Bilhete para o mundo escrita por slytherina


Capítulo 9
… com benefícios




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O mundo era bom e as pessoas podiam ser felizes. Ao menos era nisso que Jared queria acreditar. Aquele final de semana tinha sido maravilhoso. Jensen o convidara a passar o FDS num resort 5 estrelas. A comida era gourmet. O quarto, hollywoodiano. E ainda tinha o spa, golfe e piscina olímpica. A clientela era discreta, assim como os funcionários. Coisa de gente acostumada a atender Rotchilds, Rockfellers e Bouffets. É claro que eles nem piscavam os olhos para um Smith ou um Wesson.

O melhor de tudo não era todo aquele luxo ou mimo. O melhor de tudo foi Jensen ter tomado a iniciativa e o levado para aquela suíte com uma bela cama de casal, onde não restou dúvidas sobre suas intenções. Jared nem se abalou. Depois de meses sendo coberto de beijos, massageado não só no ego, e paparicado como uma donzela a espera do príncipe encantado, ele estava mais do que pronto para o próximo passo.

Por que não tivera uma crise de nervos? Ele não tinha ojeriza a relacionamentos? Bem, antes de tudo, Jensen era seu amigo. Seu camarada. Seu chapa. Alguém que nunca iria magoá-lo. Alguém que sempre faria tudo por ele. Seu melhor amigo. Que outra palavra o definiria? Amante? Amantes são descartáveis. Amor não dura pra sempre. Atração física, menos ainda. Se fossem apenas amigos com benefícios, Jensen não teria se ocupado em proporcionar um encontro dos sonhos, para sua primeira vez.

Ele gostaria de ter avisado Jensen, que ele era de baixo orçamento. O armário de vassouras e uma rapidinha já estavam de bom tamanho. Ele não era uma Kim Kardashian para ser cortejado a peso de ouro. Mas quer saber? Ser tratado como o mais atraente e cobiçado homem da terra era muito bom. E Jensen era tão atencioso. E aparentemente ele nadava em dinheiro também. O que Jared sabia não ser verdade. Talvez ele precisasse rachar a conta no final.

Pela manhã da noite gloriosa, Jensen o acordara acariciando seus cabelos.

"Bom dia, bonitão!" Jensen falara com a voz rouca.

"Bom dia! E o bonitão é você. No máximo sou bonitinho." Jared riu. Jensen o calou com um beijo.

"Então? Nossa primeira vez foi boa pra você?"

"Você sabe que sim. Vou precisar me hidratar. Perdi muito líquido em uma só noite, embora não esteja reclamando disso." Jared se arriscou a tocar o rosto de Jensen e seu pescoço cobertos de sardas. Jensen era tão bonito, que chegava a ser um sacrilégio ser íntimo daquele homem. "Perdoe-me!"

"Pelo que?" Jensen sorriu.

"Por ter feito amor com você. Poderíamos ter permanecido apenas nos toques e beijos. Sexo é um pouco demais. Não deveríamos ter dado esse passo." Jared falou num fio de voz.

"Sério?" Jensen riu. Então fez algo sumamente … sexy. Ele pegou a virilidade do outro e passou a estimulá-lo oralmente. "Sério que você gostaria de abrir mão disso?"

"Não pare! Huh … não pare, nunca! Jensen …" Jared perdeu o fio do raciocínio. A única coisa que lhe vinha à mente é que estava recebendo prazer de um homem belíssimo, que gostava muitíssimo dele. E de quem gostava muitíssimo também.

Não saíram mais do ninho de amor, como um casal em núpcias. Pediram café da manhã, almoço e lanches no quarto. Experimentaram de tudo e foram vencidos pelo cansaço. No dia seguinte precisavam voltar para sua realidade cotidiana, e Jared imaginou que o encanto da Cinderela iria se quebrar. Em breve Jensen o dispensaria como amante de fim de semana, e voltariam a ser apenas colegas de videogames. E isso doía um pouquinho em Jared, depois de receber tanta atenção por algum tempo.

"Jensen, me deixe ajudá-lo a pagar pelas diárias. Esse resort deve ser caríssimo."

"Nada disso! Você é meu convidado. Eu cuido disso."

"Quer fazer o favor de parar de ser orgulhoso? Eu ainda tenho uma grana. Podemos rachar a despesa."

"Céus! Quer parar de bancar a madre Tereza? Ok? Um amigo meu, que trabalha aqui, conseguiu esse fim de semana de graça. Acabou a preocupação agora? Podemos ir?" Jensen falou aborrecido, mas ao mesmo tempo tocando em Jared, como uma mãe ajeitando o filho rebelde para ficar apresentável.


XXX


Uma vez em LA, no hiato anual de meio de temporada do show Supernatural, Jared e Jensen foram a uma festa de aniversário de um amigo de Jensen. Ele apresentou Jared como um amigo e todos o trataram bem. Jared não ficou magoado. Era até melhor assim, pois Jensen era muito popular. Logo, logo, sua vida poderia ficar um inferno, por causa do assédio dos fãs, se todos soubessem de sua vida amorosa.

Cantaram parabéns e beberam cerveja. Jensen foi intimado a cantar e tocar violão, o que aceitou prontamente. Jared afastou-se e sentou-se num local isolado. Jensen era um homem perfeito. Excelente ator, cantor talentoso e bom instrumentista. Além disso tinha um bom caráter e era um ótimo colega de trabalho. E seu melhor amigo. Certo! Amigos com benefícios era o termo certo, uma vez que Jensen não se referira a ele como seu namorado. Certo! Isso não o magoava. Nem um pouquinho. Só que sim.

Algum tempo depois, Jensen o encontrou.

"Não está se sentindo bem, Jared?"

"Tudo bem! Acho que só precisava ficar um momento sozinho."

"Fiz alguma coisa errada?"

"Não, nada! Tou de boas! Pode ir falar com seus amigos. Olhe! Eles estão te procurando."

"Por que é que eu tenho a impressão que você está magoado?"

"Não sei! Vai ver que é a minha cara. Já me disseram que quando não estou rindo, tenho cara de choro." Jared falou gaiato.

"Pare com o ato. Não precisa atuar pra mim."

"Desculpe! Eu sei que sou um porre quando estou deprimido e …"

"Você está deprimido?"

"Não! Mas … eu sei que pareço estar e …"

Jensen calou-o com um beijo. Colou os lábios em Jared e segurou seus braços, até senti-lo relaxando. Então se afastou um pouco, mas continuaram se olhando fascinados. Até ouvirem um "ham-ham". Viraram-se assustados.

Jason Samns, um velho amigo de Jensen os olhava inquisitivo.

"Pensei que fossem só amigos."

"E somos." Jensen respondeu prontamente.

"Sou seu amigo e nunca fui beijado. Não que esteja reclamando. Só acho que se vocês têm um envolvimento, não precisam se esconder. Estamos entre amigos. Ninguém irá julgá-lo, Jensen."

"Você já está me julgando. Deve estar pensando 'Oh, meu deus! O Jensen é gay', não é?"

"E o que tem isso demais? Vivemos no século XXI. Todo mundo aceita o amor entre dois homens ..."

"E eu espero que também aceitem meu direito à privacidade. Não quero meu nome em colunas de fofocas."

"E o seu namorado, o que ele tem a dizer?"

Dois pares de olhos fuzilaram Jared que balbuciou algo ininteligível. Ele limpou a garganta e tentou de novo.

"Eu aceito o que Jensen decidir."

Jensen virou-se para Jason e pôs um ponto final naquela querela.

"Acho que isso encerra a questão. E por favor, Jason, Jared é apenas meu amigo, ok?"

Jason olhou os dois incrédulo e assentiu com a cabeça para depois se afastar sem dizer mais nada.


XXX


"Não, Jared! Não é como você está dizendo." Jensen falou já cansado daquela discussão.

"Como não? Você falou a Jeremy Caveira que eu não era bom para o papel. O que isso significa a não ser que você me menospreza profissionalmente?" Jared falou numa voz aguda que se aproximava de um choro.

"Eles precisam de um homem mais velho, safo, vivido. Você não é assim, baby. Lamento dizer, mas você é o extremo oposto."

"Eu posso atuar. Eu posso fingir ser quem não sou. Esse não é o cerne da nossa profissão?"

"Sinto lhe informar, mas as coisas são mais complicadas que isso. Não basta ser ator. Você vende a sua imagem. O seu corpo. O seu rosto. A sua vida. Para as telas. Você não pode simplesmente mudar de imagem da noite para o dia. Isso não funciona."

Jared ficou calado. Lá no fundo ele sabia que Jensen tinha razão. Ele estava marcado pelo papel de 'Joe Doido', e pela persona de comediante. Ninguém iria comprar a idéia de que ele era um matador inescrupuloso e cruel do velho oeste. Ele saiu e foi sentar-se na escada de incêndio do apartamento de Jensen, em LA. Algum tempo sozinho o ajudaria a superar esse desgosto.

Depois de algumas semanas, houve um outro incidente. Estavam em uma festa pós-premiére, a que compareceram separados para evitar fofocas. Jensen foi com uma modelo alemã, loura platinada e lábios de Angelina Jolie. Eles chegaram a dar umas bitocas e permaneceram abraçados o tempo todo. Jared havia ido sozinho. Depois que conhecera Jensen, todo o seu mundo se resumia a ele, não sobrando espaço para mais ninguém. Ele permaneceu afastado, encolhido em um canto. Gostaria muito de se aproximar de Jensen e fingir casualidade, apenas para trocar duas palavras com o 'amigo', mas ele se conhecia muito bem. Seus olhos, seu corpo, tudo o denunciaria. Todos perceberiam que havia intimidade entre eles.

Jensen não percebeu onde Jared estava, ou percebera talvez. O certo é que ele e alguns amigos estavam conversando animadamente, bem perto de onde estava Jared.

"Aquele cara comediante que apareceu em Supernatural … Como é mesmo o nome dele?" Um sujeito com longa cabeleira loura falou.

"Jared Wesson." Jensen respondeu.

"Maior paspalhão que já vi. O cara é hilário." O louro insistiu.

"Ele é bom pra comédias." Jensen constatou.

"Oh, sim! Mas ele faz comédia involuntariamente. Ele é literalmente um idiota."

"Ok! Vamos mudar de assunto? É feio xingar os outros." Jensen falou em aviso.

"O que? Isso é de conhecimento geral …" O louro foi interrompido por uma cotovelada dada por outro amigo, um moreno cabeludo, de olhos azuis, que ao mesmo tempo fez um sinal com a cabeça para um canto da sala, onde Jared estava.

"Que tal nos servirmos de champanhe? Logo ali tem uma garrafa no balde." O moreno convidou.

Jensen ficou tentado a ir falar com Jared, mas achou melhor não dar mancada. Ele acompanhou os amigos no drinque, mas ficou com uma sensação ruim até o fim da festa. Após algumas horas despediu-se de sua acompanhante e foi pra casa. Jared não estava lá, embora tivessem acertado de passarem a noite juntos. Jensen bem que tentou dormir, mas não conseguiu. Acabou ligando para seu 'amigo'.

"Jared, onde você tá?"

"Estou na minha casa."

"E por que não veio pra cá?"

"Achei melhor, não. Tchau, Jensen! Farei um teste amanhã. Tenho que acordar cedo."

"Para com isso e venha logo pra cá. Senão eu vou buscá-lo."

"Por que?"

"Por que? Porque eu gosto de você. Porque eu preciso de você. Porque eu te amo. É só por isso. Então? Você vem ou não vem?"

"Ok! Eu vou aí."

Quinze minutos depois, Jared bateu na porta de Jensen, que o convidou a entrar. Após fechar a porta, ele não perdeu tempo e empurrou Jared contra a parede, e possuiu sua boca. Após saciado começou a se explicar.

"O que aconteceu na festa foi um acidente. Não era pra você ouvir aquelas coisas. Steve foi infeliz naquelas colocações."

Jared não falou nada.

Jensen, sem saber o que mais falar, puxou o amigo para o quarto e passou a despi-lo. Duas horas mais tarde, Jensen estava ressonando baixinho, enquanto Jared fitava o teto. Ele amava Jensen. Só isso justificava aceitar ser tratado dessa forma. Viver seu amor em segredo. Atender um chamado para uma noite de amor e ser sumariamente ignorado em público. Até ser menosprezado profissionalmente pelo amado, como um idiota. Alvo da chacota dos amigos e de outros que nem sequer conhecia.

Só o amor para fazê-lo aturar tudo isso. E Jensen? Será que ele o amava da mesma forma?


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