Bilhete para o mundo escrita por slytherina


Capítulo 11
Destiel




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Jared passou em um dos testes para um papel em um novo seriado de TV. Alguém achou que ele convenceria no papel de autista savant, que resolve problemas matemáticos para seu tio do FBI. O programa entrou em pré-produção e o diretor o chamava frequentemente para testes de figurino e de câmera. Ele leu várias falas de seu personagem e participou de uma oficina com outros atores do seriado. As filmagens do piloto começariam em uma semana.

 

Os colegas de trabalho eram legais, exceto por um deles. Um tal de Mark Pelicano, que faria o papel de chefe do tio de Jared. O personagem seria austero e ranzinza. Jared achava o ator antipático e intratável.

 

"Na verdade você não precisa se esforçar muito, rapaz. Seu personagem não expressa emoções. Falando em português claro, ele é um tapado." Pelicano o instruíra de modo não muito gentil.

 

"Acho que do meu personagem entendo eu, senhor." Jared revidou sem pensar muito.

 

"Estou apenas lhe explicando de modo simples. Você é um poço de emoções. Um dos piores casos de erro de escalação de atores, que já vi. Seu personagem é um zumbi. ELE. NÃO. EXPRESSA. EMOÇÕES. Deu pra entender agora? Esse projeto não vai adiante. Onde foi que eu me meti?" Pelicano reclamou alto o bastante pra chamar a atenção de todo o set.

 

Jared ficou nervoso e envergonhado. Achou melhor se afastar pra poder se acalmar. Se isso era uma técnica de atuação, não lhe pareceu muito boa, pois deixava os outros colegas atores perturbados.

 

Se Pelicano estava certo ou não, nunca saberemos, pois o estúdio que produzia o seriado foi à falência, e sua equipe e equipamentos foram absorvidos por outro estúdio de filmagem, que cancelou o projeto. O episódio piloto nunca foi concluído.

 

Após um período de um mês sem receber notícias de Jensen, Jared resolveu dar um basta naquela situação. Ele comunicou a Jensen, via SMS, que estava viajando de férias para a Inglaterra. Jensen não se pronunciou de volta. Esta foi a deixa para considerar o romance entre os dois morto e enterrado.

 

Em Londres, um motorista particular o aguardava no aeroporto de Heathrow, e o levou até a cidade de Bath, onde Roland morava. Ele ficou hospedado no lar do músico, e foi apresentado a sua esposa e filhos. O ambiente era caloroso e gentil. Falaram sobre música e Roland o levou a seu estúdio de gravação. Inclusive gravaram uma demo juntos, apesar dos protestos de Jared de que não era um cantor passável. A música? Ticket to the world. Mais tarde a demo foi postada no 'soundcloud', disponível para download grátis.

 

Fora os passeios turísticos pela região, o tempo gasto foi todo dedicado ao convívio familiar e estúdio de gravação de músicas. Jared achou tudo muito interessante, mas não era sua área. Isso deve ter escapulido de uma forma ou outra, pois Roland o convidou para um tour nos estúdios cinematográficos de Leavesden. Eles acabaram se encontrando com produtores ingleses, que se mostraram educados e gentis. E nada mais. Jared não esperava mesmo um contrato de trabalho. Tá bom, talvez só um tiquinho.

 

Quando retornou à América, ele teve uma notícia chocante. O twitter e outras redes sociais estavam inundados por uma nova moda, associada ao seriado 'Supernatural', chamada 'Destiel'. O que veio a ser o relacionamento homoerótico entre os personagens Dean e Castiel, de 'Supernatural'. Isto é, Jensen Smith e Misha Rolim.

 

Jared ficou perplexo e triste. Jensen nunca, mas nunca mesmo, assumira publicamente o relacionamento entre os dois. E agora embarcara nesse relacionamento gay? Jared não quis acreditar em tudo que leu na internet, até que entrou no 'you tube' e procurou por vídeos marcados como 'destiel'. O primeiro vídeo da lista era de uma convenção recente, onde … Jensen … o seu Jensen, todo correto e controlador, se aproximava de Misha e o tocava no pescoço e … oh, céus! Jensen beijava Misha na boca, no palco, diante de centenas de fãs insandecidas, urrando histericamente. Ao fundo se podia ouvir a voz da fã que gravara e postara o vídeo: "até que enfim eles se beijaram".

 

Jared perdeu a cabeça. Primeiro chorou muito. Depois quebrou seu kitchenete. Então resolveu sair pra extravasar ainda mais, a raiva, a frustração, o ressentimento e o ultraje. Andou a esmo e foi parar na boate gay, onde sempre encontrara Ariel, que infelizmente ou felizmente, não estava lá. Ele bebeu todas, e não repeliu um sujeito louro e barbudo que o envolveu em braços musculosos, e hálito de canela.

 

As imagens daquela noite vieram a sua mente pela manhã, como um frenesi. Boca, língua, saliva, peito nu, coxas, estômago sarado como um tanquinho, mordidas no pescoço, e palavras obscenas sussurradas no ouvido. Graças aos céus, ele se lembrava do cara pondo um condom. Inclusive tinha sabor de cereja. O homem foi embora antes do amanhecer, mas deixou um papelzinho no criado-mudo, com um número de telefone e o lacônico "me liga".

 

Ele não pretendia ligar. A noite passada fora um erro. Ele não era um maluco inconsequente que pegava conquistas fáceis em bar, para sexo casual. Exceto que fora isso mesmo que havia feito. Além disso, ele era fiel. Fiel a quem mesmo? A Jensen? Ao homem que o tratara como um criminoso foragido da justiça, escondendo-o do mundo, com a desculpa de que preservava sua privacidade? Ao homem que beijava outros homens no palco, como se fosse uma peça de teatro?

 

De repente, Jared caiu em si, de que talvez tudo não passasse de uma encenação para os fãs. Ele viu a reação histérica da audiência, como se elas quisessem e esperassem que isso acontecesse. E se … Misha e Jensen tivessem combinado tudo aquilo? Jensen poderia voltar a ser seu.

 

Jared riu da própria estupidez. Por meses ele quis terminar o relacionamento. Por meses ele quis uma chance de dar o fora em Jensen. E agora que fora trocado por outro, chorava e se desesperava, mendigando uma chance de ter o ex-amante de volta. Ele literalmente entrou em nova crise depressiva. Passou dias na cama, sem ter vontade de fazer nada. Desmarcou compromissos e pediu pizza pelo telefone. Ao menos dessa vez, ele não iria se afogar em bebida. Só em mussarela.

 


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