A guardiã do gelo escrita por Kashinabi Chan


Capítulo 22
Aquilo que chamamos de vingança


Notas iniciais do capítulo

Hey Batatinhas Ambulantes o/

Preparados para mais dois desenhos feitos pela Angel?

Dá uma olhadinha: https://www.facebook.com/KashinabiFarron/posts/1958306901048967

Beeeeem, sim, esse é o tal capítulo que vocês provavelmente vão ficar com ódio mortal de mim e.e só preparem o coração...

No capítulo de hoje - mortes ~acho que isso já diz tudo...

Tenham uma boa leitura o/



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A cada dia que passava, as coisas ficavam mais tranquilas na cabana. Benigna e Malek pareciam ter começado a namorar o que era bom já que por causa disso, ele parou de implicar comigo. Benigna esqueceu da minha existência, mas não deixou de lado as responsabilidades de vice-líder. Sempre estava conversando seriamente com Utae — provavelmente os dois estavam planejando algum plano de ataque ou como venceriam o jogo.

Se era isso, eles estavam com grande razão porque precisávamos de uma plano de ação. Havia dias que estávamos naquela cabana, como se tivéssemos presos. Precisávamos agir porque tínhamos que ganhar aquele jogo.

Como meu tempo com Benigna se reduziu a nulo, eu passei a ficar mais com Kameel e minhas caçadas com ele, Imma e Rian ficaram bastante frequentes — e sim, eu vivia ouvindo as reclamações de Rian dizendo que Malek havia abandonado ele por causa de uma garota.

De qualquer forma, as coisas acabaram virando rotina na cabana o que era bom. A única coisa que não chegou a mudar foi eu que ainda não tinha ganhado uma arma oficial. Só nas caçadas que me era permitido conseguir uma adaga — e como Utae agora só vivia com Benigna, os dias de treinamento foram instintos. Pra conseguir treinar, o jeito era aprendendo nas caçadas mesmo.

Naquele momento, eu e Kameel estávamos sentados juntos num tronco caído da floresta para observar o pôr-do-sol — coisa que também virara rotina desde então. Ele abraçava meu ombro enquanto eu deitava no seu e juntos admirávamos a maravilha que acontecia todas as tardes.

— Kary...

— Sim?

— Posso te fazer uma pergunta?

Eis a pergunta mais idiota que o ser humano sempre adora fazer. E por mais que as vezes acabe ganhando algumas patadas com a pergunta besta, o ser humano continua a fazê-la numa forma previsível de adiar a principal pergunta que ele fica hesitante em dizer.

— Pode dizer — pedi, acabando por ficar curiosa.

— Você me ama?

Juro que se tivesse bebendo alguma coisa num copo, cuspiria tudo por causa da surpresa da pergunta. Oh, céus, chegou aquele momento em que ou você responde um “sim” e deixa a pessoa feliz ou um “não” e diz adeus ao seu relacionamento também.

Naquela hora, passou milhões de respostas na minha cabeça. Eu queria dizer que sim, juro que queria, mas tinha medo do que podia acontecer depois. Quero dizer, Kameel é meu primeiro namorado — virtual e da vida real também — e eu não sei como lidar com esse tipo de coisa ainda. Não sabia que momentos como esses eram desesperadores como os filmes mostravam.

— Eu...

Vamos, Kary, pense em alguma coisa, eu realmente estava desesperada e sabia que aquela minha hesitação só iria piorar as coisas.

— Olha, você é um cara legal, Kameel, e meu primeiro namorado também. Isso quer dizer que eu nunca disse aquelas três palavrinhas pra alguém... — Mordi o lábio, desviando o olhar do dele.

Kameel suspirou. Maldito suspiro, eu sabia exatamente o que aquilo significava. Só esperava que todos os filmes românticos que já assisti na vida, estejam errados.

— Não fica assim! Sério, eu gosto muito de você e a cada dia tem se tornado mais e mais especial pra mim. É só que eu...

— Tudo bem, Kary — ele disse por fim e aquilo me fez corar pela vergonha.

Decidi me calar pra não acabar piorando as coisas entre nós. Nisso, o sol foi se pondo devagar, iluminando toda floresta com uma linda luz alaranjada. Embora estivéssemos juntos, o pôr-do-sol não foi a mesma coisa que nas outras tardes. Dessa vez foi bem mais desconfortável e silencioso. Tudo o que ouvíamos era o som dos animais da floresta, engrandecendo o sol com seus sons exóticos.

Então, um radar interno ligou dentro de mim e eu fechei os olhos, sentindo duas vibrações diferentes. Calor. Se tinha uma coisa que eu podia sentir de longe era o calor. Outra vibração que desde que eu tinha tocado o colar de Vibeke começou a fazer parte de mim, foi a da magia.

— Acho melhor entrarmos — digo, já que o pôr-do-sol já havia acabado.

— Vou ficar aqui mais um tempo — anunciou ele, suspirando, sem me encarar.

— Mas já é praticamente noite, Kameel. Nunca é seguro ficar por aqui durante a noite.

— Já estou indo, Kary, prometo não demorar muito.

Decidi que não iria insistir — afinal, ele tava meio bolado comigo por causa das malditas três palavrinhas —, só que meu radar interno apitava de que alguma coisa ruim iria acontecer. Se tem uma coisa que eu mais odeio é o tal do déjà vu.

Voltei pelo caminho que tínhamos usado e quando pisei na entrada da cabana, então a famosa coisa ruim aconteceu: Xander apareceu e meus olhos instintivamente bateram no nível em cima da sua cabeça. Ah, céus, ele virara um nível 10. Meu primeiro pensamento segundos depois disso, foi Kameel. Ele está bem, Kary. Xander não deve ter visto ele, tentei me tranquilizar mentalmente.

— Quanto tempo, Kary. Como você está?

Sua voz havia ficado mais grossa e ele menos magro. Tatuagens de linhas pretas enfeitavam as partes do seu corpo que não eram cobertas pela armadura — ou seja, uma parte do seu braço esquerdo e seu rosto. Havia um sorriso pequeno e um brilho estranho no seu olhar. Ele me encarava com divertimento. Desviei o olhar do seu para encarar o colar Elemental. As pedras brilhavam numa áurea bruxuleante.

— Não faz tanto tempo assim — falei com cuidado. — Ainda me lembro de ver você chorando pela morte dela — decidi não pronunciar o nome Daquela que Habitava na Escuridão.

Bem, se eu tivesse citado o nome daquela garota, não teria ficado pior do que agora. O sorriso do rosto dele sumiu.

— Você sabe por que estou aqui? — sua voz saiu baixa, mas tão audível aos meus ouvidos que eu dei um passo pra trás, pra dentro da cabana, em busca de segurança.

— Vingança — a palavra saiu automaticamente da minha boca.

E o sorriso assustador voltou aos seus lábios.

— Pelo menos essa sua inteligência serve pra alguma coisa...

— O que você está fazendo aqui, Xander? — vociferou Rian, tirando a zarabatana das costas.

Agradeci mentalmente quando o sorriso voltou a desaparecer. Rian me protegeria e Xander sabia disso.

— Vim tratar de alguns negócios, mas eu prometo ser rápido.

Xander deu alguns passos pra trás e desapareceu. Kameel, meu amor, onde está você?, pensei em desespero. Por que ele ainda não havia aparecido?

Lancei um olhar pro Rian e ele assentiu. Juntos demos passos pra fora da cabana e olhamos ao redor, em busca de Xander. Nós começamos essa guerra, nós precisamos terminá-la. E pelo jeito, eu estou sem arma de novo, revirei os olhos só de lembrar dessa parte. Eu nunca estava com uma arma em mãos — e a primeira vez que estava, foi quase tão inútil como se eu estivesse de mãos vazias.

Utae saiu apressado da cabana — possivelmente estava lá embaixo no dormitório conversando com Benigna.

— Temos problemas — falei assim que avistei ele.

— Eu sou o problema. — Xander apareceu bem na frente de Utae como uma sombra aparece com um resquício de luz.

Nota mental: os filhos de Hades tem um poder estranho de brotarem onde quiserem.

Tinha raiva por não ter aquela conexão maneira que o Malek tem de se comunicar mentalmente com as pessoas porque senão, já teria dito a Utae que chamasse os outros jogadores. Aquela ideia de terminar essa guerra só com Rian havia ido por água abaixo. Não tínhamos como enfrentar um Xander revoltado sozinhos — não com esse poder sinistro de brotar na frente dos outros.

— Traidor — havia raiva na voz de Utae. Ele desembainhou a espada.

— Guarde essa espada, filho de Zeus. Não vai precisar dela. E por que teria eu que machucar você? É eles dois que eu quero. — Percebi ele menear a cabeça na minha direção e na de Rian.

Ok, agora sim não temos chance alguma, cálculos corriam na minha cabeça tentando pensar em algum plano que pudesse nos tirar dessa.

Malek: Kary, onde está Utae?

Uma luz em meio a escuridão.

Kary: Aqui em cima. Precisamos da ajuda de vocês. Xander voltou.

— O resto já está vindo — confidenciei a Rian. — Consegue atrasar Xander um pouquinho?

Ele assentiu e eu saí em disparada para o local onde Kameel estava antes de eu acabar indo embora. Lá estava ele ainda quando eu cheguei, olhando a lua e as estrelas distraidamente.

— Graças aos céus você está vivo! — exclamei em alívio, me aproximando mais dele. — Kame, o que deu em você? Eu falei pra gente entrar naquela...

A frase foi interrompida quando me sentei do seu lado e notei marcas de lágrimas abaixo de seus olhos.

— Kameel... — Sabe aquele momento que você sente seu coração se quebrar pela dor?

Céus, Kary, por que você foi arranjar um namorado tão sensível?, questionei mentalmente, mas me repreendi. Eu gostava dele do jeito que era, apesar desse pequeno... detalhe.

— Eu sei, eu... já ia entrar. — Ele passou as mãos pelo rosto, parecendo meio envergonhado por eu ter flagrado ele chorar.

— É sério, Kameel. — Mordi o lábio. — Xander veio atrás de mim — falei baixinho, com medo de que ele ouvisse eu pronunciando seu nome.

Ele respirou fundo, decidido a ser mais forte do que aquilo.

— Então é melhor irmos. — Kameel pegou na minha mão, o que me passou mais conforto do que eu imaginava.

Juntos corremos pra perto da cabana, nos escondendo atrás de uma árvore, observando a luta que já havia começado. Benigna tinha um machado em mãos, Imma seu tridente, Utae sua espada, Rian sua lança e Malek com sua glaive. Eu e Kameel estávamos sem nossas armas — não que eu tivesse alguma —, mas o importante era pelo menos tentar ajudar nossos amigos.

Éramos sete contra um. Apenas um. Um nível 10.

Cheguei já tentando de alguma forma congelar os pés de Xander, enquanto ele estava ocupado se defendendo com sua espada de Benigna, Rian (ele transformara sua lança em espada) e Utae. Ele era tão bom que estava dando conta dos três!

Ouvi Xander praguejar com meu ato e mandar uma rajada de fogo contra mim que teve o calor rapidamente absorvido por Kameel. A neve ao redor de todos nós havia derretido e virado água. Água..., mordi o lábio ao pensar.

— Quer brincar com fogo, Traidor? — Malek o desafiou. — Então que tal essa? — E uma jorrada de fogo foi em direção dele na retaguarda, onde parecia que ele estava vulnerável.

Bem, só parecia porque bastou a ameaça e a água do chão se transformou numa mão aquática gigante — foi o melhor nome que encontrei pra descrever aquilo. Aquela coisa pegou Malek, apagando seu fogo junto, fazendo com que sua arma caísse no chão enquanto ele era erguido a pelo menos cinco metros de altura.

Eu nunca tinha visto o cabelo de Malek se apagar. Bem, era muito estranho porque a cor vívida do seu cabelo não passou de algo sem graça quando ficou úmido. Sua pele empalideceu e seus olhos se fecharam. Uma morte silenciosa.

Aquilo despertou a raiva de Benigna porque ela simplesmente largou a luta de frente com Xander e foi tentar salvar seu namorado.  Arregalei os olhos quando ela correu como um animal — sério, ela estava usando apenas as duas pernas, mas se moveu tão rápido que parecia ter quatro — e seu machado ganhou uma áurea avermelhada. A benção de Ares. Num pulo extraordinário de tão alto, ela partiu o braço aquático em dois, fazendo Malek cair num baque surdo e molhado na grama.

Imma, que estava ali por perto — possivelmente perplexo demais pra ter feito alguma coisa —, se aproximou e enquanto Malek vomitava a água dos pulmões, por seu gesto, dava pra perceber que pouco a pouco tirava a água de dentro dele, fazendo uma careta — é nessas horas então que eu me lembro do porquê ele não fez nada pra ajudar o Malek: Poseidon é deus dos mares, ou seja, mexer com água doce não é tão agradável para seus filhos.

Quando olhei pros lados, Kameel não estava lá. Ele estava um pouco mais afastado, com um arco e flecha em mãos. Ótimo, eu sou a única sonsa sem arma alguma e assistindo a batalha como se estivesse num cinema, me repreendi mentalmente.

Fendas começaram a surgir ao meu redor e eu sabia muito bem o que aquilo significava. Esqueletos. E não é que eu estava certa?, pensei ao ver aqueles ossos perfeitamente encaixados saindo das fendas.

Consegui congelar dois deles — eram dez — e naquela deixa, simplesmente chutei suas caras ossudas pra longe dali, fazendo aqueles dois se desmontarem na hora. Os outros oito continuaram saindo das fendas até estarem totalmente livres. Dei uma cotovelada num deles, deixando-o atordoado, enquanto uma flecha atravessava o buraco de um dos olhos de um deles — obrigada, Kameel —, fazendo-o também se desmontar.

Um chute aqui, um soco ali, mais um pouco de poder aqui e ali e todos eles estavam desmontados aos meus pés. Só que então aconteceu algo inusitado: as mãos esqueléticas, agarraram meus tornozelos, me deixando presa. Mesmo se eu as congelasse, dificilmente iria conseguir me soltar.

— Kameel! — gritei pra que ele notasse o que tinha acontecido.

Até então, a luta continuava, o céu estava escurecido por nuvens negras que estouravam raios em toda dimensão. Aquilo significava que Utae estava preparado para usar seus poderes — só espero que ele se lembre que o chão onde estávamos está todo encharcado e que um raio mataria todos nós em questão de segundos.

Rian e Utae ainda lutavam de frente com Xander, completamente suados, enquanto Xander apenas parecia se divertir com tudo aquilo. Olhei em direção do Malek que ainda parecia meio desacordado e pálido por causa da água. Reacender seu fogo possivelmente será uma tarefa difícil. Benigna tentava reanimar ele, ajoelhada ao lado de seu corpo e quem parecia vir na minha direção era Imma, possivelmente tentando ajudar.

— Ele está vivo? — perguntei, incrivelmente me referindo ao Malek.

— Sim, por pouco. Vai precisar de um longo tempo de repouso.

Imma tentava soltar meus pés das mãos esqueléticas, com a ajuda de seu tridente ia quebrando osso por osso até que me vi livre daquelas coisas. Então uma cena se desenrolou: Benigna correndo furiosa em direção a Xander e, como se ela fosse apenas uma mosca irritante, lançou uma rajada de fogo na direção dela. A primeira rajada não foi o suficiente pra fazê-la parar, então uma mais forte surgiu e a derrubou no chão.

Se você nunca viu uma pessoa morrendo queimada, é meio bizarro porque tudo o que houve a seguir foi uma Benigna gritando em agonia no chão, enquanto sua carne era consumida por um fogo que parecia ser eterno de tanto que queimava.

Imma conseguiu me soltar, mas estava muito mais perplexo do que eu com o que acabara de acontecer. O fogo foi tão forte que também atingiu Malek, dando-lhe um pouco de energia. Seu cabelo agora brilhava numa áurea bruxuleante e ele havia conseguido se levantar fracamente.

Até ele ver o corpo queimado de Benigna estendido no chão. Ele pegou sua glaive e por mais que mal conseguisse ficar de pé, deu alguns passos em direção a Xander que ainda lutava contra Rian e Utae — ainda achava inacreditável esses dois estarem vivos e em pé, erguendo ambos a espada.

Só que Xander percebeu. Ele sempre percebia.

Droga, Malek, não seja burro!, quase verbalizei, mas ao invés disso, eu agi quando Xander deixou Rian e Utae de lado e se concentrou em Malek vindo em sua direção. Tudo que eu fiz foi construir rapidamente uma barreira de gelo entre os dois para que Malek não fizesse uma besteira — acabou que ele bateu o nariz na barreira e caiu no chão, praguejando (eu riria se não estivesse acontecendo tanta coisa ao meu redor).

O que aconteceu em seguida, foi tão rápido que quase não tive tempo de assimilar. Kameel gritava pra Malek ter cuidado com Xander e segundos depois de eu ter feito a barreira de gelo pra proteger Malek, Kameel entra na frente dela, sendo pego por Xander pela cabeça — ao qual era pra ter sido a do Malek — e jogado no chão gramado com tanta força que sua cabeça explodiu.

Aquilo era a raiva e a sede de vingança emanando de Xander.

E o sangue do meu namorado respingou por todo lugar, também atingindo minha bochecha, onde escorreu até minha boca, me fazendo sentir o gosto amargo de ferro.


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Notas finais do capítulo

Então, né... Já to aqui me preparando pra ler os comentários de ódio kkk mas me deem desconto, eu to doente T-T~é sério, sinusite não é legal ;-;~

Enfiiim, podem começar a me xingar u-u eu deixo, fazer o que se nasci malvada e.e

No próximo capítulo - o abraço e o sutiã de metal u-u ~le pessoa que deixou uma incógnita de propósito e.e

Até o próximo capítulo o/



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