- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 3
Três




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Jane não se surpreendeu ao notar uma policial mulher no corredor na saída de seu apartamento. Ela era alta e magra, cabelos pretos como os de Jane, mas os olhos eram claros como caramelo, carregavam uma expressão suave. Ela acenou a cabeça para a detetive, sorriu-lhe gentilmente. Aparentemente Jane era conhecia por todo mundo na delegacia - não por sua simpatia, mas por ter sido pregada no chão com bisturis, por um psicopata. A detetive retribuiu o gesto de cabeça, mas não fez questão de um sorriso.

Dirigir até a delegacia tinha sido a atividade mais rotineira que iria lhe acontecer aquele dia. Ela poderia chegar lá de olhos fechados, tanto já havia feito o mesmo caminho por anos. Ela afastou o blazer e mostrou o distintivo - mostrar as palmas da mão poderiam ser útil, quem sabe? - e foi liberada para subir para o andar que trabalhava.

'Frost.' Ela quase gritou do outro lado do piso ao ver o amigo sentado na mesa e digitando no computador. Ele endireitou a coluna e suspirou, sabendo o que vinha pela frente. 'Eu não sou nenhuma psicóloga. Também não sou nenhuma vidente!' Ela exclamou e se jogou numa cadeira ao seu lado.

'Ok, o que houve?' Ele perguntou cansado. Ele não se sentia encorajado a instigar uma briga com Rizzoli, mesmo que não fosse a do tipo séria como eles faziam apenas para se provocarem.

'Vou te lembrar: ontem a noite você deixou uma mulher na minha casa, que tal isso?' Ela cruzou os braços da frente do peito, emburrada.

'Eu só estava seguindo ordens, Jane. Kendra me ligou, depois de falar com Cavanaugh. Eu fiz o que me pediram.'

'Kendra? Ela não é... da divisão de vítimas especiais?' Jane franziu o cenho, confusa.

Frost ergueu as sobrancelhas como se disesse não é que você é esperta?

'Ok. Eu tô perdida aqui Frost. Você pode me iluminar?' Ela suspirou também. Hoje era seu dia de folga, e ela nem deveria estar ali.

'O caso dela - Maura - não é nosso. Mas se você quer saber o necessário, aí vai: ela foi sequestrada há um pouco mais de um mês atrás. O cara mantinha ela em sua casa imunda, numa fazenda longe da cidade e bem isolada. Ela conseguiu fugir, quer dizer... Até a beira da estrada, isso é. Depois de lá ela andou por não se sabe quanto tempo - ela acha que algumas horas - até que um motorista encontrou ela e a levou imediatamente para o hospital.' Frost despejou tudo de uma vez e ela tentava colocar a informação em ordem na sua cabeça.

'Ela matou o cara ou coisa assim?' Ela disse por impulsivo e hábito, mesmo que o amigo já tivesse lhe dito que o caso dela estava sendo cuidado pela divisão de vítimas especiais, e não homicídio.

'Não, Jane. Ela apenas fugiu. O cara tá desaparecido, e é por isso que ela precisa ficar sob os olhos de algum dos nossos agora.' Frost voltou então a digitar algo no computador e depois olhou novamente para ela. 'Se você quiser saber mais, sugiro que vá até o andar de cima.'

'Ei, por que eu? Frost, eu não posso lidar com ela!' Jane dispensou o convite do amigo, querendo desesperadamente se livrar daquela mulher que parecia traumatizada demais.

'Ela vai receber tratamento necessário. Você só precisa ficar de olho nela e guarantir de que ninguém a encontre, e talvez dirigir e levá-la em alguns lugares.' Por ninguém ele quis dizer o sequestrador.

Jane quase jogou a cabeça para trás e riu. Quase, porque Frost estava falando sério e... 'Eu não quero ser babá de ninguém. E outra, por que eu? Por que não você, ou Korsak, ou até mesmo meu irmão? Não isso não seria uma boa idéia, ele é um idiota. Ok, alguém lá de cima.' Ela disse a última parte imitando a voz de um canto celestial. Frost riu, mas balançou a cabeça em negativo.

'Jane, ela mal chegou perto de mim ontem, lembra? Você acha mesmo que ela vai ficar confortável na casa de um homem? Você é a única mulher por aqui capaz de recebê-la.'

'Eu? Ei, que tal uma das super heroínas lá de cima?' Ela apontou para o teto, mas implicando o terceiro andar.

'Vamos ver.’ Frost fez uma pausa dramática. ‘Nicole mora com o namorado.' Ele disse como se fosse óbvio, pensando em uma das poucas mulheres que trabalhavam na BPD capazes de cuidar de alguém como Maura Isles nesse momento.

'Merda. E a Kendra? Deus, ela me dá arrepios, mas quem sabe ela não é um pouco mais simpática fora do trabalho?'

'Jane, Kendra é simpática. E ela tem o pai morando com ela. Ele tem cancer e ela cuida dele quando não está trabalhando.' Frost a informou.

Jane tinha certeza que todo mundo tinha um motivo justificável para não receber Maura - menos ela. Em uma rápida retrospectiva da conversa, Jane se levantou ao se dar conta de algo e se despediu de Frost.

'Vou lá no andar de cima mesmo. Até mais!' Ela saiu e nem esperou pela resposta.

Quando a porta do elevador se abriu, Jane sentiu que todas as cabeças se viraram para ela. Irritada com o costume, ela revirou os olhos, colocou a mão na cintura e perguntou em voz alta. 'Com quem posso discutir o caso da Maura Isles?'

Uma voz soou atrás de si. Jane sentiu os cabelos da nuca arrepiarem. 'Comigo.' Ela se virou para trás apenas para encontrar - Deus me ajude, ela pensou - Kendra Coleman parada atrás de si, um envelope marfim nas mãos. Ela era loira, o cabelo tão claro como a cor de milho novo, olhos azuis e afiados, e mais alta do que Jane - o que era bem raro.

'Certo.' Ela não sabia que a detetive estava lá. Jane coçou a nuca e apontou o dedo para a mulher, depois para ela. 'Uma palavrinha?' Ela perguntou desconfortável, e quando a mulher balançou a cabeça em sim, Jane esperou que ela se movesse para só então segui-la. A detetive observou como a outra andava com confiança e a passos duros. Ela era dona de si, não era o tipo de mulher que aceitava desaforos e, diferente de Jane que sempre retrucava as pessoas com sarcasmo, Kendra retrucava com a mais afiada verdade - ela era muito mais madura do que Jane, apesar de ter cronológicamente a mesma idade. E era por isso que Jane Rizzoli reconhecia a mulher como uma ameaça, as vezes, e se sentia minúscula perto dela.

'Imagino que você esteja querendo ser informada sobre ela.' kendra disse depois que entrou em seu escritório - caramba, ela tinha um escritório só para ela? - e fechou a porta. Indicou uma cadeira para Jane e separou um outro envelope, entregando em suas mãos. 'Aqui tem parte do que você precisa saber.’

Jane leu rapidamente os papéis, olhou as fotos. Em cada imagem ela apertava o papel com mais força nas mãos. As costas, barriga e braços... Todos carregavam hematomas. O punho direito estava enfaixado - coisa que Jane também não tinha visto na noite anterior. Talvez não fosse uma fratura, apenas um corte ou... queimadura? Ela esfregou a testa com os dedos e respirou fundo. 'Ela foi... Ela foi abusada sexualmente?' Jane mordeu a parte de dentro da bochecha, rezando para que não.

A loira considerou a questão por um segundo, respondendo depois de colocar com cuidado a caneta que segurava em cima da mesa. 'Ela sorfreu certo tipo de abuso, mas não houve penetração.’

Jane franziu o rosto e se encolheu com a palavra. ‘O que isso significa, necessariamente?’

Kendra suspirou, cruzou as mãos sobre a barriga. ‘Vamos apenas dizer que... Ele ainda podia usar as mãos.' Ela deu a informação clinicamente.

Jane se levantou incomodada e apertou uma foto na mão. 'Merda, você disse não. Se ele usou a mão, isso conta como algo, não conta?' Ela disse furiosa, primiero porque Hoyt acabara de passar em sua cabeça, e segundo porque Jane não perdoava esse tipo de crime.

'Poderia ter sido pior, pense nisso. Você sabe tão bem quanto eu.' Ela disse friamente, como se castigando Jane por choramingar como criança.

A morena correu os olhos pelo relatório médico. Desidratada, mal nutrida, cortes e hematomas e arranhões. Nada novo, ela pensou. 'O que eu devo fazer? Droga, eu não tenho o treinamento que você tem!' Jane resmungou, colocando as fotos e papéis de volta no envelope.

'Rizzoli, essa mulher ficou por mais de um mês sofrendo nas mãos de um agressor. Ela passou dois dias no hospital e ela não pode voltar para casa agora, não enquanto tem um maníaco solto por aí, possivelmente atrás dela.'

'Ela não tem família por aqui?'

'Não.' Ela fez uma pausa. 'Ela precisa da nossa proteção, Jane. Eu não posso levá-la comigo, e colocá-la em um abrigo só traria mais perturbação para ela.' Ela disse seriamente, e Jane balançou a cabeça em compreensão.

'Eu entendo, entendo mesmo, mas Coleman, eu não...'

'Você não tem treinamento', ela completou e abriu um sorriso. 'Rizzoli, você mesma passou por um trauma, e tenho certeza que por empatia pode lidar com ela melhor do que eu que tenho tantos treinamentos.

A morena suspirou, vencida pela outra. 'Certo. Certo...' Ela repetiu e colocou as mãos no bolso. 'Algo mais que devo saber?'

'Eu vou te visitar no final da tarde, quero ver como ela está indo.' Ela informou simplesmente, sem nem mesmo querer saber se era bem-vinda.

Jane segurou-se para não revirar os olhos. 'Tudo bem, mas traga a cerveja.' Ela disse se levantando.

'Eu bebo vinho, e você tecnicamente está trabalhando, então nada de ingerir cerveja quando ela estiver por perto.'

Jane quase riu porque 'quando ela estiver por perto' significava o dia todo, todos os dias, enquanto a loira ficasse por lá.


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