Ladrão de Corações escrita por Lilissantana1


Capítulo 9
Capítulo 9 - Desespero de Hannah


Notas iniciais do capítulo

Se ele não fizer alguma coisa, vou ficar muito decepcionada com Sebastian.



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Sir Sebastian estava com Betina desde o começo da noite. O casal sentara lado a lado durante as apresentações, e permanecia junto depois, conversando e trocando sorrisos. Apesar disso, muitas foram as vezes em que Hannah olhou na direção deles e percebeu que o rapaz a observava. Será que ele queria lhe dizer ou lhe entregar algo? Pensava agitada nesses momentos.

Desde sua última conversa no parque, ela o evitava, estava ciente e agradecida pelo gesto “delicado” e inesperado dele ao lhe emprestar os livros, mas também percebeu, justamente por causa da alteração de comportamento por parte dele, que uma parte do incômodo que sentia em ver sua irmã com o ladrão de corações, se devia ao fato de sentir-se atraída por ele.

Aquela fora uma descoberta inusitada, porém não inesperada. E se dera de uma maneira estranha. Durante a leitura de um dos contos que ele lhe enviara. Quando a mocinha da história percebia, em meio a mal entendidos, mortes e segredos, que toda a aversão sentida pelo protagonista, nada mais era do que uma paixão não correspondida.

Era certo que ela não estava apaixonada por Sebastian Evans, e que ele jamais se apaixonaria por ela, mas isso não queria dizer que lhe fosse indiferente. Hannah sabia que se ele a olhasse de forma diferente, como na vez em que dançaram juntos por exemplo, não apenas como a possível futura cunhada, ela também aceitaria mais facilmente o fato de que seria capaz de se apaixonar por ele. Porém, essa era uma possibilidade inviável. Não apenas porque ele estava realmente interessado em sua irmã, apesar de Hannah duvidar de um possível sentimento mais profundo, mas também, porque sua mãe provavelmente a enviaria a um convento antes de permitir que a filha mais velha “roubasse” o pretendente da mais nova.

Foi durante esses pensamentos conturbados que Sir Pierce se aproximou. O rapaz magro, de rosto anguloso e traços fortes não era feio. Podia ser considerado mais bonito do que Sir Wood. A voz era mansa e cadenciada, por vezes cansativa. Entretanto, eles pareciam não ter nada em comum e como acontecia com Paul, invariavelmente lhes faltava assunto. Porém, esse último ponto talvez pudesse ser explicado pela falta de conhecimento entre eles, afinal, só se encontraram por duas vezes. De qualquer forma, Hannah se sentia pouco a vontade com o rapaz que tinha dois anos a mais do que ela apenas.

— O que achou das apresentações? – ele perguntou naquele tom pedante após o cumprimento inicial.

— Gostei bastante. – ela mentiu, não ouvira mais da metade do que fora declamado e praticamente nenhuma das músicas ou cantigas. – E o senhor?

— Estou maravilhado! – exclamou e Hannah o observou detidamente, ele não lembrava alguém maravilhado com algo. Pelo contrário, seu sorriso levemente rasgado parecia o de alguém totalmente insatisfeito.  – Mas, o melhor de tudo em estar aqui foi encontrá-la.

Lá estava a melosidade que ela considerava exagerada. E que a incomodava.

— O senhor esta sendo gentil... - ela retrucou disfarçando o incômodo.

Se mostrando afoito ele deu um passo em sua direção. Hannah o olhou de perto. Diretamente nos olhos azuis. O modo como ele a encarava a assustava. Inconscientemente se afastou.

— Gostaria de poder passar a noite ao seu lado senhorita Larkin.

Se isso acontecesse, ela daria brecha para uma aproximação ainda maior. E indicaria às pessoas, à sociedade que permitia a corte do rapaz. O que não era o caso.

— Senhor eu... – outro passo de aproximação foi seguido por um de afastamento.

Ele insistiu:

— Sei que nos conhecemos há pouco tempo, mas já tinha ouvido falar de sua beleza...

Ela arregalou os olhos entre desconfiada e zangada.

— Então o senhor deve estar falando de minha irmã.

Parecendo pedido com o comentário de Hannah ele emendou rapidamente:

— Não... absolutamente. Sua irmã é mesmo muito bela. – ele olhou estou de relance para o lado e continuou a tagarelar – Mas, certamente que estou falando da senhorita. Seu tio comentou muito bem sobre a senhorita. Sobre sua personalidade, sobre sua beleza, sobre seu temperamento... confesso que estava curioso para conhecê-la e não me decepcionei.

O irmão de seu pai a vira pela última vez quando tinha dez anos. Isso já fazia muito tempo, tempo demais para que essas palavras pudessem ser usadas de forma adequada e correta na época atual.

— Sir Pierce eu não sei o que...

Ele a interrompeu novamente:

— Diga apenas que aceita minha presença ao seu lado enquanto a noite durar. Serei o homem mais feliz do mundo se isso acontecer.

Hannah estava apavorada. Desesperada. Era certo que desejava um pretendente, mas aquele homem estava sendo inconveniente. E seu coração gritava desesperado pedindo que se afastasse dali.

De repente uma voz conhecida provocou um leve alívio. Era ele quem se aproximava, sir Evans que vinha praticamente arrastando sua irmã pela lateral do salão. Na direção deles. Hannah acreditou que nunca se sentira tão feliz em vê-lo se aproximar.

O casal parou diante dela. Sebastian a olhou firme. Ele parecia compreender que ela estava incomodada. Mas, sua irmã, mostrando um sorriso contrariado apenas cumprimentou sir Pierce.

— Como tem passado sir Pierce? – Betina falou rápida e sorridente.

— Estou muito bem senhorita Larkin. – a voz tediosa respondeu de forma educada parecendo incomodada com a interrupção.

— O senhor conhece nosso “amigo”, sir Evans? – Betina continuou olhando para o homem de quem segurava o braço.

— Ainda não tive o prazer.

— Sir Evans é filho do Marquês de Ashworth.

Os olhos do outro se fixaram em Sebastian.

— Já ouvi falar no senhor. É um grande prazer conhecê-lo.

Sebastian apenas moveu a cabeça em breve concordância. Os dois homens se olharam firmemente num “embate” mudo. Evans então falou baixo e firme, num tom quase intimidativo:

— Soube que sua família vive na Irlanda.

Hannah passou os olhos de um para outro. Sebastian era no mínimo um palmo mais alto do que o outro. Sua postura ereta, e os ombros largos o tornavam bem maior do que sir Pierce.

— Sim. Nossa família e negócios estão todos lá. – o outro respondeu sem demonstrar qualquer incômodo com a presença e o olhar de Sebastian.

Aquele baixinho era petulante. Evans pensou e insistiu no interrogatório de forma direta:

— E o que faz por aqui?

Sir Pierce encarou Hannah com aquele mesmo olhar que ela já detestava e disse em tom meloso:

— Vim para conhecer a senhorita Larkin. Estava lhe dizendo exatamente isso neste instante. Nas  vezes em que tive a oportunidade de conversar com Sir Larkin sobre ela, as palavras dele aguçaram minha curiosidade.

Betina sorriu deslumbrada com o modo de falar do rapaz. Ele parecia totalmente encantado por Hannah. O que sua irmã poderia esperar mais? Finalmente encontrara um pretendente que parecia capaz de passar por cima dos “defeitos” dela e permanecer na cidade. Já que sir Wood se fora.

Sebastian também encarou os dois. Ele reconhecia rapidamente as emoções que um homem provocava em uma mulher. E Hannah definitivamente não gostava de sir Pierce. Mas, ele também sabia que isso não importaria se por acaso o rapaz decidisse pedi-la em casamento. A mãe acabaria por obrigá-la a aceitar. Correu os olhos para Betina. E teria todo o apoio da irmã caçula.

Nada havia que pudesse fazer. Não diretamente. As cartas em nome de Paul eram agora desnecessárias. A própria baronesa deixara isso muito claro. Era preferível um pretendente, mesmo que menor, mas que estivesse próximo, do que um mais importante, mas que estava longe.

A voz de Betina, confirmando seus pensamentos, soou baixa:

— Sir Pierce é um verdadeiro cavalheiro.

Apesar do tom, era óbvio que a mais bela das irmãs Larkin queria ser ouvida, e assim que sentiu os olhos azuis do possível pretendente da irmã sobre os seus sorriu encantadoramente. Como se um pombo fosse, o rapaz moreno estufou o peito e agradeceu o cumprimento.

— E a senhorita é tão bela e simpática quanto me disseram.

Um risinho nervoso escapou pelos lábios de Betina, atraindo a atenção de Sebastian e Hannah. E o grupo aumentou, Celine Larkin se aproximou, trazendo consigo seu furioso leque e o marido.

— Queridos! – cumprimentou sorridente - Que noite esplendida!  - concluiu enquanto agitava o objeto em sua mão de maneira pouco segura aos mais próximos.

Sebastian sabia porque ela dizia aquilo. Porque suas duas filhas estavam acompanhadas. A mente da baronesa já criava planos sobre um futuro próximo, tal como fizera durante a estada de Wood. Só que desta vez, Sebastian não se sentia bem em pensar na concretização desses planos. E foi com certa alegria que viu a cunhada do outro lado do salão junto com seu irmão James. Era a oportunidade para escapar daquela cena ridícula.

— Se me derem licença, - começou sério retirando o braço que a garota loira segurava - preciso falar com meu irmão... – voltando-se para Betina fez um breve cumprimento, quando se voltou para Hannah, sentiu os olhos dela nervosos, como se pedisse socorro. Mas, ele sabia que nada poderia fazer. Mesmo que quisesse. E se afastou.

Sir Sebastian ia em direção ao outro lado da sala. Hannah o observou atravessar o ressinto com passadas largas e determinadas. Imediatamente pensou que sua salvação seria uma carta de sir Wood. Se ela recebesse correspondências do conde poderia engambelar a mãe e o pai por algum tempo. Evitar a corte de sir Pierce. Mas, não parecia haver nenhuma. Ou o filho do marquês já teria lhe enviado. Correu os olhos pelo semblante do barão. Sua última esperança era o pai. Mas, o homem também estava encantado com sir Pierce e suas palavras bonitas e melosas.

Não parecia haver escapatória.

James o encarava sorridente. Mas, ele não sentia vontade de sorrir e continuou a caminhar sério. Cíntia junto ao cunhado abanava o leque em movimentos suaves que escondiam seus olhos rápidos e perspicazes. Sebastian sabia que ela estava analisando tudo. E foi justamente a mulher quem primeiramente falou:

— O que aconteceu? – Cintia perguntou assim que o cunhado chegou bem perto. – Há dias que não o vejo. E quando vejo, está com essa cara!

Ele não estava disposto a falar sobre o assunto.

— Onde está Artur? – perguntou à cunhada. – Não tenho visto meu irmão ultimamente.

— Ah! – ela bateu com o leque fechado no braço do cunhado - Artur deveria estar aqui, mas você sabe como ele é, detesta todo tipo de reunião, festa, encontros, saraus, o que seja e eu acabo indo sozinha... – o leque se dirigiu para James -  desta vez só não estou só porque James aceitou me acompanhar.

Sebastian encarou o irmão, que era levemente mais baixo e mais claro do que ele.

— Cintia o arrancou de suas pesquisas?

James não teve tempo para responder. Cintia foi mais rápida.

— O arranquei da presença da senhorita Smith isso sim. – a voz da cunhada era provocante.

— Senhorita Smith? Quem é? – Sebastian perguntou apertando os olhos azuis levemente.

— A auxiliar dele... – Cintia explicou passando a mão pelo braço de Sebastian, como se fosse lhe contar um segredo.

Eles costumavam provocar James sempre que a oportunidade aparecia.

— Mamãe já sabe disso? – a voz do mais velho não parecia ser de provocação e sim de preocupação.

Quando a marquesa descobrisse que seu terceiro filho estava interessado em uma de suas assistentes. O mundo certamente cairia.

Vermelho James logo retrucou:

— Ela é apenas minha assistente, nada demais... – quase engasgando continuou: - você conhece Cintia, é pior do que mamãe, está sempre vendo pretendentes onde não existem.

Mas, ao contrário do que os lábios de James anunciavam, a expressão no rosto do rapaz dizia algo diferente. Entretanto, Sebastian não estava com ânimo para continuar com aquela conversa, por isso fingiu acreditar no irmão. Que afinal, já era grande o suficiente para cuidar de si mesmo e das manias da marquesa.

— Sebastian! – Cintia falou alto, como se lembrasse de algo importante de repente.

Ele dirigiu o olhar sério para a cunhada na espera do que viria. Cintia apertou a testa pensativa. O irmão do marido definitivamente não parecia a mesma pessoa naquela noite. Porém, seguiu em frente com o que tinha para dizer:

— Estou programando uma festa a fantasia para os próximos dias.

Ele suspirou. Era só o que lhe faltava. James demonstrando a mesma emoção se remexeu nervoso.

— Não façam essas caras! – Cintia reclamou de imediato – A ideia foi de sua mãe.

De quem mais poderia ser? A marquesa tinha a ideia e a esposa do futuro marquês a colocava em prática. Normal isso, já acontecia desta forma há cinco anos. E imediatamente Cíntia Evans continuou a falar sobre as programações, sobre as possíveis fantasias, sobre as guloseimas, decorações e no final da lista, Sebastian já estava arrependido de ter se afastado do outro grupo.  Tanto quanto sabia que James estava arrependido de ter aceitado acompanhar a cunhada no sarau.

**************

Hannah ouvia a falação do quarteto diante dela. De vez em quando observava sir Sebastian do outro lado. Ele parecia entretido numa conversa com o irmão e a cunhada. Mas, ela precisava encontrar um meio de lhe falar a sós. Saber se havia a possibilidade de receber alguma carta de sir Wood.

Porém, a oportunidade não surgia. E a esperança se desvanecia quando o rapaz finalmente se moveu, afastando-se do grupo, tomando a direção da saída. Ela não pensou duas vezes, pediu licença e escapuliu pela lateral. Ninguém parecia ter notado ou estranhado a necessidade dela em se afastar, mesmo assim, Hannah sabia que precisava ser rápida.

Sebastian caminhava rapidamente pelo corredor, havia poucas pessoas ali, conversando. Estava exausto e precisava de alguns momentos a sós antes de voltar ao grupo da futura noiva. Entretanto, a voz de Hannah repetindo seu nome em tom nervoso o obrigou a parar. Se voltou rapidamente, a tempo de vê-la se achegar quase correndo. Os olhos nervosos, a boca entreaberta, as bochechas rosadas. Aquela figura de cabelos vivos parecia saída das páginas de um livro.

— Senhorita Larkin... – falou percebendo o tremor na própria voz  – Aconteceu alguma coisa?

— Senhor Evans. – ela finalmente parou diante dele, olhando-o com aqueles grandes olhos de mar – Não é nada sério... – na verdade era, por que ela estava mentindo? – Por favor... – ela continuou – diga-me que enviou a carta ao seu amigo.

Era isso?

— Enviei. – confirmou firme.

— E a resposta? – ela perguntou agitada.

— Ainda não recebi. – ele mentiu, já estava pronta, guardada em sua escrivaninha, mas depois do que ele vira naquela noite, provavelmente a jogaria no lixo.

Hannah pareceu desolada. Ele quase acreditou que ela começaria a chorar.

— Não percebi que a senhorita e meu amigo estavam tão...

A garota sacudiu a cabeça negativamente. Não sabia como dizer, mas precisava confiar em alguém, e de repente, a única pessoa que lhe parecia confiável, era inesperadamente aquele homem.

— Não estamos senhor Evans... sir Wood e eu somos apenas amigos, ele nunca me falou nada que indicasse algo mais do que isso... na verdade estranhei o fato de ter enviado flores quando agia de forma tão desinteressada...

Ele pigarreou. As flores, todas elas, eram dele.

Parecendo não notar Hannah continuou:

— Apenas na mensagem que me deixou ao partir demonstrou interesse em manter um contato mais íntimo, porém... posso ter me enganado... provavelmente me enganei já que o senhor ainda não recebeu resposta.

— A senhorita sabe que o correio não é exatamente eficiente na entrega das correspondências...-  continuou a mentir, Hannah estava desesperada, e ele se pegou desejando acabar com aquele desespero que certamente envolvia o tal sir Pierce.

A garota ficou calada, apertando uma mão contra a outra, sem pensar ele as segurou entre as suas aproximando seus corpos um pouco mais. Hannah estremeceu levemente sentindo a caloria do corpo masculino junto ao seu.

— Há algo mais que eu possa fazer para ajudá-la? – a voz dele era baixa e gentil - A senhorita está muito nervosa.

Novamente os olhos cor de mar se fixaram nos dele. Sim, Hannah estava passando por um momento de extrema inquietação.

— Ninguém pode me ajudar sir Evans... – agora que ela sabia que nenhuma carta havia chegado, percebia a total incapacidade de escapar daquela situação. – desculpe perturbá-lo.

Lentamente ela puxou as mãos, ele ficou parado. Se sentindo mal. Querendo fazer algo sem saber o que. E antes que pudesse sair daquele momento de indecisão, ela já sumira no corredor. Suspirando, Sebastian decidiu que era hora de ir embora. Não se importando com o que a família Larkin ou Betina pensaria a seu respeito. Estava sem ânimo para voltar lá e enfrentar a presença de sir Pierce e o desespero de Hannah sabendo não ter condições de ajudar.


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Notas finais do capítulo

O que vcs acham q ele fará? Talvez o próximo capítulo seja total e completamente inesperado... até eu me surpreendi com ele. BJJJJJJJJJ estou amando o Sebastian agora! kkkkkkkkkk amando os reviews de vcs. OBG