Bilhete para o mundo escrita por slytherina


Capítulo 7
Amigos …




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    "Como seu namorado está reagindo ao seu sucesso em 'Supernatural'?" Uma fã baixinha e esquelética, com grandes óculos de fundo de garrafa, perguntou em uma nova convenção de Supernatural.

"Ele não dá a mínima, pois nós rompemos." Jared falou sem pensar muito. Quando a audiência fez um 'Oh' uníssono, ele percebeu que falara demais. "Acho que não devia ter dito isso (risos escassos). Bem, já acabou. Não moramos mais juntos (outro 'oh' de surpresa). Ele seguiu seu caminho, e eu segui o meu (vários gritos de 'eu te amo, Jared')."

"Antes da minha pergunta, gostaria de lhe dizer que nós te amamos, Jared (aplausos). E nós sempre iremos te apoiar em cada passo de sua carreira e de sua vida (mais aplausos). E eu gostaria de te abraçar, se você me permitir." A próxima fã ao microfone, uma mulher gorda, de óculos, e com uma blusa com estampa temática do seriado, pediu emocionada.

Jared não se fez de rogado. Afinal aquelas mulheres gastavam tempo e dinheiro para ir a esses encontros, apenas porque o tinham visto na TV. Ele foi até ela e a abraçou apertado. Depois voltou ao palco, e precisou de vários minutos para se controlar e voltar ao que estava fazendo. Era muita emoção junta. Ele havia superado Tamoh, mas aquilo ainda machucava.

A pessoa contratada para gravar a convenção deu um zoom em seu rosto, e era óbvio que ele estava sofrendo. A filmagem dos painéis era reproduzida em tempo real para telões colocados em outras áreas do hotel, que foi alugado para a convenção. Por isso, não foi surpresa quando outro ator veio até o painel de Jared, para ajudá-lo, embora não estivessem escalados para um painel conjunto.

"Ora, ora, se não é Joe Doido em pessoa!" Dick Spaghetti Jr berrou invadindo o painel. A platéia gritou e bateu palmas. Dick era conhecido por sua veia histriônica e improvisação. Ele e Sebastian Rochedo competiam pra ver quem era o mais maluco. A platéia sempre ria em antecipação a suas novas piadas.

A partir daí o painel ficou leve e Jared voltou a ficar descontraído. Todos ficaram felizes e satisfeitos, mas Jared sabia que havia pisado na bola e se descontrolado em pleno palco, em frente à platéia. Ele agradeceu Dick pela ajuda e o outro se limitou a dar tapinhas em suas costas.

Por coincidência ou não, o cast de 'Supernatural' começou a convidá-lo para suas atividades beneficentes. Desde corridas de cart, a gincanas, passando por audições de ítens pessoais, e promoção de vendas de camisetas para a caridade. E com essas novas ocupações, ele ficou mais próximo dos outros atores, e passaram a sair juntos, para assistirem a shows, jantar, ou simplesmente encher a cara, como um novo 'rat pack'.

Era fácil conviver com esses caras. Apesar de serem cultuados como heróis pelos fãs, não passavam de pessoas normais. Tinham esposas e filhos, pagavam imposto de renda, levavam o cachorro pra passear no quarteirão, e eram multados por excesso de velocidade. Certamente que nem todos tinham uma estória de vida como a sua, mas todos já estavam nessa carreira há muito tempo. Conheciam os altos e baixos. Já tinham feito mais testes para papéis do que a maioria dos estudantes para o ENEM. E eram agora seus amigos.

Por isso, não foi surpresa, quando Jensen o convidou para uma tarde de video-games. Embarcaram em um desafio de finalizar 'resident evil'. Jared não se importou. Ele só queria espairecer e esquecer da própria vida. Jensen era um sujeito legal. Relaxado, não se deixava massacrar pelo sistema. Nem vivia fazendo grandes questionamentos filosóficos. Diferente de Dean, ele valorizava a domesticidade e a normalidade. Era fácil abrir o coração pra uma pessoa assim. Mas eles eram só amigos. Nada de romance. Além do que, Jensen era hétero.

"E aí, já superou seu namorado?" Jensen perguntou após detonar 'Nemesis'".

"Já! Mas meu coração insiste em ficar se mortificando. Se quer saber, se apaixonar é uma grande perca de tempo." Jared respondeu seco, enquanto fazia a heroína correr contra o relógio.

"Já me apaixonei uma vez. Era a garota perfeita. Era e não era, se você me entende. Um belo dia disse a mim mesmo: pare de enrolar com essa garota e procure alguém especial. Você sabe, aquele mimimi de alma gêmea e outra metade da laranja. Talvez isso nem exista, mas ficar com alguém, só porque todos esperam isso de você, é o fim da picada."

"E você me diz isso, você que é o perfeito 'wasp' e hétero macho man. Eu sou gay, cara! Eu sempre vou escolher o cara errado. De antemão eu já sou fodido e mal pago. Literalmente."

"Informação demais, Wesson. Não preciso saber quem fica de joelhos e quem fica de quatro." Jensen falou entre um gole de cerveja e outro.

"Seu babaca!" Jared o acertou na cabeça com uma almofada.

"Ei… não desconta em mim, não. Desconta lá na sua cara metade. Como é o nome dele mesmo?" Jensen agarrou a almofada temendo ser acertado novamente.

"Tamoh Panicat. Ele é ator. Olha … já acabou, não quero cultivar ódio e rancor. Só quero esquecer que ele existe." Jared tomou um grande gole de cerveja, ainda se lembrando da depressão em que mergulhou, depois que foi chutado. Ele não queria passar por aquilo de novo.

Depois disso se concentraram novamente no jogo, que foi finalizado facilmente. Ao fim, como não havia mais justificativa para ficar, Jared resolveu ir embora. Levantou-se e pegou sua jaqueta, enquanto se dirigia à porta.

"Vai pela sombra, cara-pálida!" Jensen falou gaiato, com as pálpebras relaxadas pelo excesso de álcool e um meio sorriso de canto de boca.

"Obrigado por ter me convidado e … bem, por ter me escutado, Jensen. Valeu!" Jared falou afetivo e sentimental. Impulsivamente ele deu um passo em direção a Jensen e deu um selinho. Então se afastou e foi embora, como se arrependido do que havia feito. Com certeza devia estar meio bêbado.

Jensen ficou olhando da porta por um bom tempo, antes de fechá-la e passar os dedos nos lábios, tentando entender por que ficara balançado com algo tão banal.


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