- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 7
Sete




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O sono de Maura tinha sido profundo, impertubável. Se era resultado dos remédios ou só da exaustão de seu corpo, Jane nunca iria saber. A morena tinha ficado lá, uma mão segurando gentilmente a mão de Maura enquanto ela observava a mulher. Depois de minutos seguidos de silêncio, é claro que ela se sentiu entediada. Deitou a cabeça na cama macia do hospital e fechou os olhos por uns minutos... que acabaram sendo horas. Ela acordou com um movimento de algo sob suas mãos. Ainda confusa pelo estado de sono, ela levantou a cabeça levemente e só então descobriu do que se tratava: os dedos de Maura mexiam-se levemente, como se escavando um esconderijo seguro em baixo de sua palma. Ela lançou um olhar para a loira e descobriu que ela estava acordada. Constrangida por ser pega dormindo - ainda segurando a mão dela! - Jane endireitou-se rapidamente, recolhendo a mão em seguida. Ela limpou a garganta, mas sem saber o que dizer ela apenas entrelaçou os próprios dedos e pareceu interessada demais nos polegares que batiam num ritmo inconstante um no outro.

'Eu, ahn...' Ela disse depois de limpar a garganta. 'Você precisa de algo?'

Maura a estudou por um minuto antes de responder. 'Água.' A voz soou rouca.

'Água. Certo.' Jane se levantou rapidamente e encheu um copo para a outra. Ela esperou que Maura se sentasse para só então entregar-lhe o copo. Lentamente ela bebeu o líquido, observando a morena caminhar até a porta, abri-la, checar algo lá fora e retornar a fechá-la. 'Temos uma policial guardando seu quarto, como eu pensei.' Jane informou, sentando-se na cadeira de novo. 'Eu não sei quando você terá alta, mas suponho que você vai precisar de uma troca de roupa e sapatos. Você se importa se eu sair por um pouco?' Jane não era alguém de pedir permissão para fazer algo, ela simplesmente fazia. Depois da noite anterior, entretanto, ela de repente considerava importante a opinião, e bem-estar, de Maura.

A mulher balançou a cabeça em não. 'Eu não me importo.'

É claro que não se importava. Nesse momento ela possivelmente preferia ficar sozinha - estar perto de alguém nos últimos dias representava apenas ameaça. Pelo menos foi isso que Jane pensou, mas quando ela concordou com a cabeça e virou as costas, a voz tímida de Maura soou no ar.

'Detetive Rizzoli?'

Ela se virou lentamente. 'Sim, Maura?'

'Obrigada por...' Ela começou e lançou um olhar para a própria mão - a mão que Jane tinha segurado. Ela não terminou a frase, e Jane entendeu que embora ela apreciasse o gesto, ela também precisava de um pouco de espaço.

'Não por isso, Maura. E me chame de Jane, se preferir.' Ela ofereceu um sorriso que, para sua supresa, Maura correspondeu.

Jane fez muito mais do que separar uma troca de roupa para Maura. Ao chegar em casa, ela separou rapidamente a mochila com a mesma calça e blusa que Maura tinha chego em sua casa - exceto que agora elas estavam lavadas e perfumadas. Ela colocou o pijama e um par de meias. O tênis que ela - Maura - usara quando se conheceram entrou para a lista também. Jane checou o número do sapato e fez uma nota mental de que a loira precisaria de mais roupas se caso fosse ficar ali por um período mais longo.

Ela olhou para a mochila, um tanto satisfeita por juntar tudo muito rápido. Ela não queria que Maura ficasse muito tempo sozinha, primeiro porque era entediante, como a própria Jane se lembrava nos dias que passara no hospital sem nada para fazer, e segundo que apesar de ter entendido que a loira precisava de espaço, a detetive acreditava que ficar longos períodos sozinha não poderia de jeito nenhum fazer-lhe bem; não era da conta dela, mas Jane sabia que depois de um trauma como aquele, o apoio de pelo menos uma pessoa era essencial para que a vítima não entrasse em depressão.

Uma pessoa, Jane pensou. Onde estão os pais dela? Será que estão mortos, será que moram em outro estado? Será que Maura preferia não ter contato com eles? Diante de tantas possibilidades, Jane decidiu não elaborar nenhuma teoria que não pudesse ser provada. Ela tamborilou os dedos na mesa e seus olhos passearam por ela. Ao encontrarem o Ipad, Jane imediatamente o alcançou e o enfiou na mochila. Aquilo serveria para matar o tempo também. O que mais ela poderia oferecer para Maura para que ela pudesse se distrair? Um livro? Ela andou até a estante e estudou os exemplares que tinha. .Torceu o nariz para cada um deles porque ela não sabia se agradariam à mulher. Suspense policial definitivamente não seria uma boa escolha. Vinte minutos mais tarde, uma ida na livraria mais próxima lhe concedeu três livros novos. Um sobre a imensidão do universo, com figuras em alta resolução de galáxias, nebulosas e estrelas. Maura iria gostar daquele, ela apostou. Quem é que não se deixa seduzir pela imensidão do universo? O segundo, a biografia de Leonardo Da Vinci. Jane não estava muito convencida sobre esse, mas ela tinha que admitir que as figuras das invenções foram o que a fizeram comprá-lo. O terceiro livro era um best-seller, um romance baseado na história de Romeu e Julieta, com revisões consideráveis e final feliz (ela tinha conferido antes de fechar a compra). Era um exagero, mas pelo menos ela tinha opções de gêneros diferentes para oferecer.

Ela bateu três vezes antes de entrar no quarto de Maura novamente. Como ela imaginou, a loira estava lá, sentada sozinha, as mãos descansando sobre as pernas, parecendo terrivelmente entediada.

'Ei, você se sente melhor?' Jane sorriu gentilmente e pousou a mochila na cama.

Maura balançou a cabeça lentamente em sim, parecendo apreensiva.

'A febre?' A morena sentou-se na cadeira, e abriu a mochila mas não retirou nada de dentro.

'Já não existe mais.'

Jane sorriu satisfeita e finalmente alcançou um item. 'Eu trouxe um Ipad para você. É meu, mas você pode usar para matar o tempo. E também uns livros, eu não sei o que você gosta de ler, então comprei três.' Ela mostrou os exemplares e notou um leve sorriso nos lábios de Maura. Ótimo, ela pensou consigo mesma. Seu celular começou a tocar antes que dissesse algo a mais. Ela olhou para a tela e viu que era sua mãe. Ignorou a ligação e devolveu o celular no bolso. Mais uma vez, ele vibrou, mas ela apenas deixou para lá.

'Alguém veio aqui enquanto eu estive fora? Para te atualizar do seu estado.' Jane perguntou e Maura balançou a cabeça em não.

'Provavelmente vou passar mais uma noite em observação. Posso tomar os antibióticos em casa.' Ela disse por vontade própria e Jane sentiu que colocar a falar tanto - considerando que antes mal dizia cinco palavras - era um tipo de vitória pessoal. Talvez Maura estivesse começando a confiar nela.

'Ótimo. Pelo menos nós temos um Ipad e tenho certeza que conseguimos conectar com o wifi do hospital. Que tal um filme?' Ela levantou a sobrancelha sugestivamente, de um jeito brincalhão, mas Maura franziu o cenho, agora segurando o Ipad na mão como se fosse um objeto estranho, e piscou os olhos repetidamente. 'Você... vai ficar durante a noite?'

'Claro, Maura. Eu sou tua segurança.' Jane riu levemente.

'Achei que só fosse alguém com um quarto a mais.' A loira murmurou sem olhá-la.

Jane entendeu o raciocínio da outra. Era natural que ela pensasse assim considerando que sempre havia um guarda na porta de sua casa, e agora do hospital.

'Vamos dizer que sou os dois.' Ela murmurou com um sorriso.

A morena observou a mulher por uns minutos. Ela permanecia imóvel, exceto pelos seus dedos que se moviam discretamente sobre o eletrônico. Os traços do rosto entregavam estado de exaustão, e Jane apostou que a mulher estaria adormecida de novo em menos de três horas.

'Aqui, deixa eu ligar para você.' A morena pegou cuidadosamente o objeto das mãos e o fez funcionar. Quando a tela iluminou-se, ela viu a si mesma sorrindo, segurando um filhote de cachorro que era, na verdade, de seu irmão. Devolveu o aparelho para a loira e viu os olhos verdes se entristecerem imediatamente ao estudarem a foto. 'Maura?' Ela chamou com cautela.

'Eu tenho um jabuti.' Ela sussurrou.

Jane franziu o cenho e balançou a cabeça, perdida. 'Desculpa, o que você disse?'

'Eu tenho um jabuti. Eu tinha, pelo menos. Antes de ser...' Ela deixou a frase morrer e limpou uma lágrima que desceu pelo rosto. Jane entendeu imediatamente. Ela tinha ficado um mês longe de casa, e o animal precisava de cuidados. Se Maura morava sozinha (o que Jane acreditava) seu bicho de estimação deveria estar morto. Ou não.

'Ei, me deixa checar com a Kendra e ver sobre isso, ok? Alguém pode ter levado sua tartaruga para um abrigo de animais.' Jane disse rapidamente e quase - quase - alcançou por sua mão. Ela se segurou a tempo.

'Jabuti.' A loira murmurou, tão baixinho que Jane não teve certeza se ela estava realmente corrigindo-a.

A morena digitou uma mensagem e enviou para a outra detetive. Minutos depois a resposta arrancou um sorriso de seus lábios. 'Adivinha só, Maura.' Ela esperou os olhos verdes piscarem em curiosidade para ela, as sobrancelhas erguidas num arco. 'Sua tartaruga tá sendo cuidada por uma Ong, e nós podemos pegá-la assim que sairmos daqui, se você quiser.'

'Oh!' Maura exclamou e sorriu - realmente sorriu - e Jane pôde ver pela primeira vez uma luz em seus olhos; felicidade.

O sorriso se espelhou em seu rosto, e ela se sentiu tão bem. 'Bom, acho que você tem um motivo para sair daqui desse hospital logo.'

A loira concordou com a cabeça, um resto de sorriso ainda nos lábios e voltou a atenção para o Ipad. 'Você se importa se eu ler um pouco?'

Jane balançou a cabeça em não. 'Vá em frente. Eu mesma vou dar uma olhada nesse livro aqui.' Ela pegou o livro sobre o universo e começou a estudar as páginas. Muitos minutos depois, Maura estava deitada novamente na cama, concentrada em sua leitura, e Jane já estava desesperada para encontrar algo de útil para fazer. 'Eu vou andar um pouco, comprar um café. Logo eu volto.' Ela disse para Maura.

A mulher apenas concordou com a cabeça e nem sequer tirou os olhos da tela. Jane se sentiu aliviada ao caminhar pelo corredor. Ela buscou o café, conversou com a policial que guardava a porta de Maura por vários minutos, e só muito depois retornou ao quarto.

A loira dormia profundamente, o Ipad em cima de sua barriga. Jane cuidadosamente o tirou de lá. Ela decidiu abrir uma aba no navegador para logar em seu email, e só então notou o que Maura estava lendo: um artigo sobre mumificação. Maura era uma mulher estranha, Jane pensou consigo mesmo, mas sorriu inconscientemente ao vê-la suspirando em seu sono.

O cair da noite demorou para vir - pelo menos era assim que Jane sentia. Ela tinha imaginado que Maura dormiria cedo demais por conta da exaustão de seu corpo doente. O que Jane não previu, entretanto, é que ela própria iria cair no sono antes mesmo das nove horas. A poltrona do quarto era confortável, e mesmo que não fosse tão acolhedora como sua cama, ainda parecia boa o suficiente para o seu corpo e mente cansados. Ela cruzou as mãos sobre a barriga, inclinou as costas para trás e apoiou a cabeça no encosto. Dez minutos mais tarde, ela e Maura estavam desligadas desse mundo.

Eram 6:45am quando Jane acordou. Com o inverno presente, o dia demorava a clarear, e as luzes amarelas da rua refletiam melancolicamente na janela do quarto. Ela fungou, passou a mão pelo cabelo revoltoso e observou Maura. As sobrancelhas da loira estavam franzidas como se em concentração, e a boca formava palavras mudas. Ela deve estar tendo um pesadelo, Jane pensou. Sem hesitar dessa vez, ela alcançou a mão da loira e apertou gentilmente.

'Você tá bem, Maura.' Ela disse baixinho, sem se aproximar. A mão da outra apertou a sua levemente, com surpresa se desvencilhou do toque e Jane teve que segurar um suspiro de frustração. Ela queria ajudar, só não sabia exatamente como. 'É só um sonho. Você tá no hospital agora, se lembra?' Ela murmurou, esperando que fosse ouvida. Talvez tenha sido, porque instantes depois a mulher parecia mais calma. Lentamente ela abriu os olhos, olhou para Jane com confusão num estado ainda de sono, e depois de reconhecê-la lançou um olhar para a mão da morena que permanecera na cama. Pega no ato, Jane sentiu as bochechas corarem e afastou a mão imediatamente. 'Foi só um pesadelo.' Ela murmurou de novo para Maura, em partes por tentar querer tirar a atenção de si, em partes porque gostaria que a outra se sentisse bem.

Maura concordou com a cabeça. Em seguida ela se calou num silêncio inquebrável, e Jane se sentiu, inesperadamente, decepcionada. Elas ficaram lá por muito tempo. O dia finalmente chegara, mas carregava nuvens cinzas por todo o céu. Em certo ponto uma neve fina começou a cair, não demorou mais do que meia hora, mas fora o suficiente para se acumular no parapeito da janela. Quando Jane levantou-se para conferir a paisagem branca lá fora, ela se surpreendeu ao notar que Maura tinha saído da cama e que agora estava também encarando as ruas da cidade - numa distância considerada segura para ela. A morena nem tinha ouvido ela se movimentar, e o que mais impressionava Jane era como a outra conseguia ficar em pé, considerando o quão magra estava e todos os traumas que o seu corpo havia passado. A camisola curta do hospital deixava à mostra manchas roxas, algumas já descoloridas, espalhadas pelas pernas e também nos braços - essas últimas eram novidade para Jane, e ela não conseguiu deixar de encarar. Cortes pequenos e arranhões também se estendiam aqui e ali, e depois de cansar de estudar a vista lá fora, Maura se movimentou de volta para cama - ela andava devagar, como se seu corpo fosse pesado, como se estivesse cansado depois de andar mil milhas sem descanso.

Ela vacilou ao tentar se sentar na cama, virando-se de costas e usando as mãos como apoio para levantar o corpo. Quem é que tinha planejado aquele design para uma cama de hospital certamente não estava contando com a altura das pessoas. Era mais alta do que as camas medianas mais comuns encontradas. Jane deu um passo à sua direção para ajudá-la, mas na sua segunda tentativa a loira finalmente conseguiu se sentar sem ajuda - e sem desabar no chão.

Como se fosse em tempo cronometrado, uma batida na porta anunciou a chegada de alguém. Um médico entrou segundos depois, parecendo cansado demais para estar trabalhando com pessoas que dependiam de seu intelecto afiado.

'Bom dia', ele disse sem ensaios, 'meu nome é Brian Collins, e eu sou responsável pelo seu caso.' Ele disse diretamente para Maura, que olhou para o chão imediatamente.

Ela não respondeu; permaneceu imóvel, parecendo nem mesmo respirar. Para o desespero de Jane, o médico pareceu não notar - ou simplesmente decidiu ignorar - o comportamento da outra.

'Eu preciso checar seus curativos mais uma vez antes de te dar alta. É de meu entendimento que você já foi orientada sobre a medicação que precisa continuar tomando. Os anti-bióticos são fortes e podem causar dor de estômago. Eu sugiro, e vou receitar também, que você ingira um medicamento antiulceroso.' Ele disse rabiscando um papel. Colocou a caneta no jaleco branco, deu alguns passos e parou em frente à Maura.

Jane se sentiu tensionar-se imediatamente. Não a toque, tenha a decência de não tocá-la, ela pensou com desespero.

'Vamos livrar você desse soro e começar pela abrasão que está infecionada.' Ele disse e levou a mão no punho de Maura, com a pura intenção de examiná-la.

Com a respiração alterada, ela se livrou do toque com força, jogando o braço para o lado. 'Não.' Ela protestou.

Jane já havia se adiantado. Ela tinha previsto a explosão de Maura muito antes. Ela mesma tinha passado pelo mesmo meses atrás. Ser tocada por alguém ser prévia permissão era fator desencadeador do mais puro instinto de defesa. 'É estupidez se você -' Ela tentou adverti-lo, mas o outro não a escutou.

'Você precisa entender que - ' Ele tentou se aproximando agora cuidadosamente da loira, mas já era tarde demais.

'Não!' Ela se afastou para longe dele, e abraçou as pernas com força, em posição fetal. Sua respiração estava perigosamente descontrolada, e quando o médico tentou-lhe acalmar, tocando-lhe o braço, a mulher se sobressaltou, usando os pés para afastá-lo de si. Era quase patético como ela, sem força alguma, tentava lutar contra alguém que nem queria lhe causar mal.

'Não me toque!' Ela quase gritou, o medo engolindo parte de sua voz. 'Não de novo.' Ela implorou e tinha lágrimas escorrendo pelo rosto.

Jane sentiu o coração partir diante da cena. Maura estava realmente assustada - traumatizada. A reação era de se entender, considerando a experiência perturbadora - não, desumana— pela qual tinha passado. As marcas em sua pele não mentiam sobre o tipo de dor que ela sofrera; a infecção que debilitara seu corpo era mais uma consequência a ser numerada.

'Saia do quarto agora.' Jane se colocou entre o médico e ela.

'Eu preciso examiná-la para poder assinar o papel da alta.' Ele protestou, apegado demais ao procedimento burocrático do hospital.

'Eu disse para você sair agora. Se você insistir em examiná-la, você só vai piorar o estado dela.' Jane colocou as mãos na cintura, numa leitura corporal ela parecia estar dando uma bronca em uma criança que fez algo errado.

'Eu vou pedir para que outro médico se responsabilize pelo exame, então.' Ele rebateu.

'Apenas saia daqui agora, e não mande ninguém até que eu diga que você possa.' Ela devolveu com fúria. Qual era o problema daquele médico que ele não conseguia entender que Maura não queria ser tocada? Que ela tinha medo de ser machucada?

Com as sobrancelhas juntas, Jane assistiu enquanto o homem deixava o quarto nada satisfeito por ter sido mandado. Tão logo a porta se fechou, ela se virou para Maura que continuava encolhida, as mãos escondendo o rosto enquanto a respiração parecia mais calma do que antes.

'Ei, Maura. Somos só nós duas aqui, agora.' Ela descansou as mãos sobre o lençol azul claro da cama. 'Você precisa se acalmar, ok? Alguém precisar checar você antes de você sair daqui, nós não queremos que...' A frase de Jane morreu no ar quando ela notou o que a loira estava fazendo. Num movimento fluido e com dedos ágeis, Maura desconectou todos os tubos presos à sua pele. Um por um, ela parecia não se importar com a dor, e depois de terminar o trabalho, olhou dedicida para Jane e respirando pesado - mais uma vez, quanto disso o coração dela pode aguentar, Jane se perguntou - Maura se arrastou para a beirada da cama, os pés alcançaram o chão em seguida. E se ao menos dessa vez ela pudesse se segurar em pé.

'Maura!' Jane exclamou depois de o choque ter passado. Ela se apressou e passou desajeitosamente os braços em volta da mulher para segurá-la e evitar que ela caísse no chão.

'Eu não quero ficar aqui.' Ela choramingou, e Jane se surpreendeu porque dessa vez, em vez de empurrá-la para longe, a mulher se encolheu no seu abraço. Respirando fundo para acalmar as batidas do próprio coração, Jane acariciou delicadamente as costas da outra antes de falar.

'Eu entendo. Eu odeio hospitais também.' Jane ajudou-a a se estabelizar de volta em seus pés. 'Quer dizer, você já provou o café daqui? O último que tomei tenho certeza que fizeram mês passado.' Ela revirou os olhos e esperou que Maura comprasse a brincadeira. Recompensada com um sorriso tímido, a loira encolheu os ombros e murmurou baixinho.

'O número de bactérias é bem alto também. Mais do que se pensa.' Ela olhou para baixo e dessa vez foi Jane quem sorriu.

'E nós ainda temos que pegar tua tartaruga. Temos três ótimos motivos para sair daqui, então. Mas eu realmente quero ter certeza de que é seguro te levar para casa de volta, Maura.' Jane foi razoável, torcendo para que a loira concordasse com, no mínimo, a alta médica.

'Eu prefiro assinar logo os papéis de alta, eu não quero...' Sua fala morreu e ela abraçou o próprio corpo.

Jane sabia o que ela não queria: ser tocada, sentir-se mais uma vez apenas um objeto. A morena compreendia completamente as razões de Maura. Ela era simpática a todas elas, mas lembrando-se de que a loira voltaria para com ela, sob sua responsabilidade, ela tentou negociar. 'Você não quer ter certeza de que os anti-bióticos estão fazendo efeito e matando os germes que estão dentro de você?' Jane brincou, mas colocou as mãos na cintura e ergueu as sobrancelhas como se dissesse eu não estou certa em querer verificar?

'Bactérias,' Maura corrigiu. 'E eu posso afirmar que os remédios estão fazendo efeito, eu estou me sentindo melhor.' Ela ofereceu clinicamente, mas com a voz baixa.

Jane mordeu o lábio inferior. Ela não queria repetir a noite anterior mas também não queria pressionar aquela mulher que já parecia tão minúscula e insegura de si. Se ela estava dizendo que estava bem, Jane deveria no mínimo respeitá-la, permitir que ela fizesse a primeira importante escolha depois de ter sido resgatada. Era direito dela, mesmo que Jane achasse que não era algo muito seguro.

'Ok.' A morena murmurou. 'Ok, Maura. Eu acredito em você.' Ela disse resignada, e foi recompensada com olhos grandes e verdes brilhando em espectativa para ela. 'Você ainda precisa assinar seu papel de alta. E eu também, já que sou a responsável por você, por enquanto.'

A outra concordou com a cabeça.

'Fique viva, por favor.' Jane suplicou, cruzando as mãos na frente do peito, implorando.

Maura abriu um leve sorriso. 'Eu sou boa em ficar viva.'

E dessa vez quem sorriu foi Jane, ela não esperava nenhuma forma de humor vindo da outra, ela mal esperava que Maura fosse manter um diálogo tão longo como esse. Ela pensou que finalmente estivesse começando a fazer aquilo entre elas dar certo. Sorrindo com o próprio pensamento, ela piscou os olhos e disse, 'se vista. Ouvi dizer que tua tartaruga tá sentindo tua falta.' E com isso ela deve ter ganhado mais uns pontos, porque o sorriso da loira foi ainda maior.


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