Ladrão de Corações escrita por Lilissantana1


Capítulo 4
Capítulo 4 - Culpa, eu?


Notas iniciais do capítulo

Algumas vezes até aqueles que parecem não ter coração demonstram algum tipo de sentimento...



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Hannah se sentou antes da mãe e da irmã que ainda em pé conversavam animadas com a anfitriã. A garota estava distraída remexendo nos pequenos bordados da luva quando sentiu uma presença ao seu lado. Não lhe importava quem poderia ser, talvez a senhorita Moller ou então Isabelle Dixon sua amiga mais antiga.

Então, uma voz forte a sobressaltou  ao perguntar:

— Posso sentar-me ao seu lado senhorita?

Os olhos grandes viram um rosto bonito, de traços angulosos e boca estreita a lhe sorrir amigavelmente. O que estava acontecendo? Era a segunda vez em menos de uma semana que um homem se aproximava dela. A primeira, na verdade, nem contava, pois fora um grande engano. Entretanto, naquele momento, ela queria mito acreditar que não seria um engano. Afinal, Betina estava a poucos passos dela e o cavalheiro não se dirigira para sua irmã.

Rapidamente Hannah revisou as cadeiras com os olhos. Praticamente todas as fileiras tinham espaços vazios. Voltando a encarar o homem que ainda a observava, pensou que o tal desconhecido “escolhera” sentar-se ao lado dela.

Ele retornou a fala:

— Sou o Conde Wood. Paul Wood. Estou em visita na casa de um amigo e... - ele se acomodou na cadeira como se quisesse vê-la melhor antes de continuar a falar: - foi uma grata surpresa aceitar este convite e encontrar a senhorita aqui.

Hannah compreendeu imediatamente que ele estava acostumado a interpelar jovens como ela. Aquele homem não era o tipo tímido de alguns romances que lia. Podia não ser o ladrão de corações, mas poderia ser uma copia dele.

De longe, Sebastian assistiu a aproximação e o principio de conversa entre o casal. Hannah estava perdia, sem saber o que fazer enquanto Paul investia firme na conquista. Estava no papo! Agora era a vez dele avançar.

A marquesa não sabia exatamente para onde seu filho seguiria quando ele pediu licença. Sebastian era capaz de ser extremamente gentil quando queria. E já estaria casado se não fosse tão mulherengo. A mulher esperava que a reputação de bon vivant, não atrapalhasse a atual busca pelo casamento.

Mas, ela apertou os olhos se perguntando, a quem ele se dirigia? Seria mesmo na direção da senhorita Betina Larkin? Incomodada bateu com o leque na mão. Era sabido que a moça era a mais bonita da estação, mas também, era a menos atingível.

Eles certamente formariam um casal inigualável em beleza e posição caso seu filho conseguisse burlar as regras do pai da moça e fosse bem sucedido. Coisa que a marquesa ainda duvidava.  Balançando negativamente a cabeça, ela concluiu que definitivamente  Sebastian gostava de encarar situações complicadas, quase impossíveis de serem resolvidas.

— Boa noite senhorita Larkin. – ele cumprimentou ao parar próximo a dupla. – Baronesa...

Imediatamente as duas mulheres se derreteram em sorrisos e cumprimentos para ele.

Sebastian continuou:

— Que esplêndida noite para um sarau. Não acham? – comentou olhando em volta.

— Oh! Sim! – Charlote respondeu encantada com o possível candidato a futuro genro.

E a fala do filho do Marquês só fez aumentar a expectativa:

— Esperava poder encontra-las aqui. – ele voltou a falar – Estive muito ocupado nos últimos dias. – ocupado em elaborar planos que conduzissem Hannah a uma posição que lhe permitisse cortejar a irmã caçula dela.

Lá estava a justificativa que a baronesa e sua filha esperavam para o silêncio de sir Evans. O filho do Marquês estivera ocupado, por isso, não fora a residência dos Larkin visitar Betina. Aquela desculpa mais do que valia. As duas concluíram rapidamente.

O anfitrião solicitando silêncio se acomodou no palco, a frente das cadeiras pedindo a todos que tomassem assento, pois as declamações começariam. E foi só nesse momento que a baronesa viu o jovem, que anteriormente estava ao lado de sir Sebastian, sentado junto a sua outra filha, entabulando com ela o que parecia ser uma conversa amigável.

Enquanto observava o interesse do jovem moreno em Hannah, a mente aguçada da mulher, logo entendeu como, de repente, suas duas filhas pareciam ter pretendentes. E também porque sir Evans dançara com Hannah, até aquele instante, ela ainda não conseguira compreender aquele acontecimento. Porém, naquele breve segundo, tudo se clareou, o filho do Marquês dera um jeito de conhecer a moça na tentativa de buscar um cavalheiro que fizesse o favor corteja-la e assim, liberar Betina para sua corte e posterior pedido.

Nada poderia estar melhor! Ela pensou. Acabaria casando as duas filhas ainda naquela estação.

A mãe, a irmã e sir Sebastian, sentaram atrás dela. Imediatamente Hannah sentiu o pescoço queimar. Não havia lugar melhor para eles se sentarem do que atrás dela? Daquele momento em diante não teria mais paz. Pensou zangada.

O cheiro de jasmim podia ser sentido de onde estava sentado, logo atrás de seu amigo Paul. Ele podia ver também a lateral do rosto de Hannah, sua face parecia rosada e de alguma forma... feliz? Sorriu internamente. Que moça não se sentiria feliz em ter alguém como Wood a cortejá-la? E ele quase, quase se sentiu mal pelo que estava fazendo. Afinal, aquela garota se transformaria em sua cunhada em breve.

— Não posso acreditar! – a voz delicada de Betina pronunciou em tom de surpresa afastando qualquer sentimento de culpa que pudesse perturbá-lo.

— Em que não pode acreditar minha cara? – se voltando para sua deusa perguntou.

— Minha irmã... está conversando com um cavalheiro.

Ele sorriu, satisfeito consigo mesmo por ser o autor daquele encontro. A culpa se fora.

— E parece que o cavalheiro em questão está bastante interessado nela. Não acha?

Betina torceu o nariz num gesto encantador e falou:

— Deus nos ajude! Minha irmã é capaz de afastar o mais interessado dos homens. – ela parou de falar como se lembrasse de algo de repente – Se bem que é a primeira vez que vejo um cavalheiro conversando de forma tão animada com ela... – será que finalmente Hannah chamara a atenção de alguém? Ela quase não conseguia acreditar realmente.

— Sua irmã parece ser encantadora. – Sebastian falou acreditando que agradaria, mas, recebeu um olhar tão inusitado que concluiu ter dito a pior coisa que poderia dizer.

Betina, em tom de sussurro já que as declamações haviam começado, retrucou:

— Não precisa ser gentil sir Evans. Nossa família toda sabe e já esperava que Hannah ficasse solteira... ela nunca foi bonita. Tem o temperamento tímido. Mal fala. Vive enfurnada com seus livros. Além disso, há aqueles cabelos... o senhor precisaria vê-los soltos para compreender claramente o que lhe digo. Parece que vão pegar fogo a qualquer momento.

Sebastian jamais imaginou que ouviria uma irmã falar assim de outra. Sua mãe praticamente os obrigava a manter um relacionamento cordial. E apesar da cansativa mania de casamenteira. Ela tentava cultivar o carinho e o amor fraternal entre seus rebentos.

— Tenho certeza de que distinto senhor está deveras encantado por sua irmã... – quase se repetiu, estava perdido depois daquela demonstração de pouco afeto entre as irmãs Larkin.

Mas, não era verdade. Para Paul, Hannah não era interessante. Ele sabia. Naquele momento, Sebastian pensou que talvez fosse melhor buscar outro cavalheiro que pudesse se interessar verdadeiramente pela garota ruiva.  E foi exatamente isso o que falou para Wood assim que o encontrou no intervalo, quando os dois se afastaram estrategicamente de seus respectivos alvos para se conversar e trocar informações.

— Está roendo a corda Sebastian? – Paul perguntou brincalhão.

— Não! – sir Evans disse rápido, sem conseguir evitar aquela sensação de estar agindo como um canalha da pior espécie.  – Como ela é? - perguntou de repente e Paul o encarou.

— Tímida a principio... fala pouco, mas é esperta e espirituosa... tem um belo sorriso. – assim que concluiu Wood percebeu o olhar do outro sobre si, analisando-o e tratou de esclarecer: - Não pense que mudei de ideia. Ela é um pouco mais interessante do que acreditei a principio, mas jamais a abordaria em uma festa como fiz hoje. Tampouco abandonaria minha vida de solteiro por ela. Como você farrá pela irmã dela. - para Wood havia enorme distinção entre Hannah e Betina.

Sebastian não sabia o que fazer. Paul continuou:

— Se você conseguir outro mártir, que deseje se casar, pode me substituir. Abro mão de meu posto tranquilamente.  

— Por enquanto não tenho ninguém em mente. – Sebastian explicou sério – por isso, seguimos com o plano do jeito que era. Você vai embora em alguns dias e eu sigo me comunicando com ela como se fosse o Conde Wood, até conseguir a mão da irmã dela.

Ele queria Betina apesar de tudo. Era ela quem fazia seu corpo reagir todas as vezes em que a via. Não podia deixar essa oportunidade única passar.

Os amigos se separaram. Paul foi ao toalete masculino, Sebastian tomar um pouco de ar enquanto a futura esposa se deliciava com as guloseimas especialmente preparadas para a ocasião.

Havia duas ou três portas abertas daquele lado da sala. Todas davam para o jardim. Ao cruzar pela primeira, ele a viu. Hannah estava parada junto a mureta que separava os degraus de pedra da enorme trepadeira que se enroscava em uma pilastra em estilo dórico.

Cruzou direto, ingressaria em outra porta qualquer. Não pretendia falar com ela. Porém, depois de duas ou três passadas longas, retornou. Parando na soleira a observou. A jovem se sentara e acomodava a pequena bolsa de mão sobre as pernas. Assim que ouviu seus passos, ergueu o rosto, para em seguida ficar em pé.

— Não pretendia assustá-la.. – ele falou quase tão perdido quanto ela.

— O senhor não me assustou. – a jovem retrucou encarando-o com aqueles olhos expressivos cor de mar.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos. Sebastian não sabia o que dizer. Não sabia porque entrara ou saíra ali. No final, falou a pior coisa que poderia ter dito:

— Paul gostou muito de conhecê-la.

Os olhos dela se abaixaram, se ergueram e o encararam firmes.

— Seu amigo é muito simpático.

Simpático? Sebastian repetiu mentalmente se divertindo. Paul ficaria furioso se soubesse que a garota desinteressante o considerava apenas simpático. Descontraído ele deu um passo a frente e ela explicou rapidamente:

— Betina está junto a mesa de doces com mamãe....

Ele parou de caminhar. De forma educada ela o estava convidando a se retirar?

— Sei disso. – ele retrucou – Eu precisava de um pouco de ar, – confessou – esses ambientes repletos de pessoas algumas vezes podem ser sufocantes.

Ela sorriu como se compreendesse.

— Então, vou deixa-lo a vontade para que possa aproveitar adequadamente o ar da noite.

— Eu a importuno? – ele perguntou  se sentindo ressentido com o comportamento arredio dela. No outro dia, quando dançaram juntos, Hannah fora gentil, simpática e cordial durante a rápida conversa que tiveram. Completamente diferente daquela diante dele.

— Absolutamente senhor... só não considero adequado estar num ambiente tão solitário apenas na presença de um homem. Pior do que isso. Apenas na presença de um pretendente de minha irmã. Se nos vissem, seriamos mal interpretados. Então, se me der licença sir Evans, me retiro. Boa noite...

— Boa noite... – ele respondeu enquanto os olhos de mar o observavam firmemente.

Hannah saiu. Não sabia como conseguira falar tudo aquilo. Seu coração parecia que saltaria pela boca, as mãos tremiam e a garganta ardia travada pelo choro contido.

Sentir-se mal por algo que nem sabia o que era, não fazia parte da personalidade de Sebastian Evans. Mas, fato era que estava se sentindo péssimo. Pelos céus! Aquela garota seria mesmo sua cunhada, precisava manter uma boa relação com ela. Eles se encontrariam com frequência.

Fechou os olhos quando a brisa da noite lhe trouxe o aroma que ficara no ar. De alguma forma aquele cheiro era atraente, e ele conseguia ver o rosto de Hannah claramente todas as vezes em que o sentira.

Sacudiu a cabeça de forma negativa. Como Paul poderia considerar tão pouco a hipótese de se aproximar verdadeiramente de Hannah como ele faria com Betina? Qualquer homem que tivesse a chance de se enroscar naqueles cabelos ruivos poderia se considerar sortudo.


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Notas finais do capítulo

Olá meninas. Eu sei que Sebastian é irritante. E estou achando q vcs adorarão ver ele sofrer pela Hannah. Bj, estou amando ter vcs aqui, e adorando os reviews de vcs.

OBS a vizinha está tocando (para ela e para mim) uma música irritante, totalmente fora de contexto, quase me perdi no capítulo. Por isso ele não ficou maior.



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