- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 39
Trinta e nove


Notas iniciais do capítulo

Gente, vocês estão recebendo email com atualização de cap? Soube que algumas pessoas não estão, então nem sei se vocês tão vendo os caps novos.
Vou agradecer minha Beta - que se tornou uma bela amiga! - pela ajuda por mais esse capítulo. Cris ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/716855/chapter/39

As chaves tintilaram na mesa da sala de estar, o único barulho interrompendo o silêncio da noite. Era tarde, e mais uma vez Jane chegava em casa exausta. Há quanto tempo ela estava mesmo sem dormir direito por conta desse caso? Ela passou a mão no cabelo que caía em seu rosto, prendeu-o num rabo de cavalo e estava prestes a retirar a arma do coldre quando viu uma figura grande se materializar na sala. Ela colocou a mão na boca e quase gritou de susto.

‘Frankie! Que diabos?’ Ela disparou, sentindo o coração pular no peito. ‘O que você tá fazendo aqui nessa hora?’ Ela checou o relógio no braço. Meia-noite e cinquenta e sete.

Ele revirou os olhos no estilo Rizzoli, e com um sinal apontou para ele e depois Jane. ‘Nós precisamos conversar.’

Nessa hora da noite, não poderia ser notícia boa. Pela segunda vez em menos de cinco minutos, Jane sentiu a pulsação acelerar. Seus olhos se estalaram e ela deu um passo para frente.

‘Maura.’ Ela murmurou, apavorada. Andou na direção dele, em partes para empurrá-lo e livrar seu caminho, em partes para intimidá-lo. ‘Onde ela está?’ Ela quase implorou.

‘Lá em cima.’ Ele disse, esclarecendo rapidamente ao empurrar gentilmente o ombro da outra para trás. ‘Ela deve tá dormindo agora. Nós chegamos há quase duas horas.’

‘Frankie, o que aconteceu?’ Ela pressionou, dividida entre ficar e ouvir o que ele tinha a dizer ou correr para o quarto para checar a loira. Sabiamente, ela esperou a explicação.

‘Ela meio que teve um ataque de pânico durante o jogo. Uns babacas criando confusão na fileira de frente a nossa. Ela se acalmou bem rápido, mas… Sei lá, Jane. Eu fiquei preocupado e mandei uma mensagem para mãe, você sabe como ela faz Maura se sentir bem. Ela tá no quarto de hóspedes, dormindo lá.’

‘E você nem pensou em me chamar, Frankie?’ Ela acusou, dando um soco no peito dele.

‘É sobre isso que eu quero falar com você, Jane. Eu te liguei e mandei várias mensagens e você não respondeu nenhuma. Tua noite foi tão ocupada assim que nem isso você podia fazer?’ Ele devolveu com certa irritação, um tanto de medo e impaciência em seu olhar.

O celular. Droga, onde é que ele estava? Ela apalpou diversas vezes o blazer e depois a calça até achar o aparelho – por um minuto ela pensou que tinha perdido ele. Quando tentou desbloquear a tela, nada aconteceu. Ela entendeu o medo no olhar do irmão, reconheceu a frustração. Maura estava indiscutivelmente melhor, mas, ainda assim, os eventos que a traumatizaram eram recentes e ainda havia os sintomas do estresse pós-traumático. E lá tinha ido Maura, numa arquibancada lotada de pessoas, ao lado de dois homens que não muito poderiam fazer por ela. E Frankie, com seu coração carregado de bondade, temia até aquele momento que algo pior tivesse acontecido. Que ele não pudesse ter sido capaz de ajudá-la.

‘Merda, minha bateria acabou e não notei!’ Ela exclamou, irritada consigo mesma, e jogou o aparelho na mesa, junto à chave.

‘Jay, eu entendo esse negócio de ser policial, ok? Entendo mesmo. Só que você precisa se ligar nisso: não dá pra deixar esses espaços em branco onde ela vai divagar sobre em quem confiar, pra quem correr. Você sabe melhor do que eu que a pessoa que ela mais precisa e confia é você.’

‘Eu não tô negligenciando ela, Frankie.’ Ela disse com a voz grave e baixa, um aviso de não ultrapasse seus limites.

‘É melhor que não esteja.’ Ele devolveu. ‘Porque você trouxe ela para nós, e nós fizemos dela nossa família. Eu amo você, mas se você der essa mancada, Jane...’

A morena fez um barulho com a boca, em desdém, para dispensar o sermão do irmão. Ela se sentiu terrível, até mesmo culpada pelo que tinha acontecido, mas ela não estava negligenciando Maura. Não mesmo. Tal atitude seria puro reflexo do mesmo comportamento que o pai dela tinha em relação a família que ele abandonara, e Jane se policiava sempre para nunca repetir tal erro. Ela nunca faria isso, e só o fato de que Frankie trouxera essa suposta negligência a tona, ela sentiu como se uma mão estivesse apertando sem coração lentamente, sem misericórdia, em simples forma de tortura. Culpa. Ansiedade. Antecipação. Ela rolou os ombros algumas vezes para se livrar da tensão e replicou sem muita energia para o irmão.

‘Eu te garanto que eu tô fazendo meu melhor.

‘Desde que seja suficiente.’ Ele rebateu.

Ela franziu o cenho e devolveu, afiada. ‘Até mesmo porque ela merece mais do que isso.’

A resposta pareceu agradar o mais novo, ele sorriu, cansado, para Jane e deu um tapinha no ombro dela. ‘Te vejo amanhã ou depois.’

 

Por que uma pessoa tão magra precisava de uma cama tão imensa como aquela era a questão que Jane sempre se perguntaria toda vez que visse Maura dormindo lá. A loira dormia abraçada com um travesseiro, o edredom volumoso fazendo seu corpo parecer ainda menor do que era. Jane sorriu, abaixou e beijou sua bochecha carinhosamente, mas a mulher nem se mexeu. Era um alívio vê-la entregue a um sono profundo, principalmente considerando os eventos do dia. A detetive sentou-se na beira da cama e a observou por um minuto. Sobre a luz fraca que vinha do corredor, Jane não cansava de admirar aquele tipo de beleza única e peculiar que Maura carregava. Ela combinava com as manhãs de primavera quando o dia amanhecia úmido, cobrindo as flores recém-abertas com orvalho caído durante a noite. Nem tão quente e nem frio; aconchegante, promissor. Apesar das circunstâncias, do que tinha lhe acontecido, Maura carregava uma serenidade que, Jane às vezes imaginava, tinha sido adquirida e desenvolvida em outras vidas.

Ela sabia? Maura sabia que ela transmitia aquela sensação de calmaria e leveza? Ela era forte e definitivamente batalhadora, assim como Jane, mas ela tinha um lado que faltava na morena.

E era exatamente por isso que ela amava e precisava de Maura.

A detetive sorriu, acariciando as costas da mulher e murmurou tão baixo quanto pôde. ‘Eu amo você, Maura Isles.’

Não querendo interromper o sono da loira, Jane se levantou e fez o seu ritual da noite. Escovou os dentes, tomou um banho rápido, colocou seu pijama e se aconchegou na cama. Ela queria desesperadamente colocar Maura nos seus braços, mas quando tentou abraçá-la, achou melhor recuar. A mulher tinha se encolhido e choramingado, balançado a cabeça em negativo.

Jane entendia.

Maura tinha os dias ruins e os dias muito ruins. Nos dias ruins, como Jane passara secretamente a chamá-los, eram os dias em que o cruel acontecimento vinha a tona e Maura se desestabilizava emocionalmente. Eram nesses dias que ela se agarrava em Jane – quase que literalmente. Se a morena estivesse em casa, Maura estaria ao seu lado, deitada no seu colo, aproveitando toda atenção que lhe era oferecida, choramingando sobre qualquer – estúpida – coisa. Dá última vez ela tinha gritado com Bass porque ela estava há dez minutos tentando alimentá-lo com alface – e, oh!, como ele era um ingrato! - e Jane teve que afastar o animal e sentar-se no chão e segurá-la enquanto ela chorava e reclamava sobre pobre jabuti.

Nesses casos, o que a detetive poderia fazer era exatamente isso: oferecer conforto e acalmá-la. Horas depois, Maura recuperaria o controle sobre si mesma e tudo voltaria ao normal.

Já nos dias muito ruins… Tudo era mais complicado. Eram nesses dias que Maura não queria conversar, não queria ser tocada, não queria sequer socializar. Ela passava horas na sala de Yoga, meditando, às vezes chorando, tentando se recompor. Esses dias eram bem menos frequentes do que os dias ruins, mas eram, entretanto, mais duradouros. Por bom-senso, Jane se mantinha afastada. Ela só abraçava quando Maura pedia. Ela só dormiam aninhadas uma na outra quando era Maura que se enroscava em si. Qualquer toque ou demonstração de carinho tinham que vir, especificamente nesses dias, da loira. Então, nessa noite, quando Maura reagiu mal ao toque, Jane simplesmente não insistiu. Ela sabia dos limites, das consequências, do desconforto e sofrimento da outra. Ela entendia. Antes de fechar os próprios olhos e se entregar ao sono, ela se certificou de que Maura estava aquecida e confortável, e só então procurou seu descanso.

 

‘De acordo com o satélite, a previsão para o final de semana é de tempo limpo, sem mais neve por enquanto. E por falar em neve, Alex, vamos dar uma olhada nesse vídeo que um telespectador nos mandou.’ Essa era a voz vinda da TV, a primeira coisa que Jane escutou enquanto andava no corredor em direção à cozinha. Ela tinha acordado na cama sozinha, mas não achou estranho considerando o horário – o relógio da cabeceira da cama marcava 8:53. Maura jamais ficaria na cama até tão tarde, nem mesmo quando doente. E, como a detetive imaginou, a mulher estava sentada no sofá da sala, lendo o jornal.

‘Bom dia, Maura.’ A morena disse e abriu um sorriso quando a outra virou a cabeça rapidamente para ela.

‘Jane.’ Ela apenas disse, o olhar acompanhando cada movimento da morena, mas a expressão facial não entregava nada. Com as feições sérias, ela dobrou o jornal delicadamente e o depositou em cima do assento do sofá.

‘Como foi o jogo ontem?’ A detetive perguntou enquanto se servia uma caneca de café. Ela preferiu, assim como sempre, se assegurar de que se aproximar de Maura era um território seguro antes de tocá-la.

‘Bem, embora eu não seja uma entusiasta.’ Maura ofereceu honestamente. Ela tinha se levantado e contornado o sofá, agora apoiando o corpo contra as costas dele.

Jane bebericou o café, estudando a linguagem corporal da outra, ponderando as palavras. Por fim, ela respirou fundo e se aproximou um tanto da loira. ‘Frankie me contou dos babacas de ontem a noite. Você tá bem?’ Ela colocou uma mão tentativamente no ombro da mulher, sabendo agora que aquele não era um dia muito ruim.

Maura deu de ombros, fazendo um bico enquanto considerava a resposta. ‘Eu recuperei o controle logo.’

Aquilo não era necessariamente uma resposta para a sua pergunta, o que deixava claro que o acontecido ainda incomodava Maura. Jane suspirou, ainda se sentindo culpada por conta das palavras de Frankie. ‘Droga, eu deveria estar lá com você.’ Ela se lamentou.

Os olhos afiados de Maura voaram para os dela, certa indignação e irritação estampadas em seu rosto. ‘Deveria,’ ela disse duramente, ‘exceto que você anda excedendo as horas de trabalho.’

‘O que isso supostamente significa, Maura?’

‘A começar pelo simples fato de que você mal para em casa?’ Ela entregou com certa ironia que, sem dúvidas, aprendera com Jane. Ela ergueu uma sobrancelha e, uma por uma, decidiu colocar as cartas na mesa. ‘Seguido pelo fato de que toda vez que o seu telefone toca e, só para variar, você está em casa, você sai às pressas?’ Ela estava irritada, mas, ainda assim, tentando conter o sentimento que rodopiava dentro de si. Ela não queria pular em cima da morena com unhas e dentes, mas aquela sensação de que tinha sido colocada em segundo plano começara a dominar os cantos de sua mente, e agora ela estava tomada por ela. Uma que vinha acompanhada do medo de ser, no final, abandonada.

 

‘Maura, eu entendo que tenho estado ausente ultimamente, mas eu não tenho escolha. É trabalho.’

‘A não ser quando você e Kendra decidem almoçar juntas, ou jantar juntas. Isso não é trabalho.’ Ela disse e cruzou os braços em frente do peito, em proteção, tentando esconder a mágoa.

Jane sabia que estava praticamente respirando o caso atual. Ela comia pouco, ou mal, por conta dele. Ela perdera horas de sono. Ela passara tanto tempo longe de Maura. Apesar disso, ela não imaginou que sua ausência fosse impactá-la dessa forma; era por essa razão que estimulara a loira passar tempo em família com sua mãe e irmãos. Só que agora, além de cobrar sua ausência, Maura estava demonstrando também ciúmes. É claro, fazia sentido. A mulher não estava pedindo por um dia inteiro, apenas pelos minutos de almoço, uma pequena pausa para as duas durante o dia. Para Jane e ela.

E não Kendra e Jane.

A morena não tinha ponderado a situação do mesmo jeito que Maura. Enquanto Jane via os almoços com Kendra como uma extensão do trabalho, Maura via como a oportunidade que Jane tinha de passar com ela que tinha sido dispensada para ser passada com Kendra.

‘Oh, Maura.’ Ela disse e sua voz carregava tanto. Compreensão. Arrependimento. Culpa. Carinho. ‘Querida, me desculpa. Eu não sabia que você estava se sentindo assim.’ Ela segurou o rosto de Maura com as duas mãos e beijou sua testa. ‘Eu sei, eu sei mesmo que eu me joguei de cabeça nesse caso, mas eu pensei que você ficaria bem com minha mãe aqui, e até mesmo com meus irmãos.’

As feições no rosto de Maura se suavizaram. Ela não parecia mais brava, apenas magoada. Ela abaixou os olhos e mordeu o lábio inferior, e Jane se bateu mentalmente por ter causado aquela expressão entristecida.

‘Mas eles não são você.’ A loira disse exatamente o que sentia. Ela amava Angela, Frankie e Tommy, mas nenhum deles poderiam oferecer o que Jane oferecia. Ela dependia de Jane. Tal constatação a irritava profundamente, porque ela sempre fora independente e sozinha, mas agora ela estava convencida de que não saberia mais viver sem a morena. Era uma necessidade mental, física. Jane era seu porto seguro, sua sanidade. Maura tinha se reorganizado em torno dela, fora graças aos seus cuidados e atenção, seu amor, que ela começara a cicatrizar. E era agora que, mais uma vez, nesses dias confusos que sua ansiedade alcançava um novo nível por conta do julgamento que se aproximava. Seus anseios deveriam ser desfeitos. Ela precisava de Jane para se centrar. ‘Eu preciso de você.’ Ela disse e seus olhos se enxeram de lágrimas.

Jane não hesitou em tomá-la nos braços. Afinal de contas, aquele era um dia ruim. Ela quase conseguia prever todas as nuances de humores e, enquanto Maura descansava a cabeça em seu peito, a detetive considerou seriamente ligar para a delegacia e avisar que não trabalharia. ‘Eu tô bem aqui, Maur.’ Ela disse, mas o que arrancou um suspiro de Maura foi sua mão nas costas dela.

‘Eu estou confusa.’ A loira disse, apertando os braços em torno de Jane.

‘Com o que, querida?’ Ela continuou acariciando as costas da mulher, já sabendo perfeitamente como lidar com a situação. Mantenha a calma, ofereça conforto, escute.

‘Não.’ Maura murmurou.

Jane revirou os olhos. Ela tinha certeza que sua pergunta não era uma cuja resposta fosse negativa ou positiva.

‘Eu estou com medo.’ Maura esclareceu por si só, sem esperar outro questionamento da morena.

‘Se importa em esclarecer?’ Ela beijou sua cabeça e esperou pacientemente. Ela tinha aprendido a arte da paciência ao lidar com Maura. Ela assistiu enquanto a mão delicada da loira pousou no seu peito, agarrou o decote do seu pijama (ela, milagrosamente, estava usando um pijama de verdade).

‘Do que vai acontecer na corte, se eu depor.’ A outra murmurou.

Jane estava errada. Ela não sabia lidar com aquela situação. Seus músculos tensionaram. Seu corpo tremia levemente. Era uma mistura do seu próprio medo com… expectativa? Expectativa. Era isso o que a detetive que havia nela queria escutar; que Maura prestaria depoimento. Em contraponto, Jane, a namorada… Ela temia pela saúde mental da loira. ‘Você tem considerado isso?’ Ela perguntou, pega de surpresa.

Maura se remexeu, deu de ombros. ‘Talvez Kendra tenha razão. Talvez seja um jeito de colocar um ponto final nisso.’

Não, ela não tem. Jane pensou, e depois, sim, ela tem! E só então ela percebeu que ela, assim como Maura, também estava dividida.

‘Ok.’ Ela suspirou e deu um novo abraço em Maura. ‘Ok. O que quer que você decida, nós vamos passar por isso juntas. Eu estou aqui. Minha família está aqui por você. Kendra. Todos nós. Você sabe disso, não sabe?’ Jane se afastou o suficiente para olhá-la, e os olhos claros de Maura pareciam carregar tanta vida – e todas as coisas pesadas e leves que se marcam nela. De repente aqueles mesmos olhos se enxeram de lágrimas de novo, e seus lábios se curvaram para baixo.

‘Eu sei!’ Ela exclamou, parecendo irritada. ‘E eu sinto que minha reação à hoje é despropositada e desmedida, mas, ao mesmo tempo, era tudo o que eu conseguia sentir.’ Ela limpou os olhos com as mãos e abaixou a cabeça, envergonhada.

Jane riu levemente e acariciou suas costas. ‘Bem, eu não tenho certeza do que despropositada significa.’ Ela começou, mas Maura a interrompeu.

‘Significa inconveniente.’ Ela explicou.

‘Ponderando, nesse caso, acho que seria mais inconveniente se você não viesse esclarecer comigo. Eu preciso saber o que está acontecendo com você. Se lembra?’

A mulher balançou a cabeça, mechas loiras caindo ao lado e moldurado seu rosto. Ela olhou para a detetive com expectativa e esperou. Jane continuou. ‘E, segundo, você tem razão sobre eu passar tanto tempo no trabalho. É algo que eu fazia com muita frequência. Mas antes eu era sozinha. Antes eu não tinha você. Eu só tinha todas aquelas caixas de papelão em casa, que você deve se lembrar muito bem, considerando que foi você quem organizou aquilo tudo.’ Ela riu baixinho junto com Maura e colocou uma mecha dourada atrás de sua orelha. ‘Eu prometo que vou organizar melhor meu tempo, encontrar o equilíbrio que eu dispensava antes e não me deixar levar por esse instinto de querer fazer justiça a todo custo.’

‘E de preferência passar mais tempo comigo, em vez de Kendra.’ Ela levantou uma sobrancelha sugestivamente para Jane, e as duas riram. Maura tinha aprendido a escapar de situação tensas usando o humor, assim como Jane.

‘Agora,’ a morena continuou, ‘eu ainda tenho uma hora antes de ir ao trabalho.’ Ela segurou a mão de Maura e a puxou com gentileza até o sofá. ‘Eu acho uma idéia brilhante se você e eu ficarmos juntas durante esse tempo, bem aqui.’ Ela se sentou e puxou Maura para seu colo, que riu delicadamente e passou os braços em torno do seu pescoço.

A loira lhe sorriu e colocou o cabelo preto da outra atrás da orelha. ‘Eu amo você, Jane Rizzoli.’

Que engraçado,’ Jane falou, ‘eu disse a mesma coisa ontem a noite.’

A sobrancelha de Maura disparou para cima, incrédula, e ela sorriu. ‘Você disse?’

‘Sim! Disse a mesma coisa para meu reflexo no espelho.’ Ela riu quando Maura fechou o rosto e beliscou seu braço. ‘Não.’ Ela disse depois, séria, suas mãos segurando a cintura da outra. ‘Eu amo você, Maura Isles. Você passou de uma desconhecida impertinente para a pessoa que eu mais amo, admiro e me importo nesse mundo.’

Maura estreitou os olhos e ergueu as sobrancelhas. ‘Impertinente?’ Ela resmungou. ‘Era assim que você me via antes? Como impertinente?’

Jane revirou os olhos, apoiando suas mãos nas costas da outra. ‘Sério mesmo, Maur? De todas as palavras que eu disse, essa foi a única que você escutou?’ Ela rebateu, parecendo indignada. Ela tinha, afinal de contas, acabado de abrir seu coração.

Maura ficou séria por um instante, tentando resistir à tentação de rir. Ela falhou, miseravelmente, quando estudou a expressão indignada de Jane. Sua risada fez seu corpo tremer, e ela se inclinou para frente para beijar os lábios da mulher pela qual seu coração pertencia. ‘Eu escuto tudo o que você diz, e presto atenção em tudo o que você faz.’ Ela beijou-lhe os lábios mais uma vez, e Jane pareceu mais contente agora. ‘E só para constar, eu nunca amei ninguém da forma como eu amo você.’

Jane sorriu e depois de observá-la disse, ‘e eu nunca tinha encontrado alguém que eu amasse tanto assim.’

Maura inclinou a cabeça para o lado com um olhar brincalhão. ‘Cuidado, detetive. Se alguém te ouvir vão achar que você está amolecendo.’

‘Oh, é mesmo?’ Ela perguntou seriamente. Com um movimento rápido – mas cuidadoso – ela virou o corpo e deitou Maura no sofá, colocando seu corpo gentilmente sobre o dela. Sua mão alcançou a barriga da loira, e sem ter onde escapar, Maura estava condenada por um ataque de cócegas. Ela riu, tentou se livrar de Jane, riu mais, perdeu o ar. Quando suas bochechas ficaram vermelhas, Jane achou melhor parar. Talvez Maura estivesse sufocando. ‘O que você disse mesmo?’ Ela provocou.

Maura, obviamente, não conseguia falar. Ela ainda recuperava a respiração, e usou uma mão para limpar as lágrimas (dessa vez de tanto rir) do rosto. A morena esperou pacientemente, beijou seu queixo e se ajeitou em cima dela.

‘Até onde me consta,’ Maura começou, ‘oficiais não são autorizados a usar métodos de tortura, detetive.’ Ela provocou.

Jane estreitou os olhos. ‘Bem, esse na verdade é um método priorizado.’ Ela mentiu e riu em seguida. Depois acariciou o rosto da loira e beijou seus lábios. ‘Tudo bem, eu ficar assim com você?’ Ela perguntou se referindo a posição que estavam. Ela temia que Maura fosse, por causa do trauma, se sentir desconfortável por tê-la sobre seu corpo, praticamente prendendo-a ali.

Mas a loira concordou com a cabeça, sorriu e apertou seus braços em torno de Jane, trazendo-a ainda mais para perto. ‘Mais do que bem.’ Ela disse, porque a morena era, acima de tudo, proteção.

‘Agora,’ disse Jane, ‘olha para mim.’ Ela respirou fundo e beijou os lábios de Maura. ‘Presta atenção.’ Ela disse mais baixo e beijou os lábios de novo.

‘Uhum.’ Maura disse, suas mãos subindo e descendo nas costas de Jane.

‘Muita atenção.’ A morena disse, pousando dois beijos dessa vez.

‘Jane?’ Maura riu baixinho. ‘Você pretende dizer algo ou…?’

‘Eu estou usando meu método...’ Ela disse em segredo e, de novo, beijou Maura. ‘Para te distrair.’ Outro beijo. ‘E roubar vários beijos de você.’ E depois sua risada se juntou à da loira.

Jane se sentiu realizada – ela amava fazer a mulher feliz.

Maura se sentiu amada.

E de um instante para o outro, o sorriso desapareceu dos lábios das duas. Elas se olharam num segundo, se beijaram no próximo. Primeiro lentamente, como se tivessem todo o tempo do mundo. Depois, talvez porque os dedos de Maura pressionavam com um pouquinho mais de força nas costas de Jane, o beijo passou de algo inocente para necessidade carnal. Os lábios se cobravam com urgência. Exigência. Já fazia um tempo que Jane não tinha esse contato físico com Maura, e sua mente não conseguia bloquear o que o corpo sentia: a curva acentuada dos seios dela contra os seus, o modo como o corpo da outra respondia ao dela, como se tentando conseguir cada vez mais contato. Jane colocou a mão, tentativamente, em sua cintura. Dessa vez a mulher não se esquivou do toque, e então ela apertou os dedos gentilmente, arrancando um suspiro dela.

Maura não recuou. Em vez disso, sua mão segurou a nuca de Jane, e entre o beijo ela mordiscou-lhe os lábios. Era uma certa motivação. A detetive beijou-lhe o queixo, o contorno do rosto até o ouvido. Seu pescoço. Encontrou a parte dele que arrepiava a pele da loira e sugou ali. Maura arfou. Gemeu. Apertou os dedos na nuca de Jane para castigá-la, mas ela não se importou. Riu consigo mesma e voltou a beijá-la, impulsionada pelo desejo quase incontrolável de querer Maura, seu corpo – seu corpo nu – sob o dela.

Mas Maura ainda não tinha concedido. Ela estava sugando o lábio inferior de Jane agora, mas – Jane! Ela não te deu consentimento! – a morena precisou se lembrar de novo e de novo.

‘Maura.’ Ela disse, dessa vez se afastando. Era melhor que ela tentasse recuperar o controle sobre si mesma agora. Um pouco mais dessas provocações e ela não sabia onde aquilo iria parar. Ela descansou o rosto no peito da outra e respirou fundo algumas vezes.

‘Eu não estava reclamando.’ A loira ofereceu, acariciando sua cabeça.

Jane não tomou aquilo como convite para continuar, nem mesmo voltar a beijá-la. De novo, ela precisava controlar aquilo que sentia. Elas precisavam conversar sobre aquilo primeiro, antes de tentarem qualquer coisa. Havia tanto acontecendo com Maura no momento que a detetive não sabia se ela poderia lidar com mais esse assunto.

Depois de se acalmar, Jane levantou o rosto para encará-la, com um sorriso maroto nos lábios. ‘Eu posso arrancar tua roupa, bem agora, e fazer amor com você?’

O choque no rosto da outra fez a detetive rir, mas ela ainda lançou um olhar significativo para a loira. Era isso que aconteceria, se dependesse apenas da vontade dela. Mas não dependia, e ela respeitava Maura. ‘Você sabe que eu quero. E você sabe também que eu não vou te forçar.’ Ela disse e beijou, dessa vez carinhosamente, os lábios da mulher.

‘E se eu disser que quero isso? Agora?’ Maura retrucou, especulando.

Jane considerou, mordeu a parte interna do lábio para se lembrar do controle que tinha que manter. ‘Maura, você precisa me dar uma boa razão para que eu não ache que se a gente fizer isso, você vai acordar arrependida, se sentindo invadida, confusa ou, por Deus, com medo de mim.’ Ela disse seriamente enquanto acariciava a cabeça da outra.

‘Eu não tenho medo de você.’ Ela devolveu imediatamente, na defensiva.

Jane suspirou e beijou sua bochecha. ‘Me dê um bom motivo. Nós conversamos sobre isso e decidimos juntas.’ Ela insistiu.

‘Eu não quero… Te privar disso.’ Maura murmurou a confissão.

Jane encheu seu rosto de beijos, achando a colocação bem fofa, mas desnecessária. ‘Não se preocupa com isso. Eu disse que vou esperar, e eu vou.’

‘Mas você está em abstinência.’ Maura observou.

Jane riu baixinho e revirou os olhos. ‘Maura, eu não vou dormir com outra pessoa apenas pelo prazer de uma noite, se é isso que te preocupa.’

A loira encolheu os ombros, mordeu o lábio inferior.

‘Quando você tiver um bom motivo.’ Jane disse de novo, brincando com seu cabelo. Seus olhos estudaram o rosto de Maura, e… ‘Ah, não.’ Ela congelou.

‘Ah, não? Ah, não, o que, Jane?’ Os olhos verdes se abriram bem em preocupação.

A morena correu um dedo pelo pescoço da mulher e abriu um sorriso forçado. ‘Pode ser que você tenha uma marca roxa bem aqui.’ Ela disse enquanto massageava com o dedo o lugar.

‘Jane!’ Maura quase gritou, repreendendo-a.

‘Ei, você mesma disse que não estava reclamando!’ Ela se defendeu, mas Maura beliscou seu braço. ‘Além do mais, sua pele é muito branca.’

Maura abriu a boca, escandalizada. ‘Essa é a tua desculpa, Jane Clementine Rizzoli?’


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "-" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.