Meu destino é você. escrita por Drica Mason


Capítulo 11
Chapter #11




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Eu estaria mentindo se dissesse que as palavras de Eduardo não me magoaram, porque sim, eu me magoei e me senti culpada por não proteger Diego, amo aquele garoto e nunca quis que nada ruim acontecesse com ele. Mas sabemos o quanto uma criança pode ser imprevisível e que nem sempre estaremos lá para protegê-las. Eu faria de tudo para estar lá, protegendo-o de todos, porém, nem sempre podemos.

Quando cheguei em casa senti que precisava desabafar, contar para alguém o que havia acontecido, precisava de um ombro amigo e ninguém melhor do que a minha amiga para me escutar. Mas Jen já havia saído, apenas deixou um recado grudado na geladeira. Entedia que ela tinha o trabalho dela e que nem sempre estaria a meu dispor.

Fui para o quarto, sem a mínima vontade de sair novamente. Decidi que não iria para a faculdade, minha cabeça já estava doendo e tinha certeza que se fosse não conseguiria filtrar nada do que os professores ensinassem. Então, achei melhor ficar em casa, assim descansaria minha cabeça e tomaria um tempo para digerir o que havia acontecido mais cedo.

Deitei na cama e fiquei fitando o teto. Passou-se um longo tempo e eu não conseguia tirar as palavras e a lembrança dos olhos decepcionados de Eduardo. Eu também sentia medo de a qualquer momento receber sua ligação, dizendo que estava me dispensando do serviço, que não precisaria levantar cedo no dia seguinte, e isso estava me consumindo, precisava desligar meus pensamentos e ficar longe do celular.

Levantei e fui para o banheiro, tomei um banho longo e vesti roupas confortáveis, uma calça leggin, uma camiseta solta dos Beatles, jaqueta preta por cima e um tênis converse. Peguei minha bolsa e as chaves da picape, deixei o celular em cima do criado mudo, como disse, precisava ficar longe dele, a noite toda se fosse preciso.

Conheço um lugar onde eu podia relaxar e me distrair das outras coisas. Não ficava longe de casa, 15 minutos no máximo. Sabia que encontraria amigos nesse lugar, pessoas que me fariam esquecer. Desembarquei da picape e olhei para o estabelecimento. Era um barzinho a beira da estrada, Jen e eu frequentamos muito o local quando completamos 18 anos. Os donos acabaram virando nossos amigos e sempre nos dão uma rodada de cerveja de graça. Mas agora faz tanto tempo que não venho aqui.

O bar é uma construção antiga de madeira envernizada, tem um toque rústico e musicas antigas. No interior tem algumas mesas, uma jukebox no canto, duas mesas de sinuca no centro e um balcão de madeira logo a frente, atrás tem uma prateleira enorme de bebidas. Olho para o balcão e lá estão Roberto e Giane.

 Atravesso de pressa o salão, as pessoas não se importam muito comigo, algumas me reconhecem e acenam com a cabeça, quando chego ao balcão Giane é a primeira que nota minha presença e para o que está fazendo, ela sorri. Roberto está de costas, checando a prateleira de vodca.

— Alana! — exclama surpresa. — Meu Deus, faz tempo que não te vejo.

Roberto vira-se e claramente está surpreso como a esposa.

— Uau. Faz muito tempo mesmo. — diz ele. — Uns nove meses? Mais?

— Não parei para contar, mas é por aí. — comento. — Acabou acontecendo algumas coisas, Jen e eu tivemos que cortar alguns gastos, e a bebida foi um deles.

Os dois sorriem.    

— E como está a Jen? — indaga Giane. — Por que ela não veio?

— Ela está trabalhando. — os dois assentiram. — Em um ótimo restaurante.

— Que maravilha. A Jen merece. — concordo com o comentário do Roberto. — E como você está? Já se formou?

— Estou bem. Ainda não me formei. — disse. — Hoje eu acabei faltando. Aconteceram coisas terríveis no meu trabalho. Preciso beber.

— Então veio ao lugar certo. — disse Giane, andando até o congelador, ela pegou uma cerveja e voltou para frente do balcão. Colocou a garrafa na minha frente e sorriu. — Essa é por conta da casa. — e tirou a tampa.

— Obrigada.

Peguei a cerveja e bebi um gole.

— Bom, nós precisamos voltar ao trabalho. Mas fique a vontade.

Balancei a cabeça e os dois voltaram ao trabalho.

— Ei. — chamei outro bartender. — Pode me arranjar amendoins salgados e outra cerveja?

O rapaz apenas assentiu e rapidamente me deu o que eu pedi. Levantei e caminhei até uma mesa vazia que tinha mais para o canto do bar. Sentei-me e enquanto bebia comia os amendoins, estava com o estômago vazio, se não comece algo a bebida me consumiria rapidamente e não podia deixar isso acontecer.

Observei as pessoas no bar. Com certeza todas estavam ali por uma razão, não só a bebida, mas por algo a mais; preocupações, desilusões amorosas, falta de emprego ou estresse por causa de muito trabalho. Claro, que algumas estavam ali para arranjar um par para esquentar seus pés de madrugada. Eu só queria beber mesmo, para me desligar do resto.

Após a sexta garrafa de cerveja eu já estava altinha. Cantando musicas que tocavam e torcendo por um cara que jogava sinuca contra outro. Levantei tropicando e fui até a jukebox, tirei uma moeda da bolsa e enfiei no lugar que me deixaria escolher uma musica. Escolhi uma dos The Beatles, para combinar com minha camisa. Quando a melodia começou algumas pessoas aplaudiram e puxaram suas companheiras para um lugar livre em que pudessem dançar, outros ficaram quietos, bêbados demais.

Voltei para o balcão e peguei mais uma garrafa de cerveja. Dei um gole no liquido galado que desceu apertando minha garganta, o gosto era tão bom, fui saindo.

— Você não devia beber tanto assim.

Escutei, virei o rosto para o lado de onde a voz vinha, Henrique estava sentando em um banco na frente ao balcão, usava roupas normais e estava ainda mais lindo. Seus olhos me sondaram vagarosamente com aquele brilho de malicia que notei a primeira vez que nos vimos. Admito, senti-me excitada com a forma que me olhava. E sabia que podia ser apenas efeito da bebida.

— Você trabalha cedo amanhã. — completou. — E acredito que uma ressaca logo de manhã não vai lhe fazer bem.

— Não importa. — dei de ombros. — Acho que nem tenho mais um emprego.

As sobrancelhas de Henrique se enrugaram. Com certeza ele não sabia o que tinha acontecido. Ele e Eduardo são amigos, mas não confidentes. Virei para frente, queria voltar para minha mesa e beber mais um pouco, depois voltar para casa e checar minhas ligações, constatar que não tinha mais um emprego.

— Ei. Ei, espera aí. — me deteve Henrique, segurando meu braço. — Senta aqui, me conta o que aconteceu.

Ponderei. No momento Henrique era a única pessoa que eu podia desabafar. O Henrique gostoso. O Henrique amigo do meu chefe. O que eu ia fazer? Tudo que queria era alguém para desabafar e Henrique se ofereceu para me escutar, então eu aceitei. Sentei ao seu lado, bebi minha cerveja enquanto contava tudo para ele.

— Eu juro que se pudesse teria protegido o Diego, mas eu não estava lá na primeira vez e na segunda era tarde demais.

Acredito que a esse ponto, mesclado com a bebida estava meu emocional e tentei segurar a vontade súbita de chorar. Mas eu não consegui, acabei chorando na frente de Henrique e isso era patético.

— Agora ele vai me demitir. — sussurrei, limpando minhas lagrimas. — E não vou mais poder protegê-los. — outra lágrima caiu. — Eu nem me despedi direito deles.

Os dedos de Henrique pousaram no meu queixo e com a outra mão ele limpou a lágrima que acabara de cair.

— Eduardo não vai te demitir. Eu conheço meu amigo. — disse, então soltou meu queixo. — Ele pode estar furioso, mas não faz nada de cabeça quente. Essa é a maior qualidade nele. E eu percebi a forma que ele te admira e a forma como os meninos gostam de você. Eduardo sabe que nunca vai achar uma babá que chegue a sua altura.

— Você acha?

Eu funguei. Henrique fez que sim com a cabeça.

— Tenho certeza, Alana.

Um silêncio absoluto tomou conta de nós. Fiquei encarando os lábios de Henrique, eu sentia uma vontade quase incontrolável de beija-lo e tinha quase certeza que ele também, mas o quase venceu e eu não tive coragem, apenas sorri e me levantei.

— Você quer jogar sinuca?

— Claro.

Saímos do banco e andamos até a mesa de sinuca que estava servindo para um casal se pegar. Falei educadamente com eles, mas nenhum me escutou, estavam mais focados em se beijar e se esfregarem.

— Ei, caiam fora! — exclamou Henrique, puxando o homem pela jaqueta. — Agora.

Claro que o cara não foi nem burro de retrucar Henrique, apenas puxou a mulher pela mão e os dois foram para um canto do bar. Comecei arrumar as bolas de bilhar em um triangulo no canto da mesa.

— Antes você tem que saber uma coisa. — disse Henrique, pegando um taco e passando outro para mim. — Eu não jogo para perder.

— E quem disse que eu jogo para perder?

Henrique sorriu.

[...]

— Eu ainda não acredito que você ganhou duas vezes de mim. — reclamou Henrique, entregando-me uma garrafa de cerveja e se sentando a minha frente.

— Há um tempo, quando eu frequentava esse bar todos os fins de semana, os donos faziam torneio de bilhar e eu sempre vencia.

— Por que você não me disse isso? — Observei-o levar o gargalho da garrafa aos lábios enquanto fitava meus olhos.

— Porque pensei que você fosse um bom oponente. Não quis te assustar.

Henrique sorriu e curvou o corpo sobre a mesa.

— Obrigada por salvar minha noite, Alana.

Eu sorri e dei um gole na minha cerveja.

— Acredito que qualquer mulher teria salvado sua noite, Henrique.

— Meu Deus, por que as mulheres me acham tão cafajeste?

— Você que fez sua fama. — tomei o resto da cerveja que restava na minha garrafa e levantei. — Está tarde, é melhor eu voltar para casa. Boa noite, Henrique.

Deixei minha garrafa sobre a mesa e caminhei até o balcão. Paguei minha conta e disse para Giane que tentaria frequentar mais seguido o bar, disse também que na próxima traria Jen junto. Despedi-me dela e Roberto e dei meia volta dando de cara com Henrique.

— Acho melhor você não dirigir.

— Tudo bem, vou chamar um taxi. – falei, lembrando-me logo em seguida que tinha deixado meu celular em casa. — Na verdade vou pedir para Giane chamar para mim.

— Deixa quieto. Eu levo você.

— Você também não está em condições de dirigir. — retruquei.

— Tenho um motorista.

— Claro que você tem. — falei em tom sarcástico.

Eu não podia esperar menos de Henrique. Ele deve ter muitos empregados a sua disposição.

— Vamos?

Ponderei. Que mal tinha aceitar uma carona de Henrique. Não posso sair dirigindo depois de beber uma dúzia de cerveja e um taxi a essa hora demoraria uma década. Então, fiz o que me restava.

— Tudo bem.

Henrique deu um sorrisinho vitorioso. Espalmou a sua enorme mão nas minhas costas e me conduziu para fora do bar. Durante o trajeto ele pegou o celular e mandou uma mensagem. Esperamos alguns minutos do lado de fora, até um sedan preto estacionar na frente do bar. Henrique caminhou até o veículo e abriu a porta para mim, agradeci com um sorrisinho e embarquei no carro, ele fez o mesmo em seguida.

O motorista me encarou pelo retrovisor, depois trocou um olhar cumplice com Henrique. Fiquei imaginando quantas garotas já embarcaram nesse carro, quantas garotas Henrique já pegou nesse carro, estava claro que o motorista nem se importava mais.

— Qual o caminho?

Indagou o motorista.

Henrique olhou para mim e eu entendi, passei meu endereço e o funcionário assentiu.

— Quer que eu abaixe a tela preta, senhor?

— Não! — exclamei. — É melhor não.

Henrique me olhou com as sobrancelhas arqueadas e sorriu.

— Tudo bem, Alana. Você pode confiar em mim. — então olhou para o motorista e balançou a cabeça, dando permissão. Logo a tela preta começou se abaixar.

— Mas não posso confiar em mim. — sussurrei.

— O que você disse?

— Nada não.

 Olhei para fora e congelei. Eu passei metade da noite sentindo vontade de beijar Henrique e agora estávamos sozinhos em um carro, com a maldita de uma tela preta nos dando privacidade. Posso ser inteligente o suficiente para saber que se envolver com ele é errado, mas sou mulher, tenho necessidades e estou quase bêbada demais para ter controle. Posso perder o juízo a qualquer momento.

Agradeci por meu apartamento ser perto do bar. Em poucos minutos o motorista estacionou na frente do edifício que moro. Virei meu corpo para poder olhar Henrique e agradecê-lo. Ele parecia perdido quando seus olhos encontraram os meus.

— Obrigada, Henrique. — falei. — Foi divertido.

Virei minhas pernas para sair do carro e abri a porta, mas quando fui para colocar o pé para o lado de fora senti Henrique segurar meu pulso e me puxar. Eu virei subitamente e logo seus lábios cobriram os meus e sua língua invadiu minha boca. Eu cedi completamente, segurei a gola da sua camisa e puxei seu corpo para mais perto de mim.

Eu buscava mais, Henrique buscava mais. Sua língua explorava cada canto da minha boca e suas mãos me seguravam com força, como se ele quisesse me prender, me fundir a ele. Deslizei minhas mãos pelos seus cabelos e o afastei, por mais que eu quisesse e desejasse aquilo, não era Henrique que estava na minha cabeça.

 Droga!

Eu me lamentei por não ser ele e sim ser alguém impossível. Odiei-me pois no momento que Henrique me beijou eu pensei em outra pessoa, pensei em Eduardo. O quanto eu podia estar ferrada? Acredite, estava mais surpresa que você.

— O que foi? — questionou Henrique.

— Não dá. — me afastei. — Você é um cara lindo e sei que qualquer mulher queria estar no meu lugar hoje. Mas eu não quero. Não quero beijar você e pensar em outro.

— Uou. Acho que eu nunca levei um fora como esse. — ele riu e deixou o corpo cair no banco. — Tão Épico.

— Eu tive uma noite incrível hoje. E acho você um cara legal. Mas se a gente transar não vai passar de uma noite e depois vai ser estranho. Aliás, você é o melhor amigo de Eduardo. — falei. — E existe outra pessoa, não quero traí-la.

— Você está certa. Acho que eu te enxerguei como um desafio. E eu amo desafios. — comentou. — O que você achar de sermos amigos? Sair para beber de vez em quando?

— Acho uma ótima ideia.

— Amigos? — ele me estendeu a mão.

— Amigos. — apertei a mão dele.

— Agora me diz, quem você não quer trair?

— Isso é segredo de estado. — desembarquei do carro. — Boa noite, Henrique.

— Boa noite, Alana. — diz. — Aliás, pode me dar as chaves da picape? Prometo que amanhã ela vai estar na sua garagem e as chaves com o porteiro.

— Claro. — procuro as chaves na bolsa e dou para ele. — Obrigada.

— É esse tipo de coisa que amigos fazem. — sorri. — Tchau Alana.

— Tchau!

[...]

Acordei com uma puta dor de cabeça e um maldito enjoo matinal, tudo isso devido à noite de bebedeira. Sabia que não devia ter exagerado. Eu sempre acordo com a porra de uma ressaca maldita quando bebo muito. E ontem bebi demais, passei do limite, devia ter pensando antes de tomar a primeira cerveja.

Além de todo esse remorso, dor de cabeça e enjoo, começo a me lembrar da noite anterior. Henrique bebeu comigo, eu desabafei, a gente jogou sinuca, eu ganhei, ele me ofereceu uma carona, Henrique me beijou, eu dei um fora em Henrique.

Minha nossa, eu dei um fora em Henrique, e o pior, dei um fora nele por estar pensando em Eduardo. Devo estar muito ferrada mesmo. Apaixonada por meu chefe, um cara que se fechou para o amor e que com certeza não me enxerga como nada além de babá dos seus filhos.

O que aconteceu com a Alana racional? Aquela que sempre pensou nas consequências. Aquela que sabia que se apaixonar era roubada. Ela sumiu e deu lugar a Alana sentimentalista, que se encantou pelo chefe.

Puta merda!

Minha cabeça lateja, meu corpo dói o enjoo não passou. E como num passe de mágica tudo piora quando olho as horas, estou 20 minutos atrasadas, há 5 chamadas perdidas de Eduardo no meu celular. Ontem, depois que Henrique foi embora eu subi para meu apartamento, até pensei em checar meu celular, mas não tive coragem, tive medo, acabei indo dormir. As ligações são todas de ontem a noite, com certeza ele ligou para me demitir, mas se é isso que ele quer, vai ter que fazer olhando nos meus olhos, não com uma ligação.

Levanto-me rapidamente, sinto o ar gélido tocar minha pele, está frio, olho para o lado de fora da janela e o mundo está caindo lá fora. vou correndo para o banheiro, tomo um banho quente e tento ser o mais rápida possível. Durante o banho lembro que ontem minha picape ficou estacionada na frente do bar, pois peguei uma carona com Henrique. Droga! Será que ele fez o que me prometeu?

Saio do banheiro e me visto. Faço um coque todo desajeitado e calço meu tênis. Jogo outra muda de roupa na minha bolsa e meu uniforme de babá, pego o celular e saio em disparada. Passo pela cozinha, Jen não está em casa, sei disso porque não sinto cheiro algum de comida, ela deve estar com Caio, ao menos ela está aproveitando. Pego uma maça e saio do meu apartamento.

Quando chego na portaria vou até o porteiro. Ele está lendo seu jornal e tomando café como sempre. Eu dou um soco leve no balcão e seu Laercio me encara, logo ele sorri e se levanta.

— Alana, que bom que apareceu. — disse. — Ontem você entrou tão rápido no elevador que nem tive tempo de lhe dar um recado. — eu arqueio as sobrancelhas. Que recado? Talvez não seja tão importante quanto chegar rápido no meu emprego e para isso preciso das chaves do meu carro.

— Senhor Laércio, um cara não passou por aqui e deixou as chaves da minha picape?

— Ah isso também, já estava esquecendo. — ele abriu uma das gavetas do balcão e tirou meu chaveiro dos minions de dentro dela. — Aqui está. A picape está na sua vaga na garagem.

Assinto e pego as chaves.

— Obrigada, agora eu preciso ir.

— Espera Alana, eu ainda não te dei o recado. — começou. Não podia ignorá-lo e deve ser algo importante, me viro. — Um cara chamado Eduardo passou por aqui ontem.

Eu senti um frio gostoso na barriga ao escutar seu nome e meu coração pulou dentro do peito, mas ao mesmo tempo senti medo.   

— O que ele queria?

— Disse que precisava muito falar com você e que era urgente. — respondeu. — Então eu disse que você havia saído. Ele foi embora, mas disse que quando eu lhe visse era para dizer pra você ligar para ele.

— Só isso? — Laércio assentiu. — Obrigada por me falar.

— Disponha.

 Seu Laércio se virou e eu fiz o mesmo, segui rapidamente para a garagem. Graças a Henrique minha picape estava ali, esperando por mim. Embarquei na lata velha que eu amo e arranquei.

Será que Eduardo foi até meu apartamento para me demitir mesmo? Olho no olho? Sem receio algum? Ele teria coragem de fazer isso comigo mesmo sabendo o quanto seus filhos são importantes para mim? Eu não acredito que o homem que me deu uma segunda chance no dia da entrevista seja esse homem que vai me demitir. Eduardo não é assim, sei que o conheço há pouco tempo, mas tenho certeza que ele não seria capaz de me demitir.

Além do mais, ele sabe o quanto os garotos são apegados a mim, ele não seria tão cruel a ponto de fazer isso com os filhos. Eduardo é justo e ama os filhos, tenho certeza que não estava lá para me demitir sem ao menos me dar uma chance de me despedir dos meninos. Porém, o que ele queria então?

Mas que merda! Minha cabeça está uma bagunça.

Um estouro desliga meus pensamentos instantaneamente. O som que sai do motor da picape é estranho e aos poucos ele vai diminuído igual à velocidade do carro. A picape empaca como um jumento quando está cansado. Ela morre mais uma vez, me deixando não mão no meio de um temporal.

— Agora não. — digo, girando a chave. Tentando fazer a velha funcionar novamente. — Vamos lá, você consegue. — nada. — Por que você faz isso comigo? Caramba, o que eu fiz para você?

Começo a socar o volante várias vezes, até minhas mãos doerem. Então encosto a testa nele e respiro fundo. Do lado de fora a chuva caí sem pudor algum. Desembarco da picape e vou até o capô, abro e uma fumaça escura saí do radiador. Eu sei apenas o que meu avô me ensinou sobre carros, e é apenas o básico, ou seja, não sem nem porque diabos desembarquei do carro, agora estou toda encharcada. Volto para dentro do veículo.

Olho ao redor, estou a algumas quadras do condomínio. Resolvo que vou andando, mas vou me atrasar mais ainda. Tenho que avisar Eduardo, ou as coisas vão fiar pior para o meu lado. Pego o celular e ligo. Não demora muito para ele atender.

— Alana, graças a Deus! — diz, soltando o que me parece um suspiro de alivio. — Onde você está?

— Desculpe. Minha nossa, estou sendo tão irresponsável. — sussurro. — Desculpe Eduardo. — repito. — Eu acabei acordando atrasada hoje e agora minha picape parou de funcionar. E essa chuva não para. Vou caminhando, mas acabarei me atrasando.

— Tudo bem. Fique calma. — ele diz, me surpreendendo. — Onde você está? Eu vou te buscar.

— Não; não precisa se incomodar.

— Cacete Alana! — exclama, me surpreendendo outra vez. — Como você pode ser tão teimosa às vezes? — eu estremeço com o tom grave da sua voz. — Não é incomodo nenhum. Onde você está?

Respiro fundo. Sei que não vai adiantar discutir com ele agora.

— Estou perto. A duas quadras do condomínio. — olho para fora e vejo uma joalheria. — Na frente de uma joalheria.

— Eu sei onde é. — fala. — Fica dentro da picape. Já estou chegando.

— Okay.

Pouco tempo passa, minutos na verdade, mas parece uma eternidade. Estou com frio. Essa chuva desgraçada e esse ar gelado estão fazendo meus lábios tremerem como uma vara verde. Cruzo os braços, mas não adianta, ainda estou encharcada, gelada, parecendo até um defunto. Vejo-me através do retrovisor do carro, minha boca já está ganhando um tom roxo.

Cadê o Eduardo?

Sei que momentos atrás eu não queria que se incomodasse por minha culpa. Ele vai chegar atrasado na empresa por causa do meu atraso, e nem posso colocar a culpa nessa droga de carro, ele pode ter parado de funcionar, mas eu poderia ter acordado mais cedo e pegado um taxi.

Um carro estaciona ao lado da picape. Desligo meus pensamentos e abaixo o vidro da janela. É o carro de Eduardo, ele abre a janela e faz sinal para que eu entre. Pego minha bolsa e as chaves, desembarco da picape e entro no carro dele, Eduardo começa dirigir.

— Obrigada. — falo rápido. — Não precisava ter se preocupado.

— Mas eu me preocupo. — diz, sem tirar os olhos na estrada. — Mais do que você imagina. — completa, virando o rosto e fitando meus olhos.

Enrubesço quase instantaneamente. Ele olha intensamente para meus olhos, depois para meus lábios e então seu olhar percorre todo meu corpo. Engulo em seco.

— Você está encharca, Alana. — solta, freando bruscamente o carro. — Você está com frio.

Não é uma pergunta, Eduardo afirma veemente e começa a tirar sua jaqueta. Por baixo ele veste apenas uma camisa preta de mangas longa, ele está lindo e fico olhando seus bíceps grossos. Imagino como deve ser bom seu abraço, sinto vontade de me aconchegar nele, de sentir o calor do seu corpo me esquentando, porém eu sei que isso só acontecerá na minha imaginação.

— Veste isso, Alana. Você precisa se esquentar.

Eu aceito, não teimo com ele, apenas pego a jaqueta e visto. Não é o bastante, mas o ar condicionado está ligado e é quente. Encolho-me dentro da jaqueta, sentindo o perfume de Eduardo, isso apenas piora a bagunça que está minha cabeça.

— E os garotos?

— Não se preocupe. Minha mãe foi junto com Ronaldo levá-los a escola.

— Que bom.

Eduardo me olha e sorri.

— O que foi? — questiono.

— Eu só estou lembrando do dia da entrevista. — responde. — Você estava encharcada e com frio. Como agora.

É claro que começo a passar as imagens daquele dia na minha cabeça e um sorriso logo aparece nos meus lábios. Mas logo desaparece. Olho para Eduardo, ele presta atenção na rua. Fico quieta e ele continua dirigindo.

Quando chegamos a mansão Eduardo praticamente me ordena subir e tomar um banho quente, e diz para encontrá-lo na sala depois. Eu subo e tomo um banho quente, a curiosidade não me deixa demorar mais do que 10 minutos, e estou limpa mesmo. Saio do banho e coloco meu uniforme, em seguida desço a escada e vou até onde Eduardo mandou encontra-lo.

Adentro o cômodo e vejo Eduardo ajoelhado em frente a lareira, jogando gravetos dentro dela. Aproximo-me dele, fico o observando e pensando em que momento comecei a nutrir sentimentos por ele. Talvez no dia da piscina e do parque. Não faço a mínima ideia. A única coisa que sei é que estou perdida.

— Ei.

 Eduardo vira a cabeça e me olha sobre os ombros. Ele levanta-se e passa as mãos pela camisa.

— Liguei a lareira para você se aquecer. — diz. — E pedi para Julia lhe trazer um antitérmico. 

— Você pensou em tudo. — dou um sorriso fraco. — Mas não precisava...

— Precisava sim. — Interrompe-me.

Eduardo fita meus olhos e eu consigo sustentar o olhar. Não sei se é o calor da lareira que esquenta todo o ambiente ou a forma intensa e profunda que ele me encara. Mas não consigo, acabo quebrando nossos olhares.

— Você ainda está zangado comigo? — pergunto, e recebo apenas seu silêncio como resposta. — Me desculpe. Eu não queria que aquilo acontecesse. Eduardo, eu amo seus filhos e nunca quis que eles se machucassem.

— Tudo bem, Alana. — murmura. — Eu não estou zangado com você. Mas me sinto envergonhado por ter sido tão babaca ontem. Não devia ter gritado com você.

Não sei em que momento ficamos tão próximos, mas estou apenas um minúsculo passo do corpo de Eduardo, posso até sentir a sua respiração aumentando. Eu olho para cima, tomo coragem e fito seus olhos. Uma onda elétrica percorre meu corpo e se instala no meu ventre, estou excitada e com uma louca vontade de beijá-lo.

Por que eu não pulo todas as regras? Por que eu não o beijo de uma vez? Apenas para ter certeza que Eduardo nunca vai querer nada comigo.

— Alana. — o tom da sua voz é grave e posso notar uma pontinha de excitação em seus olhos. Eduardo respira fundo, como se estivesse batalhando contra algo, ele passa as mãos pelos cabelos e suspira. — Isso é tão louco.

— Isso o que?

— O que estou — seu celular toca. — droga, eu preciso atender.

Ele pega o celular e se afasta. Observo-o conversar com alguém. Escuto o nome Beatriz e me aproximo. Quem diabos é Beatriz. Ele diz que está tudo bem, que vai encontrar com ela, talvez seja Beatriz. Então encerra e ligação, guarda o celular no bolso, pega a chave do carro que está sobre a mesa de centro.

— Eu preciso ir.

Apenas faço que sim com a cabeça.

Depois que Eduardo sai eu me jogo na poltrona em frente a lareira.

Pare de ser burra Alana. O que você está sentindo vai te destruir aos poucos. Eduardo nunca vai querer ficar com você. Nunca! 


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