- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 15
Quinze


Notas iniciais do capítulo

Perdoe a escritora aqui que não sabe esperar para postar cap. Esse é o eu preferido até então ♥ Me digam o que vocês acharam!



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Apesar de ter dito que chegaria as 9:30, Jane acabou chegando quinze minutos mais tarde. Ela e Maura tinham começado a conversar sobre o pronuciamento de Kendra e acabaram de algum jeito falando sobre onças em extinção. Agora que Jane se lembrava do rumo da conversa, ela riu sozinha enquanto batia na porta do apartamento de Kendra. Apenas Maura tinha essa capacidade de mudar de assunto tão depressa. Durante todas aquelas horas ela fora capaz de esquecer da urgência em falar com a outra detetive.

Quando Kendra abriu a porta, Jane sabia que alguma coisa ruim tinha acontecido naquele dia. A mulher parecia exausta, como alguém que estuda equações matemática por três dias seguidos sem dormir, a base de café.

'Jesus, o que aconteceu com você?' Jane tentou brincar, mas quando a outra não sorriu ela sentiu o próprio coração bater mais forte no peito. Seu primeiro pensamento foi a pequena figura em sua casa que insistira que dobrar roupas nessa hora da noite seria relaxante. E foi logo a questão que ela fez. 'É algo relacionado à Maura?'

'Entra.' Foi tudo o que ela disse, esperou que Jane entrasse e trancou a porta atrás de si.

Aterrorizada, Jane pressionou-a mais uma vez. 'Caramba, Kendra. Apenas responda. Tá tudo bem em relação à Maura?'

'É o que me pergunto todo dia quando me lembro que você é quem cuida dela.' A mulher rebateu e chacoalhou a cabeça para espantar o olhar quase ofendido e muito afiado de Jane. 'Esquece, era só para ser uma brincadeira. Ela tá bem, mas nós precisamos conversar sobre algumas coisas.' Ela segurou duas garrafas e mostro-as para a morena. 'Vodka ou uísque?'

'Cerveja...?' Ela arriscou.

'Não vai rolar, eu acabei com elas ontem.' Ela se desculpou com um levantar de ombro.

'Uísque, que seja.' Jane se sentou na cadeira da cozinha e só então notara a casa por dentro. Era pintada de um tom verde claro, mas fora isso nada era extraordinário. A decoração era simples e distante, nada que revelasse muito sobre a personalidade de Kendra. A julgar pelo número de plantas e animais na casa - nenhuma, até então - ela se perguntou se aquele lugar refletia Kendra por dentro. Não muito cheia de vida, distante das pessoas. Aquilo não podia ser totalmente verdade porque Jane assistira a interação dela com Maura e tinha sido ótima. Enquanto ela divagava, mal notara que a outra se sentara na sua frente, apenas se deu conta quando o copo tinha deslizado e batido levemente em sua mão.

'Eu sei que você tá ansiosa, então vou contar tudo o que sei logo. Hoje a tarde nós mandamos uma viatura para a casa em que Maura tinha sido refém. Era apenas para fazer uma varredura do lugar, verificar se ele tinha aparecido por lá. Quem sabe? Um pouco antes de você aparecer, Mark, um dos policiais que estão lá, chamou pelo rádio dizendo que tinha encontrado alguém.' Ela abaixou os olhos e engoliu parte da bebida. Chacoalhando a cabeça de um lado para o outro, como se lamentando a morte de alguém querido, ela disse as palavras que tiraram o ar dos pulmões de Jane. 'Ele e Neil, você sabe, o loiro que acabou de ser promovido como o parceiro dele, encontraram uma outra mulher. Não no mesmo prédio que Maura, em outro. Pelo que entendi é uma garagem para veículos maiores, e ela estava lá. Acorrentada. Ela mal se mexia quando eles a socorreram, Jane.' Ela adicionou a última parte com gravidade, os olhos distantes e tristes.

'Que diabos.' Jane murmurou, segurando com força o copo na mão. 'Como eles não acharam ela na primeira vez que desceram lá?'

Kendra deu de ombros. 'Ninguém pensou que teria outra pessoa tão longe da casa, Jane. Esse prédio é bem distante. É uma boa andada até lá.'

'Ninguém se importou em checar? Que droga, Kendra! Isso deveria -'

'Jane, todos nós perdemos de ver a construção da outra vez. Eu estive lá, me escuta. A casa e esse prédio ficam longe um do outro e com acréscimo o prédio ainda fica numa depressão do terrreno, o que o deixa ainda mais fora de vista. Eles só descobriram hoje porque fizeram um caminho diferente. Em vez de seguirem pela rodovia, como estrada principal, eles pegaram um desvio que contorna o terreno.'

'Me parece negligência.' Jane resmungou, mas então Kendra se levantou repentinamente, agarrou um envelope amarelo de cima da bancada da cozinha e trouxe de volta para ela.

'Google Maps. Dá uma olhada.'

Jane deu. Realmente, considerando a distância mostrada pelo satélite e a distribuição das estradas, alguém poderia ignorar a existência de um segundo prédio naquele terreno imenso.

'Merda.' Ela resmungou ao jogar o papel na mesa e bebericou o uísque de novo.

'Tem mais.' A outra murmurou.

É claro que tem, e não deve ser nada bom, Jane pensou e lhe lançou um olhar sombrio.

'Nós mandamos cães farejadores para checar por corpos.'

A morena arregalou os olhos e endireitou a postura. 'Você acha que tem corpos?' Não é como se ela quisesse que encontrassem algum, é só que se encontrassem ela entraria nas investigações e poderia ficar por dentro de todo o caso envolvendo Maura.

Kendra deu de ombros mais uma vez. 'Quem é que sabe? Nós já quase perdemos algo importante.' Ela disse com amargura, como se a culpa de não ter encontrado a segunda mulher sequestrada fosse inteiramente dela.

Jane se sentiu mal porque ela sabia como era ter todos pressionando por resposta, pelo fechamento de um caso. Erros, ainda que não fossem cometidos por negligências, eram mais apontados do que os acertos, principalmente na divisões de vítimas especiais, onde o tempo corria contra eles, e a vítima poderia morrer no próximo segundo, ou no minuto perdido por más decisões.

'Kendra, isso não foi culpa tua. Você mesma disse que era impossível adivinhar que tinha outro prédio lá.' Ela tentou confortá-la.

'Ás vezes nós tentamos tanto salvar as pessoas, mas é em vão.' Ela disse com tristeza, brincando com os dedos em torno do copo.

Jane se lembrou de quando Frost contou que o pai de Kendra tinha cancer. Ela sentiu o estômago apertar, querendo desesperadamente dizer algo para fazê-la sentir-se melhor. Nesse caso, ela não tinha. O que Kendra dissera fazia todo o sentido e soava verdadeiro. Ela tentou uma piada, então.

'Eu que o diga. Você ainda tem chance de resgatar alguém, eu tenho que lidar só com os mortos, e nada mais. Me faz até pensar que a tua divisão é mais bacana que a minha.' Ela fingiu estar mal humorada, fazendo cara feia.

Kendra riu levemente e ergueu o copo no ar. 'Vamos brindar às nossas virtudes. As falhas que se danem.'

As duas riram, brindaram e viraram o último gole. Dessa vez foi Jane quem fez a gentileza de encher novamente os copos. Depois do silêncio da espera pela bebida, Kendra segurou o copo na mão, girou gentilmente o líquido dentro e falou de novo.

'Como está Maura, Jane?'

A morena sorriu e encolheu ligeiramente os ombros. 'Ela tá... tentando, Kendra. Dias ruins, dias bons. Embora os dias bons não sejam completamente bons, se é que você me entende.'

'Oh, eu entendo.' Ela murmurou.

Jane fez um barulho com a boca, como se duvidasse, mas então mudou um pouco de assunto. 'Eu ainda não acredito que você disse aquilo para ela.' Ela reclamou.

Kendra observou-a por todo um minuto. Jane não se sentiu julgada, era mais como se a outra estivesse pensando em algo, decidindo o que dizer ou não.

'Jane, você por acaso... procurou pelo nome dela no Google? Você sabe quem ela é?'

A morena estreitou os olhos e depois riu. 'Vai me dizer que eu tenho uma pessoa famosa dentro de casa e não sabia? Jesus, eu não esperava por essa. Ela é o que? Modelo? Atriz? Trabalha em algum canal de TV que não sei?' Ela bebericou o líquido de novo, e sem dúvidas ele começava a fazer efeito.

Kendra riu um pouquinho e depois balançou a cabeça. 'Não, Jane. Doutora Maura Isles, chefe do hospital geral de Boston.'

Jane congelou imediatamente. Ela piscou os olhos repetidamente e inclinou o corpo para frente. 'O que?'

'Isso mesmo que você ouviu.'

'Espera. Mas como ninguém a reconheceu no...' Agora que ela se deu por conta. Maura não tinha sido internada no hospital geral, mas em um pequeno hospital particular. Abobada, sua boca permanecia aberta e nada passava pela sua cabeça. Até que... 'Como eu não sabia disso antes? Quer dizer, sério? Ninguém poderia ter me dito?'

A outra ergueu as sobrancelhas. 'Faria diferença? Você a trataria diferente?'

'Não!' Ela jogou as mãos para cima. 'Claro que não. Mas isso explica muita coisa. Tipo, a segurança toda no meu prédio. A demora em fazer o pronunciamento sobre o caso.'

'Oh, não é por isso.' Kendra riu, claramente divertida com a reação de Rizzoli.

'O que é, então?' Ela perguntou, se sentindo idiota.

'Isles. Isso te lembra algo?'

'As Ilhas Britânicas.' Ela disse com sinceridade e as duas riram.

'Também, mas devo lhe dizer que ela é filha de um dos casais mais influentes. Da Europa.'

'As Ilhas Britânicas são deles?' Ela perguntou com incredulidade, e dessa vez as duas riram até perderem o ar. A piada tinha sido péssima, mas o álcool deixava tudo agradável.

'Me lembre de beber mais com você, Rizzoli.' Kendra disse, limpando os olhos.

'Isso não pode terminar bem, mas que se dane.' Jane riu e balançou a cabeça. 'Agora sei a razão dela não querer contato com eles.'

'Eles não sabem do que aconteceu, por incrível que pareça. É como se nem procurassem saber dela. Ela exigiu que nenhuma ligação fosse feita.' Kendra revelou.

'Pff... Eles devem ser bem agradáveis.' Jane caçoou.

A outra concordou com a cabeça, e depois ficou gravemente séria. 'Jane... Essa segunda vítima muda tudo.' Ela sussurrou, não por ser um segredo, mas porque estava muito longe, pensativa.

'Eu tenho que contar para ela, não tenho?' Jane queria que a resposta fosse não. Que Kendra dissesse que era tudo mentira, confusão com outro caso, mas Jane sabia melhor.

'Se você puder. Você acha que é demais para ela? Quer dizer... Eu não sei o que ela vai pensar sobre isso, como ela vai reagir.'

Jane apoiou o queixo na mão e encarou a mulher à sua frente. 'Eu não vou dar para ela um segundo dia ruim, Kendra. Hoje já foi difícil, não queira saber. É melhor que ela saiba agora do que amanhã.'

'Tirar o band-aid de uma vez.' Ela concordou.

'E esperar que não sangre muito.' Jane murmurou e suspirou em seguida.

De alguma forma ela sabia que naquela noite acabaria com Maura em seus braços, talvez não chorando, mas perturbada demais para não ser confortada.

...

Jane chegara me casa mais tarde do que previra. Quando ela abriu a porta, o relógio da parede da sala marcavam 23:27. A conversa com Kendra tinha se alongado e quando se deu por conta elas já haviam bebido um pouco mais do que deveriam. A morena achou melhor deixar o carro na casa da colega - ela pediu que Kendra o dirigisse até a delegacia no dia seguinte, dizendo que a traria de volta para casa e depois retornaria com ele para a própria - e tomou um táxi por questão de segurança. Segurança que foi questionada, porque se o taxista soubesse quem ela era, certamente dirigiria com mais cautela e em menor velocidade. Tomando aquilo como benefício, no momento, ela achou melhor não comentar nada e chegar em casa uns minutos mais cedo.

Ao fechar a porta, Jane se encontou nela, escorregou até o chão e se sentou lá. Ela planejara contar tudo para Maura ainda naquele dia, o que certamente não iria acontecer considerando que as luzes da casa estavam apagadas (exceto a do banheiro que dava de frente para o quarto da loira) o que significava que ela já estava dormindo. Ela realmente não queria estragar o dia de amanhã para Maura, mas que diferença faria agora? Ela não poderia simplesmente acordá-la e dizer 'ei, não queria incomodar teu sono, mas escuta só essa péssima coisa que tenho para te contar'.

Coitada de Maura. Coitada daquela outra mulher que fora encontrada apenas hoje. Jane não entendia como alguém podia machucar uma pessoa daquele jeito. Como alguém tinha coragem de agredir uma pessoa menor, mais fraca e completamente indefesa? E não importava os motivos, aquilo era completamente errado. Era pura maldade. Bater em alguém uma vez é inaceitável, mas cometer a mesma agressão de novo e de novo... Jane nem tinha palavras para aquilo. O que estava incomodando Jane, também, era aquela outra mulher. Kendra dissera que ela estava em pior situação do que Maura quando fora encontrada. Talvez Maura chegasse naquele mesmo ponto se não tivesse conseguido fugir. E ainda que Jane não tenha visto o estado físico da outra pessoa, ela poderia imaginar. E não era bonito. Não era aceitável. Honestamente Jane nem queria chegar a conhecê-la, porque tendo conhecido Maura tão vulnerável e agora realmente gostando da presença dela - e não importava quantas vezes a loira a afastasse de si, chorasse ou pedisse para ficar sozinha - ela não conseguiria lidar com mais uma pessoa. Não com tanto envolvido.

Ver os hematomas, e cortes, e manchas, e todas medicações que ela tomava para recuparar peso e vitaminas, e todo choro, e gritos por conta de pesadelos. Aquilo quebrava seu coração em caquinhos. Era isso, Jane estava de coração partido. E saber que Maura poderia estar pior... Aquilo embrulhava seu estômago de um jeito que ela nunca experimentara antes.

'Deus, esse trabalho vai acabar comigo.' Ela disse e limpou os olhos, nem se lembrando em que ponto começara a chorar.

Então ela viu Bass passear distraidamente pela sala, em seu ritmo lento e estável. Ela riu baixinho consigo mesmo e balançou a cabeça em não. Maura era mesmo estranha, mas era aquilo que a fazia única.

Ela limpou os olhos mais uma vez e tentou regular a respiração. Droga, o que tinha acontecido com ela? Contando de um a dez, ela estava tão concentrada no trabalho que nem notou quando Maura apareceu ao lado do sofá.

'Jane?' Ela murmurou, parecendo um tanto assustada.

Com um sobressalto a morena levou a mão no coração e riu em seguida. 'Oh, Deus. Eu não vi você chegar.'

'O que você está fazendo no chão?' Ela perguntou e franziu o cenho. 'Você tá bem?' Os olhos, Jane então entendeu, não estavam assustados por causa dela, mas por ela. Maura estava preocupada.

'Vem aqui, vamos conversar um pouquinho.' Jane bateu gentilmente a mão no chão ao seu lado. Maura atendeu ao seu pedido e veio andando até ela. Leve feito uma bailarina, destraída em relação ao mundo como a personificação da inocência, como se nada mais pudesse machucá-la, mas ela estava andando de encontro à Jane, e daí? Em sua mente parecia uma adaptação perfeita; nada poderia lhe acontecer enquanto Jane estivesse olhando por ela.

A loira se sentou ao seu lado e piscou os olhos verdes, curiosos e preocupados para os dela. 'O que aconteceu?'

'Eu me encontrei com Kendra.' Disse Jane, desnecessariamente. Maura já sabia disso.

'Você andou bebendo?' A outra perguntou, estudando-a cuidadosamente.

'Eu e ela.' Jane deu de ombros. 'Um pouco mais do que deveria, mas tá tudo bem.'

Maura concordou com a cabeça e relaxou em seguida.

'Eu tenho algo para te contar. E eu sei que esse dia foi uma droga. Uma merda bem grande, e acredite quando eu digo que odeio ter que fazer isso.' Ela divagou. Maura pareceu ainda mais preocupada, então ela fez o mesmo que Kendra: contou-lhe tudo de uma vez.

Contou sobre a outra mulher e seu estado de saúde. Contou que os médicos achavam que talvez ela não fosse sobreviver, mas era 45% de chances de que fosse, e quem sabe? Eles estavam fazendo tudo em seu alcance. Contou sobre o apartamento de Kendra que parecia nada com ela. Por que razão Jane contou até sobre isso, ela não sabia, mas contou. E sobre o táxi e taxista. Contou sobre como odiava tudo aquilo, e como Kendra disse que às vezes tentar salvar as pessoas era em vão, e que ela não soube o que dizer e fez uma piada sobre só trabalhar com os mortos. Ela contou tudo.

Tudo.

Menos a parte em que ela soubera quem Maura era. Ela tinha a impressão de que a outra se sentiria invadida - com razão - então achou melhor deixar para lá.

'Acho que Kendra tem razão, às vezes isso tudo é uma batalha perdida.' Foi a última coisa que disse. Soltou um suspiro tremido e piscou os olhos que estavam ardendo. Talvez ela tinha demorado demais para piscá-los, desde que contara tudo de uma só vez, sem sequer olhar para Maura. Era como se tivesse lido um texto tantas vezes a fim de decorá-lo que era necessário a maior concentração para dizê-lo agora.

'Isso eu não sei dizer,' Maura disse honestamente, 'mas, há algo que eu possa fazer para que você se sinta melhor?'

Jane riu por conta da irônia. Se tinha alguém que entrava na categoria precisa se sentir melhor era Maura, não ela. Mas aí estava uma das razões pela qual ela gostava dessa mulher. Ela era doce e prestativa.

Por um instante a loira pareceu chateada, entendendo a risada de Jane como se ridicularizando-a, mas então...

'Será que eu posso abraçar você um pouquinho? Só para eu me lembrar de que você tá a salvo e de que pelo menos isso eu consigo fazer?'

A loira concordou com a cabeça e se inclinou imediatamente, passando os braços pela barriga de Jane. Não tinha sido um abraço rápido. Ela simplesmente ficaram ali, como se precisassem da presença de uma da outra. Duas pessoas em cacos se entendem, Jane pensou. Aquilo era bom, era não se sentirem sozinhas, era saber que havia uma compreensão e apoio em uma via dupla.

Um minuto depois e Jane limpou os olhos mais uma vez. Ela não sabia porque se sentia tão triste assim, mas talvez fosse porque era a primeira vez que deixava sentir-se mal em relação à Maura e Kendra, sendo que a última gota da água fora a notícia daquela outra mulher.

Maura ergueu a cabeça, sem realmente tirá-la de seu ombro e perguntou com preocupação. 'Jane, você tá bem?'

Ela dispensou a pergunta com um balançar de cabeça. 'Foi só esse dia inteiro, Maura. Que dia mais fodido.'

'Linguagem.' A outra a reprimiu e acrescentou em seguida. 'Dias melhores virão.'

Jane tentou um sorriso fraco, olhou para ela e era a sua vez de perguntar. 'Você tá bem?'

'Eu não sei como isso vai me afetar, ainda. Eu não sei o que sentir.' Ela disse honestamente, como sempre.

Jane entendia. Às vezes algumas emoções demoravam a aparecer para ela também.

A loira suspirou e por um bom tempo pensou no que Jane tinha lhe dito. Então, franziu o cenho e disse quase num murmúrio.

'Aquela casa é do pai dela.'

'O que?' Jane virou a cabeça para ela, confusa.

'A casa em que você estava é provavelmente do pai de Kendra, por isso você deve ter achado tão diferente da personalidade dela.' Ela explicou, mesmo não entendendo exatamente porque Jane tinha desenvolvido essa mini-obsessão por isso. 'Ela me contou que estava passando uns dias na casa do pai, logo que nos conhecemos no hospital. Ela me contou algumas coisas da vida dela, para criar laço comigo, eu imagino.'

Agora era a vez de Jane encará-la, surpresa. Como se lesse seus pensamentos Maura acrescentou, 'Eu não vou te contar nada.'

Isso fez Jane rir, e a outra riu baixinho também. O som morreu logo, entretanto, como o fogo de uma vela acendido quando o vento está soprando.

Ela abraçou Maura um pouquinho mais forte, tomando cuidado onde a tocava. Elas ficaram em silêncio por um bom tempo, cada uma perdida em seu próprio pensamento, consoladas pelo contato físico e confortável uma da outra.

Contato que, pelo que Jane achava, era quase um milagre em si. Ela jamais imaginou que tão cedo Maura fosse permitir qualquer tipo de toque, exceto em segurar suas mãos, quem diria deixar abraçá-la. Ainda mais, por um longo período. Quem sabe não era isso? Quem sabe não era o fato de que ela se sentia protegida e segura ali com Jane? Quem sabe a aversão aos toques não era tão grande, ou então, quem sabe a morena não tinha invertido a compreensão dela? Perto de Jane, dentro de seus braços, era apenas sinônimo de segurança, conforto, abrigo. Nada e nem ninguém poderia machucá-la.

Quando Maura encostou a testa em seu pescoço e suspirou calmamente, Jane tinha certeza de uma coisa. Mantê-la em segurança e fazê-la se sentir bem, estando ao seu lado... aquilo era uma batalha vencida.

Aquilo estava valendo a pena. A mudança de algo terrivelmente ruim, em bom. Lenta, mas definitivamente ali.


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