Forgive escrita por Gonista Gray


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Olar, tudo bem com vocês?
Encarem a Alice Longbottom como filha do Neville, o nome sendo uma homenagem para a mãe dele.
Espero do fundo do meu coração que vocês gostem.



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  Rose se orgulhava da pessoa que era. Se orgulhava mesmo. No auge de seus 17 anos, ela sabia muito bem reconhecer em si mesma características notórias que correspondiam a uma personalidade estável, que apenas se intensificariam no futuro. Não que ela fosse exibida, longe disso. Apenas sabia que não era uma pessoa ruim. Era generosa, destemida, simpática. E inteligente, também. Seu cérebro sem dúvidas era a melhor parte de seu corpo.

  Mas Rose também sabia reconhecer seus defeitos, e não precisaria nem de 5 segundos para responder alguém caso lhe perguntassem qual era o pior deles.

  Rose Granger Weasley era extremamente rancorosa.

  Seus pais, que se empenharam com devido esmero na educação da primogênita, haviam tentando lhe incutir a ideia do perdão. Mas a ruiva não conseguia assimilar aquilo. O coleguinha da creche que tinha roubado seu brinquedo, o primeiro namoradinho de escola que tinha partido seu coração, todos eles entravam em uma lista negra de Rose. E a partir daquele momento, se tornavam estranhos, completa e totalmente ignorados.

  Era difícil, ela sabia. Algumas pessoas eram mais difíceis de ignorar do que outras, o que tornava a tarefa de excluí-las de sua vida algo bastante complicado e doloroso. Mas Rose entendia que era melhor assim. Sua facilidade em remoer mágoas passadas tornava falso todo e qualquer perdão que ela pudesse conceder. E, ao invés de tentar se relacionar com a pessoa que tivesse a decepcionado, apenas para jogar na cara da mesma os erros passados na primeira oportunidade, ela preferia se afastar. Era justo com todos, principalmente com ela.

  E aquilo não era algo do qual se orgulhava. Rose se sentia mal. Ela queria, Merlin sabe o quanto, ter a capacidade de experimentar a sensação libertadora que o perdão concedia. Mas simplesmente não conseguia. Aquilo era algo que fazia parte de sua natureza, e nada podia fazer se não aceitar aquele fardo de bom grado. Uma vez perdida sua boa opinião, perdida para sempre, costumava pensar, relembrando o personagem de um romance trouxa que sua mãe tinha lhe dado.

  Com essa resolução de mundo, Rose Granger Weasley tomava bastante cuidado quando escolhia em quem confiar. Seu medo de decepções e traições era tão grande, que poucos eram os que ela realmente confiava fora de sua família.

  E ela se arrependia amargamente do momento em que decidiu confiar em Scorpius Malfoy.

  Não entendia muito bem como aquela amizade havia começado. Como todas as coisas boas e ruins da vida, ela simplesmente aconteceu.

  Enquanto seu primo Albus tinha sido selecionado para Sonserina e andava para cima e para baixo com o Malfoy por todo o castelo de Hogwarts, a ruiva teve o pior ano de sua vida. Tinha fantasiado o momento em que entraria na renomada escola de Magia e Bruxaria com seu primo favorito, e aproveitariam juntos todos os tipos de descobertas e aventuras que aqueles sete anos dentro dos muros de Hogwarts poderiam proporcionar. Por isso, o baque de ter todas suas esperanças ceifadas logo no primeiro dia foi extremamente doloroso. Mesmo que ainda tivesse outros primos, a possibilidade de conhecer novos amigos no castelo e todas essas coisas, Rose se sentia extremamente infeliz com a ausência de Albus.

  Seu primo, no entanto, passou todo o primeiro ano tentando lhe mostrar como ainda podiam ser bons amigos e companheiros, mesmo não estando na mesma casa. Albus fez de tudo, e empregou todo seu empenho em aproximar Rose e seu novo amigo, Scorpius.

  A ruiva achava a ideia estúpida. Ser amiga de um Malfoy? Era absolutamente absurdo. Não que fosse preconceituosa, claro que não. Mas em sua cabeça de menina de onze anos, um Malfoy não era digno de confiança. Portanto, se para ter seu primo de volta era preciso tolerar a presença de Scorpius, ela estava muito bem sozinha, obrigada.

  Não é preciso dizer que essa resolução não durou muito tempo.

  Solidão não era algo muito apreciado por Rose, e ela assistiu resoluta sua muralha ceder e se tornar cada vez mais próxima de Scorpius ao passar dos anos. No começo, foi uma aproximação bem estranha. O garoto era extremamente atrapalhado, ficava corado na sua presença, e normalmente não conseguia terminar uma frase sem gaguejar. Não era segredo para ninguém a paixonite que ele nutria por Rose, e não conseguia lidar muito bem com a decisão da ruiva de se tornar mais próxima dele. Albus, entretanto, estava quase explodindo de felicidade de ter seus dois melhores amigos junto de si, fazendo esforços redobrados para que permanecessem como um trio unido mesmo com um dos membros em uma casa diferente. 

  Aos poucos, Scorpius foi superando sua queda por Rose, se tornando capaz de formular as palavras em sua frente. Os dois passaram a se conhecer melhor, e com um riso arrancado ali, um abraço lá, antes que a ruiva percebesse, no final do quarto ano ela já podia afirmar sem sombra de dúvidas que Scorpius ocupava a posição de seu melhor amigo juntamente com Albus.

  Os três eram inseparáveis. Potter, Malfoy e Granger-Weasley. Estudavam juntos para as provas, passavam feriados um na casa do outro. Compartilhavam segredos, dores, tristezas, angústias. Foram dias difíceis quando Scorpius caiu da vassoura durante o jogo de Quadribol, ficando inconsciente e levando Albus e Rose a beira da loucura. Ou quando o filho do meio do Menino que Sobreviveu pegou um resfriado tão contagioso que teve seu dormitório interditado, sendo privado da presença de seus dois melhores amigos por um bom tempo. Até mesmo as decepções amorosas de Rose eram sentidas uniformemente pelo trio, já que a garota alternava entre o ombro do loiro e do moreno para chorar até que toda mágoa tivesse passado.

  Se alguém perguntasse como faziam para se manter tão unidos mesmo em casas diferentes, eles apenas riam, afinal a escolta de Albus e Scorpius para levar Rose até o salão comunal da Grifinória todas noites havia se tornado um hábito prazeroso para os três, onde caminhavam despreocupadamente pelo castelo, conversando e rindo tão alto que incomodavam os habitantes dos quadros.

  Apesar de tudo isso, Rose constantemente enxergava uma sombra em sua amizade com Scorpius. Sentia que o loiro ainda não era completamente sincero com ela. Talvez fosse apenas pela paixonite de anos atrás, que ainda evocava na mente dele. Não que isso a incomodasse, se Scorpius não fosse tão seu amigo, quem sabe...Não podia negar como ele tinha ficado bonito com o passar dos anos, o físico intensificado pelo Quadribol. Mas então ele fazia alguma piada idiota e Rose voltava a vê-lo como o Scorpius melhor amigo que ele era. Só que a sombra ainda estava lá, a incomodando, fustigando, quase a fazendo esperar o dia em que Scorpius a decepcionaria.

  E esse dia chegou no final do sexto ano.

  No mesmo ano em que Scorpius começou a seu namoro com Alice Longbottom. No mesmo ano em que ele mudara radicalmente. No começo do relacionamento, Albus e Rose só podiam se sentir extremamente felizes pelo amigo. Alice era uma velha conhecida da família, filha de Neville, uma boa pessoa e Rose podia até considera-la uma amiga. Ela gostava de Alice, e se Alice fazia Scorpius feliz, o afeto da ruiva dobrava de tamanho pela garota. Claro que com o amigo namorando, ele tinha que dividir seu tempo entre os amigos e sua garota. Albus e Rose não faziam alarde quanto a isso. Scorpius ainda era o mesmo, só que agora era de Alice também.

  Mas Longbottom não estava satisfeita. Não era uma garota ruim, nunca foi paranoica, mas o amor muda as pessoas. Para o bem ou para o mal. Estava apaixonada por Scorpius e não conseguia dividir sua atenção. O queria só para ela, em todos os momentos disponíveis. Não queria dar uma de namorada maluca, mas algumas discussões eram inevitáveis. Entendia a amizade com Albus, mas Rose? Pelo amor de Merlin, era uma garota! Não podia ter a atenção do namorado direcionada a outra garota que não fosse ela.

  E aos poucos Scorpius foi mudando, cedendo à pressão da namorada. A escolta para levar Rose até seu salão comunal era feita apenas por Albus. Já não sentavam mais os três para estudar, não era visto com a ruiva pelos corredores. E aquilo quebrou Rose. Assistia, impotente, o loiro jogar os anos de amizade no lixo, por um rabo de saia. Tentou até odiar Alice, mas sabia muito bem que a culpa era de Scorpius por ser tão fraco. Albus não estava melhor. Discutia constantemente com o loiro, tentando o trazer para luz da razão, chegando em pontos realmente críticos em sua relação.

  Quando o fim do ano letivo chegou, tudo entrou em colapso. Potter disparou todos os impropérios que conhecia na direção de Scorpius, quase os levando a uma luta corporal que só foi impedida porque Rose se colocou entre os dois. E quando Alice chegou para fazer o papel de namorada preocupada, surtou ao encontrar Rose e Scorpius juntos. Fez uma cena, discutiu com a ruiva, e se colocou dramaticamente para fora do Salão Principal. Enquanto Rose chorava copiosamente nos ombros de Albus, Scorpius apenas a olhou triste e seguiu em direção a namorada.

 Ele havia tomado uma decisão, afinal. Escolhera ela. Renegara 5 anos de amizade. Não havia mais como evitar. Scorpius tinha decepcionado Rose, e não lhe restava opção a não ser expulsá-lo da sua vida.

  O sétimo ano começou, e foi como se ela estivesse vivendo uma reprise do primeiro. Ainda que Albus estivesse totalmente do seu lado, reconhecendo o quanto Scorpious era idiota e responsável pela situação, o moreno não passou muito tempo sem falar com Malfoy. Rose não estava chateada com isso. Fora ela quem Scorpius tinha renegado, e cabia somente a ela dar um ponto final naquilo. 

  As férias de um ano para o outro foram suficientes para fazer Scorpius ver o quanto tinha sido estúpido, o fazendo voltar com a notícia do término do namoro e um pedido de desculpas nos lábios. Mas aquilo era inútil. Ele sabia muito bem o gênio que a ruiva possuia e as resoluções que acercavam seu mundo. Por isso apenas gastou saliva tentando remediar seus erros com palavras que malmente foram ouvidas.

  Os meses se arrastavam, e Rose estava sofrendo. Albus tentava transitar entre os dois amigos, sem nem tentar uma reconciliação que ele sabia que não era possível, mas ainda assim ela se sentia sozinha. Sentia falta de Scorpius. Uma falta que provocava uma dor tão grande que chegava a ser física. 

  Seria muito mais fácil ignorar o loiro se ele não estivesse tão próximo. Mas ela ainda o via, ainda escutava sua voz e isso a dilacerava por dentro. Em vários momentos, quis jogar suas convicções no lixo e simplesmente abraçá-lo, ignorando todo o sofrimento que ele tinha lhe causado. Mas então a lembrança dele se afastando voltava em sua mente, e a ruiva era tomada por uma mágoa tão grande que desistia da ideia.

  Scorpius não estava muito melhor. Corroído de culpa, se sentia de mãos e pés atados. Sentia falta da sua melhor amiga, de rir com ela por motivos bobos, de compartilharem seus gostos que eram tão parecidos. Rose o entendia como ninguém, e ele, estúpido, tinha destruído o que eles tinham. 

  Em sua contemplação muda, Rose se perguntava quando foi que Scorpius tinha se tornado alguém tão importante na sua vida e ocupado tal espaço no seu coração. Repassava na mente todos os momentos que tiveram juntos, pensando que ,sem sombra de dúvidas, o Malfoy seria a pessoa mais difícil a ser esquecida.

  Nos meados do sétimo ano, ela tinha atingido um estágio de saudade tão grande que realmente não se importava mais. Era isso. Se ele tentasse uma aproximação de novo, não impediria. Não poderia mais lutar contra. Mas a tentativa não veio, e Rose estava mortificada em seu orgulho. O fim, então. Nunca mais haveria Rose e Scorpius. Nunca mais se falariam. Tinha acabado.

  No fim do ano letivo e fim da sua estadia em Hogwarts para sempre, Rose estava conformada e resoluta. Ainda tinha Albus, tinha outros amigos. Ficaria bem, afinal. Tentava empregar felicidade no seu pensamento, enquanro terminava de arrumar as malas, pensando nas alegrias que aquele castelo tinha lhe proporcionado. Sabia que estava demorando, o dormitório ja estava vazio, mas queria aproveitar os últimos momentos em Hogwarts. 

  Com um último olhar de adeus, arrastou o seu malão para fora, e estacou ao ver Scorpious parado em frente ao Salão da Grifinória. Todo o corpo do sonserino demonstrava nervosismo, e ele olhava para ruiva como se tivesse medo de que ela o enxotasse dali.

— Rose...eu realmente nem sei por onde começar.  - Seus olhos se voltaram para todos os cantos, até finalmente focarem nela. - Sei que ja pedi desculpas antes, sei que fui um canalha, babaca, e que não mereço seu perdão. Eu joguei nossa amizade fora, te decepcionei, mas acredite, Rose, estou pagando um alto preço por isso. Estou sofrendo mais do que posso suportar. Passei o ano todo achando que deveria te dar espaço e respeitar sua decisão, mas eu realmente não aguento mais. Eu sinto sua falta. Sinto tanto sua falta que chega a doer. Sinto tanto a sua falta que estou disposto aguentar todo o seu desprezo apenas para que volte a me dirigir a palavra e...

  As palavras finais do discurso de Scorpius nunca foram escutadas, pois naquele momento, a ruiva tinha se jogado em seus braços o apertando tão forte que o ar lhe escapou por alguns instantes. Ele retribuiu o abraço na mesma intensidade, como se estivesse com medo que ela mudasse de ideia e saisse correndo sem nem olhar em sua direção.

  Depois de longos minutos, que para para os dois pareceram míseros segundos, Rose tentou formular algumas palavras, com a voz embargada do choro que nem procurava mais esconder.

— Eu senti sua falta.

  Scorpius se afastou dela minimamente, apenas para encarar seus olhos azuis.

— Não mais do que eu senti a sua.

  E finalmente Rose pôde experimentar a felicidade que o perdão genuíno podia conceder.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu sempre fiquei imaginando como seria a amizade entre pessoas de casas diferentes.
Comentários são sempre bem vindos ♥



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