Bilhete para o mundo escrita por slytherina


Capítulo 8
Mulheres




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      As contas não se pagam sozinhas, e um trabalho quinzenal não garante dinheiro suficiente para seus gastos. Todo trabalho extra era bem vindo, nem que fosse para se expor em outdoors, com o mínimo de roupa permitido. Sendo assim, Jared passou a fazer fotos de publicidade mais amiúde.

Ele estava recostado só de tanguinha sobre um divã com lençóis de seda, e uma modelo seminua e esquelética, cheirando a cosméticos, de joelhos entre suas pernas, e as mãos sobre seus ombros, enquanto ele punha as mãos na cintura dela. A produção demorou horas para prepará-los, e mais um par de horas para o fotógrafo ficar satisfeito com as fotos. E afinal de contas, sobre o que era mesmo a propaganda? Nem ele sabia.

A modelo, Emanuelle Voucher, estava tão cansada e entediada quanto ele ao fim das fotos. Jared se apressou em se afastar dela, como o diabo foge da cruz, enquanto procurava vestir-se. Ela entendeu mal e lhe endereçou um olhar ressentido. Ele fez uma cara de pesar e tentou consertar as coisas.

"Olhe, eu apenas achei que você estivesse cansada da nossa proximidade forçada. Estou apenas lhe dando espaço. Não precisa ficar aborrecida." Ele falou se aproximando, enquanto vestia as calças de malha, e a camiseta largona.

"Não precisa se explicar, já me disseram que você é gay. Eu sei que não nos aprecia." A modelo falou em um tom condescendente e ao mesmo tempo lamurioso.

"O que tem a ver uma coisa com a outra? Eu não odeio mulheres. Eu apenas estou cansado … nem sei por que estou me explicando. Quer saber? Pare de ter idéias preconcebidas sobre gays. Não somos unidimensionais. As pessoas tem seus próprios problemas. Gays ou não. … Oh, esqueça!" Jared desistiu de tentar incutir alguma coisa na cabeça da moça e se foi, sem esperar respostas.

O show de Vegas, após o frenesi das fãs, deu uma esfriada, mas ele estava garantido para pelo menos mais uma temporada. E Prikpe o chamou para bisar o personagem em Supernatural. A má notícia é que ele morria nesse episódio. Tudo bem, nada dura para sempre, e com certeza o fandom o esqueceria após sua morte oficial no seriado.

Uma amiga de infância deu as caras em Vegas e o chamou para sair. Ela se chamava Sandra McComb e eles chegaram a se paquerar na escola, quando mais jovens, andando de mãos dadas e roubando selinhos escondidos. Enquanto amigos, a companhia dela era agradável. Relembraram o flerte inocente e os planos da meninice de se casarem quando fossem adultos. Eles riram de tanta besteira, enquanto saboreavam um prato requintado em um restaurante francês.

"Sabe, não seria nada mal, termos uma família, filhos, um cachorro. Tenho certeza que poderíamos ser felizes juntos." Ela falou com os olhos brilhantes.

"Você não está falando sério, está? Quero dizer … somos adultos agora. Já vivemos muita coisa desde que saímos de San Antonio, tipo Doroty que saiu do Kansas e foi para Oz. Você se tornou uma mulher maravilhosa, como a fada Glinda. E eu? Eu sou gay. Não dá pra retomarmos os planos de infância." Jared explicou o mais calmo e doce possível.

"Será que nós não poderíamos ao menos tentar? Nós nos dávamos tão bem. Você bem que poderia dar uma chance ao nosso sentimento puro e inocente." Ela falou com os olhos emocionados e pungentes.

"Não dá. Sinto muito! Acabei de sair de um relacionamento, em que fui abandonado. Desculpe, mas meu coração não está disponível." Jared fechou a cara e passou a olhar as pessoas nas outras mesas. Tudo, menos olhar nos olhos de Sandy novamente.

A moça também se calou, mortificada. Quando ela resolveu falar, foi interrompida por um Jared frio e duro. "Acho que não tem mais clima para prolongarmos esse encontro. Foi um prazer te rever, Sandy. Tchau!" Jared pôs dinheiro na mesa para pagar o consumo e se foi.

O que havia de errado com ele? Por que não levara sua ex-namoradinha para a cama? Ele poderia fazer isso. Sexo com garotas não era algo tão insípido assim. Elas geralmente eram mais delicadas, e requeriam mais contenção do ímpeto. Sendo que a maioria não tolerava anal. E no frigir de ovos, fazer sexo com alguém não significava um envolvimento afetivo. Não era o mesmo que dizer "eu te amo". Era só prazer físico. Se ela gostava e ele gostava, que mal havia? Nenhum. Exceto que ele tinha medo de se envolver. Ela era uma gracinha com pele morena, curvas deliciosas, e um dengo tão adorável, que lhe dava vontade de pô-la no colo e fazer bebês. Mas ele disse não. Tamoh o arruinara para novos envolvimentos interpessoais. Ele amaldiçoou o ex-namorado, intimamente.

Foi por causa de tudo isso que ele se refugiou no apartamento de Jensen, em LA. Ia lá quase todos os dias, entre suas performances em Vegas, e saía de lá invariavelmente bêbado. E Jensen era muito paciente consigo. Vivia dizendo: "Fique aqui o tempo que precisar", "Pode se abrir comigo, eu sou todo ouvidos" e "Afinal, é pra isso que servem os amigos". Jared adorava tudo isso. A sensação de ter alguém tomando conta de si, como se fosse sua mãe, era muito boa. Não o entenda mal. Ele tinha família. Mãe, pai, irmão mais velho e irmã caçula. Eles moravam no Texas e seguiam com suas vidas independentes da dele. Não viviam brigados, nem havia grandes traumas familiares. Talvez o fato de Jared ter se assumido gay, e ido morar com o namorado, tenha chocado sua família, mas eles não fizeram muito drama por causa disso. Apenas o afeto esfriou com o tempo e a distância. Atualmente seus amigos mais próximos eram seu agente Dan Spoil e Jensen.

Por tudo isso, não foi surpresa quando Jensen o cobriu de beijos, após terem assistido uma comédia no Blue-ray. Ou talvez Jared estivesse tão à vontade na casa de Jensen e na companhia de Jensen, que seus alarmes internos não dispararam. Uma coisa era uma garota gostosona querer sexo com você. Isso lhe dava calafrios. Outra coisa era seu amigo do peito lhe dar bitocas e selinhos. Isso não significava nada. Ele estava apenas sendo amigável. Não é? E Jared gostava desses carinhos que não levavam a nada. E além disso, Jensen não era gay. Não é mesmo?


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