—_... Como certos músculos da face. Eles podem ser arredondados, os orbiculares dos olhos, por exemplo, planos como os do crânio ou fusiformes como os do braço. Mas de maneira geral... Senhorita. Pevensie? Senhorita Pevensie, está desenhando de novo?

Lucia demorou ainda a responder. Apenas quando foi cutucada por um garoto que sentava atrás, que olhou para a professora de biologia e engoliu em seco, tentando colocar o livro aberto sobre o caderno em vão.

—O que a senhora perguntou, professora? – ela disse em um tom de desculpa

—Estava desenhando de novo na minha aula! Quantas vezes eu já lhe disse que não vou aceitar isso?

—Muitas vezes, professora, mas...

A velha senhora andou até sua cadeira e puxou o caderno.

—Um leão? Por que está desenhando um leão? – Lucia abriu a boca para responder, mas foi cortada – Pensando bem, eu não quero saber! Vá já para a diretoria, mocinha!

Ela nem tentou argumentar. Não era a primeira e nem a ultima vez que isso lhe acontecia. Ela apenas se levantou e caminhou para fora da sala, indo pelos corredores até chegar à sala já conhecida pela mesma. Entrou na pré sala e foi até a vice-diretora mexendo nuns arquivos. A senhora abaixou os olhos para ela e suspirou.

—De novo, Lucia? – ela pergunta retoricamente

—Eu me distraí... Me desculpa! – Lucia responde de cabeça baixa

—Mesmo motivo?

—Sim!

—Sente-se! Faça companhia ao seu irmão!

—Meu irmão? – ela olha para onde ficam as cadeiras e vê Edmundo sentado de braços cruzados.

—Vocês Pevensies... – ela diz, mas para si mesmo, e volta a olhar seus documentos.

Lucia caminha até o irmão e senta do lado dele.

—Por que você está aqui? – ela pergunta ao sentar

—Eu disse à professora que não tinha que obedece-la porque eu era um rei! – ele responde com um sorrisinho bobo – Mas e você?

—A professora me pegou desenhando na aula dela. – ela acaba devolvendo o sorriso ao irmão – Já conversamos sobre você não ser um rei aqui nesse mundo. Nenhum de nós é!

—Isso não me torna menos rei! – ele suspira irritado – Afinal, porque faz tanto tempo que ele não nos chama? Susana e Pedro tudo bem, mas Aslam disse que nós iriamos voltar!

—É verdade! Susana e Pedro nem devem pensar em Nárnia mais... – Ela começa a dizer quando a porta se abre rápido e um homem entra e para perto da mesa da vice-diretora.

Atrás dele, entra Susana e Pedro. Ele olha para os irmãos sentados e da um sorrisinho, que some assim que o professor o olha.

—O que houve, professor? – a vice-diretora pergunta espantada

—Apenas observe, senhora Hony. Eu vou te refazer a pergunta e você me responde o mesmo que disse em sala! – o professor parece irritado – Qual foi a maior batalha dos últimos anos?

Susana não responde. Ela parece envergonhada, afinal nem ela mesma acredita que disse aquilo em voz alta na frente de todos.

—Vamos, responda! – o professor ordena novamente

—A guerra entre os defensores de Aslam e Jadis. – ela diz em voz baixa

Lucia e Edmundo olham boquiabertos a irmã.

—E quem é Jadis? – o professor pergunta ainda irritado

—Eu já pedi desculpa senhor Liess! – ela afirma

—Quem é? – Sr. Liess repete a pergunta

—A feiticeira Branca. – Susana completa

—Essa mocinha fica fazendo piadinhas durante a minha aula! – ele bate a mão sobre a mesa da mulher que encara Susana

—Certo! Senhorita Pevensie, sente-se! – Hony suspira – E Pedro?

—Pedro me desafiou quando eu disse que mandaria Susana para a diretoria! Já não basta ter reprovado em minha matéria, ainda pensa que pode me afrontar! Quero advertência nos dois! – o professor diz autoritário e sai da sala batendo a porta

—Vocês quatro ainda vão enlouquecer seus professores! – Hony diz limpando os óculos – Vá sentar com seus irmãos, o diretor ainda não chegou! Nem ele espera tanta confusão nas primeiras horas do dia, nos primeiros dias do ano!

Pedro de senta ao lado de Susana, defronte aos outros irmãos.

—Por que vocês estão aqui? – Pedro pergunta os olhando

—Eu desenhei na aula e Ed esnobou a professora dizendo que era um rei! – Lucia responde mexendo os pés

Eles se encaram em silencio e então ambos caem na risada.

—Pelo mesmo motivo? – Susana diz – Menos o Pedro.

—O Pedro é muito nobre! – Edmundo diz sorrindo superior – Se fosse menos exibido, não estaria aqui!

—Pelo menos eu não sou exibido e maldoso com as pessoas! – Pedro rebate

—Parem vocês dois! – Lucia diz e então cai na pilha – Nada supera a vontade de Susana de ser a sabe-tudo!

—Ah é? E quem manda a senhorita ser tão gentil? Tenho certeza que você nem tentou argumentar! – Susana olha a irmã – Desenhar na aula nem é um motivo grave, se tivesse pedido a professora te deixava ficar! Mas com você é sempre “sim senhor”, “sim senhora”.

—Por que estamos discutindo sobre isso? – Pedro para do nada e os quatro se encaram, começando a rir de novo.

—Sinto saudades de Nárnia! Nosso lugar não é aqui! – Lucia diz parando de rir

—Somos reis! Não deveríamos estar na diretoria! – Edmundo completa

—Mas nós dois não poderemos voltar... Nunca mais! – Pedro diz triste

—E vocês dois não podem voltar sem um chamado! – Susana diz suspirando

De repete, as luzes da sala começam a piscar. Eles olham para a Sra. Hony, mas ela parece não ver nada. Apenas olha para seus papeis, concentrada.

—O que está acontecendo? – Edmundo pergunta quando as coisas começam a tremer

—Eu não sei! O que é aquilo? – Pedro pergunta apontando para um ponto preto que surge no meio do nada

—Vocês acham que nós... – o ponto se transforma num buraco que cresce até atingir o tamanho de um bueiro e então começa a sugar tudo.

—SIM! ESTAMOS INDO PARA NÁRNIA! – Lucia grita soltando a cadeira sorrindo grande e sendo sugada pelo buraco

—LUCIA! – Pedro grita e então olha os irmãos – TEMOS QUE IR ATRÁS DELA!

—E SE NÃO FOR NÁRNIA? – Edmundo grita para os irmãos

—E O QUE MAIS SERIA? – Susana pergunta olhando os irmãos, confusa. Ela olha então para a vice-diretora que bebe um pouco de seu café como se nada estivesse acontecendo

—NÃO IMPORTA O QUE É! TEMOS QUE IR! – Pedro grita novamente, soltando e sendo sugado – SOLTEEEEM!

Susana e Edmundo se olham e então, sem muita escolha, soltam da cadeira e são sugados pelo buraco. Ele encolhe e some. O vento para, as coisas voltam para seus devidos lugares, como se fosse magia. Finalmente, a Sra Hony vai falar alguma coisa com um dos irmãos e olha para eles. Assim que vê os lugares vazios, bufa!

—Não acredito que eles saíram sem eu ver! – Hony se levanta e vai em direção a porta – Quando eu pegar esses quatro, eles vão se ver comigo!