Anabella Salvatore- a Nova História de B escrita por KathyCullen


Capítulo 2
Capítulo 1: Clareira




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/71617/chapter/2

Bella Pov


Será como se eu nunca tivesse existido...


As palavras corriam pela minha cabeça, mas faltava nelas a perfeita claridade das alucinações que eu tive ontem a noite. Elas eram só palavras, sem som, como uma imagem numa página. Só palavras, mas elas abriram o buraco no meu peito, e eu pisei bruscamente no freio, sabendo que não devia dirigir estando incapacitada desse jeito.


Eu me curvei, pressionando meu corpo no volante e tentando respirar sem os pulmões.  Me perguntei quanto tempo isso podia durar.


Talvez algum dia, anos mais tarde - se a dor diminuísse de forma que eu pudesse aguentar - eu poderia olhar de volta para aqueles meses que foram os melhores de minha vida. E, se fosse possível que a dor diminuísse a ponto de me permitir fazer isso, eu tinha certeza que me sentiria agradecida pelo tempo que ele me deu. Mais do que eu pedi, mais do que eu merecia. Talvez algum dia eu fosse capaz de ver as coisas desse jeito.


Mas e se o buraco nunca ficasse melhor? E se as beiras em carne viva nunca sarassem? E se o dano fosse permanente e irreversível?


Eu me segurei com força. Como se ele nunca tivesse existido, eu pensei desesperada.


Que promessa estúpida e impossível de se fazer! Ele podia roubar minhas fotos e pegar seus presentes de volta, mas isso não fazia as coisas voltarem a ser como eram antes de eu conhecê-lo. A evidência física era a parte mais insignificante da equação. Eu estava mudada, por dentro eu estava mudada ao ponto de ser difícil me reconhecer.


Mesmo por fora eu parecia diferente. Meu rosto pálido, exceto com os círculos que os pesadelos haviam deixado embaixo dos meus olhos.


Meus olhos estavam escuros o suficiente na minha pele pálida que -se eu fosse linda, vista à distância - eu podia me passar por uma vampira agora. Mas eu não era linda, e provavelmente estava mais próxima de um zumbi.


Como se ele nunca tivesse existido? Isso era loucura! Era uma promessa que ele nunca poderia manter, uma promessa que já estava quebrada quando ele a fez.


Eu bati minha cabeça no volante, tentando me distrair da dor mais aguda.


Isso fez eu me sentir boba por estar lutando para manter a minha promessa. Havia lógica em tentar manter um acordo que já havia sido quebrado por um dos lados? Quem se importava se eu fosse estúpida e pouco cuidadosa? Não havia motivos para evitar a falta de cuidado, não havia motivos para eu não ser estúpida.


Eu ri sem humor pra mim mesma, ainda sufocando por ar.


Sem cuidados em Forks - não havia uma proposta mais sem esperança.


O humor negro me distraiu, e a distração aliviou a dor. Minha respiração ficou mais fácil, e eu fui capaz de me inclinar no banco. Eu olhei pra fora pelo pára-brisa e então meus olhos pousaram em uma trilha bastante familiar. Desliguei o motor, que estava roncando de um jeito piedoso depois de ficar parado por tanto tempo, e saí nos chuviscos.


A chuva fria pingava nos meus cabelos e então fazia cócegas pelas minhas bochechas como lágrimas de água fresca.  Isso ajudou a limpar minha cabeça. Eu pisquei para tirar a água dos meus olhos e olhei na direção da trilha, que seguia pela floresta.


Como um soco, a lembrança me atingiu. Era a trilha que dava para a clareira onde Edward me levava. A nossa Clareira. Sem nem ao menos pensar, eu segui a trilha e me embrenhei na mata.


Eu sabia que estava sendo totalmente irresponsável por fazer isso, mas só o que passava em minha mente era que eu tinha que ir até a Clareira. Como se fosse uma forma de provar pra mim mesma que ELE realmente existiu.


A floresta estava cheia de vida hoje, todas as pequenas criaturas estavam aproveitando a secura momentânea.


De alguma forma, porém, mesmo com os pássaros cantando e fazendo barulho, os insetos zumbindo alto em volta de minha cabeça  e a ocasional correria do camundongo silvestre pelos arbustros, o bosque parecia mais assustador; lembrou-me de meu pesadelo mais recente. Sabia que era apenas porque eu estava sozinha, sentindo falta do assovio despreocupado de meu amigo Jake, que estava me evitando há alguns dias, e do som de outro par de pés no chão molhado.

 

O desconforto aumentava à medida que eu penetrava entre as árvores. Começou a ficar mais difícil respirar - não por causa do esforço, mas porque de novo eu tinha problemas com o buraco idiota em meu peito. Mantive os braços cruzados no peito, firmes, e tentei banir a dor de meus pensamentos. Quase fui embora, mas odiaria desperdiçar o esforço que já tinha feito.

 

O ritmo dos meus passos começou a entorpecer minha mente e minha dor enquanto eu avançava. Minha respiração enfim voltou ao normal e me senti feliz por não ter desistido. Estava melhorando nessa história de explorar a mata; sabia que estava mais rápida.

 

Não percebi o quanto me movimentava com mais eficiência. Pensava ter coberto talvez uns seis quilômetros e ainda nem começara a olhar em volta. E então, tão de repente que me desorientou, passei por um arco baixo, formado por dois galhos de bordo - depois de empurrar as samambaias na altura do peito - e estava na campina.

 

Era o mesmo lugar, disso eu tive certeza de imediato. Nunca vi outra clareira tão simétrica. Era perfeitamente redondada, como se alguém tivesse criado de propósito o círculo impecável, cortando as árvores sem deixar nenhuma prova dessa violência na relva ondulante. A leste, eu podia ouvir o riacho borbulhando baixinho. 

 

O lugar não era nem de longe tão atordoante sem a luz do sol, mas ainda era lindo e sereno. Não era a estação das flores silvestres; o chão estava coberto de relva alta, que balançava na brisa leve como ondas em um lago.

 

Era o mesmo lugar...Mas não guardava o que eu estava procurando.

 

A decepção foi quase tão imediata quanto o reconhecimento. Desabei onde estava, ajoelhando-me ali na beira da clareira, começando a ofegar.

 

Que sentido tinha ir adiante? Nada ficou aqui. Além das lembranças que eu podia reviver sempre que quisesse, se estivesse disposta a suportar a dor correspondente - a dor que me tomava naquele momento, que me deixava fria.  Não havia nada de especial naquele lugar sem ele. Não tinha certeza do que esperava sentir ali, mas a campina estava sem atmosfera, desprovida de tudo, exatamente como qualquer outro lugar. Assim como meus pesadelos. Minha cabeça girava, tonta.

 

Pelo menos vim sozinha. Senti um surto de gratidão ao perceber isso. Se tivesse encontrado a campina com Jacob...Bom, não havia como disfarçar o abismo em que me afundava naquela hora. Como poderia ter explicado o modo como estava me desfazendo em pedaços, a maneira como tinha de me encolher, como uma bola, para impedir que o buraco vazio me dilacerasse? Foi muito melhor não ter platéia.

 

E também eu não precisava explicar a ninguém porque eu estava com tanta pressa de ir embora. Jacob teria suposto, depois de tanto trabalho para localizar o lugar idiota, que eu ia querer passar mais de dez segundos ali. Mas eu já estava tentando encontrar forças para me colocar de pé, obrigando-me a sair daquela posição e escapar. Havia tanta dor naquele lugar vazio - eu iria, embora engatinhando, se fosse preciso.

 

Que sorte eu estar sozinha!

 

Sozinha. Repeti a palavra com uma satisfação soturna ao me levantar, apesar da dor. Nesse exato momento, uma figura saiu das árvores ao norte, a uns trinta passos de distância.

 

Uma gama vertiginosa de emoções passou por mim em um segundo. A primeira foi surpresa; eu estava muito longe da trilha e não esperava companhia. Depois, à medida que meus olhos focalizavam a figura parada, vendo sua imobilidade completa, a pele pálida, fui tomada por uma esperança cortante. Reprimi-a com violência, combatendo o golpe igualmente agudo de agonia enquanto meus olhos se demoravam no rosto sob o cabelo escuro, o rosto que não era o que eu queria ver. Em seguida veio o medo; aquele não era o rosto pelo qual eu sofria, mas estava bastante perto de mim para eu saber que o homem que me encarava não era um andarilho perdido.

 

E, por fim, o reconhecimento.

 

-Laurent!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem!!!!!!!!!!