Meu Presente escrita por Sensei Arê


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá meus anjinhos de Natal! Como têem passado?!
Bem, hoje a titia volta a tona com mais um presente de amigo secreto! Sinceramente, creio a única forma de escrever algo pra alguém agora seja dessa forma e, de certo modo, eu não me arrependo de participar desse tipo de evento. Me motiva a escrever coisas fofas!
Então, a minha amiga secreta é a Lília Saboya, conhecida também como Gatita/GatiMatsushita no mundo das fanfic's. E eu espero do fundo do meu coraçãozinho negro que ela goste desse humilde presente.
E, como sempre, não podia faltar a trilha sonora, néh? Então, eu separei de acordo com as fases da história. Quem quiser ouvir, vale a pena, hein?!

Segunda semana de novembro: https://www.youtube.com/watch?v=itcMLwMEeMQ

Terceira semana de novembro: https://www.youtube.com/watch?v=A8Nl4yPzE3U

Quarta semana de novembro: https://www.youtube.com/watch?v=w4-8nby81cM

Terceira semana de dezembro: https://www.youtube.com/watch?v=mN7LW0Y00kE

Dia 24 de dezembro: https://www.youtube.com/watch?v=LUjn3RpkcKY

Então é isso, reninhas!
Boa leitura a todos! Nos vemos nas notas finas!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/716674/chapter/1

Meu Presente

Segunda semana de novembro.

Por mais que seu trabalho na Terra fosse o de salvar vidas, naquele exato momento, o cardiologista Sasuke Uchiha queria acabar com uma.

— Você fez o que? — Ele perguntou, entredentes.

— É surdo ou o que? — O loiro abriu um sorriso debochado, pouco se importando com o olhar mortal que lhe era direcionado. — Eu disse que coloquei os nossos nomes no amigo secreto de Natal desse ano.

— E com que direito você fez isso, Naruto? — Sasuke indagou novamente, fechando os olhos para tentar se controlar. — Você não tinha que ter colocado o meu nome em lugar nenhum sem a minha autorização!

— Ainda bem que eu não pedi o seu CRM, não é “doutor antissocial”? — Naruto zombou outra vez, agora se aproximando e abraçando o outro pelos ombros. — Ah, qual é, Sasuke? É apenas uma troca de presentes entre colegas de trabalho, e não uma inscrição pra dobrar o plantão na UTI intensiva!

— De qualquer modo, você tinha de ter me consultado antes, seu idiota! — O Uchiha respondeu, suspirando pesarosamente e dando-se por vencido. Naruto Uzumaki, seu velho amigo de faculdade e colega de profissão, podia ser impossível quando queria. — Quantas pessoas estão participando? E quando vai ser o sorteio?

— Bem, que eu me lembre temos os paramédicos, as gracinhas da enfermagem, a recepcionista nova... — Naruto começou a enumerar cada um que começava a se lembrar, enchendo a cabeça de Sasuke com nomes que ele mal fazia questão de lembrar. — Bem, o sorteio foi realizado hoje durante o almoço, mas você estava matando hora por aí, o que foi perfeito, ou você não participaria. — E o loiro deu um sorriso malvado. — A entrega do presente vai ser no plantão da noite de Natal. Eu peguei o seu papelzinho... Toma!

O moreno abriu a mão e pegou o pedacinho de papel dobrado. Tão cuidadoso quando em suas cirurgias, Sasuke abriu o papelzinho, descobrindo o nome de seu amigo secreto: Hinata Hyuuga. Então, sua “amiga” era a tímida tecnóloga em radiologia, a responsável pelo setor de ressonância magnética. Não foram poucas as vezes em que se trombaram pelos corredores do hospital, ele até mesmo pedia que vários de seus pacientes passassem no seu setor antes de qualquer procedimento ou tratamento com ele. Mas no fundo, ele não sabia nada sobre Hinata Hyuuga.

— E aí? — Naruto inqueriu, todo curioso. — Gostou de quem você tirou? Já sabe o que vai dar de presente?

— Preocupe-se com o seu amigo, babaca. — Sasuke o respondeu, amassando o papelzinho e jogando no bolso do jaleco. — Sinto dó de quem vai receber qualquer coisa laranja de você...

— Oras, seu estúpido! — O loiro fechou a cara.

Bem, obviamente, Sasuke Uchiha não poderia matar Naruto Uzumaki por ter sido um maldito intrometido. Mas irritá-lo era quase a mesma coisa, então ela já se dava por satisfeito. Por hora... Já que, no momento, ele precisava voltar aos prontuários e pacientes.

Passaram-se várias horas desde que o loiro havia lhe colocado naquela enrascada, e seu humor ainda não havia se estabilizado totalmente. Não era muito comum que o próprio médico acompanhasse seu paciente até outros setores do hospital para eventuais exames. No entanto, Sasuke não estava com a mínima paciência de aguardar algum enfermeiro para fazer o procedimento, então ele próprio estava empurrando a cadeira de rodas de uma senhora de 88 anos até o setor de radiologia do hospital.

A idosa choramingava a casa placa de informação radioativa que via no corredor, mas Sasuke — apesar de sua feição séria — tentava acalmá-la com sua voz branda, explicando que nada de mal lhe aconteceria e que o exame era realmente necessário. Um tanto relutante, ela parou de reclamar até chegarem às portas do setor de ressonância, onde o jovem médico bateu três vezes e esperou. Não demorou nem um minuto para que as portas se abrissem e revelassem uma morena bonita, com grandes olhos brilhantes.

— Oh, boa noite, doutor Uchiha! — Hinata o cumprimentou formalmente, abrindo um leve sorriso. — Soube que tinha solicitado uma ressonância, mas não esperava que o senhor mesmo descesse com a paciente.

— O pessoal está ocupado lidando de um assunto mais urgente e eu não estava com muita vontade de esperar. — Sasuke a respondeu, dando de ombros. — Esta é a senhora Chiyo. Precisamos de uma ressonância contrastada do coração.

— Ah, sim, claro! Muito prazer, senhora. O meu nome é Hinata. — A doce morena cumprimentou a anciã com um largo sorriso, curvando-se um pouco para ficar com o rosto à altura do dela. — A senhora já fez, ou sabe como é feito o exame de ressonância magnética?

— A mocinha vai me colocar naquele tubo grande... — A velha Chiyo balbuciou, com a voz temerosa. — Eu não gosto daquilo. Parece que vou ficar presa lá.

— Não há o que temer. — Hinata assegurou, colocando a mão sobre a dela e lhe acariciando levemente. — Venha, vou lhe mostrar como não tem nada de mais.

A jovem tecnóloga abriu o caminho para eles, enquanto Sasuke empurrava a cadeira da idosa. Seguindo os protocolos, Hinata fez um pequeno questionário com a senhora Chiyo e passou rapidamente todas as informações para um computador acoplado ao equipamento de outra sala ao lado. Em seguida, eles entraram numa sala grande com um aparelho de ressonância, onde médico e radiologista posicionaram a paciente com cuidado na mesa de exame. Para manter o aparelho funcionando direito, o ambiente era mantido em temperatura baixa, mas a Hyuuga certificou-se de manter o bem-estar da paciente, oferecendo-lhe um cobertor grosso e a promessa de que tudo ficaria bem durante o exame.

— É surpreendente como as crianças e os idosos voltam a ter os mesmos medos... — Sasuke comentou, assim que Hinata fechou a porta da sala atrás deles. — Você sabe lidar muito bem com esse tipo de situação...

— Todos nós temos medo de alguma coisa. — A morena o respondeu, sentando-se na mesa de controle e começando a dar os comandos para começar o exame — O melhor que podemos fazer é realmente confortar cada um de uma forma ou outra com o que se tem. Pode não ser muito, mas já é algo.

— Concordo com você.

Sasuke se limitou a concordar, ficar em silêncio e em pé, logo atrás da Hyuuga. Apesar de ser um homem muito sério e centrado, o Uchiha tinha escolhido aquela profissão por saber que o mundo podia ser um lugar melhor se as pessoas estivessem com saúde. E a saúde emocional e mental também contava com aquilo. Sendo assim, ele era um cardiologista que fazia de tudo por seus pacientes, mesmo que não tivesse um sorriso no rosto.

— Hmm, bem... — Hinata murmurou, virando-se para ele com um sorriso amarelo. — O exame vai demorar de 45 minutos a 1 hora. O pós-processamento é rápido, mas...

— Sim, eu sei disso. — Sasuke a respondeu, como se aquilo fosse óbvio. Hinata corou violentamente e voltou a olhar para o computador em silêncio. — Vou buscar um café para mim. Gostaria de alguma coisa?

— Oh, não. Não precisa se incomodar.

De novo, o sorriso condolente e tímido estava ali. Sem dizer nada, o moreno saiu da sala de comando e rumou para a cafeteria do hospital. Sasuke podia não saber nada sobre Hinata Hyuuga, mas certamente podia dizer que ela era uma mulher que sorria muito; o que era completamente o seu oposto... Sendo assim: o que diabos ele iria dar de presente para uma pessoa como aquela?

Ele realmente queria matar Naruto...

~*~*~*~

Terceira semana de novembro.

Alguns outros dias se passaram desde que Sasuke conversou com sua tímida amiga secreta pela última vez, e até o dado momento ele não fazia a mínima ideia de qual presente compraria para ela. Volta e meia, ele esbarrava com Hinata pelos corredores do hospital ou pelo refeitório, mas tudo o que ela lhe reservava era um sorriso educado e um cumprimento baixo. Ao contrário das enfermeiras que sempre suspiravam e mandavam olhares sedutores para ele cada vez que o encontravam, o que era realmente incômodo, embora nunca as repreendesse. 

“Talvez um perfume...”, o Uchiha pensou, tomando mais um gole do seu café puro, “Ou talvez outro sapato branco...”. Por mais que olhasse para a Hyuuga de longe, ele ainda não conseguia identificar o que mais combinaria com ela. Mesmo que a morena fosse zelosa e sorridente com todos, ele sempre a via sentar-se na mesa mais afastada do refeitório, para comer sozinha enquanto lia algum livro. Todos a cumprimentavam educadamente e ela respondia com seus sorrisos, mas ninguém realmente ficava muito tempo com ela.

“Quem sabe, algum livro sobre radiologia ou anatomia...”, ele pensou outra vez, terminando o café e levantando-se da mesa, dirigindo-se até o local onde a morena estava sentada. Particularmente, Sasuke sempre odiou ser interrompido quando lia ou estudava e não encorajava ninguém a fazer o mesmo ou ele próprio fazia com os outros. No entanto, aquilo era uma situação diferente: ele precisava saber o que dar de presente para aquela mulher, ou acabaria deixando-a sem nada no dia da entrega.

— Olá, Hinata. O que está lendo? — Ele perguntou, sentando-se na cadeira da frente.

— Ah, olá, doutor Uchiha. — Hinata se sobressaltou um pouco, corando levemente e abraçando o livro contra o peito, mas logo abrindo aquele famoso sorriso educado e estendendo o livro para ele. — Chama-se “A Fúria do Lobo”, de Patrícia Briggs.

— É um romance sobrenatural? — Sasuke não escondeu a surpresa na voz ao pegar o livro e ver um lobo cinzento encarando-o com seus olhos azuis na capa — Eu jurava que você fazia o “tipo nerd”... Agora, isso aqui é...

O médico descrente abriu o livro numa página aleatória no começo da história e leu uma frase... Depois outra, e mais uma em seguida. Uma página inteira foi lida num piscar de olhos e, assim que se deu conta do que estava fazendo, Sasuke olhou para Hinata um tanto sem graça. A morena por sua vez o encarou com um sorriso realmente afável no rosto, como se estivesse fascinada por vê-lo ler.

— Gostaria de lê-lo desde o começo, doutor? — Ela perguntou, sem qualquer tipo de pretensão. — Se quiser, posso emprestá-lo.

— Não, não precisa. — Sasuke tentou não se mostrar tão interessado assim, fechando o livro e devolvendo à dona. — Além do mais, você estava lendo tão compenetrada...

— Ah, eu já li esse livro várias e várias vezes. — Hinata o respondeu, empurrando o livro de volta para ele. — Pode levá-lo por agora, doutor Uchiha. Quando tiver terminado, é só me entregar.

— Por que você sempre me chama apenas de “doutor” ou “doutor Uchiha”? — O moreno perguntou, com a voz branda. — Eu não sou tão mais velho que você, e tenho um primeiro nome também... Todos me chamam de Sasuke, sem ser na frente dos pacientes.

— Oh! Des-desculpe... — A radiologista corou, como na outra vez, levantando-se da mesa e colocando as mãos dentro dos bolsos do jaleco — É questão de respeito. N-não queria incomodá-lo...

— Não incomoda. Mas não precisa me chamar de doutor, a menos que estejamos com algum paciente. — Ele afirmou, quase como se estivesse falando com um de seus pacientes. E então, ele lhe concedeu um meio sorriso. — Por Deus, eu tenho apenas 34 anos.

— E eu tenho 28. Realmente, não é uma grande diferença. — Hinata comentou, abrindo um sorriso tímido. — Certo, prometo tratá-lo apenas por seu nome quando for conveniente, Sasuke. — E então, ela olhou para o seu relógio de pulso, depois para ele novamente — Bem, preciso voltar para o meu setor agora. Espero que goste do livro! Até outra hora!

Sasuke apenas ergueu uma mão para ela, vendo-a sair do refeitório e então tornando a olhar para o lobo cinzento na capa do livro. Os olhos azuis eram reluzentes, quase como um desafio para que ele o lesse, realmente. O que tinha lhe passado na cabeça para interromper uma pessoa em sua leitura e ainda angariar um livro para ler? Ele nem ao menos gostava de literatura fantástica, muito menos romances! 

Céus, ele estava ficando igualzinho o Naruto!

~*~*~*~

Quarta semana de novembro.

Quatro dias. Esse foi o tempo exato que Sasuke Uchiha precisou para ler o livro todo, e utilizando apenas as suas escassas horas livres no hospital. A didática do livro era fascinante! Era impressionante como ele se prendeu aos personagens e “devorou” a história em pouco tempo.

Nesse meio tempo, ele não conseguiu ir até o setor de radiologia, ou mesmo encontrar com Hinata, pois os plantões haviam sido trocados por alguns dias, mas sua vontade era de devolver esse livro e já pegar o próximo da série. E era com esse pensamento em mente que o moreno se dirigia ao setor de radiologia, até que um dos estagiários lhe disse que a tecnóloga estava no terraço, em período de pausa. O Uchiha pegou o elevador e subiu o último lance de escadas, ansioso com as perguntas que queria fazer, no entanto, a voz angustiada no terraço lhe fez parar e redobrar a atenção.

— Não temos mais nada para conversar! Está acabado!  — Hinata parecia muito aflita, embora estivesse falando pelo celular. — Por favor, Toneri, eu estou no meu serviço e preciso mantê-lo. Não me ligue novamente!

Talvez aquela não fosse a melhor hora para devolver o livro e pedir qualquer outra coisa. Sasuke estava para dar a meia volta e refazer o caminho até o seu consultório, se ele não tivesse escutado um pequeno choramingo. Hinata estava sentada no chão do terraço, com as costas apoiada na parede do edifício e os olhos fechados. Seus cílios ainda seguravam uma ou outra lágrima e seus lábios estavam trêmulos pelo esforço para controlar e reprimir as emoções. Sasuke sabia que ele não deveria se intrometer e nem ao menos mencionar que havia visto sua colega de trabalho ali, o melhor mesmo era ir embora e devolver o livro em outra hora... Mas ele não conseguiu.

Independentemente de seu humor taciturno e seu semblante sério, o Uchiha nunca conseguiria manter-se alheio aos sentimentos e receios dos outros. Foi assim quando Naruto começou a pirar com o sentimento pela enfermeira de cabelos rosa, ou quando sua mãe decidiu conversar sério com ele sobre o caso de seu pai — infartado, na época. Naquele momento, Hinata Hyuuga não era apenas a sua colega de trabalho ou sua amiga secreta de final de ano. Ela era uma pessoa que precisava de algum tipo de apoio. Por essa, entre outras razões, ele se aproximou silenciosamente e se sentou ao lado dela. A morena arregalou os olhos lilás perolados e abriu a boca para falar qualquer coisa, porém ele a silenciou com um dedo em frente aos lábios.

Sasuke então tirou seu celular e os fones de ouvido do bolso da calça, plugando-os ao aparelho e acionando a playlist de músicas do celular no modo aleatório. Sem dizer nada, ele apenas pegou um dos fones e colocou no ouvido da morena, ao mesmo passo que colocou o outro em si, deixando que a música leve rolasse.

“Last Christmas I gave you my heart…

But, the very next day, you gave it away!

This year, to save me from tears,

I'll give it to someone special...”

Aleatoriamente ou não, a música supriu a necessidade de quaisquer palavras. Hinata encarou o moreno a sua frente por alguns instantes, antes de deixar que algumas lágrimas insistentes rolassem por seu rosto pálido. Sasuke a abraçou pelos ombros, deixando que ela colocasse todo o sentimento ruim para fora. Era a única coisa que ele poderia fazer, mas podia significar muita coisa.

Passados alguns minutos em pleno silêncio, a Hyuuga enxugou as lágrimas e inspirou profundamente. Sasuke pegou os fones de volta e guardou-os junto com o celular no mesmo lugar de antes, levantando-se e estendendo uma mão para ajudá-la a levantar. Os dois voltaram para dentro do hospital com as mãos dadas, muito embora ainda estivessem quietos.

— Gostou do livro? — Hinata perguntou, quando já estavam dentro do elevador.

O Uchiha a admirou por alguns instantes, vendo como suas bochechas estavam vermelhas e os olhos brilhantes tentavam se mostrar mais fortes depois de algo tão ruim. Foi quando ele entendeu o óbvio: Hinata era como um lobo solitário. Ela podia se preocupar com o bem-estar de todos ao seu redor, mas era incapaz de preocupar qualquer um com os seus próprios problemas. E aquilo era o mais próximo que ele poderia ter de parecido consigo mesmo.

— Sim, eu gostei muito. — Sasuke lhe respondeu e estendeu o livro para ela, lembrando-se do motivo que o levara buscar a morena no terraço. — Foi uma surpresa e tanto, a história é bem escrita.

— Gostaria que eu trouxesse outros livros, Sasuke? — Ela lhe perguntou, e ele pôde notar o leve tom de esperança naquela voz.

— Eu adoraria. Obrigado, Hinata.

A morena abraçou seu livro contra o peito, deixando que um leve sorriso sincero despontasse em seus lábios rosados. Mesmo triste, ela ficava feliz em ter alguma utilidade para ele. E, se de alguma forma ele pudesse ajudar, o jovem cardiologista não hesitaria.

E isso fez Sasuke Uchiha abrir um pequeno sorriso também.

~*~*~*~

Terceira semana de dezembro.

Nos dias que se seguiram, Sasuke e Hinata começaram a se aproximar um pouco mais. A doce radiologista sempre lhe trazia um livro novo, que era devorado em poucos dias; ao mesmo passo em que o médico astuto lhe mostrava músicas novas para o seu repertório. Agora eles se sentavam na mesma mesa no refeitório quando se encontravam; ao mesmo passo que agora ele quase sempre acompanhava seus pacientes ao setor de radiologia quando podia.

Dois dias depois do ocorrido no terraço a Hyuuga finalmente se sentiu mais à vontade para explicar que Toneri Ootsutsuki era seu — agora, ex. — namorado. Eles ficaram juntos por dois anos, mas já estavam separados a cinco meses, por conta do temperamento agressivo e ciumento do albino. Nas últimas semanas ele tinha voltado a procurá-la, porém o seu humor não estava melhor do que antes, então a morena não queria nem ao menos se aproximar dele. O sentimento todo havia se extirpado, como as flores no inverno. Sasuke nunca foi de opinar muita na vida das pessoas, por isso, o melhor que fez foi murmurar que compreendia suas atitudes.

Desde então, os dois haviam trocado seus números e volta e meia se mandavam mensagens quando não conseguiam se encontrar no hospital. Naruto até mesmo chegou a questionar se algo de diferente estava acontecendo entre eles, mas o Uchiha foi enfático em dizer que não havia nada de mais além de puro coleguismo. E, parando para pensar mesmo, Hinata era sua primeira amiga realmente. Uma mulher com que ele não teve nenhum tipo de vínculo físico ou emocional, uma pessoa que ele estava gostando de manter em sua vida. Uma pessoa para avida toda.

No entanto, nem todos os dias eram bons. Houve vezes em que Sasuke não conseguiu salvar um paciente, ou um tratamento não foi efetivo como ele pensava que fosse. Isso o abalava profundamente, embora não contasse isso a ninguém. Porém, silenciosa e protetora, Hinata o acalentava com a sua presença quieta, transmitindo com seu olhar que ele havia dado o melhor de si. Isso o fazia se sentir mais confiante. Do mesmo modo que quando ela precisou de ajuda com as investidas de Toneri, o Uchiha não pensou duas vezes em acabar de vez com aquele tipo de atitude, ameaçando não só processar o albino como também dar parte dele na polícia se ele continuasse a perseguir sua amiga. Hinata nunca pareceu tão agradecida.

E assim, eles foram seguindo. Em poucos dias, os dois já sabiam muito mais um do outro do que em anos de trabalho no mesmo hospital. E eles estavam num desses dias em que conseguiram tirar o mesmo horário de pausa; Hinata estava fazendo crochê, sentada ao lado de Sasuke que lia outro livro que ela havia lhe emprestado. Infelizmente, a morena não tinha os outros livros da série da “Fúria do Lobo”, portanto, o moreno teve de se contentar com outros livros á parte. Vieram os livros sobre mitologia, contos de fada macabros, romances... Todos os tipos de histórias que ele nunca imaginou ler. 

— Afinal de contas, o que está fazendo? — Sasuke perguntou, colocando o marcador entre as páginas do livro. Já faziam mais de 20 minutos que os dois estavam em pleno silêncio, apenas apreciando a companhia um do outro.

— Bem, estou fazendo o presente do meu amigo secreto. — Hinata o respondeu, sem tirar os olhos das agulhas.

— Ahh... Trabalho manual, hein? — O Uchiha avaliou, olhando o trabalho intrincado que ela fazia. — Já faz alguns dias que você está fazendo, não é? Não é cansativo?

— Na verdade é bem relaxante! — A morena o respondeu, abrindo aquele sorriso meigo que só ela sabia dar. — Dizem que se você fizer uma coisa com as suas mãos, o sentimento que você tem passa para o seu trabalho. Eu espero que o meu amigo secreto goste disso...

Foi quando o moreno reparou em como a Hyuuga trabalhava com serenidade. Ele não poderia mentir e dizer que também não apreciou o tempo em que eles passaram lado a lado em silêncio. Foi quando ele pensou em como os dois haviam se tornado mais amigos e qual foi o caminho que o levou até ali. Até o dado momento, Sasuke não tinha encontrado o presente ideal para Hinata. E, vendo como ela trabalhava com dedicação e carinho naquele presente, ele sentiu uma pontada de ciúmes de quem iria recebê-lo.

— Só se seu amigo for um completo idiota pra não gostar...

Emburrado, o jovem cardiologista virou o rosto e voltou a ler o livro em suas mãos, e ele não viu como as bochechas de uma certa radiologista ficaram muito mais coradas.

E para piorar ainda mais a situação, o celular de Sasuke vibrou com uma mensagem de voz de Naruto. Uma voz muito animada e estridente para quem acabara de acordar, lembrando-lhe que faltavam apenas dois dias para ele trazer o presente do amigo secreto. Revirando-se na cadeira, o Uchiha suspirou pesarosamente enquanto Hinata soltava uma risadinha condolente. O moreno estava malditamente ferrado! Como ele poderia encontrar algo tão especial à altura de sua amiga? Por mais que quebrasse a cabeça pensando em algo surpreendente, nada parecia ser a “cara” da Hyuuga.

Hinata era uma mulher muito inteligente e perspicaz, mas também era doce e sonhadora. Céus... Como pudera ficar tão complicado daquele jeito! Era para ser algo simples!

— Espera aí... — Sasuke murmurou. Sua expressão era de quem havia acabado de acender uma lâmpada de inteligência acima da cabeça. — É simples! Como eu não pensei nisso antes?

— Do que está falando, Sasuke? — Hinata se virou para ele, virando a cabeça como quem não entende nada.

— Eu tive uma ideia! — Ele a respondeu, levantando-se da cadeira com o livro em mãos e um sorriso nos lábios — Preciso ir. Nos vemos depois, Hina!

A Hyuuga se surpreendeu por ter ganhado um apelido, quase tanto quanto por ter visto um sorriso naquele rosto usualmente tão sério. Porém, antes que ela tivesse sequer a oportunidade de expressar qualquer coisa, Sasuke já andava a passos largos para fora do refeitório.

Talvez, se ele corresse e tivesse sorte, as coisas poderiam dar certo!

~*~*~*~

Dia 24 de dezembro, dia da Véspera de Natal.

Havia chegado o grande dia. Todos deram um duro danado no plantão, fazendo o melhor que podiam para salvar todas as vidas em suas mãos. Por conta do expediente puxado, Sasuke e Hinata não conseguiram se encontrar durante o dia, muito embora não estivessem menos ansiosos para a hora da troca de presentes.

O Uchiha estava um tanto nervoso com a sua escolha. De fato, quando pensou em como a Hyuuga era, o presente em si se tornou tão claro quanto um cristal. No entanto, a simplicidade do que pretendia dar acabou lhe deixando em dúvida. Ele havia visto como seus outros colegas trouxeram presente suntuosos e, sem dúvida, mais caros do que o dele... Mas, ainda assim ele mantinha acesa a chama da esperança.

Quando o plantão de todos havia acabado, pouco antes da meia noite, todos os participantes do jogo se reuniram no refeitório do hospital, perto da grande árvore que havia sido montada. Sasuke abriu um sorriso de canto ao ver Hinata sentada entre os paramédicos, que ele sabia serem seus amigos a mais tempo. Ela lhe sorriu de volta, mostrando aquele lado belo e meigo que só ela sabia ter. Aquele sorriso, só ele recebia, e isso era uma certeza.

— Estamos todos aqui? — Naruto perguntou, olhando para todos na roda com um sorriso de orelha a orelha. — Então, quem quer começar?

Começou-se um burburinho e uma chuva de melindres. Ninguém queria começar a brincadeira, jogando uma pista para que alguém adivinhasse quem se tinha tirado. Nesse momento, o Uchiha lembrou por que detestava participar daquele tipo de confraternização. Ele odiava esperar. Dando um olhar mortal para Naruto, que o cutucava com o cotovelo, Sasuke suspirou resignado e se levantou, indo para o meio da roda. Então, ele pensou por um instante, escolhendo as melhores palavras para descrever Hinata.

— A minha amiga secreta é uma mulher excepcional. — Ele começou, olhando para todos na roda, ouvindo os burburinhos de excitação das mulheres — Mesmo sendo uma pessoa reservada e tímida, ela tem um coração maravilhoso e foi capaz de me ensinar algumas coisas. Eu, como cardiologista, não entendo metade das coisas do coração como ela. — E então, depois de alguns segundos em silêncio, Sasuke abriu um sorriso de canto e olhou diretamente para a morena — E essa pessoa, é a Hinata.

A Hyuuga arregalou os olhos lilás perolados, levando uma mão a boca para enquanto era empurrada pelos mais próximos para o meio da roda. O Uchiha manteve o sorriso nos lábios e lhe estendeu o presente. Era uma caixa grande, encapada com papel dourado e enrolada com uma fita grossa, vermelha com detalhes em dourado também. Ansiosa, Hinata abriu a caixa e todos se aproximaram um pouco mais para ver o que ela havia ganhado.

A morena havia ganhado várias miudezas: um cartão de fidelidade da cafeteria que mais gostava e uma caneca térmica do lugar, um par de luvas macias e um abafador de orelhas, os dois outros livros da coleção Alpha e Omega e uma caixinha com um cartão de memória para celular contendo todas as músicas que eles ouviam juntos. Por fim, ainda tinha um porta-retratos com uma foto em que ela e Sasuke haviam tirado em frente ao café, mostrando apenas os olhos contente e enrolados com grossos cachecóis. “Obrigado, por tudo o que você representa para mim. Sasuke.” Era o que estava escrito atrás da foto.

— Fala sério, Sasuke! — Naruto adejou, olhando indignado para o amigo. — Eu sei que você não queria participar da brincadeira no começo, mas você também não precisava fazer isso... Que tipo de presente é esse?!

— Foi o que eu achei que combinaria com a Hinata... — O Uchiha se defendeu, começando a pensar que havia feito uma grande burrice. — Eu...

— É perfeito!

E foi nesse exato momento em que todos soltaram um sonoro “O que?!”, encarando Hinata como se ela fosse uma louca. No entanto, o sorriso sincero e os olhos lacrimosos mostravam que a morena era mais do que sincera em dizer aquilo.

— Eu amei cada coisa que veio nessa caixa, porque é tudo o que eu gostaria realmente de ganhar. — Ela continuou a dizer, limpando as lágrimas de felicidade. — Muito, muito obrigada, Sasuke! Eu fiquei muito feliz!

E pela primeira vez, todos viram o doutor Sasuke Uchiha abrir um sorriso que mostrava sua real alegria. A surpresa continuou quando ele puxou Hinata para si e a envolveu num abraço afetuoso. Todos se entreolharam e deram de ombros, logo abrindo seus sorrisos e batendo palmas para os dois.

— Hey, Hinata, agora você tem que dizer quem é o seu amigo secreto! — Ino, a enfermeira da UTI, lembrou-a.

— Oh, sim, claro! — A morena se afastou um pouco, com as bochechas coradas. — Bem, o meu amigo secreto é um homem realmente impressionante. Apesar de se mostrar uma pessoa distante e reclusa, ele não mede esforços para ajuda a qualquer pessoa. Eu aprendi muito com ele esse ano e me tornei mais forte depois de conhece-lo melhor. — E mais uma vez, aquele belo sorriso apareceu. — Ao contrário do que ele pensa, o seu coração é tão grande e bom quanto os que ele se encarrega de curar... O meu amigo secreto é você, Sasuke.

Dessa vez foi o Uchiha quem arregalou os olhos negros ao receber o embrulho colorido. Todos começaram a rir e bradar: “É marmelada, é marmelada!”, mas o foco do moreno estava naquele presente que ele tanto quis. Com uma delicadeza implícita, ele tirou a fita do embrulho e puxou de lá de dentro o trabalho tão primoroso de Hinata: um poncho verde. De dentro do pacote ainda caiu um cartão de natal com um vale-presentes da livraria em que a morena costumava comprar seus adorados livros.

“Querido Sasuke, que o seu Natal seja luminoso e reconfortante, assim como a sua presença é para mim! Hinata.”, era o que dizia o cartão. Sem demorar mais, Sasuke se enfiou dentro do poncho, sentindo a malha quente lhe aquecer muito mais do que apenas o corpo. Realmente, o sentimento de amor e amizade que Hinata havia empregado para fazer aquele presente estava ali, em cada pedacinho de lã. Novamente, os dois sorriram e voltaram a se abraçar com afeto, sob as palmas e ovações dos companheiros de profissão.

— Hey, vocês dois estão bem embaixo do visco de Natal!

“With you, shawty, with you!

With you, shawty, with you!

With you, under the mistletoe, yeah!”

Naruto, intrometido como sempre, fez questão de berrar isso em alto e bom tom, fazendo com que os dois amigos se afastassem um pouco e olhassem para cima. Os antigos acreditavam que o visco tinha poderes mágicos de cura, também era vista como um símbolo de paz e dizem que os inimigos que se encontravam embaixo de um visco baixavam suas armas e se abraçavam. Hoje em dia, as pessoas têm o costume de se beijar quando se encontram ambos embaixo de um visco. Isso se deve talvez ao fato de que os escandinavos associavam tal planta com Frigga, a rainha do amor.

Dizem que os que se beijam embaixo do visco tinham a promessa de felicidade e sorte no ano vindouro. Mas, para Sasuke e Hinata, nenhuma daquelas outras informações eram cruciais para que eles voltassem a se olhar com o desejo implícito de cumprirem aquela “tradição”. Não, eles sorriram levemente antes de fecharem seus olhos sabendo que se beijariam por que eles queriam realmente que o amor deles, que começou como uma amizade, ficassem mais forte. E, assim como duas peças diferentes de um quebra-cabeças que se completam, eles tinham a certeza de que nenhuma de suas diferenças eram grandes demais para as suas semelhanças.

“Kiss me underneath the mistletoe…

Show me, baby, that you love me so!

Oh oh oh oh oh oh…”

Dessa vez, ninguém se surpreendeu quando o médico e a radiologista se beijaram apaixonadamente. Todos ficaram felizes por poder presenciar o ato mais belo entre o homem mais sério do hospital e a mulher mais tímida de todas, por que eles sabiam que era verdadeiro. “Você é o meu melhor presente...”, Sasuke sussurrou com a boca a centímetros da dela. Hinata lhe deu aquele sorriso só dele, voltando a colar os lábios aos dele pouco depois.

E aquilo bastou para calar de vez o intrometido do Naruto!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, é isso! Que tal acharam? Ficou um tanto melado como todas as minhas histórias de Natal geralmente ficam, mas nem por isso eu deixo de gostar do resultado! Ah, antes que me perguntem: a série Alpha e