- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 26
Vinte e seis




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/716855/chapter/26

 

Jane se ajoelhou na cama e estudou Maura. A mulher dormia profundamente sobre a fraca luz da manhã que esgueirava-se entre a fresta da cortina. Ainda era cedo, e cortava o coração de Jane fazer isso, ainda mais considerando que a outra tinha acordado duas ou três vezes no meio da noite - acordando-a também, apenas porque se enroscava em seu corpo, abraçando-a, apertando-a em seus braços como se não quisesse se perder em seus medos, pensamentos sombrios, como se eles pudessem arrastá-la pelos pés para longe dali - só que se ela deixasse que a loira dormisse até tarde, ela sabia muito bem o que iria acontecer: Maura acordaria parecendo uma zumbi, depois ficaria irritada por pensar demais sobre a morte de Kimberly, depois se calaria em silêncio, e à noite ela não deixaria Jane dormir antes da meia-noite porque não estaria com sono e iria querer a companhia dela.

Não. Sem chances. Jane iria evitar tudo isso preenchendo seu dia com coisas a se fazer. Ela levou a mão no ombro da loira e chamou baixinho. 'Maura?' Nada. Ela chamou mais duas ou três vezes até que a outra se remexeu, rolou para o lado e abraçou o travesserio. Agora seria mais seguro se Jane se inclinasse e beijasse seu rosto. 'Ei, bom dia.' Ela disse, afastando uma mecha de cabelo dourado para o lado. Beijou demoradamente sua bochecha, depois seu pescoço, queixo, e continuou beijando-a até que ela acordasse completamente.

'O que eu fiz para você?' Maura resmungou, jogando a cabeça para o lado, deixando seu pescoço livre para Jane.

'A pergunta é: o que eu fiz para você.' A morena retrucou, rindo de leve e beijando seus lábios.

'Hm?' A outra franziu o cenho, perdida.

'Café da manhã, Maura. Mas você só recebe se sair da cama.' Ela se sentou agora, as mãos de Maura que estavam em suas costas caindo de volta para o colchão.

'Você me acordou para dizer que fez café para mim, e nem sequer trouxe ele para cama?' Ela se apoiou nos cotovelos, e Jana sabia que aquela pequena irritação não deveria durar mais de trinta minutos.

'Mais ou menos isso.'

'Eu não quero sair daqui. Eu só quero ignorar o mundo por mais uns... cinco dias.' Ela se jogou de novo e se cobriu.

Ignorar o mundo? Jane pensou. Bem, ela poderia fazer isso também. Sorrido, com uma nova idéia, ela beijou mais uma vez o rosto de Maura e se levantou. 'Escove seus dentes e me encontre daqui 20 minutos.' Ela ordenou. Viu Maura revirar os olhos em irritação e cobrir a cabeça. 'Vinte minutos, Maura Isles, ou eu vou aparecer aqui para tirar você da cama, eu mesma!'

E durante esse período de tempo, ela colocou seu plano em ação.

...

Maura abriu os olhos pela segunda vez naquele dia, a luz fazendo com que eles se fechassem mais uma vez por conta da claridade. Ela rolou para o lado, e apertou o travesseiro em cima de sua cabeça. Jane não estava brincando quando disse que queria ela fora do quarto em vinte minutos. Agora ela gritava da cozinha, 'Maura, Maura, Maura, acordaaa!' e aquilo estava deixando ela louca. Ela respirou fundo e jogou o travesseiro para o lado, sentou-se na cama.

'Me dê mais um minuto!' Ela retrucou, emburrada. Andou até o banheiro arrastando os pés, como se fosse a tarefa mais difícil de sua vida. Ela nem tinha certeza se estava de fato acordada ou sonhando. Escovou os dentes, lavou o rosto. Quando se sentiu mais acordada checou seu pijama e se perguntou se deveria tirá-lo. Não, ela disse para si mesma, hoje não há nada que me faça me livrar deles. Ela franziu para os pés que agora só tinham uma meia - a outra deveria estar perdida em baixo do cobertor - deu pouca importância à isso e caminhou até a sala.

Ela parou subtamente no fim do corredor e espremou os olhos para o que viu. Jane estava: a) tentando remobiliar a casa ou, b) tentando e falhando terrivelmente numa nova decoração ou, c) explodido a máquina de secar roupas.

'Jane, o que é isso?' Maura apontou para a sala, impressionada.

'Uma cabana, oras!' A morena exclamou e Maura só a localizou quando seguiu sua voz. Ela estava ajoelhada no chão, jogando travesseiros para dentro da sua mais nova construção.

'Uma cabana feita de... lençóis brancos.' A loira analizou com uma sobrancelha erguida, duvidando da sanidade de Jane agora.

'Espera. Vai me dizer que você nunca fez uma dessas quando crianças?' A detetive perguntou seriamente.

'Não.' Maura murmurou, ajeitou o cabelo atrás das orelhas.

'Certo, você precisa entrar aqui.' Jane disse.

Maura não sabia como ela tinha montado aquilo em tão pouco tempo. Aparentemente ela tinha usado as costas do sofá, a beirada da mesa e, aquilo eram vassouras?, para segurar a estrutura. Ela se colocou de quatro e seguiu a outra para dentro do ambiente. Era claro, o chão agora era macio por ter dois edredons dobrados, vários travesseiros espalhados ao redor. O espaço não era grande, logo Maura teve que se deitar e se encolher ao lado da morena. Ela tinha que confessar de que se sentia diferente ali. Segura, como se tivesse entrado num universo paralelo, quem sabe uma parte do mundo que só ela, e Jane, tivessem a chave para guarantir acesso. Era pacífico, e ela respirou contentemente com a sensação.

'Bem, eu tenho que admitir que é ainda melhor do que o teu Forte.' Ela murmurou.

A cabeça de Jane apareceu ao seu lado, parecendo escandalizada. 'Nada é melhor do que o Forte, Maura. Na-da. Isso é apenas um trabalho amador.' Ela disse seriamente, apontando para a tenda, e Maura mordeu o lábio inferior para não rir.

'Certo, eu não quis diminuir a grandeza do Forte.' Maura ofereceu. Isso pareceu agradar Jane, que se deitou ao seu lado de novo. A morena passou o braço em baixo do seu pescoço e Maura se aconchegou nela. 'Eu tenho que perguntar, entretanto... Por que isso tudo?' Ela riu baixinho.

Jane encolheu os ombros, beijou sua testa. 'Você disse que queria fugir do mundo. Eu costumava fazer um desses todas as vezes que queria ficar sozinha. Não é fácil ter dois irmãos, você sabe.'

Maura apertou seu corpo contra o dela, ela nunca parecia estar perto o suficiente. 'Awn, Jane. Se te faz sentir melhor, não é tão legal ser a filha única também.' Ela ofereceu como conforto.

Jane afastou-se um pouquinho para olhá-la. 'Você é filha única?'

Ela balançou a cabeça em sim. 'Sou. Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, minha família.'

A morena estalou a língua. 'É por isso que você gosta tanto de ser mimada.' Ela provocou.

'Perdão?' Maura perguntou com a voz uma oitava acima do normal.

'Maura, você pediu por café da manhã na cama. Pelo amor de Deus.' Jane riu e beijou a bochecha dela.

'Que tipo de pessoa acorda alguém na cama, diz ter feito café e nem sequer traz consigo?' A loira rebateu. 'E por falar nisso, eu ainda nem vi sinal dele.'

'Viu, só? Mimada.'

Maura revirou os olhos e deixou para lá. Ela sabia que Jane estava só provocando e não iria comprar a briga ridícula de sempre. Em vez disso, ela inclinou-se sobre a morena e beijou-lhe os lábios. O que começou com um beijo inocente acabou virando algo mais profundo, abrindo portas para outros desejos. Maura não hesitou em passar seu corpo por cima de Jane, como já fizera outras vezes, e beijá-la até perder o fôlego, e depois de novo. E mais uma vez. Entre toques inocentes e suspiros, era ela agora quem estava por baixo, Jane pressionando seu corpo delicadamente sobre o dela. Maura fechou os olhos quando os lábios macios de Jane pousaram em seu pescoço, a sensação era deliciosa, fazia seu coração acelerar exatamente do jeito que ela gostava, e justamente por isso ela tinha que se cuidar para não deixar-se perder. Ela sabia, como tinha dito a Jane, que não estava preparada para o próximo passo, não ainda. Ela suspirou feliz quando os lábios da outra se encontraram com os seus, e não querendo que aquele beijo terminasse tão cedo, passou os braços em torno do pescoço da mulher. Jane sorriu nos seus lábios e depois beijou seu queixo, apenas para torturá-la um pouquinho, com a promessa de que a beijaria de novo e de novo, se ela apenas pudesse suportar tudo o que seu corpo sentia agora por prolongado tempo. A loira fechou os olhos, Jane mordiscou seus lábios. Ela sorriu e apertou suas mãos na cintura da outra. Jane deslizou a língua para dentro de sua boca num beijo lento e carinhoso. Então, inclinando a cabeça para trás, Jane beijou e mordiscou seu pescoço. Alguma coisa aconteceu tremendamente errada, porque tudo o que Maura viu quando fechou os olhos de novo foi Kimberly, a cabeça caída para o lado como se tivesse sido enforcada.

'Não!' Maura gritou, sobressaltando-se. Seu corpo tremia violentamente agora, e Jane parecia tão assustada quanto ela.

'Maur, o que aconteceu? Eu fiz alguma coisa de errada?' Ela estava afastada numa distância que Maura sabia que era segura, assim como ela tinha ensinado Jane a fazer.

'Não é você, não é você.' Ela continuou repetindo e segurou os braços de Jane, implorando para que acreditasse nela. Depois ela se sentou e levou as mãos no rosto, envergonhada. 'Não é você, é esse... essa coisa. Eu não consigo me livrar dessa sensação, não consigo parar de pensar nela, e quando eu consigo, ela me assombra do nada.' Ela inspirou profundamente, sentindo seu coração voltar ao normal. 'Você não fez nada de errado.' Ela disse finalmente, e droga, ela estava cansada. Cansada de pensar no que poderia ter acontecido com ela, cansada de se sentir enjoada, de pensar em Kimberly. Ela se sentia tão frustrada. Ela sabia que o processo de recuperação levava tempo, energia investida. Ela desejou que pelo menos uma vez, por um dia inteiro, esses fantasmas parassem de lhe assombrar. Ela chacoalhou a cabeça e focou-se no presente. 'Jane, você pode deitar comigo de novo? Eu não quero que isso fique entre nós.'

Para seu alívio, a morena segurou em sua cintura e deitou-se sobre o edredom, carregando Maura consigo e aninhando ela em seu abraço. 'Isso não está entre nós, Maur. Qual é?! Eu tô aqui justamente pra te fazer sentir melhor.' Ela beijou a testa dela.

Maura sorriu e deslizou seus dedos na bochecha da outra. 'Nós podemos voltar para a parte que você beija na boca?' Ela sussurrou, rindo no final.

'É a minha parte favorita, já te contei?' Jane apertou os braços na sua cintura e beijou-lhe docemente os lábios. Maura se entregou de novo aos toques da outra. Aquela sensação que pinicava sua pele tinha reaparecido no momento em que Jane lhe abraçara. Ela precisava dos toques, do contato. Ela precisava do corpo de Jane sobre o seu, pressionando sua barriga e seus seios. Ela pensava que poderia haver uma mínima possibilidade de ela pedir para Jane lhe arrancar a roupa, amá-la e terminar tudo bem. Entretanto, ela sabia que no momento em que ela se sentisse exposta, no momento em que Jane tocasse outras partes de seu corpo, ela iria recuar. Ela não queria frustrar a morena. Ela não conseguiria lidar com sexo agora, não enquanto não tirasse as mãos suas do outro de sua mente. Kimberly tinha sido abusada, e ela não era Kimberly, mas ela estava lá também, na fila de espera. Ela seria a próxima. Oh, meu Deus. Ela tinha que parar de pensar nisso ou iria enlouquecer. Ele não estava mais trancafiando ela. Ela estava nos braços de Jane, sentindo seus lábios macios pressionando contra sua pele, sua respiração quente no pescoço, arrepiando seu corpo todo. A morena beijou sua boca mais uma vez, e Maura sentiu aquela sensação na barriga quando abriu os olhos e viu Jane encarando seu rosto, seriamente. Oh, ela era linda. Parecia tão sexy assim, o cabelo emoldurando o rosto, os olhos carregando uma mistura de desejo primitivo e ternura.

'Você vai ser meu fim.' Maura sussurrou, rindo.

'Por que... você vai se acabar em mim?' Jane brincou, levantando e abaixando várias vezes as sobrancelhas.

Maura riu e acariciou seu rosto. 'É o que eu pretendo.' Ela disse baixinho, acariciando os lábios da outra com o polegar.

Jane fez um som com a garganta, como se analizando o que ela disse. O som gutural arrepiou sua pele, e droga, Maura queria tanto as mãos dela no seu corpo. Tudo o que a outra fez, entretanto, foi se inclinar e beijar inocentemente seus lábios.

'Eu não quero colocar você contra parede. Eu não vou te pressionar.' Ela disse.

Maura franziu o cenho para ela. 'Eu esperava que você me colocasse contra parede pelo menos uma vez.' Ela sorriu maliciosamente e riu quando Jane revirou os olhos.

'Escolha errada de palavras, eu sei. E desse jeito,' ela apontou um dedo para a loira, 'fica difícil de me controlar.'

Maura riu mais uma vez, sentindo seu coração dobrar de tamanho. Era claro que Jane queria ela, mas sendo a mulher que era, conteria os próprios desejos em nome do respeito por ela. E por falar em desejos... 'Jane,' ela apertou a mão no ombro da outra, 'eu estou morrendo de fome.'

Jane se sentou do seu lado e apontou para a tenda. 'Jane não sair da cabana hoje. Jane só beijar Maura.' Ela disse assim como os índios fazem, arrancando de Maura uma gargalhada.

'Jane! É sério. Eu preciso mesmo comer.' Ela choramingou.

A morena colocou a cabeça para fora da tenda, depois para dentro. 'Tá chovendo lá fora, é melhor ficar aqui dentro.' Ela riu e inclinou-se sobre Maura, beijando seu rosto. 'Eu fiz algumas panquecas.' Ela ofereceu.

Maura franziu o nariz e balançou a cabeça em não. 'Eu não quero arriscar com esse meu estômago. Iogurte?' Ela negociou.

'Serve, mas mais tarde você tem que prometer que vai comer algo mais.'

'Eu prometo.' Ela se sentou, beijou carinhosamente o rosto da morena. 'Obrigada.' Ela sorriu ao acariciar o rosto de Jane com a ponta dos dedos. Aquela sensação era algo que não tinha conhecido antes; era se sentir a pessoa mais importante do mundo, pelo menos para alguém. Semanas antes ela olhava para Jane e a estudava enquanto ela cozinhava algo, falava no telefone com alguém. A morena acabou por ser a pessoa que Maura imaginava: gentil, cuidadosa, dedicada. Quando ela conversava com Jane, era como se tivesse sido notada pela primeira vez. Não importava o que ela estivesse dizendo, a outra fixaria os olhos nela, ignorando o resto do mundo. Mesmo quando Jane não podia resolver seus problemas, ela estava escutando, ela estava bem ali ao seu lado, e aquilo era o suficiente. Maura não se sentia mais sozinha, deslocada.

'O que foi?' A detetive perguntou quando o silêncio se prolongou por tempo demais. 

'Nada.' Maura murmurou, desviando o olhar mas sorrindo.

'Bem, é melhor eu alimentar você. Você fica bem mal humorada quando não come.' Jane brincou e beijou sua bochecha antes de começar a engatinhar para fora da tenda.

Marua revirou os olhos e disparou, 'Jane, só para você saber: eu nunca fui mimada. É você que está me deixando assim.'

A morena virou a cabeça em sua direção e sorriu orgulhosamente. 'E  eu tenho, de propósito, feito um bom trabalho.' 

Ela desapareceu para fora do abrigo, deixando Maura com um sorriso imenso no rosto, a mão sobre o coração. Ela não gostava de Jane. Ela estava se apaixonando por ela, mais e mais. Tão rápido e imprudente, isso o que Jane fazia a lançava nas nuvens, e Maura não sabia voar, mas dane-se, porque até onde lhe constava, Jane jamais deixaria que ela caísse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pra quem tem interesse, temos um grupo de R&I no facebook. Colo spoilers la, pra quem gosta de sofrer parcelado hahahaha
https://www.facebook.com/groups/RandIBRgroup/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "-" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.