Tapei minha boca por conta do grito que dei dizendo que também amava Chat. Eu e ele permanecemos nos encarando, não fizemos nenhum movimento.

— Wow, isso foi...

— Inconsequente.

— Mas eu gostei.

— É, foi um alívio. – soltei a respiração. Ele sorriu para mim.

— Mas eu ainda não entendi se sou bebê ou a fada. – bati minha mão na testa.

— Você é gato tagarela que é péssimo em entender analogias e fazer piadas.

— Gostei da parte do gato! – ele fez uma careta sugestiva e eu aproximei. Chat ficou de pé e segurou cuidadosamente minha cintura, em seguida iniciou um beijo. Passei as mãos ao redor do pescoço dele e me senti relaxada, como se nada mais importasse.

— Isso, viva uma mentira!  – empurrei Chat e olhei para os lados.

— Quem disse isso?

— Isso o quê? – ele olhou também com a testa franzida.

— Vai dizer que não ouviu alguém falando?!

— Vou, porque eu não ouvi. Marinette, você ta bem? – balancei a cabeça, afastando esses pensamentos doidos.

— Desculpe. – sorri para ele e me aproximei, continuando o beijo. Ouvi uma risada, mas ignorei e permaneci com Chat.

— Para! – ignorei novamente - Para com isso! Você tem que parar! PARA! – empurrei Chat novamente e ele me olhou totalmente confuso.

— Tem certeza que você está bem?

— Na verdade não.

— O que você tem?

— Eu não faço ideia.

— Como assim não faz ideia?

— Não fazendo, ué.

— Mas você...

— Caramba Chat! – sentei na cama - Eu não sei o que está acontecendo comigo. Se eu soubesse falaria, mas eu não sei!

— Tá bem, eu só quis ajudar. – ele levantou as mãos em sinal de rendição.

— É melhor você ir, preciso descansar mai um pouco.

— Certo.

— Nos vemos amanhã?

— Aham. – o loiro disse meio seco e saiu pela janela. Acho que fui meio grossa com ele, no entanto eu estou nervosa e Chat me deixou eufórica. Mesmo assim tenho que me desculpar amanhã com ele.

*****

Nesse momento eu encarava o teto do meu quarto enquanto estava deitada na cama. De onde tinha vindo aquela voz? Porque fui grossa com Chat? Com que cara vou falar com Adrien na escola? O que vou fazer da minha vida?

Eram muitas perguntas.

— Acho que estou completamente...

— Maluca?

— Exato. – espera! Quem disse isso? Levantei num pulo e vi uma garota idêntica a mim sentada na minha espreguiçadeira.

— Quem é você e porque se parece tanto comigo?

— Porque eu sou você sua doida.

— Realmente você é muito bonita.

— Há há há! Menos. – ela revirou os olhos. Ou eu revirei os olhos. Sei lá!

— Vem cá, por um acaso eu to ficando louca? Porque não é nenhum pouco comum uma pessoa falar consigo mesma.

— As pessoas fazem isso o tempo todo nos filmes.

— Sim, nos filmes. Não no mundo real. – ela riu – Qual a graça?

— Nada não.

— O que você quer... Hã... Consciência? – eu me encarei - Quero dizer, você é minha consciência, não é?

— Tipo isso. Vamos dizer que sim.

— Ai credo, eu to ficando louca! – cobri meu rosto com a mão e sentei na cama novamente – Enfim, o que você quer? Ou eu quero... Isso é muito confuso!

— Falar sobre você. Acabou de dizer que não gosta mais do Adrien e sim do Chat. Tem certeza disso?

— Se eu falei é porque tenho.

— Ah ta! Você não pode se desapaixonar de um garoto como o Adrien assim desse jeito.

— Talvez eu nunca fosse apaixonada por ele e só gostasse da sensação de...

— Acha que ama ela? Ah, por favor! Não minta para si mesma. Ele te levou ao local especial dele e da mãe, fez cookies com você, te beijou e ainda te trouxe pra casa mesmo depois de ter visto Chat entrando na sua janela, mesmo depois de ter sido traído.

— Nós não tínhamos nada e pra ele ter sido traído nós tínhamos que ter alguma coisa.

— Claro, claro. – eu fiquei de pé e vim até mim - Marinette, se eu sou sua consciência e estou te falando que você estava errada, quer dizer que você pensa isso de si mesma. Eu só estou transmitindo as informações de um jeito não-convencional criado pelo seu cérebro maluco.

—Não estou entendo onde eu quero chegar. Quer dizer que meu cérebro criou você só para dizer que eu não amo o Chat?

— Não, para dizer que você ainda ama o Adrien e que é melhor você não se iludir.

— Desculpe, eu ainda não compreendi o propósito dessa conversa. – pontuei. Bati minha mão na testa. Como eu adoro fazer isso.

— A questão é, você está se enganando. Está vivendo uma mentira.

— Não, não estou.

— Já disse pra não mentir para si mesma. Aceite os fatos e encare os problemas de frente. Eu sei de tudo o que acontece com você, porque eu sou você. Lembre-se que estou fazendo isso pelo nosso bem. – ela pulou por cima de mim e eu fechei os olhos com força e logo os abri.

Encarei o teto do meu quarto e percebi que estava deitada na minha cama. Esse deve ter sido o sonho mais louco que já tive.

Olhei para o relógio e percebi que faltavam minutos para eu ter que levantar e me arrumar para a escola. Virei e afundei meu rosto no travesseiro.

Tenho que me desculpar com Chat e criar coragem para tentar falar com o Adrien. Só que o problema maior é que eu não sei o que falar. Minha consciência tem razão, ele foi tão legal comigo e eu simplesmente decidi ficar com Chat. Será mesmo que eu ainda amo Adrien?

Abri a gaveta do meu criado-mudo e retirei um recorte de revista com a foto de Adrien. Ao olhar para a foto, uma sensação estranha invadiu meu corpo e eu me senti dividida novamente. Porque tem que ser tão difícil? Era muito mais fácil quando eu admirava Adrien, suspirando sem ser notada e não tinha conhecido Chat. As coisas eram tão mais simples porque eu só precisava admirar de longe e ficar na expectativa. Funcionava assim. Eu estava bem assim.

Meu despertador começou a tocar e eu rapidamente o desliguei. Respirei fundo e levantei.

— Coragem Marinette! – disse para mim mesma – Não vai ser fácil, porém é necessário.