Meu destino é você. escrita por Drica Mason


Capítulo 4
Chapter #4




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Eu estava morta, exausta, minha cabeça parecia uma bomba relógio, tudo isso devido ao meu primeiro dia de trabalho. Diego e Bruno não tiveram parada o dia inteiro. Pareciam dois reloginhos, brincaram a tarde toda. É muito açúcar no sangue. E como hoje era um dia em que eles não têm atividades podem ficar a tarde toda fazendo o que bem entendem, eu fui uma espécie de cobaia para os dois.

Foram dois tombos na piscina, quatro voltas correndo ao redor da casa numa brincadeira de pega ladrão. Depois brincamos de pique esconde dentro da casa e resultou no sumiço do Bruno, eu entrei em desespero e o procurei por toda aquela enorme mansão, ele estava embaixo da cama do pai dele.

Quando encerrei meu expediente e dei tchau aos meninos, vi Eduardo entrar pela porta da frente, subir as escadas afrouxando a gravata e abrindo alguns botões da camisa, então ele se fechou no quarto e eu saí pelas portas dos fundos.

Enfim, meu primeiro dia de trabalho foi divertido, exaustivo e sexy. Resumindo, foi excelente, e não precisei usar as balas, nem quando Diego bateu o dedinho do pé na quina do móvel, foi bom receber o abraço dele e consolá-lo, ele é tão fofo.

Notei que tanto Diego quanto Bruno carregam uma cota de tristeza no olhar, não sei o tamanho da dor dos dois, mas perder a mãe deve ser a pior coisa do mundo e eles passaram por isso tão novinhos. Diego ainda a conheceu, mas Bruno, nem teve a chance de olhar nos olhos da mãe e apertar forte o polegar dela. É o mesmo olhar que Eduardo carrega.

— Hey...Hey. Como foi o primeiro dia? — pergunta Jen, assim que coloco meus pés dentro do nosso apartamento. Dou alguns passos e desabo no sofá. Óh meu Deus, ainda tenho a faculdade. Mas não posso reclamar, está bom demais. — Me responde!

— Não grita, por favor, não grita. — murmuro massageado minhas têmporas. — Ainda não sou surda.

— Okay. — ela contorna o sofá, arrasta minhas pernas para fora do móvel e senta-se ao meu lado. — Como foi seu primeiro dia como babá? — sussurra.

— Estou apaixonada por dois menininhos. — digo. — Eles são lindos, Jen. — ela sorri. — E educados, mas muito bagunceiros, muito. — acrescento.

— Então foi ótimo?

— Exato. Foi ótimo. — resmungo. — Mas agora preciso de um banho quente, porque ainda tem a faculdade. E com certeza vai ser mais uma tonelada de cansaço sobre minhas costas.

— Vou fazer um lanche para nós, também tenho que me arrumar. Aposto que o restaurante vai estar cheio hoje. — diz, reprimindo um suspiro. — Queria ser filha de magnata, mas tudo bem.

— Capriche no lanche. — levanto e sigo para o meu quarto. — Estou morrendo de fome.

Nossos horários não são os mesmos. Jen estuda no período diurno e trabalha a noite no restaurante. Eu trabalho durante o dia e estudo a noite, então nós não somos aquelas amigas chiclete, mas fazemos o máximo para estarmos juntas. Sempre saímos juntas, balada, jantares e festas de faculdade. Mas acho que isso vai acabar agora que estou trabalhando com duas crianças super bagunceiras.

(...)

— Tira a porra do seu carro daí! — exclamo, minha paciência já havia se esgotado com o trânsito e um idiota havia cruzado a minha frente e invadido minha vaga.

— Tem seu nome aqui, gordinha? — okay, não queria bancar a infantil, mas ele pediu por isso.

— Tira essa merda antes que eu a arraste daí e a leve no meio do gramado. Não me subestime. — vocifero e ele se encolhe. — Você não me conhece. Minha picape pode ser velha, mas com certeza vai fazer um grande estrago na porcaria do seu carro.

— Okay, você venceu. — tirou o carro e eu sorri vitoriosa.

 Ninguém me diminui só porque se acha superior, sempre deixo isso bem claro.

— Quando eu lhe vi pela primeira vez, tive certeza que lhe conhecia de algum lugar. — Fecho a porta da picape e giro ao escutar a voz masculina familiar.

— Matheus? — ergo minhas sobrancelhas, a Emily está ao lado dele, mais surpresa do que eu.

— Surpresa gata? — diz. — Eu falei, Emy. Agora você está me devendo 20 reais.

— Vocês estudam aqui? — indago. — Agora eu entendo porque achei vocês tão familiares.

— Eu nunca vi ela aqui. — comenta Emily.

— Eu vi você apenas uma vez, você estava na biblioteca. E, além do mais, essa faculdade é enorme. — Eu concordo com a cabeça. — De qualquer forma, é bom ver você de novo.

— Que curso vocês fazem? — indago, enquanto andamos rumo à faculdade.

— Administração. — falam juntos.

— Vocês são tipo siameses, trabalham juntos e estudam? — Os dois sorriem com meu comentário.

— Exato. — fala Emy. — Essa bixa não vive sem mim. — caímos em gargalhadas. — moramos juntos também. — completa me fazendo arregalar os olhos. — Conseguimos o mesmo emprego por causa dos estágios oferecidos pela agência. — assinto.

— A gente gosta de estar sempre junto. — diz Matheus.

Semelhante a duas pessoas que conheço.

— Bom, o papo está ótimo, adorei rever vocês. Mas preciso ir para minha sala. — digo.

— Nós também. Mas nos encontramos no refeitório depois? — pergunta Matheus.

— Claro. — ele sorri. — agora eu vou.

(...)

Tive uma aula no laboratório de neurologia, tínhamos que estudar o cérebro humano, para finalizarmos nossa tese individual sobre o cérebro e suas diversas áreas. Depois tive duas aulas sobre transtornos de personalidade e agora tenho um enorme trabalho para fazer. Preciso de alguma maneira de conciliar os estudos com o trabalho.

Quando o sinal tocou para o intervalo ao invés de eu ir para a biblioteca e me afundar em um bom livro eu segui para o refeitório. Parei na entrada e olhei ao redor, Matheus balançou a mão e me chamou. Andei com passos ligeiros até a mesa onde eles estavam, ignorei algumas brincadeiras de mal gosto e olhares depreciativos.

— Oi. — Emy falou. — Que bom que veio.

— Muito bom! — exclamou Matheus. — Senta-se e vamos conversar sobre nossas vidas. — sorri e então aceitei seu convite. — E você começa; como foi o trabalho? Eduardo é um bom pai? Como são as crianças?

Comecei a responder suas perguntas. Tanto Matheus quanto Emily parecem serem pessoas legais, me sinto bem com eles.  

+++

Depois que cheguei da faculdade apenas comi um sanduíche. Coloquei meu pijama de girafas, amarrei meus cabelos e tombei na cama, logo havia sucumbido em um sono profundo, também, depois do dia cansativo, tudo que eu merecia era boas horas de sono.

Acordei apenas na manhã seguinte, com o despertar do meu celular que vibrava e emitia o barulho de um galo cantando. Desativei. Deslizei para fora da cama, esfreguei meus olhos e segui para o banheiro.

Quando entrei na cozinha, já arrumada para meu segundo dia de trabalho, a mesa estava posta com um banquete digno da realeza. Acho que vou me casar com a Jen, me poupará decepções e sempre terei um banquete no café, almoço e no jantar.

— Jen, você é perfeita. — dou um beijo em sua bochecha. — nunca me abandone. — acrescento e me sento à mesa, servindo-me de um bolo de cenoura com cobertura de chocolate.

— Tenho que lhe dizer algo. — murmura, esfregando as mãos uma na outra.

— E o que é? — pergunto, enfiando um pedaço do bolo na boca.

— O Cello, ele me ligou ontem, pediu se nós poderíamos dar uma ajudinha no bar sábado. Ele disse que vai ter clientes comemorando aniversário, disse que a casa vai estar cheia e precisa de duas bartenders reserva, já que Carmem teve que viajar e só volta na semana que vem.

— Tudo bem por mim. — digo. — Tenho que ir agora. — dou um beijo nela e saio.

Marcelo — Cello como gosta de ser chamado. —, é o primo da Jen, ele nos ajudou quando chegamos em Curitiba alheias a tudo, nos ajudou com a moradia e quando fomos demitidas do nosso primeiro emprego ele nos contratou como bartender da sua boate, devido isso somos ótimas fazedoras de drinks. Depois de tudo que Cello fez pela gente, não posso negar ajuda.

A boate dele fica no centro da cidade e é frequentado pelos universitários, empresários, magnatas e pelos riquinhos da cidade. Já fui desrespeitada muitas vezes durante os meses que trabalhei lá, mas Cello foi sempre um anjo para mim e Jen, colocou todos para correr do bar. Alguns eu mesmo fiz, tenho o gênio forte e não levo desaforos para casa, então já sabe.

Sofri muito preconceito porque alguns homens pensavam que quem devia estar atrás do balcão era uma mulher peituda, bunduda e magra e não uma gorda com culote. E também tinha aqueles bêbados que bebiam demais e tentavam passar a mão nas mulheres, eu passei por isso incontáveis vezes, Cello sempre fazia os seguranças jogar os homens para fora do bar. Fora isso, foi uma experiência boa e agora sei fazer drinks.

Estaciono a picape na garagem da mansão Ventura. Checo as horas e faltam 25 minutos para as sete da manhã. Tenho que levar os garotos para a escola as 07hrs:15min, depois tenho que passar no clube e mudar o horário dos dois para a aula de natação. Tenho praticamente toda a manhã livre até o meio dia, então vou aproveitar e dar inicio ao meu trabalho da faculdade.

Entro pela porta dos fundos e me deparo com Eduardo e os meninos tomando café na mesa da cozinha, pensei que eles usavam aquela mesa enorme da sala de jantar, estava enganada. Bruno olha para mim e sorri, derreto na hora. Esse menino me deixa encantada. O segundo que nota minha presença é o Diego, ele sorri e volta sua atenção no bolo de chocolate. Eduardo troca um olhar sutil comigo. Levanta abotoando o paletó e vem em minha direção.

— Alana, podemos conversar? — Deus, que eu não tenha feito nada de errado.

— Claro, senhor. — sua mão pousa em minha omoplata e ele me conduz para fora da cozinha. — Senhor, eu não sei o que fiz, mas juro de dedinho, por tudo que é mais sagrado que o erro não vai se repetir. E olha que promessas de dedinho não podem ser quebradas. — retomo o ar e encaro Eduardo que parece divertido com a situação.

— Não aconteceu nada de errado. Fique tranquila, Alana. Se saiu muito bem no seu primeiro dia e os meninos lhe adoraram.

Respirei aliviada.

— Então não me chamou aqui para me dar uma bronca? — pergunto.

— Não. — responde naturalmente. E eu me xingo mentalmente por todas as besteiras que fale antes. Ele deve me achar ridícula.

— Hum... — sinto minhas bochechas formigarem de tanta vergonha. — Então o que é?

— Hoje eu terei que viajar para São Paulo e voltarei de madrugada, terá que passar a noite aqui. Sei que tem sua faculdade, por isso pedi para Cecilia ficar com os meninos até você voltar. Ela não pode passar a noite aqui porque tem a filha dela e trabalha cedo amanhã, então preciso da sua ajuda hoje. Acho que não é problema para você, não é?

— Não, nenhum problema. — respondo.

— Obrigado. Agora eu tenho que ir. Você sabe onde fica seu quarto? — assinto. — Bom trabalho então, nos vemos em breve. — diz e se retira.

É minha primeira noite aqui nessa casa.

— Estão prontos garotos? — pergunto.

— Sim! — exclamam em uníssono.

(...)

A manhã passou voando, passei horas na biblioteca municipal, dando início ao meu trabalho. Quando o relógio marcou onze horas eu juntei minhas coisas e embarquei na picape. Voltei para a mansão, porque já estava quase na hora de pegar os meninos e Ronaldo sempre deve estar comigo.

Saímos da mansão e quando entrei na escola os meninos ainda estavam em suas respectivas salas. Peguei Bruno primeiro, já que na sua classe eles são dispensados cinco minutos antes do alarme tocar. Depois peguei Diego e votamos para casa.

Os dois almoçaram e tiveram algumas horas livres antes da aula de natação. Jogaram um pouco de xadrez antes de irmos ao clube. Depois da aula de natação Diego tinha curso de inglês e Bruno aula de canto. Esses meninos têm uma vida mais corrida que a minha.

Enfim às quatro horas estávamos em casa. Eles me obrigaram a brincar com eles no jardim, onde ficamos deitados na grama rasa até as cinco. Então fiz os dois tomarem banho, lancharem e se concentrarem nas lições da escola. Era 19hrs:00min quando Teresa anunciou o jantar.

Os dois jantaram reunidos com os empregados na cozinha e não se importaram nenhum pouco, ao contrário, pareciam ter laços com cada um. Cecília chegou enquanto os dois estavam jantando. Eu terminei de me arrumar e segui para a faculdade.

+++

É, foi mais um dia exaustivo, mas ótimo. Gosto de passar algumas horas com eles. Enviei uma mensagem para Jen avisando que não dormiria em casa, é claro que ela não perdeu a oportunidade de fazer piada sobre Eduardo e a nova babá dos filhos dele. Jen é impossível. Depois de tomar um banho quente e demorado eu vesti meu pijama de girafas e minhas pantufas.

Peguei minha mochila com livros e o notebook e andei até a cozinha, meu quarto não tem uma mesa de estudo, e se eu for tentar fazer o trabalho na cama, vou ter dor no pescoço, na coluna, formigamento nos dedos nos pés e esse tipo de desconforto. A mesa da cozinha estava ótima e o silêncio predominava no cômodo. Ótimo.

Sentei-me a mesa, abri o notebook e peguei o livro de 500 paginas que emprestei da biblioteca da faculdade. Começo estudar afinco para finalizar o trabalho ainda essa noite.

+++

Olhei no relógio do meu novo celular — não mencionei antes, mas Eduardo me deu um celular para somente usar no trabalho e era o mesmo número de emergência da escola, do clube, e da escola de inglês —, já era passado das duas da manhã. Estava quase terminando os slides. Sei que vou me arrepender amanhã por ter virado a noite, mas tudo bem, vale a pena se conseguir finalizar tudo direitinho.

Levanto e coloco a cafeteira para funcionar, preciso de cafeína, ao contrário já estaria babando em cima dos meus livros. Começo a me esticar toda para pegar uma xícara na prateleira de cima da pia quando sinto uma presença atrás de mim, giro rapidamente e Eduardo está a poucos cm do meu corpo, quase bato meu queixo em seu peito. Reprimo um grito de pânico e coloco a mão sobre meu peito.

— Ia oferecer ajuda, mas você se vira bem sozinha. — murmura. Olho para ele com a gravata frouxa, alguns botões da blusa abertas me dando um vislumbre do seu abdômen sarado. Engulo em seco e me distancio dele. — Por que está acordada ainda? — sirvo a xícara com café e olho para minhas coisas sobre a mesa.

— Preciso terminar um trabalho da faculdade. — ele pega uma xícara e se serve com café também.

— Espero que o trabalho não esteja atrapalhando seus estudos.

— Não, de jeito nenhum. É que não gosto de fazer as coisas na última hora. Fica tudo porco demais, e eu não gosto de coisas mal feitas.

— Eu entendo. — diz. — De qualquer modo, não se sobrecarregue. — assinto. — Tenha um bom resto de noite, Alana. — completa e então se retira com toda sua graciosidade.

Okay, tenho um chefe gostosão, aprenda a lidar com isso e conviver também. Apenas não viva um clichê de se apaixonar por ele. Isso acontece só em livros e filme, é uma total ilusão.

Fico repetindo isso, mas não é o suficiente para fazer o tremor das minhas pernas passar e o calor que envolve meu corpo sumir.


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