- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 48
Quarenta e oito


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, o final.



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‘É diferente estar rodeada de mortos, e é também contraditório como eu sinto como se pudesse mantê-los vivos. Toda vez que faço uma autópsia eu espero que eles me contem qual foi a última coisa que aconteceu com eles.’ Maura dizia para um colega de profissão. Jane, ao seu lado, mantinha uma mão na parte baixa de sua coluna, em apoio.

Fazia dois anos que Maura tinha se tornado médica legista de Boston, e com o cargo mais alto era também a chefe responsável pelo escritório, outros médicos e assistentes. Nessa noite, o casal frequentava um jantar oferecido pela convenção de legistas, o último do evento da programação desse ano.

A idéia de trabalhar na sede da delagacia tinha sido, durante três dias, motivo de briga entre as duas mulheres. Embora Jane apoiasse Maura na maior parte de suas decisões, ela temia que o cargo fosse colocar um alvo nas costas da loira; temia que por Maura se tornar, mais uma vez, uma figura pública, ameaças e atentados fossem alcançá-la de novo. Jane tentou alertá-la de todos os males que tinha acontecido ao legista que, na época, estava prestes a se aposentar. Maura manteve sua posição com firmeza, sem recuar. A discussão durou dias. A médica disse que arcaria com as consequências.

No final, ela arcou.

Primeiro, quando a delegacia foi tomada por traficantes e ela teve uma arma apontada em sua cabeça. Depois, quando o principal suspeito de um caso - que ela descobriu ser de fato o assassino - segurou-a como prisioneira, o cano frio da arma pressionado com força em sua garganta. E, mais para frente, quando um serial killer quase a sequestrou em frente à própria casa. A sua detetive a salvou todas as vezes. E, para crédito de Jane, ela jamais dissera ‘eu avisei você’, ou então, ‘eu sabia que isso iria acontecer’. Depois de cada susto, era a morena quem estava ao seu lado, se certificando de que ela estava bem, de que dormiria a noite, de que não se sentiria sozinha e de que se sentisse amada.

Maura se recuperou de cada tormenta, e nenhuma vez sua paixão pelo trabalho se tornou menor, menos voraz ou fez com que sua determinação minguasse.

Para Jane, Maura era a mulher mais forte que conhecia. Angela usava a palavra ‘cabeça-dura’ para descrevê-la - Vocês duas Jane, não só ela! - e para Constance, bem, a mulher manifestara seu descontentamento com os acontecimentos dizendo que Maura vinha se expondo de maneira imprudente e desnecessária.

Mas, dois anos depois, Jane Rizzoli não poderia estar mais orgulhosa e contente pela conquista da namorada. Agora, sob a luz amarelada do ambiente, Maura parecia ainda mais bonita e divina. Ela era, indiscutivelmente, a mulher mais bela, inteligente e doce daquele lugar. Sua mão correu por vontade própria ao redor da cintura da menor, e Jane a colocou num abraço de lado.

‘Sem contar a parte que você adora usar o freezer dos mortos para guardar seus queijos, não é mesmo, Maur?’ Jane provocou e ganhou um olhar escandalizado da outra.

‘Jane!’ Maura a reprimiu, mas riu em seguida. ‘Ela está brincando’. E depois lançou um olhar significativo para a morena. Não diga isso de novo!

Contente por provocá-la, seu sorriso caiu quando Jane ouviu a observação do médico em sua frente.

‘Ah, você também? Embora eu não guarde queijos, meu almoço e jantar sempre ficam lá, me esperando. Você sabe, jornada longa de trabalho, é mais cômodo e rápido se a comida estiver ao alcance quando a fome bate.’

Maura abriu um sorriso vitorioso e virou-se ligeiramente de frente para a namorada, as sobrancelhas erguidas em desafio. ‘Ar frio é ar frio, Jane.’

A morena fez uma careta, como se em dor, e revirou os olhos. Certo, agora Maura estava se aliando ao outro médico. Sem querer comprar e alongar a discussão - que ela sabia que seria uma bizarra - forçou um sorriso e coçou a cabeça, fingindo concordância. Pelo canto dos olhos, viu Kendra se aproximar delas.

A mulher, num vestido preto e discreto, parecia uma modelo naquela noite. Ela estava acompanhada do namorado - Jane tinha ficado surpresa ao aprender, havia quase dois anos, que a mulher estava comprometida com um arquiteto chamado Philip.

‘Ei, vocês!’ A morena acenou com a mão para o casal, e Kendra ofereceu um sorriso discreto, enquanto Philip - bem mais social do que a mulher - sorriu abertamente e apertou a mão de Jane.

‘Rizzoli, quanto tempo.’ Ele nem pareceu lutar contra o sorriso brincalhão no rosto. Se inclinou para frente e murmurou em segredo para Jane. ‘Eu ouvi dizer que você finalmente criou coragem.’

‘Philip!’ Kendra o condenou com o olhar, suspirou e ergueu uma mão para o céu, num gesto que, se fosse de Angela, pareceria exagerado. Com Kendra pareceu apenas elegante. ‘E depois somos nós, as mulheres, que não sabem guardar segredo.’ Ela resmungou para Jane. A morena pareceu demorar a se recompor.

Maura, dizendo adeus aos colegas de trabalho, finalmente se virou e recebeu os dois com um sorriso. ‘Kendra, você veio!’

A detetive loira abraçou a menor com um sorriso, e de repente pareceu mais empolgada do que alguém jamais a vira. ‘Eu não perderia essa noite por nada.’ Ela disse, e de repente Jane pareceu bastante entertida com os pés. ‘Belo discurso, a propósito. E caso eu nunca tenha dito, eu acredito que seu trabalho faz toda a diferença para o Departamento.’

‘Obrigada, Kendra.’ Aquela timidez que surgia quando recebia um elogio era algo que Maura ainda não conseguia dominar.

‘Eu não trabalho com você, mas conheço sua reputação. Parabéns, Doutora.’ Philip ofereceu, enfatizando o título a fim de provocá-la.

A loira balançou a cabeça em negativo e riu. ‘Maura. Ela o corrigiu. ‘Quantas vezes preciso dizer para me chamar pelo primeiro nome?’

O outro riu divertido e deu de ombros, e mudou de assunto em seguida. ‘Vocês querem beber algo?’

‘Antes que eu me esqueça,’ Kendra interrompeu a conversa, ‘sua mãe está procurando por você, Rizzoli.’

Philip sorriu amigavelmente, deu um passo para trás e disse decidido. ‘Eu vou me encarregar das bebidas.’ Ele fez um sinal com a cabeça para Kendra e partiu.

‘Maura, eu volto logo, ok?’ Jane beijou a bochecha da menor, e não esperou que ela respondesse de fato. Saiu as pressas, deixando Maura ligeiramente confusa.

‘Bem...’ Kendra sorriu, e entrelaçou seu braço com o da menor. ‘Acho que é a primeira convenção de legistas que eu realmente fico feliz de participar.’ Seus olhos escaneiam algo na sala, mas ela pareceu tranquila e descontraída.

Maura riu delicadamente e deu de ombros. ‘Eu não achei que daria certo, no princípio. Você sabe como Jane resistiu à idéia.’

‘E como ela era, oh, tão super protetora.’ Kendra revirou os olhos.

Era? Essa mulher conseguiu convencer o tenente a colocar um guarda extra na entrada do necrotério quando tenho turnos noturnos, Kendra.’ Ela não conseguiu evitar o som que escapou de sua boca, ridicularizando a ação da morena.

Kendra riu baixinho, pensativa. Depois de alguns passos, ela voltou a falar. ‘Eu acho sua causa nobre, Maura. É por causa de Kimberly, não é?’ Ela murmurou a última parte, temendo que trazer a tona o nome da mulher pudesse causar uma reação negativa.

Em vez disso, Maura sorriu.

‘É.’ Ela admitiu com simplicidade. ‘Por ela e por todas as outras que não podem mais falar. Eu quero me certificar de que haja um responsável, que ele seja nomeado e que pague pelos crimes que cometeu.’

Kendra sorriu e apertou seu braço no de Maura. ‘Soa exatamente como a Maura que eu conheço.’ Ela disse em forma de elogio.

A loira reconheceu e lhe sorriu de volta. ‘Obrigada, Kendra, mas eu não poderia fazer isso sozinha.’

‘Ninguém poderia, Maura.’ Ela devolveu com uma piscada, respondendo em relação ao trabalho. Fazendo de conta que a médica não se referia ao apoio pessoal que recebera dela, em todos outros momentos que ela achou que, se ela não se desmontasse, Jane iria.

Em sua direção, Jane retornava com um sorriso misterioso.

‘Agora que vocês colocaram o papo em dia, será que eu posso ter a honra da sua companhia?’ Ela disse num tom de brincadeira, estendendo a mão para a namorada.

‘Eu te vejo mais tarde.’ Kendra respondeu primeiro, fazendo um gesto com a cabeça para Jane como se dissesse siga em frente.

...

Lá, no topo do prédio, o ar era mais agradável do que do lado de dentro, e o barulho da cidade parecia desaparecer em um múrmurio lá em baixo nas ruas movimentadas.

Maura não tinha idéia como Jane tinha conseguido acesso àquela parte. Bem, ela podia imaginar. Jane era boa em persuardir pessoas.

A morena apontou um dedo para a lua, cheia e brilhante, e o olhar em seu rosto era impagável. ‘Uau!’ Ela disse e riu consigo mesma.

É claro que, sendo Jane, ela tropeçou em parte de um encanamento que corria ali em cima, soltou um palavrão ou outro e depois se recompôs.

Maura revirou os olhos, embora se divertisse com o jeito tão singular da mulher. ‘O que nós estamos fazendo aqui, Jane?’ Ela perguntou, curiosa. Andares abaixo delas, praticamente todo mundo daquela convenção queria trocar algumas palavras com a legista.

‘Eu venho pensando nisso há algum tempo.’ Jane disse e respirou fundo, e pareceu para Maura que era como se ela estivesse sentindo o cheiro da estação pela primeira vez. Um sorriso singelo apareceu em seu rosto, enquanto os olhos fechados e cabeça levemente inclinada para trás indicavam... o que?, Maura se perguntou, não sabendo identificar o sentimento.

‘Há algo que eu deva me preocupar?’ A loira brincou, entrelaçando seus dedos com os da morena e apertando a mão de leve, esquecendo de vez a celebração da qual partira minutos antes.

As sobrancelhas da morena dispararam para cima, e depois a expressão se suavizou, e o olhar que Maura ganhou em seguida dizia tudo: nada, não enquanto você estiver comigo. A devolução do aperto de mão apenas selou a promessa.

‘Nós já chegamos tão longe. Parece que eu já vivi uma vida toda ao teu lado.’ A detetive murmurou, os olhos estudando as luzes amarelas da cidade que brilhavam com vitalidade lá em baixo.

Maura acompanhou seu olhar, e não pôde deixar de concordar com a cabeça. ‘Uma vida toda.’ Ela repetiu, calculando quantas vezes precisou deixar de ser quem era, para que pudesse renascer melhor. Ela tinha mudado tanto em apenas dois anos, sendo que o amor que sentia por Jane era a única constante que continuava igual.

Não, não igual.

Mais forte.

Seus olhos verdes estudaram o rosto da morena. Havia uma linha de expressão nova, no canto de cada olho, que só era aparente quando Jane sorria. Maura gostava daquela marca porque, entre tudo, era um lembrete de que o tempo havia mesmo passado, de que elas tinham amadurecido, de que se conheciam melhor do que meses e meses atrás. E de que se reconheciam como um casal; marcadas por histórias, experiências, momentos somados e compartilhados - nem sempre felizes, mas vividos lado a lado.

Havia tantas outras curvas e marcas no corpo da outra mulher que Maura sabia de cor. Não apenas no físico, lhe competia também reconhecer cada traço da personalidade de Jane, as variações de humor, medos, desejos, reações que ela podia, muitas vezes, prever.

O vento assoprou com mais força e Maura fechou os olhos por reflexo, e motivada pela detetive, ela caminhou ao seu lado até a ponta do prédio. Uma olhada pra baixo foi o suficiente para arfar e pisar dois passos para trás. Naquela altura, uma queda seria indiscutivelmente fatal. A morena riu, e a acompanhou na passada.

Os braços compridos e finos se levantaram no ar, dedos abertos como se quisessem receber cada massagem da corrente do vento.

Maura sorriu, mas a situação era um tanto estranha. Ela não entendia porque a morena tinha escolhido aquele lugar, naquela noite, entre tantas outras. Sem contar a conversa que parecia um tanto... Vinda do nada.

‘Jane, o que nós estamos fazer aqui em cima?’ Ela riu, um pouco nervosa.

‘O que? Você não gosta da vista? Ou da sensação de estar no topo do mundo?’ Mãos de volta no bolso do blazer, o olhar intenso recaíu sobre a loira.

Ela encolheu os ombros. Sorriu depois de se permitir sentir o que a morena propôs. Era realmente como se nada, lá embaixo, importasse. Era ela e Jane, ao ar livre, sem paredes em volta, o vento correndo livremente entre elas.

Maura riu baixinho e tentativamente lançou as mãos no ar, como a namorada tinha feito segundos atrás. ‘É.’ Ela concordou. ‘É relaxante.’

Jane meneou a cabeça, o sorriso nunca morrendo de seus lábios.

‘É bom estar viva.’

‘É maravilhoso.’ Maura concordou.

‘Sabe no que eu estava pensando?’ Jane disse, de novo do nada, aparentemente querendo dividir algo novo.

‘Eu não leio mentes, Jay.’ A loira disse sem pretensão, sorrindo e beijando seu ombro esquerdo.

‘Bem, me escuta, então!’ Ela disse com humor. ‘Eu acho que minha vida não poderia estar melhor. Tenho trabalho, um cachorro, gato e uma tartaruga.’

Maura nem se deu ao trabalho de corrigí-la.

‘Além disso, eu amo mesmo todos aqueles canais de esportes na TV, lá em casa.’

Maura ergueu uma sobrancelha sugestivamente, esperando por mais. Quando nada mais veio, ela fez um barulho de desdém com a boca e perguntou, ‘isso é tudo?’

Jane ergueu as sobrancelhas e meneou a cabeça. ‘Certo. E você. Minha namorada.’

A loira estalou a língua e revirou os olhos. ‘Me diz mesmo por que mesmo você me namora?’

Jane fingiu pensar por um momento, e de repente disse, ‘certo. Porque é você quem paga pelos canais extra.’ A resposta lhe custou um tapa no braço, mas as duas riram em seguida, e Jane, para se redimir, beijou demoradamente a bochecha de Maura.

‘Eu acho que eu estou fazendo isso errado.’

‘Fazendo o que, Jane?’ Ela perguntou, se sentindo perdida.

Maura nunca tinha considerado.

Mas de repente, algo dentro dela estalou ao pegar o olhar incerto da morena.

O vento soprou forte mais uma vez.

Jane segurou sua mão e sorriu carinhosamente.

‘Não há pessoa mais perfeita para mim nesse mundo, eu tenho certeza. Eu te amo com toda minha força, cada parte de você. A pessoa que você foi hoje a noite, o modo como você falou com paixão sobre teu trabalho, a tua dedicação, inteligência e empatia com as pessoas? Eu tenho tanto orgulho de ser vista ao teu lado. Eu tenho orguho de quem você é, e isso não vem de agora.’ Jane segurou sua nuca e beijou sua testa, e Maura fechou os olhos ao receber o carinho. Por um instante, ela achou que aquilo era tudo; que Jane estava agindo estranho por outro motivo, e que talvez aquela declaração - algo que acontecia pelo menos uma vez por semana, ainda que em monólogos menores - era apenas algo rotineiro, um pouco ampliado por conta da cerimônia da noite.

‘Jane.’ A loira disse como uma oração, um agradecimento.

‘Shh.’ O polegar da morena deslizou sobre sua bochecha antes de cair para o lado do corpo. ‘Uma última coisa.’ Um beijo curto foi entregue nos lábios da menor. ‘Você me disse uma vez que eu era sua linha dourada. Eu nunca te disse, mas você também é a minha. Você me curou de várias formas.’

‘Até mesmo porque você não facilitou muito para o psicólogo, não é mesmo?’ A mulher provocou, tentando não rir, mas era difícil quando o rosto retorcido de Jane - deixando claro como aquela experiência tinha sido dolorosa para ela - parecia ainda mais engraçado na falta de luz apropriada.

‘Não vamos falar sobre isso.’ Jane resmungou. ‘E uma última coisa.’

‘Achei que aquela era a última coisa.’ Maura contrariou.

‘Seria, mas você continua me interrompendo.’ Jane levantou uma sobrancelha, provando seu ponto quando a menor tentou falar de novo.

‘Certo.’

Com um sorriso singelo, incerto, e uma mão na cintura da menor, Jane começou de novo. ‘Eu quero levar você comigo para sempre. Quem você é, com quem eu sou.’

Os olhos da loira se abriram um pouco mais, e ela se sentiu numa prancha alta, na piscina das férias: prestes a pular, com medo, sem ter certeza de quão fundo a água iria. Suas pernas estavam fracas e seu coração batia com força.

Ela nunca tinha considerado. Era a primeira vez que ela não tinha previsto o comportamento de Jane.

Mas a família toda da morena estava lá aquela noite.

Seus pais também.

E Kendra, que agora era sua amiga mais próxima. Todos estavam lá, e eles todos não tinham concordado em jantar naquela noite, depois do evento, no seu restaurante favorito?

Mas elas nunca conversaram sobre isso. Ela não tinha visto nenhum sinal sequer. Mas então... Era por isso que Jane a tinha deixado na companhia de Kendra para falar a sós com a mãe? Bem, aquilo era bem estranho mesmo.

‘Maura Isles.’ Jane começou, erguendo a mão na altura de seu rosto. ‘Você aceita passar o resto da vida ao meu lado? Ser minha parceira de crime, minha eterna namorada, minha melhor amiga?’ Direto como só Jane conseguia ser. ‘Para sempre.’ A última parte adicionada com ênfase.

Aquilo tinha sido inesperado.

O pedido era como um cartão postal de um parente afastado, entregue numa segunda-feira de manhã, tão aleatório ao ponto de ser surpreendente.

Não porque não existia amor.

Não porque Jane era negligente.

Mas exatamente porque a loira acreditava que ela não poderia ser mais feliz.

Ela podia.

Os lábios de Maura se separaram lentamente, formando um círculo. Ela olhou para o anel entre as pontas dos dois dedos de Jane, para os olhos negros da morena, e de novo para o objeto.

Ele não estava numa caixa.

Jane jamais colocaria o anel em uma caixa, e Maura entendia a razão - era a mesma de elas estarem naquele lugar, sem paredes, ao ar livre.

O amor de Jane jamais a colocaria dentro de paredes, mesmo nas invisíeis aos olhos. Ele era o tipo de sentimento oferecido, que jamais a tratara como posse. Aquela relação não era uma que a sequestrava do mundo, de si mesma.

O anel que validava um compromisso. Ela deixou que Jane o deslizasse em seu dedo.

Um anel que simbolizava o comprometimento e dedicação ao amar outra pessoa.

Maura ergueu sua mão acima do rosto e estudou a pedra brilhando timidamente à luz fraca da noite.

‘Oh, Jane.’ Como se tivesse recebido uma graça.

‘Pertenceu à minha bisavó, e agora ele é teu.’

Aquele anel a uniria pelo resto de sua vida com a de Jane.

Ela nunca tinha se sentido tão tomada por tantos sentimentos. Ela piscou os olhos, os cílios carregando gotas de água que não foram derrubadas.

‘Sim!’ Ela lembrou que tinha responder ainda.

E ela nunca tinha se sentido tão livre.


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Notas finais do capítulo

Me entristece me despedir dessa história, mas ao mesmo tempo fico feliz de tê-la escrito por completo. Obrigada a todos que acompanharam, choraram, riam, sugeriram, me confidenciaram suas histórias, divulgaram e torceram pelos personagens.
Eu gosto de tocar vidas. E gosto de ser alcançada de volta, ou de quando alguém é tocado o suficiente para alcançar por outras pessoas.
Abuso - seja de qual tipo for - é algo sério, doloroso, que destrói física e psicologicamente uma pessoa. Por favor, não condene ninguém que já passou ou passa por isso. Estique o braço apenas para oferecer a mão, nunca para apontar um dedo. Ajude quem puder, quando puder. Mulheres fortes permanecem lado a lado e lutam juntas.
Seja a voz de outra pessoa que não pode falar.
Seja a força dela.
Seja a sua também.
Seja ♥