Crianças Noturnas escrita por Lilac Kane


Capítulo 3
Capítulo 2




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Acordei subitamente com a ausência de um corpo ao meu lado. Lembrava claramente que Thyia tinha pedido para dormir ao meu lado esta noite, ara que fosse menos atormentada pelos seus pensamentos que se manifestavam quando ela estava sozinha. Mesmo assim continuei confusa sobre onde ela poderia ter ido quando eu comecei a me lembrar do resto da noite anterior.

Thyia tinha me perguntado se eu já tinha amado alguém. Fiquei com uma imensa vontade de falar “claro que não”, mas a verdade era que eu não sabia. Eu não tinha a menor ideia.

—Amar dói Selene... – Ela disse e deixou uma lágrima cair, eu nunca tinha-a visto chorar. Se fosse o amor que estivesse fazendo isso com ela eu certamente não queria amar. – Às vezes eu preferia não ter lembrado... Preferia não ter lembrado como é se sentir amada.

Eu não sabia o que falar para consolar ela, e também não tive a chance, já que, nesse momento, Ambrosia apareceu e percebeu o que estava acontecendo e então passou o braço pelos ombros de Thyia e a levou para outro lugar.

 -O que você ainda está fazendo aqui? – Perguntou Callidora, cujos olhos não estavam mais vermelhos. – O que aconteceu?

—Nada. – Respondi involuntariamente. Thyia não iria querer que eu falasse para elas o que tinha acontecido, mas agora eu só conseguia pensar em duas coisas: quem mais tinha memórias humanas e o que eu teria feito na minha vida humana.

Descemos as escadas em um silêncio desconfortável. Era certo que nenhuma das duas acreditava no que eu tinha dito, mas sabiam que eu não iria falar para elas o que tinha acontecido.

Separamo-nos pouco depois que a escadaria terminou, as duas seguiram para a festa e eu segui para o lado de fora. Precisava urgentemente de ar fresco.

Comecei a andar calmamente pelo jardim pensado no que eu podia fazer para tentar recuperar as minhas memórias humanas. Sentei na borda de um chafariz e coloquei a minha mão na água.

 - Onde estão as suas irmãs? – Ouvi uma voz grave perguntar e quando me virei vi um dos iluminados que estava no grupo que veio falar conosco no salão. Simplesmente respondi que elas não eram minhas irmãs e virei para o outro lado encarando a reação da água ao meu toque.

—Eu nunca entendo isso. – Ele disse e eu fiquei lá parada mesmo esperando ele completar o que ele disse, o que ele não fez. Voltei a olhar para ele, mas com uma sobrancelha levantada como se perguntasse o que ele queria dizer com aquilo. – Eu nunca entendo o porquê dos vampiros serem sempre tão rudes.

—Talvez esse seja o jeito que nós somos, não é mesmo? Os sanguessugas do mal? – Falei, ironizando um dos muitos nomes que os Iluminados usavam para nos descreverem.

 -Eu não acho que vocês sejam assim.

—Você não tem que achar nada, já que não nos conhece.

—Talvez a minha primeira impressão de você estivesse errada, talvez vocês sejam assim mesmo. – Falou e começou a andar para o lado oposto, mas não é como se eu fosso deixar que aquela grosseria passasse em branco.

—E qual foi a sua primeira impressão de mim?

—Na verdade não consegui pensar em palavras que descrevessem, mas assim que eu vi você aqui fora achei que estivesse confusa, até atormentada. – Disse ele, e eu percebi que aquela era a verdade mesmo. Como eu me descreveria? Bem a descrição que ele tinha feito de mim naquele momento estava absolutamente correta. Então resolvi perguntar uma das muitas perguntas que estavam na minha cabeça no momento, uma que ele saberia responder melhor que o meu clã.

Quando fui perguntar para ele, e levantei meu olhar, percebi que eles estava praticamente do meu lado; levantei de susto.

—Calma. – Ele riu e ajeitou o cabelo castanho claro. – Não é como se eu fosse fazer alguma coisa inconsequente.

—Eu tenho uma pergunta. Se eu a fizer, você vai me responder? – Perguntei, talvez se eu não soubesse aquela resposta fosse melhor. Mas antes que eu pudesse reconsiderar ele disse que sim, mas que depois eu teria que responder uma pergunta que ele me faria e sem meu consentimento as palavras saíram da minha boca: - Qual seria uma situação humana que um vampiro, geralmente, não provocaria.

E sem mais, nem menos; senti sua boca na minha. Meu primeiro pensamento foi afastá-lo, mas depois percebi o quanto aquilo era bom, será que eu teria feito aquilo em minha vida humana?

Antes que ele pudesse aprofundar o beijo me afastei pronta para gritar com ele, quando ele me surpreendeu mais um vez e riu. Jogou a cabeça para trás e gargalhou.

 -Você não esperava isso não é? – E eu estava tão em choque que ele gargalhou de novo e continuou a falar antes que eu pudesse me movimentar. – Bem, minha vez. Qual o seu nome?

Pensei um pouco antes de responder, seria aquilo um truque? Ele obviamente devia saber quem eu era, mesmo que existissem muitas outras vampiras e que os iluminados provavelmente não prestassem atenção a nomes de sanguessugas.

No momento em que eu ia responder vi um borrão descendo as escadarias da entrada do castelo e reconheci imediatamente os cabelos ruivos que voavam pela velocidade em que Callidora corria. O homem fez uma cara espantada no momento em que comecei a correr para entrar na mesma carruagem que ela.

—O que aconteceu?- Perguntei assim que entrei na carruagem, que agora balançava insistentemente devido a velocidade. Callidora me olhou de volta com os seus olhos castanhos arregalados, fazendo-os parecerem maiores do que realmente eram. Desviou o olhar do meu e respondeu que não era nada.

Mesmo depois de chegar em casa e depois de todos chegarem no palácio ela continuou afirmando que não era nada. Foi silenciosamente para o quarto e dormiu, mesmo que nós não precisássemos dormir todos os dias. Na verdade todos fomos dormir, pelo que pareceu a noite tinha sido cansativa para todos nós.

Era isso! Sentei na cama e percebi que a porta estava aberta. Saí do quarto e percebi que a porta do quarto de Callidora também estava aberta.

—Fecha a porta! – Ouvi a voz de Kora na escuridão que dominava o quarto praticamente todo, menos pela cara da dona do quarto, que estava iluminada por uma vela. – Callidora tem algo para nos falar.


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