Nerve escrita por LustForJohn


Capítulo 9
Teoria do caos


Notas iniciais do capítulo

Olá, Observadores.
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/716091/chapter/9

Quando Nick me solta, sinto outros braços me agarrarem por trás. Braços finos e macios. E eu me sinto obrigado a me derramar novamente. Com a minha visão ainda embaçada, olho ao redor e vejo que todos os Observadores ainda me gravam. Me sinto um perdedor, tocaram na minha ferida. Lele tocou. Cheguei tão longe para querer ir para casa tão cedo.

Levanto, me viro e vejo Camila xingar todo os Observadores. Ela olha para mim e toca no meu peito.

— Shawn, eu não quero dizer que eu te avisei, mas você sabe que eu avisei. Fizeram você passar pelo seu pesadelo. Até onde mais eles podem fazer você ir?

Espero que não muito longe, a não ser que tenham uma bola de cristal para adivinharem meu outro segredo. Olho profundamente para Camila e enxugo meus olhos.

— Desculpe — digo. — Eu realmente não pensei que isso fosse acontecer. Ou que alguém fosse descobrir. Como a Lele descobriu? — Gaguejo.

— E isso importa?

Ela joga o cabelo para trás e leva Nick para um lugar afastado no topo da construção. Ela parece estar gritando com ele. Eu não o culpo, Camila. Percebo entre os Observadores Louis e Lauren. Lou para de gravar e se aproxima de mim.

— Ei, Shawn, você está bem? Você parecia nervoso, pensei que fosse ter um colapso.

— Eu tive um colapso, definitivamente — cuspo. — Mas estou bem. Eu acho, talvez não. Eu não sei mais o que é real e o que não é. Esse jogo mexe comigo.

Ele sorri e aponta a câmera do celular em minha direção, fingindo estar me gravando.

— Cadê o sorrisão?

Por mais que eu não esteja no meu melhor momento, é bom ter um amigo por perto, e lanço um sorriso torto para ele. Nick, que em algum momento largou Camila, aparece atrás de Louis com os olhos em chamas.

— Eu falei para dar um pouco de espaço. E para de gravar, droga!

Quando menos percebo, ele pula em cima de Louis e toma o celular da mão dele. Quando ele ameaça jogá-lo no chão, eu seguro o seu braço com meus punhos infantis. Que bicho mordeu ele?

— Nick, para com isso! Eu falei que ele é meu amigo. Você quase morreu e está mais preocupado com um Observador! Minha nossa.

Ele dá de ombros e abaixa os braços tensos.

— Talvez eu simplesmente não goste da ideia — rosna.

— Quem se importa com o que você gosta? — Camila surge ao meu lado, me assustando, mas nos apoiando.

Talvez esse instinto de superprotetora da Camila tenha surgido quando eu visitei o inferno alguns meses atrás, mas eu não estou precisando disso agora. Não mais. Eu tomo o celular da mão de Nick e devolvo para Louis, que está atordoado. Não estou gostando do jeito que Nick trata meu amigo.

Todos os Observadores apontam com a câmera para outro lado e finalmente filmam outra pessoa que não seja eu. Giro meu corpo junto com todo mundo e vejo aqueles cabelos loiros e bagunçados balançando com o vento do último andar. As mãos na cintura demonstram o poder que ela não tem.

— Meus parabéns, Nick — grita Lele, aplaudindo. — Você completou o desafio.

— É, sem o seu incentivo eu não teria conseguido — responde ele, deixando o sarcasmo explícito.

— Ai, qual é? Não foi culpa minha. NERVE me ofereceu duzentos dólares para eu te desafiar a fazer isso.

Pensei que ela tivesse sido desclassificada. Estaria NERVE colocando lenha na fogueia?

— Isso foi apenas dez por cento do que ofereceram para Nick — exclamo, fingindo sarcasmo. — Por que está se ajoelhando para este jogo? Eles não vão voltar atrás e implorar por perdão.

Uma porcentagem da multidão acha graça, fazendo com que Lele acabe rindo também.

— Ah, Shawnzinho, não fique assim. Vamos esquecer tudo isso e continuar a minha festa de arrasar!

De repente, diferentes músicas começam a tocar bem alto pelos celulares de várias pessoas na multidão. Cada um segurando seu copinho, a festa continua no terraço desta construção. Lele dança e agita os cabelos, enquanto Louis conversa com Liam da cafeteria. Quando ele chegou aqui? Acho que Lauren chamou Camz para um lugar mais reservado, por não vejo mais nenhuma.

— Quer comer barata frita? — Pergunta Nick, tocando nos meus dedos. Ele está diferente, mais pacífico e sociável, como se não estivesse furioso agora a pouco.

— Batata frita? — Pestanejo, ainda com olhos inchados.

— É, tem uma lanchonete atravessando a rua.

Meu estômago ronca.

— Hum, tudo bem. Eu realmente estou faminto...

Passamos pela multidão que se alastrou e esperamos duas pessoas saírem do elevador de carga. Ele manuseia a plataforma, que começa a descer lentamente, da mesma forma que desce minha sanidade. Olho para mim mesmo através dos meus pensamentos e vejo no que me tornei. Totalmente o oposto do que eu era antes: um garoto medroso, que nunca saia de casa com medo de qualquer coisa perigosa. Agora? Olha o que eu fiz: eu subi em cima de um carro em movimento! Quem em sã consciência faria isso?

Eu não estava são.

Espero que meus pais não estejam me assistindo. Não tem como, a não ser que alguém envie o link para eles. Na verdade, eles nem sabem o que a palavra link significa, então não devem saber o que está acontecendo.

Minha mãe já deve estar toda preocupada com minha demora, ela não vai dormir até que eu esteja em casa. Não quero ficar de castigo para o resto da minha vida. Já está tarde e eu tenho que voltar para casa. Ela já deve ter escolhido uma foto minha para estampar nas caixas de leite local noticiando meu desaparecimento.

Quando o elevador chega ao chão, encontramos uma pequena multidão dentro do prédio, mas parecem não notar nossa presença quando passamos de fininho. Atravessamos a rua e eu sento em uma das mesas dentro da lanchonete, enquanto Nick vai buscar comida.

A lanchonete está quase vazia, e, felizmente, não tem nenhum Observador por perto. Isso me dá mais privacidade e espaço pessoal. Ela tem a parte da frente completamente aberta com uma fileira de mesas encostadas na parede da esquerda, enquanto a direita é apenas um corredor para a bancada de pedidos.

Nick volta com duas porções de batatas fritas grandes e dois refrigerantes médios. Pepsi Cola para mim e Diet Mountain Dew para ele. Hum, que cheirinho de batata temperada.

— Obrigado — digo. — Diet?

— Sou diabético.

— Ah.

Estou aos poucos conhecendo mais ainda meu parceiro.

Primeiro coloco para dentro um longo gole da bebida para matar esta sede insana, apesar de refrigerante não hidratar. Quando mastigo as primeiras batatas, Nick está com uma expressão petrificada no rosto.

— Ei, você está bem? — Pergunto, encostando nos dedos dele.

— Acho que sim. Ainda estou com os nervos à flor da pele. Aquilo foi muito assustador. O máximo que eu fiquei pendurado longe do chão foi no acampamento de escoteiros na infância, e a apenas alguns centímetros do chão.

— Sinto muito que tenha passado por isso. Parece que NERVE quis causar um efeito dominó em nós dois. Os filhos da mãe sabem jogar.

Nick respira fundo em resposta.

Bebo mais um gole do refrigerante e olho as horas no meu celular. É quase meia-noite. Já estou ferrado. Nenhuma mensagem ou ligação perdida. Tento ligar para a minha irmã, mas não consigo. Isso está começando a encher o saco.

— Shawn — murmura Nick. — Me desculpe por ter sido um idiota com seu amigo Observador.

— É mesmo? — tusso, fingindo ironia.

— Sim, sério mesmo. Não foi porque eu quis, foi um desafio bônus. Você sabe que não sou assim.

Isto eu sei. Conheço Nick a pouco tempo, mas é o suficiente para saber que ele é uma boa pessoa. Ele me mostra o celular com o desafio na tela.

POR $800,

AJA COMO UM BABACA

COM O AMIGO DO SHAWN.

DESAFIO COMPLETO

Começo a juntar peças de um quebra-cabeça confuso e tento entender o que NERVE está tentando fazer. “Brigue com Lele”, “desafie Nick, “intimide Louis”. Tudo tem a ver conosco.

— Parece uma teoria do caos — penso alto. — Estão tentando nos destruir fazendo com que briguemos entre si. Me pergunto se os outros jogadores pelo país também estão passando por isso. Bem, o jogo precisa gerar conteúdo. — Dou de ombro depois da última frase.

— Uma teoria do caos bem pessoal — acrescenta Nick, antes de beber um generoso gole do seu refrigerante.

Depois de tirar o canudo da boca, ele olha profundamente para mim.

— Você merece os meus parabéns, Shawn. Seu desafio foi um sucesso.

Pestanejo, confuso.

— Qual?

— Você enfrentou a sua amiga loira. Isso foi muito insano. Você realmente mostrou quem realmente é para ela e a colocou no seu devido lugar. A fixa dela ainda não caiu que NERVE escolheu você. E eu.

Os cabelos do meu pescoço arrepiaram com a última parte.

NERVE também escolheu Nick ou ele também me escolheu? Estou confuso e apaixonado.

— Ela é uma pessoa horrorosa, e eu não era sociável o suficiente para confrontá-la.

Eu não estava mentindo quando disse que NERVE me deu uma boa dose de carisma. Nick também contribuiu.

Termino de comer as batatas e começo a imaginar o castigo que minha mãe vai me dar por chegar quase meia-noite em casa. Acho que nunca mais vou poder sair, nem mesmo para o trabalho. Talvez NERVE tenha sido um erro. Um erro repleto de recompensas.

Quem sabe se eu chegar antes da meia-noite eu possa conseguir um desconto. Posso me explicar e usar a festa da Lele como desculpa. Tenho quinze minutos para chegar à cafeteria, pegar meu carro e voltar rápido para casa.

— Você pretende continuar jogando? — ele pergunta, bebendo um gole do seu refrigerante.

Como vou responder a esta pergunta?

— Não sei, muitas coisas aconteceram. Não sei se consigo continuar nisto. Este jogo está me matando. Está nos matando. É um RPG de sobrevivência, só que na vida real. Estes desafios estão ficando cada vez mais perigosos.

Ele pressiona os lábios e respira fundo.

— Shawn, olhe para nós. Estamos no topo dos jogadores. Somos um dos mais observados. Temos fama. Se desistisse agora, seria tolo a ponto de perder o grande prêmio das finais. Isto se formos selecionados, mas obviamente vamos.

— Pare de tentar me aliciar, não quero ficar arriscando minha vida por conta de um jogo. E eu tenho que estar em casa antes das doze, senão adeus vida social para o resto da minha vida.

Ele revira os olhos e coloca a boca no canudo, mas um sorrisinho denuncia que ele está se divertindo as minhas custas. Começo a fuçar no meu celular quase descarregando. O aplicativo NERVE está por todas as partes. Será que eles estão controlando meu celular? Por isso não consigo ligar para ninguém!

Dadá.

O celular de Nick recebe uma notificação de NERVE. O meu celular também faz barulho, mas tenho que ignorar isso de alguma forma. Por outro lado, Nick lê a notificação dele.

Os olhos dele parecem estar brilhando purpurina quando mira para mim.

— Só podem estar brincando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, meus queridos Observadores.

Não esqueça de deixar seu comentário.

Beijos.