Bilhete para o mundo escrita por slytherina


Capítulo 5
Show de comédia




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Vegas era uma cidade vibrante, com seus cassinos, caça-níqueis e hotéis suntuosos. É claro que Jared não aproveitava nada disso. Ele nem sequer percebia que aquele era um destino turístico muito requisitado. Para ele era apenas trabalho. O terninho alugado, as acomodações baratas, seu horário para se apresentar. Seu sorriso mais sedutor. Imposição da voz, entonação das palavras, enquanto se movia comedido no seu local no palco. Ele tinha direito a dois shows de 30 minutos cada, para contar suas estórias, ser engraçado e envolver a platéia. Tinha que ter um repertório variado de piadas, e mesmo que fosse recontar a mesma estória, tinha que acrescentar algo a mais. O público era adulto, o que o liberava para ser um pouco mais ferino, um pouco mais sarcástico, mas não poderia ser vulgar. Alguns humoristas se saíam bem falando escatologias ou palavras chulas, mas isso os marcava. Ele não poderia ficar preso a esse tipo de humor.

Ele tinha direito a se apresentar em um final de semana a cada quinze dias. Havia outros comediantes, ele entendia. Até melhores, mas ele tinha seu público. Podia ser pior, poderia ser sumariamente demitido, por falta de graça. Por isso tinha que se empenhar em agradar o público. Nem sempre isso era possível, pois dependendo da época do ano, havia muitos estrangeiros, que sequer falavam sua língua, ou que não dominavam completamente as nuances das expressões idiomáticas, perdendo completamente o sentido da piada. Outras vezes havia conterrâneos na platéia, mas eles não estavam interessados no show, apenas em se embebedar e apalpar a companhia feminina ou masculina, ao seu lado.

Tamoh viera apenas uma vez, no início do namoro, aproveitando uma filmagem na cidade. Ele assistira ao show, rira de todas as piadas, mesmo as fraquinhas, e Jared ficara muito grato por isso. Tanto que não se opôs a uma rapidinha no camarim. Depois ele se fora sem esperar pela segunda parte do show. Jared o entendia. Humor não era sua praia, e ele poderia estar em qualquer lugar do mundo, com a companhia escolhida a dedo. Jared era muito sortudo por ter sido o escolhido.

Esta noite não foi diferente. Ele entrou e começou seu repertório sobre Los Angeles, citando todos o clichês sobre a cidade. Ele fazia questão de se demorar alguns segundos, mirando cada mesa com os convidados, até que ele viu um grupo conhecido: a equipe técnica do seriado supernatural, com quem convivera por uma semana, durante a gravação de um episódio. Ao lado deles, na outra mesa, estavam quatro figurões: Robert Shinger, o produtor, Erik Prikpe, o diretor, Jensen Smith e Milo Vintemilhas, atores principais. Eles inclusive levantaram as taças em sua direção, em um brinde silencioso. Jared ficou nervoso e quase perdeu a linha do raciocínio. Ele ficou tocado, mas essa não era a hora de deixar a emoção dominá-lo.

"Houve um tempo em que as pessoas tinham medo de fantasmas e assombrações. Até se tornavam católicas para pedirem um exorcismo a um padre (risos), para livrá-los do capeta. Hoje em dia eles são mais desencanados. É! A nova geração tira isso de letra. A luz está piscando? Fácil! Põe sal na soleira da porta (risos). Há uma fumaça negra do lado de fora? Não esquenta! É só jogar água benta nela (risos). E não se preocupem: Demônios podem ser facilmente contidos por pentagramas desenhados no chão. Como eu sei tudo isso? Graças aqueles caras ali naquelas mesas. Senhoras e Senhores, o cast e equipe técnica de Supernatural!" Jared anunciou. O público aplaudiu e assobiou.

"Cante pra gente, Jared! Ticket to the world!" Jensen gritou e logo um coro repetiu suas palavras.

"Tá bom! Tudo bem! Se vocês baterem palmas me acompanhando, posso cantar." Jared respondeu.

Jared cantou a música à capela, marcando o ritmo com os pés. Todos acompanharam a música com palmas. Ao final foi ovacionado. E é claro, após o show, a equipe do seriado foi cumprimentá-lo no camarim. Ele os agradeceu profusamente.

Depois desse dia, ele notou que suas apresentações estavam sempre lotadas, e o público composto em sua maioria de mulheres. Elas sempre pediam para cantar a mesma música, e isso era estranho. Após suas apresentações elas faziam fila para conversar, tirar fotos e pedir autógrafos. Ele ficou tonto com tanta atenção e popularidade, custando a entender que eram fãs do seriado 'Supernatural'. Essas garotas eram demais. Ao entrar no Twitter ele entendeu. Jensen e Milo haviam postado fotos do dia em que foram a seu show. E aparentemente isso foi como um convite aberto a todas as fãs do seriado. Elas compareceram em massa e postavam mais fotos, como um acontecimento viral. A cada dia, Jared ficava mais impressionado com a paixão dessas fãs.

Um dia em especial, Jared não esqueceria. Ele o notou na platéia, bebendo em companhia de estranhos. Riu das piadas, e por mais que conversasse animadamente, sempre voltava seus olhos para si, como se estivesse curioso em saber quem era o humorista que se apropriara de sua música. Quando as fanzocas pediram para cantar 'ticket to the world', o homem até aderiu ao frenesi assobiando com os dedos na boca. Jared ficou com o coração na mão e desceu do palco, dirigindo-se ao cantor original da música. Ele o cumprimentou e pediu que fosse ao palco para cantar consigo. Muito simpático, Roland Arrozal não se fez de rogado e foi cantar a música com Jared, que ficou muito emocionado e o abraçou ao final. Ele pediu palmas da platéia para o cantor e o aplaudiu também.

O agente de Roland ligou no dia seguinte, para acertar um acordo sobre direitos autorais. Jared aquiesceu e concordou com os termos, mesmo contra a vontade de seu próprio agente. No fim das contas, o que era pra ser apenas uma cantoria engraçada acabou se tornando sua marca registrada. Era injusto não pagar pelo uso da música.


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