finalmente fiz alguma coisa certa. Finalmente fiz amigos, me vi pensando, completamente orgulhosa.

E finalmente deixava pra trás Natália Winter e começava a ser Karysha, filha de Quione.


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Notas finais do capítulo

Awn, que bonitinho, né? Nada mais kawaii (fofinho em japonês) do que uma pessoa antissocial fazendo amigos ♥

No próximo capítulo - umas brincadeirinhas com um poderzinho chamado "persuasão" e.e

Até o próximo capítulo o/



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