Sol et Luna escrita por Sali


Capítulo 1
Between badgers and snakes


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que já disse nas Notas da História, mas preciso repetir aqui: a história contém conteúdo homossexual (entre garotas), então se você não gostar, pode desistir agora.
Esse continho foi inspirado pela minha namorada, que é Sonserina, quando nós descobrimos que, pelo Pottermore, eu sou Lufa-Lufa.
Lendo a história da Amelie e da Elle, vocês estão lendo um pouquinho da gente também.
Espero, de todo coração, que vocês gostem da história.
Ela foi feita com muito carinho ♥



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— Ah... — um suspiro saiu sem permissão dos lábios de Amelie McLean, que mal o percebeu direito. Talvez porque estivesse muito ocupada, sentada sobre uma mesa de estudos, com Elle O'Neil de pé diante de si, com as mãos em sua cintura, por sob o suéter e a camisa, partes do uniforme de Hogwarts, beijando-lhe o pescoço.

Elle abriu um sorriso travesso e ergueu a cabeça, voltando a beijar Amelie com vontade. Esta, por sua vez, entrelaçou os dedos nos cabelos repletos de cachos de O'Neil e apertou as coxas ao redor do seu quadril, correspondendo ao beijo da melhor forma possível.

— Mas talvez... Não sei, é possível que...

— Não, Professor Snape. Eu não acredito que seja necessário...

Amelie se assustou ao ouvir o diálogo, rompendo o beijo e empurrando Elle levemente.

— É a Professora McGonagall. — sussurrou, ajeitando os óculos e sentindo o coração acelerar.

Ao se afastarem, um pequeno detalhe foi evidenciado ali: no colarinho de Elle, uma bela gravata nas cores verde e prateado, um pouco desarrumada devido ao momento anterior. No de Amelie, uma combinação inesperada de cores: amarelo e preto.

A garota sonserina, de pele negra e cabelos black power, abriu um sorriso travesso, divertindo-se.

— Você é muito medrosa. — riu, sem tirar o sorriso levemente superior e bem típico de uma sonserina dos lábios. — Isso aqui é a Sala Precisa. Ninguém vai encontrar a gente aqui.

— É claro que eu sou medrosa. — Amelie rebateu, cruzando os braços. — Não seria legal se a Prof.ª McGonagall nos descobrisse.

Elle voltou a rir.

— Você acha que ninguém em Hogwarts se pega, né?

O rosto de Amelie esquentou, mas não foi possível ver devido à baixa iluminação da sala.

— Sei lá. Eu nunca ouvi falar de nada assim.

O'Neil parecia ser divertir com a garota lufana, que ainda não saíra de cima da mesa.

— Não é porque ninguém conta, que ninguém faz. — e ergueu a sobrancelha, encarando Amelie inquisitivamente. — Ou você sai espalhando por aí o que acontece na Sala Precisa?

Amelie acabou sorrindo, afinal. Para ela, havia algo de satisfatório em esconder sua pequena relação com a sonserina.

— O que eu contaria? Que as minhas colegas de dormitório são tão escandalosas e meu Salão Comunal é uma bagunça tão grande que eu só consigo estudar aqui? Isso não é interessante.

Elle abriu outro daqueles sorrisos sonserinos e voltou a se aproximar de Amelie, apertando suas pernas sem agressividade.

— É por isso que eu gosto de você, McLean. — sussurrou, subindo uma das mãos até a nuca da lufana e inclinando a cabeça até que seus lábios pudessem se tocar novamente.

Amelie, nem se quisesse, conseguiria interromper um beijo daquela sonserina. Por algum motivo, o toque dela, seus lábios, tudo ali era melhor do que qualquer outra coisa que havia provado — quase viciante. No entanto, quando perderam o fôlego e finalmente se separaram, a lufana teve que se pronunciar.

— Está quase na hora do jantar. — sussurrou. — Não quero correr o risco de tomar uma detenção e não poder voltar mais aqui.

Elle voltou a sorrir, travessa, mas acabou concordando. Afastou-se e começou a arrumar o uniforme e os cabelos, tentando parecer o mais normal possível.

— Então eu estava estudando. E você... — Amelie indagou, enquanto ajeitava os óculos e colocava as roupas no lugar.

— Não é da conta de ninguém.

A lufana sabia que aquela resposta era, de certa forma, grosseira. Mas Elle era sonserina até os ossos e, da mesma forma que aquele seu sorriso travesso era uma perdição para Amelie, aquelas respostas, que denotavam certo poder diante de outras pessoas, sempre lhe traziam arrepios.

— Te vejo amanhã na aula, O’Neil. — foi despedida da lufana, que pulou da mesa e ajeitou a saia.

— Eu vou ser aquela que vai estar te zoando no fundo da sala, McLean.

Amelie revirou os olhos.

— Tudo isso é inveja porque eu sou bem melhor que você na matéria do seu professor sonserino?

E a velha implicância havia voltado.

— Como se eu tivesse inveja de alguém da Lufa-Lufa. Olha esse nome, é tão fofinho. Meu Merlin, que medo, uma lufana. O que você vai fazer? Me dar um abraço e pedir desculpas pela inconveniência?

Amelie sorriu, quase maliciosamente.

— É uma boa, mas eu estava pensando em outra abordagem. Sei lá, um feitiço de confusão na sua vassoura no jogo da semana que vem, talvez... Quando você estivesse bem perto do pomo...

Elle fechou a cara.

— Você não teria coragem.

 McLean sorriu, quase tão maliciosa como uma legítima sonserina.

— Vai dar a hora do jantar. Vamos embora. — ela concluiu, deixando o desafio sem resposta e pousando a mão na porta da Sala Precisa. Despediu-se de Elle com um suave aceno de dedos e saiu, deixando a sonserina com um sorriso nos lábios enquanto observava o movimento da saia no ritmo do seu caminhar.

[. . .]

Amelie, mesmo que tentasse, não conseguia esconder o leve sorriso que insistia em dançar em seus lábios, enquanto ela voltava para o Salão Principal, na hora do jantar. A sua situação, mesmo que complicada, a divertia bastante.

Elle era sonserina. Mas não só sonserina. Ela era popular ali e suas atitudes refletiam perfeitamente a fama daquela casa: O'Neil era um tantinho arrogante, devido ao sobrenome que ostentava — o de uma família tradicional do mundo bruxo — e tinha um prazer especial em implicar com as pessoas, principalmente os inocentes primeiranistas, que tinham medo de seu grupo, jovens grifinórios e lufanos em geral.

Amelie, inclusive, já havia sido alvo de Elle. Tímida, estudiosa, usando óculos, com os cabelos curtos e castanhos frequentemente bagunçados e, principalmente, lufana, ela mais de uma vez já ouvira brincadeiras com seu nome nas aulas que compartilhava com a sonserina. No entanto, nunca houve nada agressivo; no máximo, simples implicâncias que eram resolvidas na base da argumentação.

— Amelie! A gente tava procurando você.

Quem exclamou foi Melinda Bartwell, saltando do banco da mesa da Lufa-Lufa, no Salão Principal, assim que viu a garota se aproximar. Ela havia sido a primeira amiga de Amelie em Hogwarts. Conheceram-se ainda no Expresso, ao se sentarem juntas na mesma cabine, e havia sido ela a apresentar coisas interessantes sobre o mundo mágico à garota, que era nascida trouxa. Dividiam o dormitório, tinham gostos semelhantes e se davam muito bem, e, por isso, Melinda era a amiga mais próxima que Amelie possuía.

— Desculpa, gente. — a jovem lufana atalhou, tomando lugar na longa mesa entre Melinda e Isabella Watson, a outra garota que dividia com elas o dormitório. — Vocês sabem que eu não consigo concentrar com barulho. Fui estudar na biblioteca.

Melinda automaticamente abriu um discreto, porém significativo sorriso de lado. Sabia que a garota não estava na biblioteca — e, entre as amigas, era a única a saber.

— Não tem problema. — Isabella tomou a palavra. — Estávamos falando sobre os exames.

— Exames esses que eu não quero que cheguem. — Madeline Parks completou. Também dividia com Amelie e as outras o dormitório e fazia parte do grupo de quatro amigas. — Não consigo decorar aquelas poções de jeito nenhum. O Professor Snape me assusta. E ainda tem a Elle e aquele grupinho estúpido dela... — continuou reclamando. Entre as quatro, ela era a que mais detestava a sonserina, pois havia sido vítima de uma peça que lhe fizera cortar parte do longo cabelo negro e bonito. — Não suporto essa garota.

Melinda desviou automaticamente os olhos para Amelie, temendo a reação dela. No entanto, a garota somente riu, mais preocupada com a limpeza das lentes embaçadas e com a haste meio amassada dos óculos de grau.

— Não sei como eu consegui entortar tanto uma coisa que fica quase o tempo todo na minha cara... — resmungou então, tirando da cintura a varinha, feira de madeira de olmo e cerne de pena de fênix, com detalhes delicadamente esculpidos, e apontando para a armação. — Oculus reparo. — depois, colocou o objeto de volta, sentindo-se bem mais confortável. — Melhor assim.

Na verdade, a preocupação com os óculos era só uma desculpa, uma forma de fugir do assunto das amigas. Reclamar sobre notas, exames e sonserinos não era muito do interesse de Amelie naquele momento. Ela, na verdade, se ocupava pensando em como tudo aquilo começara; estava se lembrando de quando entrara ainda agitada, enrubescida e ofegante no Salão Comunal da Lufa-Lufa, muito depois do toque de recolher.

Melinda estava sozinha ali, já que os demais integrantes da Lufa-Lufa já haviam se recolhido. Ela havia estudado até quase a exaustão e estava, naquele momento, tomando uma xícara de chocolate quente em um dos confortáveis sofás que haviam ali. Mesmo com todo o esforço de Amelie para ser silenciosa, conseguiu ouvir a garota atravessando o Salão.

— Ame, é você?

A jovem lufana faltou pular com o susto. Sabia que a irmã mais velha de Melinda era a monitora da Lufa-Lufa e travou, temendo a detenção que provavelmente tomaria. No entanto, a amiga não parecia brava ou incomodada. Levantou-se, pousando a xícara na mesinha ao lado da poltrona.

— Onde você estava? Eu fiquei preocupada depois que você saiu chorando da sala. Achei que tinha feito alguma loucura.

E eu acho que fiz, foi o que passou pela cabeça da garota naquele momento.

— Eu fiquei no banheiro do terceiro andar. Lá é quieto e eu precisava esfriar um pouco a cabeça. Mas está tudo bem agora. — mentiu, sem perceber que ainda estava vermelha, trêmula e visivelmente afetada com alguma coisa.

— Tudo bem... — Melinda concordou, sem acreditar nem um pouco naquilo tudo. — Vamos deitar?

Amelie engoliu em seco, nervosa, evidenciando ainda mais que havia algo muito errado, e fez que sim com a cabeça, seguindo a amiga pelo pequeno túnel que levava ao dormitório de ambas.

Isabella e Madeline já estavam adormecidas, e por isso as duas outras garotas fizeram o máximo de esforço para não as acordarem. Felizmente, conseguiram cumprir todas as tarefas necessárias para dormir sem que isso acontecesse. Entretanto, em vez de se deitar, Amelie sentou-se na cama de Melinda, engolindo seco.

— Você jura que não vai me odiar... Nem me julgar se eu te contar uma coisa? — perguntou em sussurro, encarando a amiga com olhos indagadores.

Melinda se tornou um misto de curiosidade, preocupação e satisfação. Essa última porque se orgulhava de ler facilmente as pessoas e ficou feliz consigo mesma por ter acertado de novo.

— Não foi nada contra a lei, certo? Porque se não eu vou ter que...

— Não! — Amelie quase gritou, cobrindo a boca logo depois e olhando para as amigas adormecidas. — Não... — repetiu, sussurrando. — Ou eu acho que não.

A lufana loira, de cabelos longos e sardas, fixou os olhos verdes na amiga, impaciente.

— Ai Ame, então fala logo de uma vez. Eu estou ficando preocupada.

A garota morena engoliu em seco novamente e torceu as mãos. Respirou fundo e soltou:

— EueaEllenosbeijamos.

— O quê? — Melinda perguntou, levemente irritada, pois não havia entendido nada. E então sua expressão mudou de repente, quando a compreensão a atingiu. — O quê?! Você e a Elle? A Elle...

Amelie expirou profundamente e fez que sim com a cabeça, completando a frase junto com a amiga.

—... O'Neil.

E a garota lufana se arrependeu no mesmo instante do que havia dito. Como podia ter sido tão irresponsável de falar isso assim, como se fosse simples? Ela não se perdoaria se, por causa disso, acabasse perdendo a amiga mais próxima que tinha.

— Mas Ame, você não detestava ela? — Melinda perguntou então, mas o sorriso que escapava no canto dos seus lábios aliviou um pouco o coração da garota morena. — Eu achava que isso nunca iria acontecer. Como... como foi isso?

Amelie também riu, aliviada, e mexeu nos cabelos.

— Como eu te disse, eu estava lá no banheiro. Você sabe, eu fiquei muito mal com aquele D na redação sobre criaturas mágicas. E quando ela veio falar aquelas coisas idiotas, eu não consegui segurar. Aí fui para o banheiro do terceiro andar, você sabe. — nesse momento, Melinda fez que sim com a cabeça. — Eu estava lá, sozinha, aí ela entrou. Mel, eu fiquei com tanta raiva que falei tudo de uma vez pra ela. Nossa, eu não sei como eu consegui, mas eu disse que ela não tinha o direito de agir daquele jeito, que não era melhor que ninguém e que o nome ou a Casa dela não significavam nada. Só que aí, enquanto eu falava, ela chegou perto, segurou na minha cintura e... aconteceu. Do nada. E sei lá, eu tava triste, com raiva, não sei explicar, eu só... você sabe, correspondi.

— Que... inesperado. — Melinda murmurou então, rindo pelo nariz. Também já tivera seus momentos de implicância com a sonserina, mas, na maioria das vezes, se mantinha neutra, observando em silêncio. Tanto assim, que já percebera como Elle agia de forma diferente com a amiga: às vezes implicava demais, quase como que desejando uma discussão. Por outras vezes, se mantinha afastada, preferindo incomodar outras pessoas.

Amelie encolheu os ombros.

— Eu também achei. Mas eu só sei que, se depender de mim, isso nunca vai acontecer de novo.

— Você acha? — Melinda ergueu as sobrancelhas, espreguiçando-se.

— Mel! Quem você acha que eu sou?

A amiga de Amelie apenas riu pelo nariz.

— Ninguém, ninguém. — respondeu, balançando a cabeça. — É o sono, desculpa.

A lufana apenas riu, parecendo perceber naquele momento que era tarde.

— Obrigada por me ouvir, Mel. — agradeceu, por fim, levantando-se da cama da outra. — Por favor, não conta isso pra ninguém. Muito menos pra Madeline.

A lufana de cabelos claros sorriu e confirmou com a cabeça, fazendo um gesto de tranca nos lábios. Amelie acenou, em agradecimento, e deitou-se em sua cama.

Isso nunca vai acontecer de novo.

De volta para o presente e para o jantar, no Salão Principal, a garota morena riu sozinha, feliz por não ter feito nenhuma promessa. Afinal de contas, aquilo acontecera de novo. Tantas vezes que, àquela altura, era difícil passar uma semana sem trocar beijos ou pelo menos algumas palavras com a sonserina. Mesmo que, para o bem de muitas amizades, tudo aquilo ainda estivesse bem guardado em segredo, escondido pelos banheiros, corredores e, claro, a Sala Precisa.

— Gente, gente, olha ele ali. — foi Isabella a despertar Amelie de todas aquelas divagações. A garota nutria uma paixão platônica por Cedric Diggory, o garoto um ano mais jovem, apanhador do time de quadribol da Lufa-Lufa. — Ele é tão lindo!

Melinda riu da reação da garota, mas foi Madeline que abriu a boca.

— Por que você não fala com ele? Sei lá, chama ele pra conversar qualquer dia.

Isabella enrubesceu somente com a ideia.

— Não posso... Ele gosta de uma menina da Corvinal, todo mundo sabe disso.

— Então eu acho que você deveria tentar, sei lá, deixar ele um pouco para lá. Sim, sei que você gosta muito dele, mas já que não tem muitas chances... Às vezes é melhor olhar em volta, existem vários outras pessoas legais aqui.

As três garotas voltaram seus olhares para Amelie, surpresas. Silenciosa e pouco dada a conversas sobre romance, havia sido totalmente inesperado ouvir aquilo sair da boca dela.

— É, você tem razão... — Isabella sorriu então, levemente, e inclinou a cabeça.

— Belas palavras, Amelie! — Madeline riu. — Se eu não te conhecesse, diria que está gostando de alguém. Ficou tão poética de repente.

Amelie escondeu um pequeno sobressalto com uma risada larga.

— Eu, Maddy? É claro que não. Que ideia... maluca. — balançou a cabeça e riu, descartando totalmente aquilo.

— Engraçado... — a lufana de cabelos negros e longos ainda tinha uma expressão risonha no rosto. — Parece coincidência, mas... que marca estranha é essa no seu pescoço? — perguntou então, puxando levemente a gola do uniforme de Amelie.

A garota arfou de surpresa, levando a mão ao pescoço. Elle, eu juro que vou te matar, pensou, passando as unhas pelo lugar indicado.

— É alergia. — respondeu então, rindo. — Eu sempre tive isso, vocês nunca repararam? É só começar o tempo frio e pronto... É um saco isso. — balançou a cabeça, coçando. — Acho que vou mandar uma carta pra minha mãe, pedir a pomada que eu costumava passar.

Infelizmente, Amelie era uma péssima mentirosa. Mas, felizmente, as amigas a respeitavam o suficiente para entender que, o que quer que fosse aquilo, era assunto somente dela. Mesmo que a curiosidade ainda imperasse.

[. . .]

As arquibancadas estavam lotadas. Mesmo que o jogo fosse entre Corvinal e Sonserina, havia torcedores de todas as casas, ansiosos para a partida. Amelie, Melinda, Isabella e Madeline entre eles, na torre especialmente destinada à Lufa-Lufa. A última tinha sua presença ali por um simples motivo: torcer contra o time da Sonserina, esperando ver Elle O’Neil, a apanhadora, perder o pomo e, com sorte, cair com todo o seu ego do alto daquela vassoura.

Externamente, Amelie conversava distraidamente com as garotas, rindo de alguns gracejos. Por dentro, no entanto, seu coração estava um tantinho acelerado: ver Elle entrando em campo com o uniforme do time sonserino de quadribol, empunhando sua vassoura e com a expressão séria e concentrada que só ela conseguia ter, fazia um bom trabalho deixando a garota lufana ainda mais atraída pela sonserina, se é que isso era possível.

No campo, os dois times entraram sob estrondosos aplausos, parando frente a frente. Sonserinos e corvinais se encaravam com expressões desafiadoras. Mesmo de longe, Amelie conseguia enxergar o sorriso sonserino nos lábios de Elle e seus olhos, amendoados e negros, desafiando a capitã do time cujas cores eram azul e prateado.

— O’Neil, Lawless, se cumprimentem. — Madame Hooch falou então. Sem tirar o sorriso dos lábios, Elle deu um passo à frente, estendendo a mão e apertando com firmeza a da adversária. — Montem nas vassouras. Quando eu apitar... três... dois... um...

Os dois times deram impulso quase automaticamente, elevando-se no ar ao som das torcidas inflamadas.

Amelie, na arquibancada, acompanhava o jogo em silêncio. Madeline e Isabella, ao contrário, conversavam principalmente sobre a Sonserina e Elle. Melinda, tentando ser o mais neutra possível, apenas acompanhava o jogo, aplaudindo e gritando quando acontecia qualquer coisa emocionante.

Depois de um tempo de jogo, o time azul e prateado liderava a competição, com uma folga de cerca de trinta pontos.

Elle sobrevoava o campo a uma altura confortável. Edmund Thompson, o apanhador corvinal, a rodeava, como que aguardando qualquer reação sua. Alguns metros abaixo deles, a um batedor sonserino quase derrubou a artilheira da Corvinal, fugindo de um balaço. Mesmo assim, a garota conseguiu desviar e passou a goles para um colega de time. Foi questão de segundos.

— Corvinal marca mais uma vez! — Thomas Hardson, o aluno grifinório responsável pela narração do jogo irradiou, fazendo com que sua voz chegasse em todo o campo. — A não ser que O’Neil consiga o pomo, tudo indica que hoje a vitória será azul e prateada!

Elle estava concentrada, e por isso, mal ouviu o garoto lufano pronunciando seu nome. A certo ponto, seus olhos identificaram um lampejo, nada mais do que um pequeno e rápido brilho dourado, mas foi o suficiente. Sua vassoura mergulhou rapidamente para baixo e para cima, como um raio, o suficiente para confundir Thompson por alguns segundos.

No entanto, o rapaz era rápido e logo recuperou a distância, abrindo um sorrisinho provocativo quando surgiu novamente ao lado de Elle. A garota, porém, não se abalou. Sem tirar os olhos do pomo, riu pelo nariz:

— Sentiu saudades de perder de mim? — perguntou, sem esperar resposta. No instante seguinte, o pomo fez uma curva fechada e Elle o seguiu, rápida, torcendo para que o apanhador corvinal ficasse para trás.

E então, de repente, o pomo de ouro surgiu diante de Elle, a uma distância de quase um braço. Depois, tudo aconteceu em questão de segundos: Thompson apareceu a seu lado, dando-lhe um empurrão com o ombro a fim de desestabilizá-la. Elle, no entanto, franziu as sobrancelhas e largou a vassoura, saltando no ar, em direção ao pequeno globo alado. Ela ainda teve tempo de sentir, na palma da mão, as cócegas que as asinhas douradas faziam antes de retomar o controle da vassoura, que por inércia e talvez mágica, a aguardava exatamente no lugar e momento certos.

Edmund Thompson praguejou, parando com a vassoura no ar. A garota sonserina abriu um sorriso largo e endireitou o corpo, ganhando altitude e fazendo giros no ar, exibindo o pomo em sua mão para quem quisesse ver. Madame Hooch apitou, marcando o final do jogo.

Amelie, na arquibancada, suspirou aliviada. Adoraria comemorar a vitória de Elle, sentindo o coração acelerado diante daquela amostra de perfeita habilidade no campo. No entanto, seria indiscreto demais. Por isso, ela simplesmente abriu um pequeno sorriso, voltando-se para as amigas e percebendo, naquele instante, que Madeline não estava entre elas.

— Onde está a Maddy? — Amelie perguntou a Melinda, ainda um pouco distraída.

— Você não viu? — a amiga lufana perguntou. — Eu acho que ela...

Ela está caindo!

Melinda não terminou a sua frase. Diante do grito de Thomas Hardson, todos os torcedores silenciaram, voltando o olhar para cima. Quando Amelie fez o mesmo, seu coração apertou.

Era Elle. A apanhadora sonserina, que ainda havia ficado alguns instantes no ar, exibindo-se com o pomo, lutava contra a própria vassoura, que parecia ter ganhado vida própria, tentando a todo custo derrubar a garota. Àquela altura, ela estava praticamente pendurada, segurando-se somente por uma das mãos. Mesmo assim, continuava concentrada, tentando a todo custo retomar o controle.

Foi alarmante. Os demais jogadores, que já estavam comemorando a vitória, reuniram-se abaixo dela, mas já era tarde. Com um puxão violento, a vassoura conseguiu desestabilizar Elle, que começou a cair, sem nada que a segurasse.

— Elle! — Amelie gritou, sem se preocupar com o segredo. Tentou puxar a varinha, mas, com o nervosismo, tudo parecia mais difícil, e demorou alguns segundos até que ela conseguisse soltá-la das vestes.

Quando finalmente a lufana ergueu os olhos, expirou, aliviada. Madame Hooch conseguira aparar a queda, fazendo com que Elle chegasse ao chão sem nenhum impacto. No segundo seguinte, todo o time sonserino se reuniu ao redor da capitã, tirando-a do campo de visão da Amelie. A lufana abaixou os olhos, e, por alguns segundos, conseguiu ver Madeline em meio à confusão, guardando a varinha nas vestes e sumindo entre a confusão de alunos.

— Isso foi... bizarro. — Melinda concluiu então.

Amelie ainda sentia o coração acelerado e percebeu que tremia. Continuou de pé e buscou Elle com os olhos, no campo. A garota estava no gramado, procurando algum dano na vassoura, mas, por algum motivo, ergueu a cabeça. Seus olhos encontraram os da lufana e, numa fração de segundo, ela piscou para a outra, esboçando um pequeno sorriso.

Amelie também sorriu, sentindo pontadas de alívio. Logo depois, a torcida sonserina invadiu o campo, ovacionando os jogadores pela vitória.

[. . .] 

— Aquilo foi um feitiço. Alguém fez isso de propósito. Meu Merlin... — Amelie mexia nos cabelos, sentada num dos sofás amarelos do Salão Comunal da Lufa-Lufa, depois do jantar. — Ela poderia ter se machucado.

Isabella encolheu os ombros.

— Eu acho que ela mereceu. Ela tem que parar de se achar melhor que todo mundo... — começou a falar, mas se calou quando Melinda deu-lhe uma cotovelada discreta.

Madeline estava atrasada. Apareceu naquele exato instante, com dois livros sob o braço, evidenciando que havia estado recentemente na biblioteca.

— Olá, olá. Do que vocês estavam falando? — perguntou, olhando para as três amigas.

Amelie se manteve em silêncio. Não queria tirar conclusões antecipadas, mas mesmo assim...

— Sobre o final do jogo de hoje. A Elle, e tal.

Madeline riu pelo nariz, enquanto se acomodava ao lado de Isabella.

— Eu achei engraçado. Foi totalmente merecido. — concluiu.

Amelie era acostumada a ouvir as farpas proferidas por Madeline em relação a Elle em silêncio, ou, às vezes, até rindo um pouco. No entanto, naquele momento, ela não conseguiu ignorar, lembrando-se de quando a viu guardando a varinha nas vestes. Irritou-se.

— Não acho que foi engraçado. Ela poderia ter se machucado ou até coisa pior. — respondeu, erguendo a cabeça.

Maddy ergueu a sobrancelha, encarando a amiga.

— Você realmente vai defender ela? Amelie, essa garota pega no seu pé desde que você entrou aqui. Você lembra o que ela fez com o meu cabelo!

Amelie revirou os olhos.

— Faz tempo que ela não mexe com a gente. E isso do seu cabelo faz quase três anos, Maddy! Já deu o tempo de superar.

Madeline voltou a rir pelo nariz.

— Não sei por que motivo você está defendendo a O’Neil, mas eu acho que fiz certo e sim, foi totalmente merecido. Ela estava precisando levar um susto.

Com as palavras de Madeline, a irritação cresceu em Amelie. Melinda, que observava tudo em silêncio, abriu a boca, tentando intervir, mas de nada adiantou.

— Você não tinha o direito de fazer isso. — a jovem lufana, que normalmente era calma e doce, tinha uma expressão enraivecida no rosto. Cuspiu as palavras diante de Madeline. — Ela poderia ter se machucado gravemente. E essa competiçãozinha estúpida entre vocês já deu o que tinha que dar.

— Vai lá e fala isso com ela, então... Já que aparentemente você decidiu ser a defensora dela. Porque não fui eu que comecei implicando com todos os lufanos e primeiranistas.

— Uma coisa é implicância. Outra é tentar derrubar uma pessoa da vassoura numa altura daquelas. Isso é infantilidade e inconsequência e eu não acho certo. — a garota concluiu, levantando-se do sofá. Deixou o Salão Comunal a passos rápidos e firmes, atravessando o pequeno túnel que levava ao seu dormitório.

— Ame, espera! — Melinda levantou-se em seguida, mas foi ignorada. Mesmo assim, seguiu a amiga, deixando uma Isabella confusa e uma Madeline irritada e intrigada para trás.

[. . .]

— Eu não queria estragar a amizade de ninguém.

Amelie ergueu a cabeça, surpresa. Riu pelo nariz.

— Elle, é você mesma? — ergueu as sobrancelhas. — Não sabia que você era capaz de, sei lá, sentir culpa.

A sonserina revirou os olhos, bagunçando um pouco mais os cabelos de Amelie.

— Eu não sou um monstro sem coração. — respondeu, apertando um pouco mais a garota entre seus braços. As duas estavam num dos pátios da Torre das Corujas, vazio naquele horário. Elle sentada no chão, encostada contra uma das paredes, e Amelie entre seus braços, aconchegada em seu peito. — Me senti culpada por você ter brigado com ela.

Amelie balançou a cabeça.

— Não se sinta. Você poderia ter se machucado muito. Ou pior...

A sonserina riu, balançando a cabeça.

— Já passou, McLean. Eu estou bem viva. E arrasei naquele jogo.

Amelie também riu e revirou os olhos.

— Exibida.

— E você nem gosta, né? — a sonserina provocou, puxando a outra para perto e beijando-lhe o pescoço com suavidade. — Eu vi como você ficou. Rindo pra mim enquanto eu estava lá em cima, com o pomo.

Amelie sentiu arrepios com os toques da garota. Virou-se para ela e distribuiu alguns beijos em seu queixo.

— Talvez você seja muito convincente.

— Talvez você esteja apaixonada...

Amelie travou por alguns segundos, sentindo o rosto esquentar. E ali, com o pôr-do-sol de primavera brilhando sobre as duas, era impossível esconder aquela reação de Elle. Ela abriu a boca, tentando pensar em alguma resposta, mas aquela frase parecia ter tirado sua voz. A sonserina segurou seu queixo, sem tirar aquele maldito sorriso dos lábios, e fixou os olhos negros nos seus, que eram castanho-claros como mel.

— Talvez eu esteja apaixonada. — ela murmurou, tão simplesmente como se estivesse apenas comentando sobre o tempo.

— Elle... — foi o que Amelie pôde pronunciar, surpresa demais com a súbita confissão. De qualquer forma, não pôde falar mais nada. Elle O’Neil puxou-a para mais perto e uniu os lábios aos dela, selando ali todas aquelas palavras.

O beijo findou-se com uma leve risada.

— Eu te mataria se você contasse para alguém que eu falei isso.

Amelie ainda estava um tantinho surpresa, mas aquela frase a despertou do pequeno devaneio. Ela também riu, bagunçando os cabelos da sonserina.

— Você não teria coragem.

Elle balançou a cabeça, deixando aquilo de lado.

— Eu trouxe algo para você.

Amelie abriu um sorriso, empolgando-se como uma criança.

— Um presente?

Elle não respondeu. Afastou-se o suficiente para que pudesse alcançar um bolso nas vestes e tirou dali uma caixinha, estendendo-a para Amelie.

A jovem lufana abriu um sorriso. Pegou a caixinha com empolgação e a abriu rapidamente, de um jeito doce e tão animado que divertia Elle. Mais um daqueles pequenos detalhes dela que a sonserina tanto gostava, como, por exemplo, seus óculos: mesmo que passassem frequentemente por feitiços de reparo, sempre continuavam um pouquinho tortos.

— É lindo! — Amelie exclamou puxando da caixinha um colar. Nada além de uma corrente fina, longa e da cor de cobre, com um pingente amarelo em formato de sol. Pendurou-o rapidamente no pescoço, admirando o pequeno sol na palma da mão.

— É mágico. — Elle disse depois. Pegou o pingente da mão da lufana e passou rapidamente o polegar em sua superfície, transformando-o em uma lua prateada, da mesma cor que os detalhes da gravata da sonserina. — Me faz pensar em você, que brilha como um solzinho.

— E você é a lua, O’Neil?

Elle riu baixo.

— Me sinto mais confortável durante a noite.

— Tão sonserina... — Amelie revirou os olhos, sorrindo. — Obrigada pelo presente.

O’Neil não respondeu nada. Levou novamente os dedos ao queixo da lufana e puxou-a para perto, roubando-lhe um beijo delicado e demorado.

Amelie sorriu ao separar os lábios dos da sonserina.

— Eu preciso ir. Prometi estudar Herbologia com uns meninos lá da minha classe na biblioteca.

— Professora McLean? — Elle ergueu as sobrancelhas, com um sorriso brincando na expressão. Sabia como a lufana tinha habilidade com plantas e criaturas mágicas em geral e, por isso, era sempre requisitada para ensinar ou ajudar outros alunos na matéria.

— Quem sabe um dia... — Amelie abriu um sorriso largo e se levantou, limpando a saia e endireitando o uniforme.

— Tão certinha... — a sonserina riu. Ergueu-se rapidamente e puxou a outra garota pela cintura, roubando-lhe um último beijo. — Nos vemos no jantar.

— Até lá. — a lufana despediu-se com uma piscada, antes de se voltar para a saída da Torre das Corujas.

[. . .]

As aulas do dia tinham acabado de terminar, fazendo com que os corredores e o pátio de Hogwarts se enchessem de alunos. Amelie carregava alguns livros nos braços, caminhando ao lado de Melinda e mais dois alunos também lufanos: Antonina Clearwater e Jesse Hart, que faziam com elas a aula de Feitiços. Entre conversas e risadas, eles se dirigiam ao pátio externo, a fim de aproveitar um pouco do sol de primavera antes de terem qualquer outra obrigação.

Porém, mal tiveram a oportunidade de procurarem um banco ou sombra de árvore para se sentar; um pequeno grupo os abordou, surpreendendo sobretudo Amelie e assustando os dois lufanos. Eram sonserinos conhecidos: Heather e Rudolph Goldstein, gêmeos loiros de olhos castanhos e expressão maliciosa e Caius Shacklebolt, um garoto pálido de cabelos negros e olhos de serpente.

— Que bela coincidência, colegas. — Caius abriu um sorriso pouco amigável, abrindo os braços. Falava isso porque também acabara de sair da mesma aula que os quatro lufanos.

Amelie, sem perceber, engoliu em seco. Na aula, minutos atrás, conseguira derrotar o sonserino numa simulação de duelo, lançando contra ele, de forma bem executada, um feitiço de complexidade elevada. No entanto, pelo olhar que ele lhe dirigira, ela imaginou que ele guardaria rancor. Só não esperava que a abordasse assim, tão rápido.

— Caius, com licença. — a garota pediu, juntando toda sua coragem e apertando os livros contra o peito. — Eu preciso entregar esses livros na biblioteca.

O rapaz abriu um sorriso e Rudolph, o mais alto entre os três, impediu Amelie de passar. A jovem lufana respirou fundo, tentando ao máximo manter a calma e não sentir medo. Conhecia aqueles três somente pelo nome e pela fama de serem um tanto cruéis nas brincadeiras com os alunos mais jovens, principalmente os nascidos trouxas e os que pertenciam à Lufa-Lufa. Elle inclusive já lhe falara sobre eles — costumavam conversar, mas ela não os considerava amigos.

Mesmo assim, foi em direção a Amelie que Melinda lançou um olhar — talvez como se estivesse esperando que ela, por se relacionar com a sonserina, tivesse algum poder sobre eles? De forma alguma.

— Não precisa ter medo... Eu só queria conversar. Fiquei admirado com a sua habilidade hoje, McLean. Estava me perguntando se não poderíamos repetir a dose. Talvez você gostaria de, sei lá, me ensinar algum desses feitiços. — o garoto endureceu a voz nas últimas palavras. Encarou Amelie com os olhos frios e tirou das vestes a varinha, que era feita de madeira escura e retorcida. — Ora, não podemos esquecer as cordialidades... — completou então, colocando-se em postura de respeito e fazendo uma breve mesura.

Amelie tinha plena consciência de que duelos fora das aulas eram proibidos. E, mesmo que não fossem, sabia que aquilo ali não tinha ar puramente recreativo. Caius era ardiloso e seus olhos não tinham honestidade. Mesmo assim, ela levou uma das mãos às vestes, sentindo o conhecido toque da base de sua varinha; se precisasse se defender, pelo menos não teria dificuldade.

— Caius, eu não vou duelar com você. — respondeu então, em um tom apaziguador.

Jesse e Antonina, os dois lufanos que estavam com Amelie, deixaram o local na maior discrição possível. Mesmo Melinda, que não queria deixar a amiga sozinha naquela situação, dera alguns passos para trás, pensando em como se manter segura caso houvesse algum conflito.

— McLean, não precisa se preocupar. É só brincadeira, certo? Eu só queria saber como você fez tão bem aquele feitiço. Ainda mais sendo uma sangue-ruim da pior espécie.

Foi golpe baixo. Amelie sentiu as palavras cuspidas por Caius a atravessarem com mais agressividade do que qualquer feitiço de duelo. Sentiu algumas lágrimas lhe subirem aos olhos, odiando-se pela sempre tão aflorada sensibilidade, e tentou as segurar como pôde. Melinda cobriu a boca com as mãos, assustada com a gravidade daquele insulto.

— Não vai reagir, McLean? — Caius provocou novamente, sorrindo ao perceber que suas palavras a haviam desestabilizado. — Vamos lá, sangue-ruim. — completou, sem tirar o sorriso dos lábios. Ergueu a varinha, apontando-a para a garota ainda desarmada. — Exp...

Expelliarmus!

Subitamente, um raio vermelho surgiu entre os dois, fazendo com que a varinha de Caius voasse antes mesmo que ele pudesse terminar qualquer palavra. O rapaz cambaleou, impactado pela força do feitiço. Quando ergueu a cabeça, a fim de encarar Amelie, percebeu que não havia sido ela a responsável por aquilo: em frente à lufana, em posição de defesa, estava Elle, com uma expressão nem um pouco agradável.

Expelliarmus! — a sonserina repetiu, fazendo com que o garoto, agora desarmado, fosse derrubado na grama.

Amelie se viu sem ação. Nunca havia visto Elle O'Neil com a expressão de pura raiva que ela apresentava naquele momento. Nem mesmo nos momentos mais cruciais de um jogo de quadribol.

Nunca. Nunca. Mais. Repita. Essa. Palavra. Na frente. Dela. — a sonserina murmurava pausadamente, no mesmo ritmo em que dava passos raivosos na direção de Caius.

O rapaz não pareceu intimidado. Abriu um sorriso provocativo e ergueu a cabeça, levantando-se, mesmo que ainda um pouco cambaleante.

— Qual palavra? Sangue-ruim? Mas é o que ela é. — ele continuou sorrindo, encarando a garota em tom de superioridade.

Elle ergueu novamente a varinha, pronta para lançar algum feitiço ainda mais violento sobre o garoto.

— Elle, não! — foi Amelie a intervir, pousando a mão sobre a varinha em riste. — Você vai se prejudicar por causa dele.

A garota sonserina pareceu despertar naquele momento. Relaxou a postura tensa de ataque em que se encontrava e baixou a varinha, percebendo que chamara atenção de diversos alunos, que agora faziam uma roda ao redor do pequeno grupo.

— Isso, Elle. Ouve a sua amiguinha sangue-ruim. Não vai querer tomar mais uma detenção esse ano, certo?

Ninguém esperava o que aconteceu depois: antes mesmo que a sonserina pudesse erguer novamente a varinha, Caius recuou três passos, com um grito de dor e a mão no rosto. Amelie, à sua frente, balançava a mão, sentindo nela o impacto do soco que acabara de acertar em cheio no rosto do sonserino.

— Amelie!

A lufana abriu um pequeno sorriso, aceitando o abraço que recebeu de Elle. A sonserina não se importou que Caius as tivesse vendo. Não se importou com Melinda, os gêmeos, nem mesmo com todos os alunos que haviam se juntado ao redor das duas e, naquele momento, assistiam um inédito abraço entre a implicante sonserina e a tímida lufana.

— Obrigada, Elle. — Amelie McLean voltou a sorrir, murmurando o agradecimento entre as vestes da sonserina. Elle acariciou-lhe os cabelos, abrindo um sorriso análogo, apertando-a mais naquele abraço.

— Com licença, com licença... — uma voz interrompeu aquele momento, fazendo as duas garotas interromperem o abraço. Mesmo assim, continuaram de mãos dadas, afinal nem Elle nem Amelie queriam se soltar uma da outra. — O que diabos aconteceu aqui?

Era a vice-diretora de Hogwarts, Minerva McGonagall, que encarava os três com sua mais clássica expressão severa. Caius se manteve calado, Amelie abaixou a cabeça, se sentindo enrubescer, e Elle simplesmente coçou os cabelos, como se não tivesse nada a ver com aquilo.

— Miss O'Neil, Miss McLean e Mr. Shacklebolt, os três na minha sala. Agora.

Caius passou por Elle e Amelie com a cabeça erguida, mas uma expressão emburrada no rosto. Elle pousou um dos braços sobre os ombros de Amelie, rindo pelo nariz, e mesmo a garota, que odiava fazer coisas erradas, não conseguiu segurar a risada. E assim, juntas, a lufana e a sonserina seguiram a Prof.ª McGonagall, dando as costas a tantas expressões surpresas e a uma chuva de comentários de todo tipo.

Pelo menos agora não precisariam mais fingir.


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso aí.
Não faço questão de comentários, mas adoraria receber um feedback do amor ♥
Podem criticar, elogiar, falar o que quiserem. Estou aberta e ansiosa pra saber a opinião de vocês! :3
E é isso aí.
Beijos ♥