WSU's Vésper escrita por Lex Luthor, WSU


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Por algum motivo, não estava abrindo o prólogo.
Então decidi repostar a história.
Aproveitem.



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Estava dormindo em seu próprio carro, um sedan estacionado em cima do meio fio da calçada de uma oficina de tatuagens. O celular que recarregava no carro, alarmou e o fez acordar assustado. Havia um mau cheiro, podre. O veículo cheirava como a morte. Eram cinco da tarde em Medellín, o tempo pesado, chovia uma garoa fina. O som baixo tocava 6 AM, J. Balvin.

Colocou a mão na boca para bocejar e reparou algo. Uma tatuagem. Esfregou e viu que era permanente. Por fim, leu.

 

Vésper

 

Uma forte dor no dedo indicador da mão esquerda o fez prestar atenção no mesmo. Naparte superior do anelar da mão esquerda, uma tatuagem:

 

Anotar

 

No médio:

 

Gravar

 

No indicador:

 

Fotografar

 

Olhou para o painel do carro, uma pequena nota estava colada junto ao som:

 

Abra o porta-luvas.

 

Abriu o porta-luvas e logo, avistou uma Glock e um gravador. Pegou o aparelho, que já parecia estar ajustado para reproduzir algo, apertou o botão de play, e escutou a sua voz.

Não confie em ninguém. Não tente voltar, é um caminho sem retorno. Sei o que está sentindo agora e saiba que vai sentir isso para o resto da vida. Cicatrizes se formam com o tempo e você não tem isso, tem uma ferida aberta para sempre. Agora pegue a arma, você não é um herói. Nunca foi e nunca será. Não importa as suas certezas, ou que venham a te colocar na mente: você é a escória. Apenas tome uma atitude. Tudo o que precisa saber está numa pasta no porta malas.

Abriu a porta do carro, desceu e levou as chaves. Viu seu reflexo no vidro do carro. Boca cortada hematomas no rosto. A frente do carro amassada. Destrancou a mala e levantou-a. No ato de levantar levantar, o espanto que o trancou a respiração. Afastou-se. Um saco preto, parecia um cadáver.

Havia também um macaco e uma pasta preta. Olhou para direita, para esquerda e não havia movimento na rua.

Descobriu o rosto escondido no saco. Um garoto, uma criança. Não fazia ideia de quem era. Pegou a pasta preta, entrou no carro e trancou-se.

Deus, o que fiz com esta criança?

Na pasta estavam várias fotos, em destaque estava uma foto do garoto em sua mala, a legenda:

 

Rico

 

 A foto seguinte, de um homem de meia-idade, tinha um nome na legenda:

 

Cain Matías.

 

Pegou-a e virou para o lado contrário.

 

Mate-o.

 

Tentava entender o que estava acontecendo, quando viu o celular vibrar. Uma ligação, o contato?

 

Matías

 

 Embora o aviso estivesse lhe dando  algo para crer, a curiosidade o fez atender.

Jamez? Onde está? Preciso de você aqui e agora — dizia Matías num tom imperativo.

— Aonde? — indagou Vésper seco.

Merda! Eu sempre esqueço que você esquece. — pigarreou a voz do outro lado da linha. — Heh. Amnésia. Vou mandar a localização por GPS.

A chamada caiu.

Abriu o aplicativo de GPS e conectou o celular no painel do carro. Na pequena tela do cdo painel, aparecia o caminho que tinha que seguir para chegar até Matías. Seu peito queimava, levantou a blusa e olhou para o reflexo no retrovisor.

 

Toque e peça

 

Mais uma tatuagem em seu corpo, que de nova ainda tinha a proteção do papel filme. Cada vez mais as tatuagens e anotações não pareciam mais ter sentido algum para Jamez.

Seguiu o caminho. Parou o carro 3,2 quilômetros de onde partiu, o destino era um prédio velho afastado de tudo. Pôs a arma na cintura, pegou a pasta. Um prédio velho caindo aos pedaços. Um segurança num terno fajuto.

— Hey, Jamez! — cumprimentou o animado segurança.

— Não te conheço. — respondeu Jamez de cenho franzido. — Onde está Matías?

— Bom dia para você também. — cumprimentou o segurança exibindo os seus dentes brancos. — Que direto! Segundo andar, última sala.

— Obrigado. — Retirou-se sem olhar nos olhos do simpático segurança.

Subiu quatro lances de escada, mais uma caminhada de 15 metros. Última porta. Girou o trinco frio. Ao abrir a porta, Matías fumava um charuto cubano sentado com os pés apoiados sobre a mesa, bem como um celular e uma semiautomática.  

— Meu homem! — Sorriu Matías. — Suponho que tenha boas novas.

Abriu a pasta e tirou a foto do morto em sua mala.

— Quem é ele?

— E lá vamos nós de novo! — Soltou uma risada de deboche. — Jamez González, você é um herói. O herói silencioso de Medelín. Enquanto muitos hipócritas buscam por reconhecimento, você age em silêncio limpando as ruas da nossa amada cidade. Você é Vésper. — Tirou o charuto da boca para desabafar as palavras e o pôs num cinzeiro. —  E ele — apontou para a foto. — é só um porco hipócrita desses que buscam por reconhecimento. — Levantou o tom de voz com fúria e disse. —E foi ele, — de tamanha raiva, mal conseguia pronunciar suas frases. — foi ele quem fodeu com a sua memória. 

— E por que eu tenho que acreditar em você? — indagou dando um forte soco na mesa.

Matías instintivamente tirou os pés da mesa e recolheu-se na cadeira assustado.

— Ei, hombre! — Mostrou as palmas da mão, estava na defensiva. — Não me toque! Fica frio aí. — Demonstrava-se passivo à ação de aproximação de Jamez.

“Toque e peça” ardia em seu peito, mas atiçava Jamez à curiosidade ativada pelo pedido de Matías. 

Segurou a mesa pela borda com a mão direita e virou-a violentamente.

— Está com medo Caín? — Sorriu Jamez. — Quem não deve não teme. Afinalm se sou realmente um herói, quem deve me temer não são os bandidos?

Caín saltou da cadeira em direção a arma, mas antes de chegar Jamez puxou-o pela gola da camisa, que usava, de botões preta com pequenas flores vermelhas em detalhes. Segurou-o pela garganta.

— Que tal darmos uma voltinha, seu puto? — indagou Jamez.

Com olhos estáticos, Matías apenas levantou-se e obedeceu. Saíram da sala, desceram as escadas.

— Tá tudo bem, aí? — perguntou o segurança.

Jamez segurou a mão de Matías.

— Sim, tudo bem. — respondeu Jamez.

— Sim, tudo bem. — Matías concordou.

Entrou no carro e como numa brincadeira de mestre-escravo, Matías fez a mesma coisa pelo banco de acompanhante.

— De mãos dadas, entrando no carro. — disse o segurança desconfiado. — Quem diria! — disse sorrindo. — Sempre desconfiei desses dois.

Pegaram a estrada estadual esburacada. Pararam no meio do nada.

— Desça do carro e ajoelhe-se no acostamento da estrada — exigiu Jamez.

Assim Matías o fez. O vento trazia os pingos da chuva aos seus olhos, o alívio quando Jamez, que se projetava ao ele parar em sua frente, barrava a ação da mãe natureza. Era sim um alívio, mas não para a sua consciência.

— Espera aí, Jamez! — desesperou-se. — Jamez, qual é?!

Um disparo. Matías adormesse sobre o asfalto, seu sangue escorre lentamente no acostamento com a ajuda da chuva, e com ele, o pensamento de Jamez.

Vésper, o que sou? Vésper a estrela da tarde. Isso foi há muito tempo. Hoje todos sabem que a estrela que aparece às tardes é na verdade Vênus. Não uma estrela, um planeta. Não um herói, um bandido.

Hoje sei que não faço o bem, sirvo aos interesses do homem e o homem se desdobra de acordo com seu interesse. Hoje sei que não sou bom, a pólvora em minha mão e a massa encefálica no asfalto me diz isso. Sigo os meus próprios interesses.

Mas agora que servi a mim mesmo, talvez não tenha sido tão ruim.

Cada dez, vinte minutos volto à estaca zero sem lembrar-me de nada. Não querendo livrar-me de meus atos, pois sei que não fui bom, mas não quer dizer que amanhã não poderá ser um recomeço. Pelo menos para mim. E não é assim com todo mundo? Por que você não pode recomeçar amanhã?

Afinal de contas, o que eu dizia?


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