A guardiã do gelo escrita por Kashinabi Chan


Capítulo 66
Três idiotas e uma cama


Notas iniciais do capítulo

Hey Batatinhas Ambulantes o/

Mano, deixem eu compartilhar a minha decepção com vocês: eu dormi kk tava eu mó de boa deitada na cama, esperando o momento de postar o próximo capítulo até que "puf" quando vejo já estou dormindo hasuhsaushauh

Peço desculpa a quem acabou ficando no aguardo kk mas vejam pelo lado bom, só dormi 3 horinhas u.u por isso, vou dar uma adiantada nas postagens kk

No capítulo de hoje - partiu pular numa cama!

Tenham uma boa leitura o/



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Não havia sentido uma dor tão forte no peito desde a morte do Kameel. Pra ser sincera, não sabia o que estava sentindo por Imma nos últimos dias, mas alguma coisa me incomodava, indicando que era mais do que amizade. De qualquer forma, agora já não importa mais porque ele está fora do jogo.

Alguém abraçou meu ombro e eu simplesmente me deixei ser abraçada porque no momento só tinha vontade de chorar. Meu estômago revirava, querendo se afastar daquela cena. Nem sequer sabia se teria coragem de ver o que realmente havia acontecido.

— Kary, Kary... — Utae sussurrou no meu ouvido. Possivelmente era ele que estava me abraçando. — Vai ficar tudo bem...

— NÃO, NÃO VAI! — gritei com ele, empurrando seu peito.

Então chorei de verdade, deixando as lágrimas caírem livremente dos meus olhos. Não, não, não... Estava cansada de ouvir o famoso "vai ficar tudo bem" porque estava doendo lá dentro e simples palavras de consolo não fazem com que eu me sinta melhor.

Felizmente, Utae decidiu se aquietar por perceber que nenhuma palavra era o suficiente para demonstrar o que eu estava sentindo em relação ao morto Imma. Agradeci mentalmente por não ter visto aquela cena totalmente ao vivo pois eu nem faço ideia do que seria de mim agora se visse sua trágica morte.

Não sei por quanto tempo fico chorando, sendo abraçada por Utae, mas quando minha cabeça começa a latejar pelo derramamento excessivo de lágrimas, respiro fundo e só então tento contê-las. Continuo abraçada por mais um tempo com Utae antes de finalmente conseguir limpar meus olhos com decência. Mesmo assim, me neguei a olhar a cena.

Alguém toca meu ombro e eu viro cautelosamente o rosto na direção do toque. Malek. Ele estendia na minha direção a pedra Elemental da água. Por um segundo arqueei uma sobrancelha e peguei a pedra devagar, estranhando seu ato.

— Por que tá me dando isso? — questionei com uma voz rouca.

Ele teve que suspirar antes de me responder:

— Porque... você foi a primeira de nós a conseguir a primeira pedra, então... ela é sua.

Olhei para Utae, querendo saber se ele concordava com isso e ele não teve tempo nem de responder direito porque a pedra azulada voou até meu colar como se atraída por um imã. Outro buraco do colar foi preenchido. Faltavam mais dois.

Funguei algumas vezes antes de acabar me desvencilhando do abraço de Utae.

— Vocês acham que... Odd vai voltar? — questionei enquanto limpava as novas lágrimas que haviam teimado em cair.

Afinal, aquela junção de poderes Elementais, parecia ter marcado sua presença momentos antes de virmos ver o que tinha acontecido.

— Assim como você, acho que ele não gostaria de ficar vendo isso aqui por muito tempo — quem me respondeu foi Malek.

Utae confirmou com a cabeça e eu respirei fundo antes de virar o rosto na direção da temível cena. Meu estômago se embrulhou de imediato ao realmente ver aquilo. Imma tinha a cimitarra de Olivia atravessada no peito enquanto Olivia havia sido morta por seu tridente, ambos quase na mesma direção. Não dava nem pra saber quem tinha matado quem.

O incrível era que os olhos de Olivia estavam fechados como se esperasse por isso e Imma os mantinha abertos. Dentro de mim a curiosidade se contorcia junto com meu estômago. Eu gostaria de saber como aquilo tinha acabado.

Caminhei na direção dos corpos e me abaixei. Toquei o rosto gélido dele e fechei seus olhos, embora meu estômago já não estivesse mais no lugar. Uma luz prateada começou a sair de dentro de si juntamente com Olivia e logo ambos foram transformados no famoso fiozinho de prata.

Peguei o fiozinho do Imma e cerrei os punhos. Não. Não queria usá-lo para passar de nível. Ele era meu amigo acima de tudo isso. Apertei o fiozinho entre os dedos mais um pouco antes de arremessa-lo na direção do raso mar. Invoquei os ventos para que o fio sumisse de vista e pudesse se perder pelos céus. Senti como se meu coração tivesse ido junto com ele. A saudade já batia forte no peito.

— Vamos ficar aqui hoje a noite, tá bom? — sugeriu Utae. Ele sabia que eu estava mal.

Neguei com a cabeça.

— Temos umas coisas pra resolvermos com Poseidon.

— Como vamos chegar até lá sem o Imma agora? — questionou Malek. Incrivelmente ele não estava sendo irônico.

Abri a mão, invocando a água da pedra. Só que ela acabou congelando sem querer pelos poderes terem acabado se misturando.

Utae assentiu, entendendo o que eu poderia fazer.

— Vá em frente — disse o líder.

Andei devagar até a beirada das pedras, vendo que as águas estavam mais rasas que antes. Arqueei uma sobrancelha e olhei para o horizonte, percebendo que fumaça estava subindo. Se o elemento da água eliminou o do ar assim que tomamos posse da pedra, possivelmente deve ser o elemento fogo que deve estar tomando conta de tudo agora, raciocinei. Não devia ter tomado conta antes por causa da influência da Olivia sobre os mares.

Estendi as mãos para o horizonte e um filete grosso de água veio ao meu encontro. Olhei para os garotos e afirmei com a cabeça antes de me jogar naquele filete e escorregar numa espécie de tubo d'água. Esse tubo foi me levando até o mar de verdade pois as águas ao qual estávamos, acabaram por ficar muito rasas.

Demorou vários minutos até o tubo se findar e eu finalmente estar em mar aberto. Fiz uma careta quando algo atingiu o lado direito do meu corpo e isso me fez tomar a liberdade de chegar para o lado pra não ser acertada mais uma vez. Abri os olhos — que eu nem sabia que estava fechando — e logo uma bolha se formou ao redor da minha cabeça, igualmente nas de Malek e Utae — ele que me acertou.

Nadei na frente dos dois, seguindo minha intuição — e o colar que fazia meio que uma corrente marítima para nos guiar. Usei do meu mais novo poder sobre a água para podermos ganhar mais velocidade, afinal, havíamos chegado a superfície usando hipocampos velozes.

Demorou mais um tempo até chegarmos ao grandioso castelo de Poseidon que já não estava mais tão belo assim. Possivelmente por tudo estar deserto.

— Majestade? — o chamei, ansiando uma resposta.

Foi o silêncio que me respondeu.

— Deus Poseidon?

Ousei entrar no castelo, ainda chamando por ele de maneira respeitosa. Depois de diversas tentativas, optei por desistir. Então percebi Malek apontando para meu colar e em seguida dizendo:

— Chama por ele de novo.

— Poseidon? — digo cautelosamente.

Então a pedra Elemental da água brilhou em azul e voltou a se apagar. Abri um pequeno sorriso, como não tinha percebido isso antes? Da mesma forma que Éolo havia desaparecido ao tomarmos posse da pedra, Poseidon também deve ter sido "sugado" pra essa.

— Então é aqui que vamos passar a noite? — perguntou Utae.

Não respondi. Ele sabia a resposta.

— Vou... procurar um lugar melhor do que os corredores para podermos dormir.

Assenti e ele se foi pelos corredores.

— Não vai com ele? — questionei a Malek.

— Não gosto de ver você triste.

Aquilo me pegou de surpresa na hora.

— Que graça teria implicar com você fazendo essa cara? — ele complementou a própria frase.

Revirei os olhos. Não acredito que por um segundo eu pensei mesmo que ele seria legal comigo de verdade.

— Então enquanto eu estiver triste, você vai ser legal comigo?

— É o meu plano.

Soltei um suspiro.

— É sério isso? Afinal, por que implica comigo desde sempre? — perguntei impaciente.

Naquele momento eu já esperava uma resposta. Eu esperava que ele dissesse que toda aquela implicância vinha da nossa diferença de elementos. Essa foi a desculpa que ele usou no começo de tudo.

— Não sei... — confessou. — Isso magoa você?

Encolhi os ombros ligeiramente.

— Me faz lembrar da droga de vida que eu tinha — quando vi já tinha dito.

Ao perceber o que eu tinha acabado de dizer, passei as mãos pelo rosto, acabando por ficar envergonhada. Minhas bochechas começaram a esquentar.

— Você era uma estranha pra nós três quando chegou na cabana. Tínhamos feito um acordo de só aceitarmos homens porque queríamos uma equipe forte. Aí você apareceu e... Utae meio que ficou com pena de abandonar você no meio daquela neve.

Agradeci mentalmente por ele ter ignorado a "dica" que eu havia dado sobre quem eu era na vida real. Ou talvez ele só não quis ressaltar isso agora, repreendi o pensamento assim que ele veio.

— No começo todos nós tratávamos você com indiferença. O primeiro a ceder foi Imma. Depois Utae.

— E você até hoje me trata com indiferença — apontei verbalmente.

— Quando você fugiu, muitas coisas mudaram, Kary.

Minha expressão parou de ser tão ignorante — e assim que ela suavizou, eu percebi a expressão que estava formada.

— Utae me contou algumas coisas...

— Imma conversou comigo e... Sabe, eu percebi que não tinha mais o que odiar em você. Mesmo sendo atrapalhada, você ajudou a gente em bastante coisa.

— E você salvou minha vida várias vezes — admiti, deixando um pequeno sorriso transparecer.

— Salvei, né? — disse convencido e eu tive que olhar pra ele pra perceber que ele estava só brincando.

Empurrei seu ombro.

— Valeu por ser compreensivo agora. Sem o Imma aqui, eu... — Respirei fundo pra conseguir terminar a frase: — Falta alguma coisa, sabe?

Levei um sobressalto quando ele simplesmente me deu um abraço.

— Imma também era meu amigo. Eu sei como você se sente. Todos nós estamos tristes por ele ter partido, Kary.

Como na morte de Kameel, apenas aceitei seu abraço porque precisava daquilo. Na minha cabeça, ainda tinha a esperança de virar para o lado e ver o rosto sorridente de Imma — e uma piadinha básica por eu e Malek estarmos abraçados.

— Quando o Kameel morreu, eu nunca tive tanta vontade de te fazer sorrir.

Por um segundo agradeci por ele não poder ver minhas bochechas coradas.

— Ah, e agora vai me dizer que foi por isso que você tirou a parte de cima da minha armadura — deixei um pouco de ironia me escapar.

Ouvi uma risadinha.

— Digamos que sim.

— Para de ser besta, Malek. Seu objetivo era outro.

— Hmmm, os dois, na verdade.

— Num to dizendo?

Mais uma vez foi ele quem riu.

— Depois me pergunta por que te odeio.

Então ouvimos um pigarro e rapidamente nos desvencilhamos um do outro. Aquilo veio de Utae e não consegui deixar de corar por ele ter nos flagrado tão... juntos. No abraço pela morte do Kameel, ninguém tinha visto a gente. Já agora... Droga.

— Eu achei um quarto para passarmos a noite. Não vamos abusar da hospitalidade. Ficaremos apenas com um quarto.

Tanto eu quanto Malek confirmamos com a cabeça. Logo nós dois estávamos caminhando pelos corredores, mantendo uma distância mínima. Utae ter nos flagrado foi realmente algo constrangedor. Nunca fiquei tão feliz em chegar num quarto antes pois agora se arrastava um silêncio estranho entre mim e Malek — bem que Utae podia ter dado um pouco de privacidade, né?

Entramos e me surpreendi com a decoração. Aquele quarto era mesmo de empregados do castelo? Devia ser um empregado muito especial pois estava no corredor dos quartos reais e pelo que eu saiba, geralmente os empregados dormem em lugares inferiores e mais desarrumados do que no lugar onde passaremos a noite.

Como a maioria dos locais, a cor predominante do quarto era azul, decorado com conchas e corais de uma cor meio como um bege rosado. A iluminação era a base daquela pedra azulada espalhada por todo local. Para minha surpresa, a cama era como a dos "humanos", entretanto, o bordado das cobertas tinha fios brilhantes e eu não duvidava que aquilo fosse ouro. O quarto era enorme, com direito a varanda, uma estante de... Peraí, aquilo eram livros? Deviam ser encantados, só pode. Um sofázinho e mais uma porção de coisas chiques.

— Kary, pode ficar com a cama — ofereceu Utae.

Neguei com a cabeça.

— Fiquem os dois na cama. Eu durmo no sofázinho.

— Dorme com Utae — sugeriu Malek. Até estranhei por aquela frase não está preenchida em malícia. — Eu fico no sofázinho. Vai ser melhor.

— Se a Kary não se importar... — Ah, a malícia veio do Utae.

Empurrei seu ombro.

— Para de ser besta, garoto.

Utae riu e se jogou na cama que o fez quicar involuntariamente. Ah, a cama deveria ser mesmo muito macia... Cheia de ansiedade, pulo na cama como ele e me surpreendo pela cama ser mais macia do que eu esperava — e elas deviam ter molas porque eu quiquei mais que Utae! Não resisti e acabei ficando de pé na cama, dando um pulo animado e quiquei mais uma vez, dessa vez soltando uma gargalhada.

— Kary, não fique brincando na cama real... — Utae não estava conseguindo ficar sério me vendo gargalhar.

— Vem logo, Utae! Eu sei que você quer!

Estendi a mão pra ele e ele nem sequer hesitou em aceitar. Logo éramos dois bocós pulando na cama de um dos empregados de Poseidon. Instintivamente olhamos para Malek que nos estranhava com o olhar. Achei graça da sua expressão confusa. Eu e Utae trocamos olhares e juntos estendemos as mãos para que Malek pudesse subir na cama. Ainda nos olhando torto, ele aceitou hesitante e se juntou a nós na pulação. Quando a sua gargalhada juntou-se a minha, nem Utae resistiu a rir.

— Queria que Imma estivesse aqui — me vi murmurando.

— Ele está, Kary — levei um pequeno sobressalto quando Utae me respondeu.

Nisso já tinham cessado as gargalhadas intensas, mas ainda nos divertíamos. Mesmo assim decidi soltar outra gargalhada para que voltássemos a achar graça do quanto estávamos sendo idiotas.

Talvez ele tenha razão. Imma está aqui sim. Dentro da gente.

E no meio das nossas gargalhadas.


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Notas finais do capítulo

Mano... particularmente eu confesso que gostei muito do final desse capítulo TuT sei lá, eu achei fofo como tudo pareceu terminar... ;-;

No próximo capítulo - um sonho comum ou uma visão?

Até o próximo capítulo o/



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