Como Tudo Aconteceu escrita por O quarto espião demais


Capítulo 1
T01E01: O Começo




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 O Começo

   Lembro que era o primeiro dia do Outono de 2016 e estava extremamente frio.

     Logo cedo pela manhã, eu já havia feito algo que detestava fazer antes das 10 horas, acordado. O pior era que a partir daquele dia, levantar cedo se tornava uma tarefa diária pra mim. Isto porque a minha faculdade de Ciências da Computação começava ali.

    Como eu não dava a mínima se estava bem arrumado ou parecendo um ogro, me vesti de qualquer jeito e fui tomar um rápido café antes de sair.

    Andrew e Sally já se encontravam de pé, à mesa, e terminavam de se abastecer. Eles eram meus dois melhores amigos e, apesar de serem mais novos que eu, também funcionavam como pais certas vezes e me impediam de fazer burrada. Bom, em outras ocasiões, eles que me inspiravam a executar besteiras. Nós morávamos juntos.

   Ah, e ele tinha a pedido em namoro recentemente – e ganhou um sim -, então os dois passavam por uma espécie de lua-de-mel do namoro, algo resumidamente nojento e que não vem ao caso agora.

— Own... Olha o nosso filho indo para o primeiro dia de aula! — Sally comentou brincalhona ao me ver chegando à mesa. — Eles crescem tão rápido!

— Muito tenso? — Andrew me perguntou e eu assenti. — O primeiro dia realmente é difícil! Lembro que a minha estreia na escola foi marcada por pontapés, empurrões, diarreia e outras coisas que acabariam com o nosso café da manhã...

— O meu também foi chato... — Sally concordou. — Algumas garotas puxaram meu cabelo, rasgaram minhas bonecas, me prenderam no banheiro... Não, espera, eu que fiz isso com elas!

    Nós rimos brevemente e eu me assentei junto deles. O relógio-de-pulso de Andrew apitou repentinamente, fato que o fez interromper seu lanche de imediato e se elevar da mesa com demasiada pressa, até um pouco desesperado.

— Tenho que ir. Conhecem bem o meu chefe, né? Chegue 50 minutos antes e você é um ladrão, 10 segundos depois e está desempregado, pise numa bosta de galinha e ganhe permanentemente o carinhoso apelido de “Andrew do Galinheiro”...

— Ele ainda te chama disso? — perguntei, me servindo de café com leite e pão.

— Não, depois que eu pisei numa caca de vaca na semana passada, passou a ser “Andrew sapatão”.

— Adoro esses apelidos com duplo sentido! — Alegou Sally e nós rimos novamente.

   Ao se limpar das migalhas de pão e tomar sua maleta em mãos, Andrew deu um rápido beijo de despedida na namorada e correu para fora.

— Acho que vou indo também... — Sally disse, levantando-se da mesa.

— Mas o Starbucks só abre às oito... — falei, desentendido.

— Parece que a vadia da minha colega funcionária criou uma bebida nova que o patrão adorou e decidiu colocar no cardápio. Como é super complicada de fazer, tenho que ir mais cedo pra aprender. — Explicou. — Eu ainda faço aquela piranha ser demitida, ou não me chamo Sally Aldys!

— Seu sobrenome não é Aindler?

— Eu sempre me confundo... — ela deu de ombros. — Mas ela continua sendo uma piranha!

   Sally pegou sua bolsa sobre o ombro de uma poltrona próxima e caminhou até a porta.

— Boa aula. — ela desejou, abrindo a porta e saindo. — E vê se perde logo essa virgindade incessante! Nos primeiros dias, 70% das garotas que marcam presença só estão lá pra transar loucamente!

    E foi-se.

— Eu não sou virgem! – gritei de volta.

   Bem, eu era virgem. Se a minha vida romântica estava uma porcaria, imagina a sexual? Todavia, não era hora pra pensar nisso, o pedaço de pão com uma manteiga anormalmente grudenta na minha boca poderia causar comparações bastante indesejadas.

    Como estava sozinho, terminei ligeiramente o café e logo me vi indo pegar o ônibus. É, o ônibus...

    Até então eu não fazia nada da vida. Com 20 anos, vivia só e somente só pra comer e dormir, às custas de Andrew e Sally. E sempre que eu precisava ir a algum lugar, Sally me levava em seu carro. Ela era a mais nova de nós e curiosamente a única a possuir habilitação pra dirigir. Eu não tinha pois não me preocupava com isso, já Andrew, por falhar miseravelmente em todas as três provas que fizera.

   Voltando ao ônibus, aquele seria o primeiro que eu pegaria na vida. Acho que estava mais tenso com isso do que com a própria estreia na faculdade. Tinha um medo descomunal de entrar no veículo errado e ir parar no Centro de Tóquio, ou no meio de uma guerra no Afeganistão.

    No ponto havia algumas pessoas. Coloquei-me ancorado num muro próximo e fiquei a esperar.

    Ah, e vocês devem estar pensando: ele tem vinte anos e mora com amigos, o que houve com seus pais? Pra falar a verdade, nem eu sei. O autor da fic ainda não inventou uma típica tragédia clichê pra eles, mas eu tenho o palpite que será um acidente de carro!

   Nem um minuto tinha se passado ainda desde que cheguei ao ponto, mas minha cabeça já se alvoraçava em mil e uma ideias do que podia ter acontecido com o ônibus: provavelmente ele já poderia ter ido ali; como também poderia ter mudado sua rota; ou talvez o motorista tenha tido um enfarto a caminho daquele ponto...

    Eu já deveria estar subindo pelas paredes no momento em que ouvi a conversa de duas senhoras e percebi que elas pegariam o mesmo ônibus que eu. A partir daí, as fitei com toda a minha atenção. Acho que até pensaram que eu era um ladrão, entretanto, não as perderia de vista até estar dentro daquele ônibus maldito.

    Não demorou muito e logo chegou o transporte coletivo para a Sete de Setembro. Esse era o nome da minha universidade. Eu tive muitas sensações boas ao longo da vida, mas uma das que eu mais me recordo foi daquela quando me sentei num dos bancos do ônibus com a certeza de que era o certo.

   A viagem à faculdade foi tranquila. Bom, isto até uma grávida mal-humorada me expulsar do meu lugar e eu ficar entre dois negões dotados no corredor. Não me perguntem como eu sei que eles eram dotados, ainda tenho pesadelos horríveis com aquilo!

    Ah, e devem querer saber o meu nome, certo? Sinto muito, mas o autor ainda não me liberou a dizê-lo. Ele acha que fazer isso pode deixar vocês curiosos e com vontade de continuar lendo.

    Quando eu tive a vista da estrutura da minha faculdade a alguns metros, nossa, fiquei tão sem palavras que nem consegui descrevê-la pra vocês. Saltei do ônibus num rompante, decorando a placa deste instantaneamente para reconhecê-lo na hora de voltar.

   Na calçada, frente ao enorme gramado da escola, suspirei ternamente. Minha vida finalmente estava se iniciando. Nem entrara ainda, mas em meus pensamentos já me formava, casava e vivia a vida segura que sempre pedia a deus nos cultos de domingo.

   Um carro que passou bem próximo a mim, me encharcou com a água de uma poça de barro e me despertou. Eu ainda era eu.

— Droga! — gruí, indignado com tamanho azar que me cercava. — Mais cinco anos de estudo que serão uma completa vergonha!

     Neste momento, um carro preto estacionou na calçada às minhas costas. Deviam ser os pais de algum aluno o deixando na universidade. Porém, minha opinião logo se viu alterada quando uma das portas de trás do veículo se abriu e alguém me agarrou, deixando amostra uma arma.

— Aí meu pai, eu não tenho nada! Leve minha mochila com meus livros de 800 páginas sobre computadores, mas, por favor, não me mate! — implorei. Não me lembro com exatidão o quanto fiquei assustado, mas sei que passei perto de sujar as calças. — Ainda sou virgem e nem terminei a última temporada de Friends!

— Eu sabia! — A voz às gargalhadas atrás de mim soava excêntrica e um tanto conhecida.

    Me virei tendo duas hipóteses: ou se tratava do Coringa, ou era um velho amigo meu, Kyle. Infelizmente, a segunda opção que estava certa.

— Kyle... — reconheci desanimado, arqueando uma sobrancelha e apontando para a arma. — Onde arranjou isso?

— Eu pergunto coisas sobre você? Não! Apesar disso, você me conta do mesmo jeito... — ele citou. — Dane-se! E a arma é de brinquedo.

   Então ele se voltou a mim com um olhar insano e um sorriso de canto a canto. Eu me afastei.

— O que vem ao caso é que você é virgem! — exclamou, dando risadas. — Espere só até todos ficarem sabendo...

— “todos”? — questionei, confuso. — O Andrew e a Sally sempre souberam disso. E tirando eles, eu sou seu único amigo...

— Droga! — Kyle ficou chateado, se dando conta disso. — Mas então... O que está fazendo acordado tão cedo? Não me diga que viu outra barata na sua cama?

— Aquilo era um monstro, não uma barata! — retruquei. — Agora, minha faculdade de...

— Erick, vamos pro bar! — Ele ordenou para o motorista do carro e me ignorou inteiramente. — Preciso fazer mais um amigo pra contar a ele que você é virgem e te deixar envergonhado!

    Eu girei os olhos.

— Você vem?

— Não, eu tenho...

    Kyle fechou a porta do carro e partiu, me jogando mais lama.

— Aula. — completei, me virando para o prédio da faculdade e o contemplando por algum tempo. Não, na verdade nem deu tempo de contemplar nada, o sinal de início da aula tocou e eu tive que me apressar para não chegar atrasado em pleno primeiro dia.

   Passando pelos corredores da escola, eu me via no meio de um empurra-empurra que, só deus! Quase me amarrei num armário para não ser levado por aquela correnteza de gente atrasada.

   De relance, vi quando uma garota que ia mais a frente perdeu seu chaveiro verde com estampa de sapo, que ficava pendurado na sua mochila. Como ela prosseguiu normalmente, percebi que nem havia se dado conta do ocorrido e me apressei para pegar e entregar seu objeto antes que pudesse perdê-la de vista.

   E, nossa, como aquele sapo era horrível! Não sei se era pelo meu trauma de sapos ou por ele simplesmente ser horrível, mas pensei duas vezes antes de tomar o chaveiro em mãos. Pisei nuns vinte pares de pés enquanto corria para alcançar a moça, e finalmente a peguei na porta de sua sala.

— Ei. — chamei-a, tocando gentilmente em seus ombros.

— Hã? — ela se virou em minha direção, confusa.

    Quando a vi, meu deus! Não me recordo de ter respirado nos três minutos seguintes – ou foram cinco? Eu fiquei completamente paralisado, boquiaberto e babando, como alguém que se apaixona à primeira vista ou como um maníaco retardado mesmo. Só sabia de uma coisa: aquela garota linda dona daquele sapo horroroso, eu tinha que conhecer!

— Olá? — Ela me trouxe de volta ao mundo, acenando com as mãos frente a meus olhos.

— Ah, desculpe. — Tentei me recompor. Estava quase tendo um orgasmo só pela beleza dela. — Deixou cair o seu sapo!

   Em seguida, a entreguei o objeto. Ela me sorriu ternamente, esticando a mão pra agradecer. Fiquei meio relutante em cumprimentá-la com medo de, vocês sabem o que acontece com um tímido quando ele fica perto de uma menina bonita...

— Obrigada! — disse. — Esse sapo pode ser feio, mas tem história.

— É, ele é feio! — concordei. — Mas fico feliz em ajudar. A propósito, sou o Josh.

    Finalmente o meu nome saiu! Nossa, tava até receoso em pensar que os outros personagens iriam se referir à mim como “garoto-narrador”.

— Cobie. — ela se apresentou. Logo, ela espreitou o olhar ao redor e viu que sua suposta professora da primeira aula chegava pelo corredor, então me fitou novamente. — Podemos entrar para as nossas respectivas salas e participar de uma entediante apresentação geral, ou posso te contar a história do meu sapo...

— Agora eu nem acho ele tão feio mais. — comentei. Nós rimos e Cobie pegou a minha mão, saindo a me puxar pelo corredor.

— Vem comigo!

*

    Ah, era maravilhosa! Estávamos sentados num dos cantos do refeitório, sendo as únicas presenças ali. Cobie, tragada nas lembranças de sua vida, me contava, detalhe por detalhe, como adquiriu aquele sapo. E eu, suspirante, não captava nada além de sua beleza infindável.

— Desde então eu tenho esse chaveiro. — ela concluiu a história.

— Linda... — elogiei sua beleza, ternamente.

— “Linda”? — Cobie repetiu desentendida. — Meu pai morreu logo após me dar este sapo!

— Err... Linda no sentido de... de comovente! — tentei me corrigir. — É uma pena seu pai ter morrido...

— Tudo bem, eu detestava ele, mesmo. — ela deu de ombros, eu esbugalhei os olhos. — Josh, não é?

— Sim. — assenti sobre meu nome.

— Foi muito bom te conhecer! Espero que nos vejamos outras vezes!

— Eu também. — voltei a suspirar.

    Ficando com o coração despedaçado, vi Cobie se levantar e partir para a sua sala de aula. Ao longe, ela acenou para mim com as mãos e eu gesticulei de volta. Só não havia captado que ela estava era me avisando da diretora, que ia em minha direção.

— Ora, ora... — Ouvi a mulher dizer e me virei atônito. — No primeiro dia e já temos matador de aula?

— Não, não é isso. É que...

— Terá todo o tempo do mundo para se explicar na minha sala!

    E foi lá onde eu passei os cinquenta minutos que se sucederam. Depois, fui para a sala da turma de Ciências da Computação e tudo o que eu me lembro é que os professores se chamavam Cobie, os alunos se chamavam Cobie e até mesmo a maldita bolinha de papel cheia de cola que alguém me acertou e fez meu cabelo virar uma zona era Cobie. Cobie. Fiquei pensando nela o tempo todo. Só me dei conta de que a aula tinha acabado quando minha aflição para com o ônibus retornou.

   Se recordam de que eu resolvi decorar a placa do meu ônibus? Pois bem, agora a rua frente a faculdade estava entupida de ônibus e tudo o que eu tinha em mente era Cobie, e consequente e infelizmente, nenhum deles tinha o nome dela na placa.

— Ótimo... — urrei sarcástico, tentando imaginar um jeito de achar o ônibus certo. — Sem celular, sem cabines telefônicas por perto, sem poder telepático... Como identificar o meu ônibus?

   Bom, eu tinha um celular, todavia ele havia tristemente se tornado uma nobre vítima do destino quando eu jogava Super Mario há algumas semanas. O nível era difícil. Era a minha cabeça ou o celular, alguém ia colidir brutalmente com a parede de concreto da sala. Desde então, ele estava para o conserto.

   Tudo parecia estar perdido pra mim – é, sei ser dramático. Já até começava a pensar sob qual das pontes da cidade eu ia me abrigar ao anoitecer. Contudo...

   Até hoje eu dou graças pelo autor dessa fic só criar figurantes magros e anêmicos, porque ali, no meio de toda aquela muvuca de estudantes e pessoas pela rua, notei uma moça grávida que era extremamente igual à mulher que me fez ficar em pé na primeira viagem.

— É ela! — exclamei, pondo-me a segui-la animadamente para o transporte a que rumava.

   Em um curto espaço de tempo, lá estava eu outra vez no meu abençoado ônibus. Por um breve momento, notei que o motorista atual não se assemelhava muito ao anterior, então me dei conta de que eu não fazia ideia de como era o motorista anterior. Podia ser a própria Dora Aventureira pelo que eu saiba, que mesmo assim eu nem a tinha reparado.

   Por algum motivo excentricamente vingativo, o destino me odiava! Essa história teria mais sentido se o título fosse “Todo Mundo Odeia O Josh”.

    Logo que eu me assentei numa das poucas poltronas livres do ônibus, descobri a grávida ao meu encalço, roçando a garganta para que eu me levantasse e doasse o lugar à ela. Eu suspirei e resolvi conceder, afinal, foi a infeliz que me levou àquele ônibus.

   Ah, é... E pra onde ele ia? Bem, não lembro com exatidão, só sei que a futura mãe acabava de entrar numa viagem para ver o pai da filha, em algum lugar no cafundó da Alemanha. DA ALEMANHA!

   Vocês talvez pensem que eu rapidamente captei o que ocorria e desci do ônibus, correto? Errado! Terminei por ter que usar meu alemão nada legível pra pedir um celular emprestado a um seguidor de Hitler e ligar para o Andrew. A parte hard foi decifrar os números do telefone em alemão.

   Depois de quase três horas de espera, Andrew finalmente apareceu no carro da Sally e eu fui pra casa. Ah, e o Andrew sabia dirigir sim, só não conseguia ter controle ao volante perto do instrutor de trânsito. Não suportava pressão.

*

— E foi assim o meu primeiro dia de aula. — eu terminava de contar da minha desventura do dia aos meus amigos. Estávamos todos ao redor de uma mesa no Starbucks onde a Sally trabalhava. Kyle e eu de um lado, e Andrew do outro. Costumávamos concluir nossos dias ali, contando das desgraças pessoais uns aos outros enquanto bebíamos um reconfortante café. — Mal posso esperar pra amanhã... — ironizei.

— Ah, olhe pelo lado bom... — Sally chegou a nós com algumas bebidas e se sentou com o namorado. — As aulas de alemão não foram tão inúteis quanto você pensava! Além do mais, você conheceu a sua paixonite lá... Já shippo vocês!

— Ela não é minha paixonite! — falei. — A Cobie é apenas uma garota linda, bonita, maravilhosa, perfeita e por quem eu estou completamente apaixonado... Apenas isso. Apesar de tudo, tenho plena convicção de que nunca mais irei vê-la. É assim que o destino me sorri, sempre.

   E bebi um gole de café. Notei que não soou tão dramático quanto se eu reclamasse da vida bebendo cerveja.

— Que drama! A faculdade ideal pra você seria Teatro, Josh. — Sally contou e todos rimos. — Mas olha, seus dias sempre serão como esse a partir de hoje, você sempre terá novidades. E isso é bom! — ela fez uma breve pausa para beber de seu copo. — Veja bem, o que eu faço durante o dia? Sirvo café a um bando de... viciados por café, e tento ferrar com a vida da outra funcionária... Só. É monótono!

— Ela tá certa, cara. — Andrew tomou a deixa. — Meu trabalho se resume a um amontoado de papéis, um cubículo sem janelas e um andar sem banheiros ou bebedouros. Acho que a minha sala foi a inspiração para o filme “O quarto do inferno”!

— Esqueceu de uma parte, Andrew. — corrigiu Kyle. — O “Andrew Sapatão”.

   Ele revirou os olhos.

— Pra sua informação, agora é outra coisa... — revelou, fechando a cara quando recordava-se do que fez para que seu apelido mudasse. — Eu fui no banheiro do andar superior... Ele tava em reformas, mas eu não conseguia mais segurar. Entrei sem ver aonde pisava e acabei deixando a minha marca registrada num... Num excremento humano gigante no chão!

— Que nojo! — Sally reclamou. — É melhor ter se livrado do sapato, ou você não entra em casa hoje!

— Meu patrão me obrigou a fazer isso... — Andrew falou. — E ainda incitou todos os outros funcionários a me chamarem de “Andrew atoleiro”.

   Kyle tirou um papel e caneta do bolso.

— Esse eu vou anotar pra não esquecer!

   O maior o fuzilou com o olhar.

— E você, Kyle? Como foi o seu dia? — Sally perguntou.

— E precisa perguntar? Meus dias sempre são ótimos!

   Andrew então notou um outro papel ao chão, próximo a Kyle, e o tomou em mãos. Ao passar os olhos pelas informações voltadas à Kyle O'Brian, ficou estupefato.

— Você foi preso?! — Questionou boquiaberto.

— Que? Claro que não! — Kyle inicialmente foi relutante a se entregar, entretanto, quando viu o boletim contra si nas mãos de Andrew, resolveu contar. — Fui pegar uma gata usando uma arma de brinquedo. Ela começou a gritar, achou que era de verdade e que eu queria matá-la. Tinha uns guardas próximo e não gostaram muito da brincadeira. Tcharã, passei a tarde toda com uns caras da pesada numa cela.

   Foi inevitável que não ríssemos daquilo por um bom tempo. Kyle raramente quebrava a cara em suas andanças, e nas vezes que acontecia ele fazia questão de deixar passar despercebido por nós.

— Agora me dê isso! — ele pegou seu papel das mãos de Andrew.

   Após beber o restante do meu descafeinado, coloquei o copo sobre a mesa e fiquei a observar meus amigos conversando e rindo por um tempo. Acho meio impossível de acontecer, mas penso que aquele café me deixou bêbado de alguma maneira na ocasião.

   Tá, eu podia nunca mais ver aquela garota que mexeu inteiramente com meus sentimentos e o seu sapo horrível – que aliás, me fez ter um pesadelo nada agradável onde uma rã gigante me confundia com uma mosca e me seguia pelo centro da cidade -, no entanto, junto a mim, se encontrava tudo do que eu necessitava para ser feliz. Não importassem os problemas, meus amigos sempre estariam lá!

    E tendo bons amigos, independentemente da quantidade, não se precisa de mais nada!

   E quanto a Cobie... Bem, eu estava perto demais para compreender a imagem que se formava.

Fim.


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