WSU's Vésper escrita por Lex Luthor, WSU


Capítulo 3
Ouvinte




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         São dez da noite. De tão leve o sono que tinha naquele momento, o primeiro toque do despertador de seu celular o acordou. O papel de parede do smartphone tinha agressivas palavras vermelhas num fundo branco.

 

Rojo fodeu sua memória, mate-o.

 

Estava num quarto. Um quarto estranho. Foi ao banheiro, pegou uma toalha personalizada “La Noche de Amor Motel”. Olhou o reflexo no espelho de rosto do banheiro e viu um arranhão no pescoço. Sorria enquanto seus pensamentos liam o que seus olhos viam.

Quem quer que eu seja, sou um ganharão pensava Jamez. 

Olhou para os três dedos do meio da mão direita.

 

Anotar, gravar e fotografar.

 

O volume no bolso do paletó lhe sobressaltara a atenção. Era o gravador, pronto para ser reproduzindo.

Tudo bem, Rico. E o que tem pra me dizer? — indagava Jamez na gravação. 

Escutou um grito abafado vindo do boxe fechado do banheiro. Ele abriu a porta arrastando-a de uma extremidade até outra. Uma mulher e um homem amarrados na banheira. Tinham leves escoriações pelo corpo inteiro, marcas espalhadas. A fita adesiva na boca dela estava repleta de sangue, tirou-a. Recebeu uma cuspida ensanguenta no corpo 

Cabrón! — gritou a mulher ao cuspir-lhe.

Limpou o rosto com a mão.

— Quem amarrou vocês aqui? — indagou Jamez.

Ela sorriu ironicamente.

— Não sabe com quem está mexendo! — disse a mulher sorrindo com ódio estampado no rosto. — O moleque é seu informante, não é? Eu ouvi na gravação, seu imbecil. Sou sobrinha do García, cara. Você tá fo...

Tapou a boca dela novamente. Removeu a fita da boca do homem.

— Você deve falar menos. — disse Jamez. — Por que amarrei vocês aqui?

— Me diga você! — exclamou o homem.

Lembrou-se das tatuagens, logo pensou em ter fotos dos dois.

— Devo ter fotos de vocês aqui — concluiu Vésper.

— Se vira — disse o homem.

Tapou a boca do homem. Olhou as fotos no celular, encontrou as fotos de ambos.  Nelas, a legenda:

 

Tiras informantes do Rojo

 

Fechou o boxe e ligou o chuveiro com os dois juntos. Gritos de desespero abafados de ambos. Abriu novamente a porta.

— Tudo bem, quem vai falar? — indagou Jamez sabendo que da conduta dos dois.

O homem parecia mais desesperado. A voz da mulher o irritava.

Optou novamente pelo homem.

— Tudo bem. — disse o homem jogando a toalha. — Só tira a gente daqui depois disso.

 

***

 

Pablo’s Café

 

— ... e aí, eu vou comprar uma pizza família só pra mim. Todinha. — dizia o garoto à sua frente.

— Desculpa, quem é você mesmo? — perguntou Jamez.

— Ah, droga! — disse o garoto impaciente. — Aconteceu de novo! — concluiu a perda de memória do homem à sua frente. — Olha o celular.

O garoto parecia ter cerca de 13 anos, cabelos curtos cacheados. Sorria com uns quarenta dentes na foto, a legenda: Rico.

— Rico, certo? — indagou Jamez presumindo o nome da criança.

— Perfeitamente — disse o rapaz.

— A foto é de quinze dias atrás, então faz tempo que nos conhecemos?

— Faz um tempinho. Virei seu correspondente nas ruas, desde — o garoto inclinou a mão esquerda horizontalmente . — mais ou menos isso mesmo.

— Tudo bem, Rico. E o que tem pra me dizer?

— A mesma pergunta! — disse Rico incontente. — Só não vou te mandar a la mierda por causa do milk-shake. — disse o garoto sorrindo. — Já te respondi isso tem cinco minutos, escuta a gravação de novo.  

O garoto sacou uma arma, Vésper arregalou os olhos, em seguida, apertou o gatilho. O terno branco molhado. Não de sangue, mas água. O garoto ria desenfreadamente. 

 

***

 

Tudo bem, Rico. E o que tem pra me dizer? — indagava Jamez na gravação.  

São dois policiais disfarçados. Un casal, enamorados. Estão no “La Noche del Amor”. Ela tem o costume de dizer que é sobrinha do García, mas todo mundo sabe que o velho banca os estudos da sobrinha en Madrid. Estão querendo se infiltrar de alguma forma na reunião dos García com os Martinez hoje de noite no Palace. Só vai gente grande. Estão tentando uma aliança pra derrubar todas as outras famílias. Acho que até daria certo mas — o garoto ficou receoso em terminar a frase.

Mas? — indagou Jamez novamente,

Mas parece que esses caras conseguiram e eles — pausou brevemente a fala. — São correspondentes del Rojo, hombre!

Como assim?

A polícia nega, mas nunca se posiciona contra ou a favor do Rojo. Nem com a mídia em cima! E naquele dia, sim. Naquele dia eu ouvi a ligação deles, era pro encapado. E tudo vai dar errado para as famílias, se eu não estiver lá pra delatar.

— Claro que não vai delatar porra nenhuma. — disse Jamez perdendo a calma. — Lugar de criança é na escola. Você me prometeu, eu te ajudo e você me ajuda, assim que funciona, hombre! — disse Jamez apelativo. — Obrigado pela contribuição, cabrón.

A gravação parava ali. Era a quinta vez que a escutava em frente ao motel que estava o casal. E eles acabavam de chegar no local. Uma maleta no banco do passageiro ao lado tinha um aviso gritante num papel rascunho pregado.

 

Leve para o motel. Útil.

 

Desceu do carro, fotografou a frente do local e foi até a recepção.

— Quero um quarto, dois dias — disse Jamez.

— Ok, à vista ou cartão? — perguntou o recepcionista.

— À vista. — assinou o livro de reservas e pagou. — Ah! Mais uma coisa. O casal que acabou de passar aqui é — procurava uma desculpa. — são dois velhos amigos, poderia me dizer qual o quarto deles?

— Desculpe senhor, não faz parte da nossa conduta. — Jamez colocou 900.000 pesos em sua mesa. O recepcionista inclionou-se em direção a Jamez. — 201-2E — cochichou.

Jamez pegou as chaves e seguiu, em direção ao apartamento. Pegou um cartão, passou na porta trancada e abriu-a lentamente. Deixou a maleta no canto da porta. O homem estava se trocando ainda nu, em frente a uma estante. Foi sorrateiramente por trás dele e atacou-o com um mata leão por trás. Um golpe tão bem aplicado que instaneamente o homem despido perdeu as forças e desfaleceu aos poucos.

Escutava um som de chuveiro ligado, que logo se desligara. Foi até o banheiro e deu de cara com a mulher, que instintivamente cravou as unhas em seu pescoço. Segurou-a pela cabeça e bateu-a violentamente contra a parede, fazendo-a cair.

Abriu a maleta.

Fitas adesivas, escutas e o aparelho que as sintonizava.

Amarrou o casal na banheira da suíte.

Não dá pra interrogá-los desmaiados.

Vésper começava a sentir um sono profundo.

Acho que vou tirar um cochilo também, aproveitar essa cama. Camas de motel assim são bastante confortáveis, não aqueles sem suíte.

Colocou o despertador para tocar em duas horas.

 

***

 

Dirigia o seu sedan próximo a um viaduto, desacelerou quando duas pessoas hostilizavam um garoto. Um homem pegando um garoto violentamente pela gola da camisa e uma mulher puxando-o pelo braço.

— Tu não vai falar nada moleque! Vai pra um reformatório agora e agradece por não acordar agora com a boca toda cheia de formiga. — dizia o homem.

— Vão tomar en el culo! — disse o garoto. — Eu vou contar tudo para os García!

— Eu dou um tiro na porra da sua boca! — disse a mulher. — Seu aviãozinho de merda!

Jamez desceu do carro.

Hey, chico! Tua mãe está te chamando — disse Jamez.  

Olhou confrontando o casal. Largaram o garoto.

— Trouxas — disse o garoto ao aproximar-se de Jamez.

— O que fez para eles? — indagou Jamez.

— O que fiz? O que eles fizeram para a gente é a pergunta! São um casal de tiras informantes del Rojo. Eu sei que são!

— Entra no carro, nervoso. — perdiu Jamez. — Eles não podem desconfiar, não quero ver essa cena de novo.

Entraram no carro, Jamez sacou o celular.

— Então você é um aviãozinho dos García, sim? — indagou Jamez.

— É isso aí — disse o garoto todo convencido.

— Tá legal, gângster. — sorriu. — Qual seu nome?

— Rico — respondeu o garoto.

— Legal, Rico. Sabe como as coisas funcionam na cidade, não é? Eu te ajudo em algo, você me retribui.

O garoto sorriu contente.

— E o que você quer de mim? — indagou o garoto.

 

***

 

La Noche del Amor, 22:30 horas

 

O casal preparava as escutas debaixo da roupa.

— Agente Benítez e De La Veja. — Jamez entregou os distintivos dos dois. — Suas armas estão no veículo, façam algo fora do combinado e eu ligo pro meu amigo Rico delatar vocês pros García. O que não será nada bom. Ficarei de ouvinte.

— Se a coisa for mal, acionaremos o código Rojo e ele aparecerá. — disse a agente De La Vega.

Não pareciam nada satisfeitos.

— Ei, cabrón. E se nos pegarem com a escuta? — perguntou o agente Benítez.

— Reze a Diós para proteger você e sua namorada, melhor dizendo, chame o Rojo. — olhou para o relógio de pulso. — Está na hora, suerte.

Benítez e sua namorada De La Veja deixaram o motel de carro. Jamez entrou em seu sedan, que tinha o receptor das escutas ligados.

Os García, os Martínez e El Rojo Intachable em um só lugar. Três coelhos numa cajadada só. Talvez fosse demais para Jamez, mas quem sabe fosse melhor uma andorinha na mão do que três voando.


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