WSU's Vésper escrita por Lex Luthor, WSU
Todo o dia naquela casa o despertador tocava, naquela hora. Havia sempre um gravador com uma fita pronta para ser reproduzida. E era sempre aquilo. Para que ele pudesse se lembrar sempre de quem era.
Você é Vésper, a estrela da tarde. Não faz isso por reconhecimento, por isso age no silêncio. É um herói, por que deve ser um. O maldito cartel de Medellín entrou na sua casa te fizeram de refém, botaram uma bala na sua cabeça. E levaram a sua memória. Agora seu HD parece lotar com cem megas. Por isso é importante anotar, gravar, fotografar. Vai lembrar disso através de suas tatuagens na mão esquerda.
Oito da manhã, hora de começar o contra-ataque.
Tinha apenas retalhos de memória. Não lembrava de parentes, amigos, nada. Talvez a a última e única memória fosse uma partida de futebol que assistia: Boca Juniors 6 - 2 Deportivo Cali, a frustrante eliminação do time de seu país. Por sorte, sabia que torcia para o Atlético Nacional de Medellín, sua cidade.
Levantou-se da cama, escovou os dentes. Viu a tatuagem em sua mão direita:
Vésper
Vestiu-se. Camisa amarela, sapatos pretos, calça e terno brancos e óculos escuros. Pegou sua carteira ao lado da bíblia na cama, ajoelhou-se.
— Santa Maria, madre de Diós...
***
Chegou de frente a uma cafeteria, olhou uma foto: Pablo’s Café. Era o nome do estabelecimento que estava parado.
“É aqui o seu desjejum” — dizia a legenda da foto que segurava, uma reprodução da cafeteria à sua frente.
Estacionou, desceu do carro, foi até a cafeteria.
— Grande Jamez! — cumprimentou o senhor atrás do balcão.
— Pablo — Jamez repetiu o que estava escrito em seu crachá.
— Podes pedir o que quiser, cabrón! — disse Pablo. — É por conta da casa — sorriu. — sempre é.
— Sempre? Por que a consideração? — indagou Vésper.
— O que seria de Pablo’s sin La Argencia? — Pablo responde com uma retórica.
— Argencia? — indaga Vésper confuso.
— Esse seu problema, é tão engraçado. — Pablo soltou uma risada amarela. — Apenas, saiba que você mantém essas ruas limpas. Você e o pessoal do Matías, que provavelmente não sabe quem é. Certamente você deve ter uma foto de onde fica La Argencia na sua pasta negra ou algo assim, é algo secreto.
— Se é secreto por que sabe? — indaga o curioso Vésper.
— Me solta coisas sem querer entre um café e outro. É tudo que sei e pra manter o meu pescoço no local, não falarei mais. — Agarrou um pano e limpou o balcão. — O que vai ser hoje, jefe?
— Café— parou num instante pensativo, — e ovos.
— Todo bien. — disse Pablo acenando positivamente. — Pode esperar sentado na mesa próximo a TV.
Levantou-se e foi até a mesa. Começou a assistir à TV, enquanto esquecia-se de tudo que havia passado desde que acordara pouco a pouco.
A crescente de vigilantes em todo mundo continua aumentando. Após o aparecimento do da Caveira que Ri, que se autodenomina Temerário, na Cidade do Corsário no Brasil, vários outros decidiram sair das sombras e mostrar os seus dons. O enigmático Soldado Fantasma, a campeã brasileira de xadrez, Karen Maximus, o detetive paulista Azathoth, o Aracnídeo do Recife. No Brasil, a polícia tem se mostrado contra a ação deles, a população divide opiniões. Em pouco tempo, essa onda também começou a atingir diversos países do mundo inteiro.
Após a morte de José Emiliano, líder do Cartel de Medellín, as famílias que compunham o grupo não chegaram a um acordo, dissovelndo-o. Por si só, destruiu-se, despedaçando-se em vários subgrupos e tornando Medellín uma zona de guerra.
Depois destes vigilantes, não demorou para que Medellín tivesse seu próprio exemplo de heroísmo. El Rojo Intachable, o corrompido herói de tons escarlate corta os céus de nossa capital com sua capa bordô. Sua pele impenetrável o torna um poderoso aliado na luta contra o crime, que de fato teve uma grande queda.
A questão é: Hoje somos dependentes d’El Intachable?
A pergunta deixada pelo repórter fazia com que Jamez ficasse pensativo. Pegou um guardanapo na mesa e anotou.
Rojo Intachable é um herói, não eu. Eu nem lembro de mim.
— Ei, Pablo. — chamou o cozinheiro numa espécie de janela aberta da cozinha para o balcão. — Aqui está, cappuccino e ovos.
— Cappuccino e ovos? — indagou Pablo impaciente. Coçou o bigode. —Ele pediu café e ovos, sempre pede a mesma merda e você ainda me erra?
— Foi mal, esqueci. — sorriu o cozinheiro sem graça. — Acho que ele também esqueceu.
— Boa. Vou levar. — Pegou a bandeja com o desjejum de Jamez e serviu a sua mesa. — Cappuccino e ovos, Jamez. É pela conta da casa.
— Obrigado, — olhou o crachá novamente, — Pablo.
Podia lembrar como era a sensação de comer ovos quentes no café da manhã, embora não estivesse acostumado de acompanhá-los com cappuccino. Algo que também lembrava era o ditado: “Cavalo dado não se olha os dentes”.
Nove horas da manhã. O celular desperta em seu bolso. O despertador avisa:
Siga o GPS. Fale com Matías.
***
Era um prédio velho, parecia estar abandonado. O segurança, um homem alto negro, cabelo curto, usava um terno fajuto.
— Hey, Jamez! —cCumprimentou o segurança.
— Não te conheço. — disse Jamez desconfiado. — Cadê o Matías?
— Parece um déjà vu, — ironizou o segurança, — mas você fala isso todo dia. Segundo andar última sala — indicou.
Entrou no prédio com o guardanapo da cafeteria com anotações. Havia sacos de cocaína no corredor onde passava, subiu quatro lances de escada, andou mais 15 metros, última sala.
***
Bem vestido e sempre tragando um charuto cubano, olhando a janela em sua sala particular.
— Matías? — indaga Jamez incerto.
— Entre Jamez, fique à vontade. — cumprimentou-o com um firme aperto de mão ao sentar-se. — Você está incrível, passou aquele 212 hoje? —sorriu, pegou dois copos e uma garrafa de uísque. — As ruas de Medellín estão cada vez mais seguras com Vésper.
Preencheu os copos com o líquido acastanhado.
— Corta esse papo, cara. — Apertou o guardanapo na mão direita. — El Rojo Intachable é o herói, não eu.
— Ah, que droga. — Matías ficara impaciente. —Você vai começar com essa discussão besta de novo? Quer que eu diga quem é El Rojo para você? Ele é o responsável por te deixar assim como no filme de Adam Sandler!
— Só um minuto. — Pegou o gravador no bolso de seu paletó. — E por que eu devo acreditar em você?
— Ah! Cheque suas anotações, os laudos periciais, droga! — Matías corou o rosto. — O Cartel entrou na sua casa, vários homens que não eram páreis para um só. Te fizeram de refém. E o idiota foi incapaz de salvar a sua vida.
— Não vejo a culpa dele— Jamez bancava o advogado do Diabo.
— Talvez por isso ele não tenha pago o preço, foi você quem perdeu na história. — A fala de Matías abafada pelo charuto na boca era realmente um incômodo. — Esse cara é só fachada, você quem faz o grande trabalho e não é pra passar bonitinho na TV.
— Por que devo confiar num cara com quilos de coca lá embaixo? — Jamez colocava as cartas da desconfiança na mesa.
— Suas apreensões, vamos entregá-los à polícia — respondeu Matías.
— Certo. — Jamez estava desconfortável. — E agora o que faremos?
Matías apagou o charuto no cinzeiro, reclinou-se apoiando o peso sobre os cotovelos em cima da mesa.
— Limpar as ruas é uma tarefa árdua. — disse Matías. — Ainda mais quando se corre o risco de ter mais casos como o seu. Pessoas inocentes serem feridas e até mortas. Talvez esteja na hora de alguém acabar com o verdadeiro vilão. — Acenou a cabeça falando e olhou fixamente nos olhos de Jamez, falando com total convicção. — O corrompido de mierda.
— E como vou fazer isso? — indagou Vésper confuso. —Ele corta os céus da cidade e olha para nós de cima.
Matías apanhou uma maleta abaixo de sua mesa, e abriu-a. Uma máscara de gás. Granadas de gás. Caveiras nos rótulos. Tóxico.
— Ele é invulnerável, mas que respira... — ironizou Matías. — Ah, disso não tenha dúvida que ele faz.
— Monóxido de Carbono? Está sugerindo que eu o mate? — indagou Vésper.
— Não, estou sugerindo que você se vingue.
***
Vésper praticamente todo de branco deixou La Agencia, Matías o acompanhou até a porta.
— Acha que deveríamos contá-lo? — perguntou o segurança.
— Contá-lo o que? — devolveu Matías.
— De el toque — respondeu o segurança.
— Para usar conosco? — Bateu no ombro do segurança duas vezes. — Melhor não, compañero, mejor que no.
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