Ladrão de Corações escrita por Lilissantana1


Capítulo 7
Capítulo 7 - Sebastian


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Vários problemas se colocaram no caminho, mas finalmente consegui parar, escrever e postar o capítulo. Tomara q vcs gostem. BJ



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A casa não era grande, nem mesmo tinha a aparência daquelas onde mulheres costumam mandar. Nada de flores. Os móveis eram extremamente simples, raros enfeites, alguns quadros e absolutamente nenhum utensílio decorativo feminino como bordados, desenhos ou pinturas.

Ela foi acomodada na sala principal, em um sofá de tecido liso, com a cor do damasco e almofadas marrons. Ao lado do móvel, sobre uma mesinha de mogno, um abajur simples. No console da lareira, absolutamente nada além de um quadro com um enorme cavalo bretão como tema. Duas ou três estantes com livros preenchiam a parede oposta atraindo especialmente a atenção dela. Curiosa, Hannah desejou saber quais autores e títulos sir Sebastian lia. Mas não teve tempo para bisbilhotar. Logo ele estava entrando no cômodo, parecendo absolutamente a vontade ao vê-la em sua casa. Ereto mostrando como sempre, roupas e cabelo impecáveis. A voz demonstrava tranqüilidade quando ele a cumprimentou:

— Boa tarde senhorita Larkin...

Hannah se ergueu rapidamente trazendo à mente de Sebastian a lembrança da noite do sarau literário, em que a vira sozinha tomando ar. Sempre que se encontravam, a garota se mostrava desagradada. Insatisfeita, como se a simples presença dele a incomodasse.

— Boa tarde Sir Evans...

O dono da casa parou a alguns passos dela.

— Se busca meu amigo, sinto lhe informar que foi chamado logo cedo por...

Hannah ergueu a mão a sem demora. Interrompendo o que ele tinha a dizer.

— Sim, eu sei.

Fingindo surpresa, Sebastian se aproximou um pouco mais, estendendo a mão indicando que a jovem poderia voltar a se sentar.

— Não compreendo. Como a senhorita pode saber se ele foi ainda hoje. – mentiu descaradamente.

As bochechas cobertas por sardas ficaram vermelhas imediatamente. Sebastian compreendeu que a garota fazia um grande esforço para estar ali. E acreditou que os sentimentos de Hannah talvez fossem mais profundos do que esperava que fossem.

— Sir... – ela começou na tentativa de se explicar, diante do comportamento do dono da casa, ficava claro que sir Wood não mencionara nada ao amigo, caberia a ela explicar o motivo da visita. Respirando fundo tentou: - O conde me enviou uma... breve mensagem, informando sobre... – puxou de dentro da bolsa a carta recebida junto com aquela que ela escrevera – sua partida inesperada.

Sebastian teve o bom senso de nada dizer e apenas esperar pelo que viria. Mesmo sabendo o que era.

— Na mensagem, sir Wood garante que o senhor... – ela o encarou séria, tímida, e levemente encabulada obrigando-o a sorrir suavemente na tentativa de parecer menos intimidativo – poderia me fazer o favor de enviar esta pequena resposta a ele...

A mão enluvada se estendeu para ele mantendo entre os dedos um papel dobrado e lacrado. Ali estava a resposta à sua carta. Ele pensou sentindo no peito a vibração suave da vitória antes de pegá-la.

— Certamente que farei. – confirmou sem titubear. Sentindo a carta queimar entre os dedos e a curiosidade inundar seu ser. O que aquela garota tão especial teria escrito ao seu amigo? Ou melhor, a ele mesmo?

— Fico muito agradecida sir Evans... – os olhos que naquele dia pareciam um lago profundo e misterioso, se fixaram nos dele. Hannah parecia mesmo agradecida. Ela parecia mesmo interessada em continuar a escrever.

— Não é necessário que agradeça. Paul e eu somos amigos há muitos anos. Será uma grande alegria poder ajudar.

Pronto. Estava feito. Hannah pensou liberando um leve suspiro. Fora mais fácil do que o esperado. Sir Evans se mostrara um perfeito cavalheiro. Agindo como na noite em que a tirara para dançar. Sem parecer ter segundas intenções. Ficando em pé, ela concluiu que estava certa a respeito dele. Aquele homem não era confiável. Sua capacidade de mentir e ludibriar alguém estava acima da honra que um verdadeiro cavalheiro deveria cultivar.

— Muito obrigada... – repetiu, apesar de Sebastian ter considerado o agradecimento desnecessário – Assim que obtiver a resposta, por favor, a envie por um mensageiro.

— Certamente que assim farei. – ele concordou.

— Mais uma vez, peço desculpas pela... invasão a sua residência.

Ela era cheia de melindres, cheia de recatos, cheia de timidez. Sem quer, ele a olhou metodicamente, de cima abaixo. O pescoço longo, o colo liso de pele sedosa, mesmo sem tocar ele sabia que era sedosa, sabia disso desde a noite do baile, quando a vira entre as mulheres mais velhas. O rubor na face, os lábios rosados e cheios que combinavam perfeitamente com os olhos grandes e encantadores. Talvez estivesse enganado. Mas, certamente que aquela mulher deveria ser muito mais do que aparentava.

O interesse por ela aumentou. O que haveria sob aquela casca de sobriedade e honra? Sob todas as camadas de timidez e roupas recatadas? Talvez acabasse descobrindo durante as correspondências que trocariam.

— Sempre que precisar, estarei aqui para ajudar. – respondeu sem pensar se deveria ou não manter tanta proximidade com a futura cunhada além daquela que ocorreria nas cartas que trocariam.

Hannah se foi. Deixou atrás de si o famoso aroma de jasmim, uma impressão ainda mais forte do que aquelas oferecidas em seus parcos encontros e uma curiosidade latente que desejava ser satisfeita.

***********************

Alguns dias depois, eles voltaram a se encontrar, sozinhos, no passeio público. A mãe saíra com as duas filhas para fazer compras e depois visitar a modista, mas Hannah optara por ficar na praça, lendo um livro. Um livro de contos góticos. A tarde parecia gostosa demais para se passar enfurnada em lojas e ateliers de modistas, ouvindo sempre as mesmas conversas sobre tecidos, fitas, sapatilhas, meias, e modelos.

Sebastian descia em direção ao lago, de onde seguiria até o outro lado, tomando enfiem a rota para a casa do pai quando avistou a mais velha das senhoritas Larkin totalmente absorta por um livro. De fato se surpreendeu em vê-la, pois em sua última visita à casa do Barão, não tivera a oportunidade de encontrar a garota ruiva. Nem tampouco escrevera a resposta à carta dela a Paul.

Enquanto se aproximava em passos curtos e metódicos, tentou decifrar o que lhe ia na mente. Será que sentia a falta de Paul? Será que esperava pela carta dele com ansiedade? Betina nada lhe dissera a respeito disso. Nem Hannah o buscara novamente. E Sebastian quase se ressentia da falta de informações que o ajudassem a prosseguir com o plano.

Lenta e gradualmente se aproximava da jovem, e nesse ínterim, pode notar a expressividade daquele rosto redondo. Ela estava totalmente atenta ao pequeno tomo. Os olhos mais abertos do que o normal, se detinham firmemente nas linhas enquanto os lábios se apertavam num gesto tenso. De repente um breve sorriso e um movimento de cabeça. Definitivamente, ele concluiu, não importava o que estava sendo lido. A garota estava adorando a leitura.

— Boa tarde... – disse assim que esteve bem próximo e Hannah praticamente saltou no banco de susto.

— Oh! Sir Evans! – e o sorriso dirigido a ele foi o mais espontâneo que já vira nos lábios dela.

Retribuindo o sorriso ele se balançou levemente parecendo divertido.

— A assustei? Posso concluir que a senhorita estava lendo algo indevido?

O sorriso dela se fechou. Será que aquilo era uma critica? Será que ele pretendia contar a mãe ou a irmã que a encontrara lendo um livro sobre contos góticos? Se assim fosse estaria perdida, pois Charlote Larkin já não gostava do fato da filha ler e, se soubesse o tipo de livros que lia seria pior ainda. Imediatamente escondeu o livro sob a ponta do vestido. Ciente do que a garota havia feito, Sebastian se aproximou um pouco mais inclinando o corpo à frente para falar em tom mais baixo.

— Não se preocupe... não contarei a ninguém sobre seu interesse em livros...

Sim, ele estava pensando bobagens. E decidiu aclarar a situação:

— São apenas contos góticos. – Hannah explicou puxando o livro para a luz novamente.

Ele já vira mesmo, se quisesse, poderia contar o que sabia.

— Posso me sentar ao seu lado? – a voz forte perguntou estranhamente amigável.

Mudando de posição Hannah permitiu que seu possível futuro cunhado se acomodasse no banco com distância suficiente e adequada.

Nada fora dito em positivo, nem precisava, quando Hannah lhe concedeu espaço, Sebastian soube que poderia se sentar ao lado dela. Enquanto se acomodava, ele a olhou firme. Hannah parecia mais bela sob a luz da tarde, seus cabelos apresentavam uma tonalidade especial. Os olhos estavam tão azuis que se assemelhavam ao céu daquele dia, sem nuvens e totalmente limpo. O vestido escolhido era perfeito, leve, suave e delicado como ela. As mãos não calçavam luvas, nem mesmo de rendas e ele se perguntou onde ela as deixara já que com certeza a baronesa não permitiria às filhas saírem de casa sem uma peça tão importante da indumentária feminina.

— Gosto de contos góticos. Na verdade, tenho uma coleção deles... – ele explicou, quase confidenciou.

Sem querer Hannah se inclinou para a frente, era complicado conseguir os tais livros. Muito complicado. E agora, sir Sebastian estava ali, diante dela, dizendo possuir uma coleção. Por Deus! Uma... coleção!

Antes que ela pudesse se manifestar verbalmente, ele continuou:

— Posso emprestar se a senhorita desejar... – o tom usado era ainda mais baixo, como se segredo fosse – Ninguém precisa saber... exceto, a senhorita e eu é claro...

— O senhor...

— Nada direi sobre isso a sua mãe...

Não era isso o que Hannah pretendia dizer. Quando sir Sebastian se sentou ao seu lado, com aquele olhar, com aquele jeito, com aquele sorriso. Ela soube que ele a compreendia. Mas, isso era tão estranho vindo de um homem! Como então não perguntar... ela precisava saber:

— O senhor não... considera um mau hábito... para alguém como eu, ler esse tipo de livros?

Ele se recostou no banco, cruzando os braços sobre o peito sem desviar os olhos dos dela.

— Considero um mau hábito uma mulher não gostar de ler.

Ih! Ela concluiu. Sua irmã precisava começar a ler imediatamente. Mas, pensou rapidamente, isso era uma coisa que cabia a Betina resolver e não ela. E sorriu satisfeita por não ser repreendida por fazer algo que tanto gostava. Apesar da aprovação vir de um lugar onde jamais esperava.

— Mamãe reclama que estou sempre lendo... – continuou explicando, sem perceber que estava conversando naturalmente com um homem, e que esse homem era sir Evans – entretanto, não posso fazer nada quanto a isso. Eu gosto... na verdade, é uma das coisas que mais gosto de fazer.

— A senhorita lê apenas esse tipo de livros? – ele parecia interessado.

— Não tenho muito acesso a livros...- se explicou- na verdade acabo relendo os que possuo, por falta de opção.

Sebastian suspirou rapidamente olhando em volta. Ele com certeza poderia ajudá-la. Só não sabia porque a ajudaria.

— Na minha casa, como a senhorita pode ver naquela tarde em que me visitou, há muitos livros. Livros variados. Será um grande prazer lhe ofertar alguns.

— Ofertar? – ela repetiu a palavra provocando um riso descontraído no homem diante dela. Um riso tão contagiante que Hannah quase foi obrigada a esquecer que não gostava de sir Sebastian.

— Sim, ofertar. Posso lhe dar alguns. Outros, emprestar.

Alguns eram quase como relíquia, ele comprara em viagens, ou ganhara do pai. Seu grande incentivador nesse aspecto da vida.

— Quando? – sem querer Hannah segurou-lhe o braço.

— Quando desejar. – sir Evans respondeu de forma sucinta.

Hannah tinha certeza de que sua boca estava aberta, de que seus olhos demonstrava todo o espanto que a invadia. Ele parecia tão disponível. Tão acessível. Tão diferente do cavalheiro que cortejava sua irmã. Sempre que Betina e sir Sebastian estavam juntos, ele parecia o homem mais pedante e cansativo de quem já tivera noticias. Mas, ela pensou, na verdade todos os homens que se aproximavam de sua irmã lhe pareciam pedantes e cansativos. Por que será?

Encarou o rosto bonito. Oh! Ele era realmente belo. A pele, o cabelo, os olhos, os lábios. Alto, elegante e bem vestido. E como se isso fosse pouca coisa, ainda possuía aquele ar maroto que poucos homens têm e que os torna tão... tão... que palavra usar?

Sedutores? Seria isso? Sim, seria. Essa fora a impressão que lhe passara durante a única oportunidade que tivera de dançar com ele. E agora, depois de quase um mês, a impressão se repetia. Causando mais confusão do que espanto.

Sir Sebastian não era apenas seu intermediário na relação com sir Wood, como agora era também quase como um amigo e um dia... seria seu cunhado. Além de ser o homem mais sedutor que já tivera a oportunidade de conhecer.

Seus pensamentos lhe trouxeram Paul. Era preciso admitir. Nem mesmo ele conseguia chegar aos pés de Sebastian Evans.


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Notas finais do capítulo

Será que eles ficarão amigos? Ficar amigos complica a vida. Ou pode complicar. Mas, também é uma maneira de se conhecer. Vamos ver. BJ e obrigada pelos reviews. Espero poder postar amanhã.