Bilhete para o mundo escrita por slytherina


Capítulo 12
Teatro




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"Não deve ser difícil pra você, uma vez que já fez comédia stand up." O diretor explicou a Jared.

"Certo! Mas eu não tinha que ficar pendurado numa corda no palco. E se essa corda não aguentar meu peso? E se eu cair?"

"São tantos 'se' na nossa vida. E se um raio cair na minha cabeça? E se eu ganhar na loteria? E se eu conhecer a mulher dos meus sonhos? Certas coisas nunca acontecem com a gente. Ou acontecem. Não podemos paralisar nossas vidas com medo do que pode acontecer. Além disso, essa corda é resistente. É a mesma usada por acrobatas."

"Ok! Vou deixar meu testamento pronto, por via das dúvidas." Jared resmungou.

A nova peça que Jared estava encenando pedia que ele fizesse piruetas e estripulias no palco, dependurado no ar por uma corda atada a sua cintura. Ele tinha medo, mas descobrira que gostava de se testar, pra ver até onde poderia ir. Ao menos até onde seu corpo aguentava. Aquela trupe de teatro era muito versátil, apelando para espetáculos circenses e até musicais. Ele teria inclusive que se vestir de pássaro, com penas amarelas e um enorme bico que lhe cobriria o rosto.

Não fazia diferença que seu nome não estivesse nos cartazes da peça, nem que ele nem fosse o ator principal. Ok, isso era decepcionante. Após anos naquele ofício, ele era um famoso ninguém, que era reconhecido mais por seus erros, do que por alguma atuação marcante. Entretanto, a trupe pagava bem por sua performance. O suficiente pra sobreviver em LA.

Jared preparou-se psicologicamente para o pior. Se caísse e quebrasse a perna, ainda daria um bom sketch para seu show solo de comédia. Ele avisou pelo twitter que iria participar da peça, e pediu ao fandom de SPN que fosse prestigiá-lo. Não esperava que alguém aparecesse, uma vez que há anos não fazia mais parte do seriado. E não o haviam convidado mais para as últimas convenções, o que era triste, mas esperado.

No dia da estréia, o teatro estava lotado. Aleluia! Ele fez sua apresentação de número acrobático, e graças ao céus, não sofreu nenhum acidente, embora tenha suado frio. Ao final da peça perfilou-se com os outros atores diante da platéia, e juntos receberam uma ovação. Ele então se dirigiu ao camarim compartilhado, e já estava retirando sua maquilagem, quando vieram chamá-lo para falar com algumas pessoas que o aguardavam.

Jared quase teve um piripaque. A maior parte da equipe técnica e alguns atores de Supernatural o esperavam nos bastidores. Milo e … Jensen. E Misha. Ele foi abraçado, recebeu tapinhas nas costas. Muitos sorrisos e olhares acolhedores. Isso tudo teria sido estupendo, se seu olhar e atenção não tivessem sido atraídos para o casal … oh, que agonia … para o casal Destiel: Jensen e Misha.

Jared sentía-se em brumas. Escutava vagamente as pessoas. Divisava alguns vultos e olhares, mas a única pessoa que lhe importava era Jensen. Isso tudo teria sido muito constrangedor, se algo imprevisto não acontecesse. Várias pessoas da platéia, ao reconhecerem Milo, Jensen e Misha, invadiram os bastidores e passaram a assediar ruidosamente os três atores. Não se sabe de onde, alguns guarda-costas apareceram e saíram empurrando os fãs, para que não incomodassem os astros. Jensen ainda tentou dialogar e impedir o início de tumulto, mas as fãs ficaram histéricas e passaram a gritar com os brutamontes. Milo, Jensen e Misha foram retirados sumariamente do edifício.

Jared de repente se viu só no teatro. Lembrou-se de alguns amigos e conhecidos dando tchau. Já passava da meia-noite e ele precisava ir para casa. Entretanto seu corpo parecia entorpecido, não obedecendo às ordens que lhe dava debilmente. Quando finalmente chegou em casa, tentou chorar, mas não havia mais lágrimas. Ele perdera Jensen.

Nos dias seguintes, talvez temendo o que ocorrera na estréia, a equipe técnica e os atores principais de Sobrenatural não apareceram. Em compensação, fãs histéricas ficavam gritando seu nome da platéia. Embora fosse embaraçoso, isso dava um estímulo a mais para que se concentrasse na sua atuação. Estiveram em cartaz por dois gloriosos meses. Depois disso foi dispensado pela trupe.

O produtor do seriado "Projeto Mercúrio", sobre o autista savant, teve a idéia de apresentar um clipe do show na Comic Con, e portanto, chamou Jared para ajudar na divulgação. Não lhe custaria nada, além disso, era uma forma de ser visto e não esquecido. Muitos fãs de Supernatural estariam lá, ele tinha certeza. Quem sabe um deles não poderia ajudar a promover a venda de seu novo show?

Tudo ia bem, inclusive a coletiva que deram à imprensa. Nem mesmo as perguntas imbecis de praxe tiraram seu bom humor. "Como se sente interpretando alguém retardado?" ou "Você não tem medo de ser estereotipado como doido ou débil-mental, por só fazer esse tipo de papel?" deram a tônica da entrevista.

Após uma merecida pausa para o lanche, ele ainda deveria comparecer ao stand da produtora para atender os eventuais fãs, que para seu desapontamento não foram muitos. E foi justamente no refeitório reservado aos convidados, que o inesperado aconteceu. Ao virar-se para procurar uma mesa com sua bandeja de comida, Jared deu de cara com Jensen, também na mesma situação.

Ficaram algum tempo se olhando sem dizer palavra, até que Jared recuperou o auto-controle e foi o primeiro a desviar o olhar.

"Como vai, Jensen?"

"Vou bem, Wesson! Apreciando a Comic Con?"

O tom impessoal não passou despercebido a Jared, que sentia como se uma faca lhe atravessasse o peito.

"Sim, eu … eu vim promover um seriado. O produtor tem esperança de vendê-lo para a Netflix, se houver interesse dos fãs." Jared falou com a voz fraca e baixa, para sua vergonha.

"Sei. Ah … por que não sentamos naquela mesa? Ela ficou vaga." Jensen o orientou.

Mais uma vez, Jensen assumia o controle do que é que havia entre eles, amor ou apenas cordialidade entre estranhos. Jared não reclamou e sentou-se ao lado dele.

"Então, você se deu bem na Inglaterra?" Jensen puxou conversa.

Jared ficou surpreso que Jensen se referisse a um fato antigo, que atualmente não tinha mais importância … o que foi mesmo que ele perguntou? Se dar bem?

"Eu viajei como turista e não a trabalho. Como turista foi legal, sim." Jared respondeu seco.

"Tem passado muitas noites insone? Você tem olheiras." Jensen disparou após observá-lo atentamente.

De repente a comida não lhe pareceu nem um pouco apetitosa, e ficar ali falando com Jensen era uma espécie de tortura. Seria melhor se afastar e tomar um refri de uma vending machine.

"É, eu sei. Passei base pra disfarçar, mas não fiz um bom trabalho. Com licença, Jensen. Foi bom te encontrar. Dê lembranças a seu namorado, o Misha."

Jared se levantou com sua bandeja quase intocada e despejou a comida no lixo. Antes de chegar à saída, Jensen já o havia alcançado.

"O que quer dizer com isso? Misha meu namorado? O que te deu essa idéia?" Jensen falava enquanto o retinha seguro pelo braço, impedindo que se afastasse.

"Isso está em todas as mídias … Destielmania e tudo mais … o que? Vai negar agora que Misha é seu namorado?"

"Sim! Claro que nego. Meu Deus! É por isso que você se afastou? Por causa de Destiel?" Jensen começou a rir.

"Eu vi o vídeo, tá legal? Você e Misha se beijando diante da platéia. Ou vai negar isso também?"

Jared se sentiu insultado. Soltou-se de Jensen e saiu andando. Como … como Jensen tinha coragem de negar? Ele vira o vídeo. Vira o beijo entre os dois. Como ele queria negar isso?

"Não é o que está pensando. Eu posso explicar … Jared … quer parar?"

Jensen o alcançou novamente e o puxou para si. Segurou seu rosto com ambas as mãos e o beijou na boca. Não foi preciso muito esforço para fazê-lo corresponder ao beijo e aceitar a língua possessiva de Jensen. Jared literalmente derreteu em seus braços, como um instrumento afiado e treinado para produzir melodias sublimes. Ele se entregou ao beijo, como se nunca houvessem se separado, como se ainda na noite anterior houvessem dormido juntos, no seu apartamento em LA. Como se ainda estivessem apaixonados, e Jensen fosse seu dono, e ele fosse o cachorrinho obediente e fiel. Por mais humilhante que possa parecer, Jared sentia-se bem com esse arranjo.

Quando o beijo acabou, continuaram se olhando, completamente esquecidos do resto do mundo, embevecidos com a beleza e aura um do outro, como almas gêmeas que houvessem se reencontrado. O que não deixava de ser verdade. Foi então que os assobios começaram, seguidos de aplausos. Eles olharam ao redor e perceberam que estavam do lado de fora do refeitório, em plena luz do dia, rodeados de fãs com celulares na mão, dispostos em sua direção.

"É, parece que saímos do armário em grande estilo." Jensen comentou.

"Você não tem medo? Com todo aquele temor de perder sua privacidade e ser taxado de gay?"

"Depois de toda a boataria sobre destiel eu passei a não me importar com o que dizem a meu respeito. Além disso, tenho mais medo de te perder de novo." Jensen apertou as mãos de Jared nas suas, e fez um carinho com o polegar. Sorriram um para o outro. Esta era uma união que ele nunca quereria desfazer. E que venha a fúria ou a aceitação da mídia e do fandom. Eles estavam preparados para tudo.


Fim


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