- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 41
Quarenta e um


Notas iniciais do capítulo

Adivinha quem voltou?



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Jane, nós podemos comemorar o Natal aqui em casa? Você, eu, sua mãe e irmãos?’

Eu não sabia que você participava de festividades natalinas, Maur.’

Eu não participo, mas sei que isso significa muito para vocês. Além disso, meu interesse em antropologia me levou a experimentar diferentes celebrações ao redor do mundo.’

Ao redor do mundo?’

Um lugar ou outro, sim.’

Então uma ceia natalina na sua casa, nossa ceia natalina, não passa apenas de curiosidade científica para você?’

Absolutamente não! Nada disso! Como eu disse antes, eu adoraria compartilhar o espírito festivo com sua família! Eu sei como sua mãe ama essa época do ano e nada me deixaria mais feliz do que hospedar uma festa em casa. Eu não quis ofender suas crenças ou... Jane, para de rir!’

Você vai se arrepender quando minha mãe te obrigar a vestir o tradicional suéter dos Rizzolis.’

…………..

Jane estava começando a achar que mover a festa natalina para a casa de Maura tinha sido, afinal, uma ideia não muito esperta. Aquilo acabaria enlouquecendo primeiro a loira, depois a detetive. ‘Maura, sério. Me escuta. Você já revisou a lista de compras umas sete vezes. Só hoje, querida.’ Ela disse, cansada, enquanto sentada no chão da sala de estar, tentando organizar os ornamentos natalinos para serem pendurados na árvore de quase dois metros de altura. O jantar de Natal seria no dia seguinte, e deixar aquela decoração para última hora tinha se tornado uma dor de cabeça para Jane. As duas tinham comprado a árvore e os enfeites quatro dias atrás, mas só agora é que elas estavam se dedicando a montá-la. Bem, Jane estava. Maura estava perdendo a cabeça sobre a lista de compras.

Nós compramos ingredientes suficientes?

Sim, compramos.

Você tem certeza que esse é o açúcar adequado que tua mãe mencionou?

Absoluta, Maur.

Você não acha que deveríamos comprar mais saladas?

Ninguém aqui realmente come isso Maura. Só você e o Bass.

E por essa linha seguia o questionamento da loira. Jane já tinha respondido pelo menos trezentas e trinta e oito perguntas, mas aparentemente Maura sempre podia criar mais uma.

‘Eu só quero ter certeza de que temos tudo, Jane! Ninguém realmente quer fazer compras de última hora!’ A loira disse enquanto andava de um lado para o outro, as mãos gesticulando furiosamente em frente do corpo.

A morena checou o relógio no punho - quase seis da noite - e decidiu voltar sua atenção aos enfeites que tinha nas mãos, porque observar Maura se movimentando daquele jeito lhe causava tontura. Engraçado como a loira tinha focado toda atenção na parte culinária e esquecido da decoração. Agora tinha sobrado para ela revirar caixas e caixas de enfeites sozinha.

Sorrindo com um pensamento que lhe cruzou a cabeça, ela se virou mais uma vez para a loira. ‘Eu entendo tua preocupação em não querer chatear minha mãe com a noite de Natal. Ela ama tanto cozinhar para nós nesse dia como ama se gabar da decoração impecável de cada ano para as primas dela.’ Ela disse com descompromisso, e Maura caiu na mentira.

Ela se virou, estudou a árvore com um olhar reprovador e balançou a cabeça. ‘Nós precisamos melhorar isso aí.’ Jane nem tomou como ofensa. Em vez disso, concordou com a cabeça e esperou que seu sorriso passasse despercebido.

Maura se sentou sobre as pernas ao lado da detetive. ‘O que você já abriu e separou?’ Ela esfregou as mãos na frente do corpo, apoiou-as nos joelhos e passou os olhos pelo chão.

‘As bolas azuis, douradas e vermelhas. Ainda precisamos desempacotar as verdes e rosas.’

‘E se a gente enfeitasse com apenas vermelho e dourado esse ano?’ A loira sugeriu.

‘Maura, você comprou três dúzias de bolas diferentes porque disse que queria uma árvore colorida!’ Jane choramingou, se lembrando de quanto tempo ela gastou esperando a outra se decidir nas compras.

‘Eu me lembro de ter usado a palavra festiva. E nós podemos usar o resto da decoração ano que vem.’ Ela apontou o indicador para cima, como sempre fazia quando queria pontuar algo. Jane abriu um sorriso maroto e encarou a mulher. ‘Planejando passar muitos Natais ao meu lado, Maura Isles?’ A percepção da insinuação em sua fala fez seu rosto avermelhar. Maura mordeu o lábio inferior, mas não recuou. Ela deu de ombros e ajeitou o cabelo atrás da orelha. ‘Se você quiser fazer parte dos meus planos.’ E embora ela tenha mostrado confiança, sua voz falhou no final, como se temesse que a resposta de Jane fosse negativa. A morena riu – aquela risada grave e acolhedora que de repente passara a ser só para Maura – e envolveu seu corpo com um abraço, e a última coisa que a loira sabia era que estava deitada no chão, rindo também, o corpo da outra pressionando o seu.

‘Posso saber o que mais você anda planejando?’ Jane perguntou num tom brincalhão, beijando levemente os lábios de Maura.

‘Para um futuro próximo?’

Jane balançou a cabeça em sim. ‘Apenas o jantar de hoje a noite.’ A mulher disse e riu baixinho, pressionando os dedos nas costas da morena.

‘Você pode melhorar tua resposta dizendo: eu planejo beijar você, Jane.’ A morena sugeriu, um sorriso maroto estampado nos lábios.

‘Mas eu não estava planejando isso.’ Maura deu de ombros, dizendo casualmente.

Jane estreitou os olhos, inclinou-se para o lado, agarrou algo e o balançou em cima das duas cabeças. ‘Veja só! Isso é um visco, você precisa me beijar!’

A risada de Maura cortou o ar. Ela adorava quando Jane parecia boba, divertida. Seus braços lançaram o pescoço da morena e gentilmente puxou-a para si, plantando um beijo demorado e carinhoso nos seus lábios. Ela beijou Jane como se fosse a primeira vez, como se não conhecesse aquela boca. Lábios macios, carregados de ternura, e ao mesmo tempo um tanto quanto ásperos por causa do frio. Maura adorava os detalhes, a proximidade. Ela suspirou contente com o modo que o corpo de Jane se encaixava tão perfeitamente ao seu, por causa do cheiro intoxicante do shampoo que o cabelo preto exalava, carregando o ar daquele cheiro que era único de Jane. Forte, direto. Distinto. Tinha uma nota de sensualidade, um acento ao atemporal. Algo de essência natural e espirituosa. Assim como Jane.

‘Não.’ Ela murmurou quando a outra se afastou. Não era um simples beijo que ela queria. Ela queria profundidade. Exploração. Perder-se no tempo, isolar-se dele. Ela queria beijar Jane, provar seu gosto, o gosto que sua boca carregava. Maura apostava que era algo relacionado à cerveja, era o que a morena tinha tomado minutos antes. Ela entrelaçou seus dedos atrás da nuca da outra e a trouxe de encontra a sua boca. O que ela amava em Jane, também, era que ela nunca precisava explicar o que queria. Era por isso que, agora, a morena tinha invadido sua boca com a língua, e Maura não hesitou em beijá-la com força, exigindo o que era seu, o que queria: aquela intensidade vibrante que repercutia em seu corpo, deixando-a sem ar, tremendo. Expectante. Quando elas se afastaram – ambas precisavam respirar – Maura viu aquilo que sempre deixava seu corpo fraco: o olhar penetrante daqueles olhos escuros. Aquela paixão que Maura também sentia, que podia significar salvação ou devastação.

No fundo, ela já não se importava se por acaso se perdesse por Jane. Na verdade, ela sabia que a morena poderia fazer qualquer outra coisa, menos devastá-la. Se aquela mulher fosse qualquer coisa perto de uma tormenta, ela seria a próxima tempestade a atingir um deserto, terras secas carecendo de água. Águas que brotavam vida. Plantas. Flores. ‘Jane,’ ela acariciou a nuca da morena, outra mão pressionou nas costas que subiam e desciam rapidamente, ‘eu acabei de passar um risco em cada plano que fiz para hoje.’ Ela colocou uma mecha de cabelo preto atrás da orelha da mulher e beijou seus lábios com ternura, sussurrando em seguida. ‘Eu quero toda a imensidão que vejo em você. Me leva para cama. Faça amor comigo.’

Um suspiro.

Jane olhou seriamente para ela, analisando, ponderando. Maura abriu e fechou as mãos, tentando enganar o tremor que sentia. Jane inclinou-se e beijou-lhe novamente, dessa vez com mais demanda, com mais audácia. Paixão. Jane seria tormenta, Maura agora sabia. Ela tinha pedido por isso mais de uma vez.

Ela apertou as pernas, se contorceu e arfou quando os lábios da outra tomaram conta do seu pescoço, achando em poucos segundos aquele ponto sensível que, quando estimulado, mandava estímulos por todo seu corpo. Preocupada, como sempre, a morena se afastou e descansou a testa na de Maura. ‘Você faz o trabalho de me controlar um tanto quanto difícil, Maur.’

‘Me escuta,’ disse a outra. ‘Eu entendo a preocupação, mas você também precisa entender. Eu preciso de você, disso, dessa intimidade. É o que ele queria tirar de mim e não conseguiu. Minha escolha, o poder sobre meu corpo. E se a gente fizer isso... Eu vou me sentir mais próxima de você e mais distante dele.’

‘Você não acha que pode ser cedo demais, meu amor?’ Jane perguntou, agora dividida entre ceder ao próprio desejo e o de Maura, e zelar pelo que ela acreditava ser melhor para a outra.

A loira balançou a cabeça lentamente. ‘O que eu quero com você não poderia ser mais diferente do que ele queria fazer comigo.’ Ela abriu um sorriso delicado e ofereceu em seguida: ‘Não há nada de semelhante, mesmo se analisado sob a mais potente lente de um microscópio.’ Ela lançou um olhar significativo para a outra, fazendo-a rir baixinho.

Jane se levantou em seguida, e Maura não pôde deixar de sentir certa decepção por não ter seu pedido atendido. Ela olhou com confusão para a mão esticada da morena, segurou e se colocou em pé também. Ela não tinha sido levada a sério? Era Jane quem estava hesitando agora? E por que? Perdida, ela franziu o cenho e se virou para a morena.

‘Jane...?’ Mas, surpresa com o movimento rápido, ela soltou um pequeno grito quando a morena laçou sua cintura e ergueu-a do chão. Suas pernas abraçaram o corpo magro da outra instintivamente.

‘A cama deve ser mais confortável do que o chão.’ Jane disse e beijou seu pescoço com carinho. Maura sorriu – aliviada, e excitada, e, oh, aterrorizada com a ideia de que ela e Jane iriam engajar numa relação sexual pela primeira vez – cedendo, ao mesmo tempo, a energia que despertava em seu corpo.

Suas mãos estavam tremendo.

Seu corpo todo tremia levemente.

Ela não conseguia para de pensar que é agora, nós estamos fazendo isso, nós vamos tirar nossas roupas e, oh meu Deus, fazer amor. Ou sexo. Ou quem sabe isso tudo pode se tornar uma grande frustração para ela se eu entrar em pânico e não conseguir.

Pensamentos corriam a mais de mil por hora em sua cabeça, e de repente ela estava tão perdida neles que Jane precisou lhe chamar mais do que duas vezes. Elas já estavam no quarto, e Maura olhou para ela um tanto sobressaltada.

‘Sim?’

‘Tudo bem se eu fechar a porta?’ A detetive perguntou, sabendo que Maura se sentia insegura com portas fechadas.

‘Tranque-a.’ Ela respondeu, respirando pesado. ‘Não vai ser nada interessante se, vamos dizer, sua mãe resolver checar e...’ Ela deu de ombro, sem precisar terminara a frase.

Jane deu uma risadinha e, habilidosa, fechou a porta com o pé, mas foi a loira quem a trancou.

Seu próprio quarto lhe pareceu estranho, gigante, mas ela mal podia prestar atenção na decoração que, naquele momento, tinha sido facilmente descartada da sua linha de interesse. Agora sobre o colo de Jane, na cama, Maura se perguntava o que aconteceria em seguida. Jane tiraria sua roupa? Ela tiraria a de Jane? Eles se deitariam em seguida? Seria tudo tão rápido e ardente, carnal, como as outras pessoas que ela já tinha dormido?

‘Maura.’

Seus olhos verdes voaram para os da outra mulher. Ela respirou fundo e meneou a cabeça.

‘Você parece distraída, querida. Você tem certeza disso?’ As mãos de Jane acariciando suas costas foi a resposta mais imediata e clara que ela poderia ter.

Jane não era como as outras pessoas, seus outros casos. As mãos que corriam em seu corpo ofereciam carinho e cuidado. Conforto. Naqueles olhos negros, Maura encontrava cumplicidade. Sexo para Maura sempre tinha sido uma brincadeira, por vezes um desafio de conquistas as quais ela, em outros tempos, se gabava. Homens e mulheres que lhe pareciam impossíveis de alcançar, desejáveis pela beleza, mistério e sensualidade. Ela sempre conseguia levá-los para cama, era um jogo que ela tinha aprendido a jogar. Brilhantemente. Mas se resumia a exatamente isso: um jogo. E quando ela aprendeu que poderia ter o que almejava, sexo tinha passado a ser nada mais do que uma troca de prazeres carnais.

Não dessa vez.

Não com Jane.

‘Eu amo você, e eu quero cada parte dessa relação.’

Jane estreitou os olhos e apontou para o lado em que a casa de hóspedes estava. ‘Se foi por isso que você trouxe minha mãe, pode devolver. Ela não é parte do acordo.’ Ela disse em segredo.

Maura riu e beijou seus lábios demoradamente, a risada ainda ecoando em sua barriga. Seu sorriso morreu quando Jane apanhou seus lábios num beijo exigente e apertou os braços na sua cintura. Seus dedos correram pela nuca da morena, mechas de cabelo presas firmemente entre eles. Estava acontecendo, e ela sentiu aquele medo e frio na barriga mais uma vez. A medida que a mão da morena passou a estar por baixo de sua blusa, segurando sua cintura, acariciando sua pele, sua respiração ficava cada vez mais carregada. Foi Jane quem quebrou o beijo e pediu permissão para lhe tirar a blusa.

Maura não voltaria atrás. Ela balançou a cabeça em sim, ergueu os braços. Suas mãos altas no ar, as pontas dos dedos trêmulas e frias. Blusa no chão, as mãos de Jane agora para cima. A morena abriu um sorriso brincalhão, e mais tranquila, Maura fez o mesmo e dispensou a camisa da outra em cima da cama. Uma peça por uma peça, ela entendeu que talvez aconteceria assim. A seguinte tinha sido o sutiã. Primeiro o dela, depois o de Jane. Até então tudo estava bem. Até então era só ela e Jane, naquele lugar seguro, em seu quarto, e não naquele porão. Seus olhos se fecharam quando os lábios da outra beijaram seu queixo, depois cada centímetro de seu pescoço. As mãos de Jane encontraram as suas, se cruzando por um momento, depois correndo pela extensão de seus antebraços, a curva dos seus cotovelos, braços, ombros. Os dedos quentes explorando sua pele e depois a palma de cada mão pressionada contra suas costas, trazendo-a gentilmente para mais perto da morena. Mesmo com a calefação na casa, o ar ainda era fresco, e seu corpo inteiro se arrepiou com o toque quente da outra.

Jane, num movimento gentil e cuidadoso, virou-se e deitou o corpo de Maura sobre a cama, e se por um lado ela recebeu de bom grado a maciez e calor dos lençóis, o peso do corpo da morena somado com os beijos incessantes em seu pescoço e colo, de repente passaram de sensação prazerosa para… medo. Ela abriu os olhos porque precisava se centrar, ela precisava se lembrar de novo e mais uma vez onde ela estava, com quem estava. Sua respiração era errática e ofegante, e suas mãos foram parar nos ombros de Jane porque ela precisava de um minuto para se recompor.

‘Jay.’ Bastou meia palavra para resumir um pedido inteiro. Jane apoiou as mãos na cama, ao seu lado, e se afastou dela, os olhos preocupados estudando seu rosto e carregando de antemão um pedido de desculpas.

‘Eu me deixei levar.’ E era como se procurasse perdão.

‘Não.’ Maura a cortou. ‘Não é você, você não fez nada de errado. É só...’ Ela fechou os olhos e respirou fundo, tentando se acalmar. Ela estava aterrorizada. Primeiro porque o ato sexual por si só remetia a experiência que ela tinha passado meses atrás – cativeiro, frio, medo, abuso, dor. Segundo, porque ela nunca amara e nunca se entregara a ninguém do jeito que estava acontecendo agora com Jane; todas suas fraquezas e forças, seu lado mais sensível, suas manias, medos, suas risadas, certezas e incertezas, tudo isso em exposição ao ar livre, e Jane poderia ter escolhido apenas alguns entre eles, ou até mesmo nenhum, mas ela já tinha apanhado todos seus semblantes – todos – e clamado que jamais renunciaria a nenhum deles. Maura precisava abandonar o medo, se desprender dele, para só então se permitir sentir a tudo aquilo que Jane ofereceria.

‘Eu só estou um pouco assustada.’ Maura murmurou ao mesmo tempo que uma lágrima escapou de seus olhos.

‘De mim?’ Jane jogou a cabeça para o lado, com inocência. O gesto fez Maura rir.

‘Não.’ Ela balançou a cabeça. Jane limpou delicadamente suas lágrimas. Ela mordeu o lábio e pensou por um instante. ‘Isso,’ ela gesticulou para nada em específico, mas insinuando o que iriam fazer, ‘traz um pouco de tudo a tona.’

‘Eu sei.’ Jane afirmou e beijou carinhosamente seus lábios. ‘Eu entendo.’ Ela brincou com fios dourados entre os dedos, antes de beijá-la levemente de novo. Para ser honesta, ela também estava nervosa, preocupada. Se havia qualquer chance de arruinar aquela identidade nova, ainda um tanto frágil e em construção, de Maura, ela recuaria. Só que ela tinha ouvido e ponderado as palavras da loira, e elas carregavam tanta verdade. Principalmente se Jane pensasse em como a mulher tinha melhorado significativamente depois que as duas assumiram a relação amorosa. Ela se esforçou para usar o mesmo raciocínio lógico que Maura usava, tentando avaliar e analisar a situação a favor e em relação às vontades da loira. ‘Vamos com calma então. Certo?’

‘Certo.’ Maura concordou com a cabeça e suspirou, aliviada.

‘Eu vou fazer uma pequena investigação com você.’ Jane disse, misteriosamente, apertando os olhos e depois rindo baixinho.

Maura riu também, virou a cabeça para o lado, de modo curioso. ‘Ok.’

‘Você se sente segura comigo?’ Ela começou.

‘Sempre.’ Maura respondeu imediatamente.

‘Ótimo. Você se sente segura aqui, no teu quarto?’

A loira balançou a cabeça em sim.

A detetive apertou os olhos, franziu o cenho. ‘Você se sente segura com aquela tua tartaruga? Não é por nada, mas as vezes acho ela meio esquisita.’ Ela brincou, e a barriga de Maura sob a sua, balançando com a risada – e seus olhos brilhando – foi a melhor sensação que Jane sentira até então.

‘Não!’ Maura exclamou, ainda rindo.

‘Não?! Ok, eu sabia! Vamos nos livrar dela.’ Ela continuou provocando.

‘Não!’ A loira exclamou de novo e riu, apertando seus ombros. ‘Bass é um jabuti, Jane. Eu já cansei de te dizer isso. E ele não é esquisito!’

‘Se você diz...’ Ela revirou os olhos e suspirou dramaticamente, e Maura beliscou seu braço em brincadeira. ‘Agora, falando sério… Você percebe, de verdade, que tá segura aqui? De que eu nunca te machucaria e de que eu te amo?’ Ela perguntou, os olhos negros estudando as reações da mulher. Jane sabia que era importante essa compreensão de estar em um ambiente seguro, na companhia de uma pessoa que não ofereceria perigo algum, que não geraria desconfiança, que acima de tudo, oferecia apenas cuidado e amor. A ausência de ameaças fazia aquele espaço confortável, que não despertaria anseios, logo, Maura deveria se sentir a vontade, viver melhor o momento presente por não temer correr riscos futuros.

‘Eu entendo isso, perfeitamente.’ Ela acariciou o cabelo negro de Jane e beijou seus lábios. ‘Eu amo você. E sei que você me ama de volta.’

‘Desde quando você se tornou tão sábia?’ A morena brincou, devolvendo um beijo.

‘Meu QI é bem alto.’ Ela disse naturalmente.

‘Como você é humilde.’ Jane riu e beijou-lhe demoradamente. ‘Me diz algo que eu jamais posso fazer, algo que eu não sei e que se eu fizer, vai te causar medo.’

Maura mordeu o lábio inferior e pensou por um instante. ‘Você não pode… Não pode segurar minhas mãos acima da cabeça.’

‘Eu jamais faria isso.’ Ela disse seriamente.

‘E você também não pode… me fazer cócegas.’ Maura apertou os lábios, tentando segurar o riso.

Jane estreitou os olhos e, brincalhona, apertou os dedos na cintura quentinha de Maura, que se sobressaltou e riu. ‘Assim?’

‘Jane!’ A loira protestou, livrou-se da mão da outra e abraçou-a pela cintura. ‘Você é uma boba.’

‘Uma boba apaixonada. Por você.’ Ela corrigiu e acrescentou. ‘Agora...’ ela lançou um olhar significativo para a loira. ‘O que eu posso fazer com você. Mas eu quem pergunto!’ Ela disse animada, arrancando uma risadinha de Maura.

‘Ok.’

‘Eu posso dizer para todo mundo que você é minha namorada?’ Ela sorriu, brincalhona e boba e contente, do mesmo jeito que Maura a descreveria.

‘Pode.’ Ela revirou os olhos e riu.

‘Perfeito. Eu posso levar você no planetário semana que vem, numa sessão particular, e te beijar em baixo das estrelas projetadas na cúpula?’ Ela balançou as sobrancelhas, como se reforçando quão valiosa a proposta era.

‘Definitivamente.’ Maura disse sorrindo, desfrutando do momento de doçura e da sensação aconchegante que ele causava.

‘Eu posso te beijar aqui?’ Ela bateu levemente um dedo nos lábios da loira.

‘Permissão concedida.’ A outra disse, e quando Jane se inclinou para frente, a troca foi muito mais do que um selinho. Tinha sido um beijo apaixonado, um que lembrou Maura do frescor dos recomeços, do alívio de se livrar do peso das cargas, da impressão genuína do amor. Quando Jane se afastou, ela passou o polegar em seus lábios, sorriu sutilmente e disse com a voz carregada.

‘Eu posso… Posso amarrar um balão no Bass pra eu saber onde ele tá sempre? É complicado procurar ele na casa inteira quando tenho que dar comida.’

Maura tentou abafar a risada e, como resultado, seu corpo inteiro chacoalhou. ‘Não. Pobre, Bass!’

‘Por favorzinho, Maur.’ Jane choramingou.

‘De jeito nenhum.’ Ela riu baixinho. ‘E você disse fazer comigo, então mantenha o foco, Jane Rizzoli.’ Ela pontuou.

‘Certo.’ A morena suspirou e beijou seus lábios.

Maura virou o rosto e riu. ‘Você precisa pedir!’ Ela brincou.

‘Todas as vezes?’ Jane comprou a brincadeira, fingindo negociar.

‘Sim.’

‘Eu posso… Beijar você hoje, tipo, umas quinhentas mil vezes? E se por acaso eu não usar todos os beijos hoje, eu posso guardá-los para amanhã?’

A outra fez um bico, como se analisasse a oferta. ‘Acho que posso concordar com isso.’

Jane riu e beijou sua bochecha. ‘Você é difícil de negociar. Qual a condição?’

Maura apertou os olhos. ‘Comer uma folha de salada para cada beijo.’ Ela brincou, erguendo uma sobrancelha em desafio.

‘Droga, você é boa.’ A morena suspirou dramaticamente. ‘Acordo aceito.’ Ela se inclinou e beijou Maura mais uma vez, e agora as duas estavam rindo entre o beijo. Quando Jane se afastou, continuou o questionamento. ‘Eu posso beijar você daqui até aqui?’ Ela correu um dedo, começando no pescoço de Maura, percorrendo entre os seios e até a parte inferior da barriga.

A mulher balançou a cabeça em sim.

Jane traçou um caminho de beijos em linha reta. No pescoço. Entre os seios. Descendo pela barriga. Duas cicatrizes finas e brancas, quase mescladas com a pele, se desenhavam em paralelo ali. Maura parecia não se importar mais com elas, especialmente agora que eram quase invisíveis e, acima de tudo, agora que elas simbolizam uma vitória. A pele macia e quente era cama para os lábios de Jane, e ela decidiu traçar também o caminho de volta. Bem ali, entre os seios, Maura suspirou e chamou seu nome.

Dessa vez, Jane reconheceu, era um pedido carregado de prazer, e não medo. Seus olhos negros se encontraram com os verdes da outra, e ela meneou a cabeça em sim.

Permissão.

Antes, entretanto, ela terminou o trajeto. Dessa vez seus beijos eram: eu cuido de você, eu te amo, confie em mim, não tenha medo, eu te respeito, eu estou bem aqui.

E seus lábios se encontraram com os de Maura de novo. Ela beijou-a com carinho e paixão, sua língua buscando pela língua da outra, explorando, ao mesmo tempo se certificando de que tudo estava bem.

Elas se estudaram novamente. Jane procurando saber se Maura ainda estava bem; Maura se derretendo com toda a atenção. E então, num movimento mais ousado, Jane posou a mão sobre o seio exposto da mulher. ‘Posso?’ Ela resumiu a perguntar em uma palavra, porque ela não sabia se conseguiria falar mais, e a outra respondeu apenas com um menear de cabeça. Ela beijou o pescoço, o colo, a pele branca e macia até chegar na parte volumosa do seio. Como uma adolescente boba em sua primeira vez, ela encostou os lábios na curva acentuada e olhou para Maura, um sorriso travesso cortando o rosto.

A loira revirou os olhos – Jane conseguia ser brincalhona e sexy, o que era quase ridículo – mas arfou e arqueou as costas quando a outra abocanhou o bico de seu peito e sugou. Primeiro, uma única vez, testando território novo e seu limite, mas depois, quando Maura não protestou e pareceu desfrutar das carícias, ela não se censurou em beijar e sugar, mordiscar o mamilo que enrijeceu entre seus dentes. Maura apertou uma mão em sua nuca, outra em suas costas. Os suspiros e gemidos excitavam Jane, e ela sentia a umidade se intensificando entre suas pernas. Ela abandonou o seio de Maura e voltou a beijá-la, o corpo pequeno e menor sob o seu se movimentando involuntariamente.

‘Maur, a gente pode se livrar disso?’ Ela lançou a calça e calcinha da loira com os dedos, e a outra respondeu à sua pergunta levantando o quadril.

‘A sua também.’ Ela disse, sua respiração errática cortando as palavras.

Jane seguiu suas ordens. Primeiro tirou a própria roupa, jogando-a ao chão, e só depois a da mulher. Ela sorriu gentilmente, inclinou-se e beijou sua barriga uma vez, sua virilha, o ossinho do quadril. Talvez ela não tenha pensado antes de fazer, principalmente considerando que a loira estava se sentindo bem até então, mas quando seus lábios se afastaram de sua pele e suas mãos alcançaram o quadril da mulher, Jane notou que sua respiração estava ainda mais desregulada.

‘Ei’, ela disse, seu rosto agora nivelado com o da loira, ‘ainda somos eu e você. Não vá a lugar nenhum sem mim.’ Ela beijou carinhosamente os lábios de Maura e acariciou seu rosto. Ela esperou um instante, e a outra beijou-a de volta.

‘Tá tudo bem.’

‘Certeza?’ Jane brincou com seu cabelo, beijou seu queixo.

Maura segurou seu rosto com as mãos, passou um perna na sua cintura e pressionou seu corpo – seu sexo – contra a coxa da mulher. ‘Jane. Eu nunca estive tão certa em minha vida.’

A outra gemeu e deixou a cabeça cair no ombro da loira, inalando o cheiro floral e fresco de seu cabelo. Aquilo era tamanha tentação que ela simplesmente não podia resistir.

Maura riu e acariciou sua nuca. ‘Use seus dedos, ou a sua língua, se preferir. Eu confio em você.’

‘Maura!’ Ela exclamou, rindo baixinho e balançando a cabeça, ainda enterrada no pescoço da mulher. Tê-la sob seu corpo, ouvi-la, já eram estímulos suficientes para deixá-la excitada, mas ouvi-la pedir pelos toques tinha sido tanto uma surpresa como fonte maior de excitação.

‘O que?’ A loira perguntou. ‘Você gosta de sexo mas não gosta de falar sobre?’ Ela riu consigo mesma, seus dedos agora brincando na nuca da morena.

‘Você vai ser meu fim, Maura Isles.’ Jane disse, rindo, beijando os lábios da outra que se curvavam num sorriso. ‘Você confia em mim, não confia?’ Ela ergueu o rosto e olhou para Maura com toda a adoração que sentia.

‘Eu confio.’ Ela reafirmou, acariciando as costas da mulher.

‘Eu posso?’ Jane colocou a mão na coxa que laçava sua cintura.

A outra deu permissão com a cabeça.

Jane, carinhosa, protetora e determinada a amá-la da melhor forma, beijou-lhe demoradamente, como uma promessa de que cuidaria bem dela, esperando que cada beijo e cada toque reafirmassem o amor que sentia, talvez o marcasse, não a pele, mas sua alma, seu coração.

A loira suspirou quando os lábios acariciavam a pele do seu pescoço, gemeu quando se apertaram novamente em seu seio. E então, lenta, mas determinadamente, Jane beijou sua barriga cada vez mais para baixo, e Maura mordeu o lábio inferior em antecipação, arqueou as costas quando um beijo foi plantado em sua virilha. Com impecável cautela, a morena afastou uma de suas pernas com a mão.

Foi então que Maura fechou os olhos e se entregou. Seu corpo tremia com a adrenalina correndo em seu sangue, e ela conseguia sentir o cheiro da sua excitação e da de Jane também. Suas mãos agarraram o lençol quando a língua da morena entrou em contato com seu sexo e, se por um momento ela ficou tensa, no seguinte, quando dedos se somaram ao ato, ela jogou a cabeça para trás e gemeu.

Não havia mais medo. Não havia mais paredes. Ela nem sequer sabia sobre solidão. Tudo o que ela conhecia era Jane, seus movimentos estáveis e firmes, gentis e cautelosos ao mesmo tempo. Jane tocando aquele lugar que ela adorava, que despertava a melhor combinação química em seu corpo. Ela precisaria reler Shakespeare e William Blake, quem sabe mais poesias para encontrar a que descrevia corretamente o que ela sentia por Jane, o que a morena estava fazendo com ela. Com certeza, ela poderia afirmar pelo menos isso: Jane estava transformando-a em uma nova pessoa, uma nova mulher, alguém que experimentara o deslumbre do amor, que fora construída por ele. Salva.

Quando seu corpo explodiu num orgasmo, ela não fez sequer um som. Se entregou no momento mais vulnerável e deixou que Jane a segurasse enquanto os últimos espasmos corriam pelo seu corpo. Quando ela abriu os olhos, viu Jane sobre si – bem, ela já tinha sentido o corpo da morena sobre o seu – um sorriso carinhoso e aquele mesmo olhar apaixonado estudavam seu rosto, enquanto os dedos da morena brincavam com seu cabelo.

‘Ei’, ela disse, inclinou-se para frente e beijou seus lábios, as bochechas vermelhas. ‘Você tá bem?’

Maura acabou rindo. ‘Jane, eu tenho um nível considerável de oxitocina, dopamina e prolactina percorrendo o meu corpo agora. O que você acha?’

A morena juntou as sobrancelhas, confusa.

Entendendo a confusão estampada no rosto da outra, esclareceu. ‘É o equivalente a: eu acabei de ter um orgasmo, eu estou muito bem.’

A detetive se juntou na risada e beijou-a repetitivamente. Ela rolou para o lado e trouxe a mulher para seus braços, mas Maura tinha outros planos. Agora era sua vez de estar sobre Jane, e o joelho colocado sistematicamente entre suas pernas, a coxa pressionando o seu sexo, mandava um recado bem claro do que ela tinha em mente.

‘Dedos, língua ou os dois?’ Maura disse perto do seu ouvido, beijando seu pescoço.

Jane grunhiu e jogou a cabeça para trás. ‘Maura, sem provocações.’

A loira riu baixinho e beijou seus lábios com amor. ‘Me diz o que você quer.’

E a voz tinha soado sexy, arrepiado o corpo todo da outra. ‘Você dentro de mim. Tipo, agora.’

Maura riu baixinho mais uma vez e atendeu o pedido de Jane. Sua mão percorreu a extensão do corpo da morena, brincando um pouco na barriga, mas logo encontrando o calor e umidade entre as pernas da outra. Ela penetrou um dedo primeiro, depois dois. Mordeu o lábio inferior ao sentir seus dedos se molhando dentro da outra, as paredes se contraindo ao passo de que Jane se remexia como resposta ao seu toque.

A morena gemeu e se contorceu com o ritmo inicial, sabendo que não duraria muito considerando o quão excitada já estava antes. Então Maura decidiu beijar seu pescoço de novo, mordiscar seu pescoço, e ela só notou que estava em apuros quando a outra se utilizou da mesma técnica em seus mamilos, aumentando as investidas com os dedos, e foi só questão de segundos para seu corpo estremecer com a energia que vinha se acumulando tinha tanto tempo. Ela gemeu e sentiu os dedos entrando e saindo com mais dificuldade de dentro de si, mas Maura era experiente e sabia exatamente como tocá-la, como fazer durar um pouco mais.

A loira retirou os dedos de Jane com cuidado, inclinou-se sobre ela e beijou seu queixo anguloso, seus lábios. Ela estudou com atenção o rosto perfeito da morena, correu o indicador na linha do cabelo. Aquela pessoa, aquela mulher, sua namorada… Maura sempre gostava de se apresentar como uma mulher independente – em eventos no hospital e em festas de caridades ou até mesmo eventos institucionais, ela tinha orgulho de entrar pelas portas sozinhas, dona de si e poderosa como era vista, intocável. Agora, com Jane, seu maior orgulho seria se apresentar socialmente com essa mulher ao seu lado. Minha namorada. Minha mulher. Ela nem se importava que a segunda colocação sugeria, naturalmente, uma aliança no seu dedo. Talvez um dia – agora ainda era cedo.

‘Vire-se.’ Ela sussurrou para a morena ao sair de cima dela.

Jane franziu o cenho, protestou. ‘Por que?’

‘Porque hoje eu que vou te abraçar.’

‘Mas...’

‘Shh. Você sempre me abraça. Hoje eu quero segurar você. Por favor?’ Ela lançou um olhar pidonho acompanhado de um bico discreto.

Jane deu uma risadinha e deitou-se de costas para ela. ‘Medo de eu fugir de você, Maura Isles?’ Ela provocou.

‘Você não se atreveria.’ Ela rebateu.

‘Não mesmo.’ Jane concordou e se abrigou no abraço da loira. Ela sentiu um beijo sendo plantado em sua nuca e sorriu.

‘Você é a melhor coisa que me aconteceu. Eu te amo tanto. Você sabe disso, não é?’ Maura disse baixinho, acariciando a barriga da outra.

Jane segurou sua mão, levou até sua boca e beijou a palma dela. ‘Eu sei, meu amor.’ Ela estudou carinhosamente os dedos longos e graciosos e beijou a ponta de cada um deles. ‘Você sabe o quanto te amo?’ Ela perguntou, finalmente.

Um sorriso abriu-se em seu rosto e Maura se sentiu a pessoa mais feliz do mundo. Ela não precisava de gráficos e testes e nem mesmo ciência para provar aquela verdade. ‘Sei, meu amor.’ Jane ficou em silêncio por uns instantes, ainda brincando com sua mão. Depois de um tempo, ela colocou, junto com a sua, a mão de Maura entre a cintura e cama, como a loira fazia todas as noites antes de dormir. E então, quando finalmente Maura pensou que Jane tinha se entregado ao sono, a voz rouca falou de novo.

‘Você me ama mais do que o Bass? Os balões são uma idéia tão boa.’ Ela resmungou a última parte mais para si mesma, em pensamento, do que para Maura.

A risada de Maura foi baixa e controlada, mas ressoou em seu corpo todo. ‘Nem se compara, Jay, mas ainda é um não para os balões.’

A morena estalou língua e, por enquanto, deixou o assunto para lá.

Eram uma pouco mais de duas horas da manhã quando Maura acordou. Desorientada, ela se virou para o lado a procura de Jane, mas se surpreendeu ao se encontrar na cama sozinha. Ela esfregou os olhos e olhou para a porta do banheiro. Aperta, escuro lá dentro. Só então ela chegou a porta do quarto: como sempre aberta, a luz do corredor acesa. Intrigada, ela jogou a coberta para o lado, se sentou na cama e sentiu o corpo, ainda nu, tremer um pouquinho com o ar frio.

‘Jane?’ Ela chamou com a voz ainda carregada de sono. Nenhuma resposta. Depois de se levantar, colocar uma calcinha e uma blusa, ela caminhou até a porta do quarto e ouviu uma música baixa e natalina vinda do andar de baixo. Seus pés se arrastaram pelo chão, em cada degrau, e ela arfou em surpresa quando seus olhos observaram a imensa árvore de Natal agora toda colorida, cheia de luzes, os ornamentos balançando discretamente, como se dançando ao som da música. Ela estudou os elfos nos parapeitos das janelas, as renas e meias na lareira, enquanto contornava o sofá.

Sentada ao pé da árvore, pendurando um ornamento, estava Jane.

‘Oh, meu Deus.’ Maura murmurou, ainda espantada com a beleza, a mágica que preenchia o ar.

A cabeça de Jane se virou rapidamente ao ouvir sua voz, e ela se levantou do lugar, estudando Maura com olhos preocupados.

‘Jane, o que você fez?’ A loira perguntou admirada, prestes a dar um passo em direção a ela.

‘Maur, não!’ A detetive colocou as duas mãos para frente, sinalizando o chão. ‘Você vai cortar os pés com as estrelas.’ Ela apontou para os ornamentos espalhados no chão. ‘Aqui, vem.’ Sua mão estendida, Maura agarrou-a e subiu no sofá, descendo em seguida do outro lado, no espaço livre do chão e onde a morena estava.

‘Jay, são duas da manhã.’ Ela disse, ainda impressionada com a mudança na sala. Ela se perguntou por quanto tempo a morena vinha trabalhando naquilo. Horas, com certeza. Ela aceitou a coberta macia que Jane jogou sobre seus ombros.

‘Eu não queria você preocupada com isso amanhã. Você gosta?’ Ela abraçou Maura por trás e a ninou no ritmo da música que tocava.

‘Ah, Jane. Você é tão doce.’ Ela virou o rosto e beijou a bochecha da morena. Depois, observou cada detalhe da árvore em sua frente. ‘Ela ficou linda. Você tem razão, o colorido é mais...’ Ela suspirou, tentando encontrar a palavra.

‘Festivo, você disse mais cedo.’ Jane provocou, rindo baixinho e beijando a bochecha rosada da outra.

‘Bem, eu diria que é mais vivo e feliz.’ Ela encostou a cabeça no peito de Jane, os olhos ainda absorvendo todas as cores, as luzes que piscavam num colorido vibrante. Ela não sabia, mas ela mesma parecia mais viva naquela noite.

Jane apertou seu abraço nela, beijou o lado de sua cabeça e as duas ficaram ali, apenas desfrutando do momento sereno. Repolho dormia profundamente na poltrona do outro lado da sala. Maura sorriu ao vê-lo.

E só depois notou a música tocando.

When we finally kiss goodnight, how I hate going out in the storm, but if you really hold me tight, all the way home I'll be warm.’*

Seus lábios se partiram num sorriso imenso, era exatamente assim que ela se sentia agora: se ela fosse passar por uma tempestade, Jane a seguraria firme e a manteria, como agora, quentinha.


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Notas finais do capítulo

*Quando finalmente damos um beijo de boa noite, como eu odeio sair na tempestade!, mas se você me segurar com força, o caminho todo eu estarei aquecida.

Finalmente, depois de vários pedidos. Valeu a pena esperar? xD



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