Três requiems para 221 Baker Street escrita por Maga Clari
Notas iniciais do capítulo
Sei que demorei muito mais do que deveria, mas a quarta temporada me deixou desanimada. No entanto, estou numa noite de inspiração hoje, e resolvi terminar esta fic ♥
Tentei aumentar o capítulo, mas vai ficar encheção demais, não quero colocar informação desnecessária...
Beijocas
— Você acha que é páreo para mim, chapa? Arrrrg! Fale com minha mão de gancho! Arrrrrrg! E é Capitão Holmes pra você!
POW!
O som do tiro que saiu do revólver de Sherlock Holmes assustou não somente Rosemary, mas John Watson, que encarava o velho amigo detetive por detrás de um olhar de incredulidade. Ele tinha os braços cruzados e havia acabado de enxugar os pés no tapete de entrada.
— Oh! — um pigarro saiu da garganta do Doctor Watson — Muito bem, Sherlock! — outro pigarro — Desapontado, mas não surpreso. É claro que era isso que eu encontraria aqui.
— Quem é você, marujo? — Sherlock apontou o revólver que sambava na direção de John Watson.
— Sherlock...
— Pensei... ter perguntado... o seu nome, marujo!
Pow!
Pow, pow, pow!
Dois gritos agudos foram ouvidos do lado de dentro do 221B de Baker Street. Logo após, os gritos deram forma à senhora Hudson, que carregava Rosemary nos braços.
— Faça alguma coisa, John! — ela lhe dizia, em sussurros — Salve Sherlock. Salve Sherlock!
John a olhava, um pouco inseguro. Depois, vendo que a qualquer momento algum acidente mais grave poderia acontecer, optou por usar suas habilidades de médico do exército para arrancar o revólver do velho amigo, e jogá-lo no chão.
— Traga água, senhora Hudson!
A senhora, embora assustada, saiu e voltou correndo com um copo d'água. John inclinou a cabeça na direção de Sherlock, indicando para onde ela devia derramar.
— Nele?
— Sim, senhora Hudson — John lhe confirmou, calmamente.
— Tire suas mãos sujas de mim, marujo! Arrrrrg!
Splash!
— John!
— Graças a Deus, ele voltou!
— Voltou? Voltou de onde?
Sherlock Holmes empurrou John Watson com sua palma gigantesca e levantou-se num pulo. Caminhou pelo apartamento, deu a volta na sala, na verdade. E pela primeira vez naquele dia John permitiu-se observá-lo: a barba suja, as unhas crescidas, o cabelo seboso. Se fosse noutra época, aquilo seriam apenas detalhes. Mas agora, John conhecia os indícios.
Sherlock havia voltado a se drogar.
Passando os olhos pelo resto do cômodo, encontrou tocos de cigarro em cinzeiros espalhados pelo chão, vidros com restos de substâncias coloridas que ele temia perguntar o que era, e lá na lata de lixo, a prova do crime! Uma, duas, três, quatro, cinco seringas!
Os olhos de desapontamento de John Watson pareceram queimar a pele de Sherlock quando este voltou a se aproximar, esfregando o braço exageradamente nas bochechas do velho colega.
— Demorou mais tempo do que pensei que demoraria, John. Está enferrujado.
— Sherlock!
— O que está esperando? Uma lupa? Quer ver se encontra os furos na minha pele?
— Pelo amor de Deus, Sherlock! O que há com você, afinal? Quer saber? Não vamos ter esta conversa com plateia. Senhora Hudson, a senhoria se importaria de dar um passeio com Rosie?
— Claro, claro, sim! Já estou indo...
Então, quando já estava para bater a porta, chamou-o outra vez, em sussurros:
— Salve-o, John. Salve Sherlock Holmes.
Mas John não teve como responder, porque quase no mesmo instante, Mycroft Holmes surgiu no vão da porta apoiando-se em seu guarda-chuva, com a mesma expressão de desgosto.
— O que meu irmãozinho andou aprontando dessa vez, Doctor Watson?
— Foi você que o chamou?! — Sherlock apontou para Mycroft, como se apontasse para o mais nocivo dos vermes — Ah! Estou sem paciência!
— Também estou, Sherlock, mas Doctor Watson disse que era uma emergência! E... acho que ele tem razão.
— Tudo bem! — Sherlock levantou os braços, em sinal de rendição — Voltei a me drogar!
— Eu sei, Sherlock, não sou idiota. Pelo menos, na maior parte das vezes.
Então, antes que isso pudesse ter sido esperado, os irmãos Holmes engataram em gargalhadas. John ficou genuinamente confuso.
— O que há com você, irmãozinho? — tentou outra vez Mycroft.
Mas Sherlock não lhe deu ouvidos, indo atrás de seu violino, recém-consertado. John entendeu que não era bem vindo naquela conversa familiar, por isso buscou a janela, para fingir que não prestava atenção. Mas ouvia tudo com curiosidade.
— Sherlock, achou que isso é resultado de um coração partido.
— Não seja estúpido, Mycroft!
— Você sente-se solitário.
— Impossível sentir-se solitário com aquele bebê irritante.
— Você sente falta de John Watson, não tente negar.
A afirmação deixou os músculos do detetive mais rígidos do que de costume. E embora tentasse esconder isso, era inevitável já que estava deslizando uma vareta sobre o ombro.
Mycroft pareceu adorar o efeito que havia causado ao irmão caçula, já que continuou enchendo-lhe a paciência:
— Não já está na hora de acabar com essa brincadeira de sociopata, Sherlock?
— Não sei do que está falando.
— Ora, vamos... Até mesmo Eurus, que é comprovadamente doente, rendeu-se aos sentimentos dela. Pensei que veria mais daquele Sherlock depois do famoso Problema Final...
— Parece que quem está usando drogas aqui não sou eu, Mycroft.
O mais velho dos Holmes soltou outra risadinha, seguida por um sorriso.
— Você pode ser insuportável, metido e eu posso até odiá-lo, Sherlock. Mas ainda é meu irmãozinho, e eu não gosto quando você tem overdose. Então se cuide melhor. Agora, já vou indo que tenho mais o que fazer.
Sherlock só entendeu que Mycroft havia ido embora quando deixou de ouvir as batidas do guarda-chuva no chão. Mas isso não impediu que ele continuasse sua marcha fúnebre no violino. Nem que reunisse coragem para fazer um convite ao Doctor Watson:
— Quais são seus planos para hoje à noite?
A pergunta pareceu um pouco errada e fora de hora. E John teria continuado a fingir que não havia escutado, mas o detetive insistiu:
— John?
— Desculpe?
— Tem planos para hoje à noite?
— Tenho um encontro — ele inclinou a cabeça para o velho amigo, esquecendo-se momentaneamente do embaraço — É uma garota nova. Vamos ao Carnegie Hall...
— Okay, vá então, divirta-se.
Mas o que John Watson menos faria era se divertir.
Principalmente depois de Sherlock ter jogado o próprio violino pela janela e se trancado o resto da noite no quarto, ouvindo a Abertura 1812 de Tchaikovisky no último volume.
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