Nerve escrita por LustForJohn


Capítulo 8
Pendurado


Notas iniciais do capítulo

Olá meus leitores que eu tanto amo!
A curiosidade matou o gato!
Nesse capítulo vcs verão três desafios, e saberão o que o Shawn viu lá no prólogo, hehe.
Espero que gostem, boa leitura!



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Ignoro todos os comentários de Nick dizendo que eu devo parar e toco na notificação. Já tenho uma mãe muito preocupada e uma amiga superprotetora para cuidarem de mim, não preciso de mais um.

VOCÊ QUER GANHAR ISTO?

Toco no link e abre uma imagem, me mostrando como recompensa um violão marcado na minha lista de desejos. Uau. Ele é personalizado para parecer uma guitarra. Também é muito caro. Só coloquei na minha lista para observar diariamente, assim como aquele celular. Da mesma forma, eu faria o impossível para tê-lo.

PARA CONSEGUIR ESTE PRÊMIO, VOCÊ DEVE:

• DEIXAR NICK TE LEVAR ATÉ A FESTA DA LELE.

• QUANDO CHEGAR A 65KM/H, SUBA EM CIMA DO CARRO.

• SURFE POR 30 SEGUNDOS.

Surfar? Tenho certeza de que o carro não é uma prancha e que não estamos em alto-mar. Na verdade, achei bem simples. Chega até a ser mais fácil do que a montanha-russa problemática. Digo, tenho medo de altura, não de uma avenida movimentada. Camila vai me matar. Minha mãe também. De qualquer forma, estou apaixonado naquele violão. De onde NERVE tira tanto dinheiro para oferecer prêmios assim, são patrocinados?

— Shawn, tem certeza de que quer continuar? — A voz de Nick é calma e suave, como um vinho.

— Cem por cento — respondo. — E você também quer.

Nick abaixa a cabeça e assopra. Ele olha para mim antes de dar a volta no carro, então senta no banco do motorista, batendo a porta bem forte. Ele dá a partida no carro e sai do estacionamento do parque, fazendo com que todos os Observadores em volta se afastem do carro. Dou um pulo para o banco da frente e colocamos o cinto.

— E aí, qual é o seu desafio? — Pergunta enquanto dirige suavemente na estrada em direção ao centro de Seattle.

— Qual é o seu? — Retruco, aumentando minha voz em uma oitava. — A propósito, qual foi o seu desafio anterior? Não faz sentido NERVE não ter nos mandado para o mesmo local, pensei que fossemos parceiros, poxa.

Estou soando melodramático.

A expressão de Nick muda, seu rosto sua.

— Por que parece que você está colocando toda a culpa em mim?

Ele tem razão.

Bagunço meu cabelo com mãos agitadas.

— Desculpe, Nick, não foi minha intenção — digo, respirando fundo. — Eu só estou com raiva disso tudo. Eu quase morri.

Ele coloca o braço na janela aberta, apoiando a cabeça no punho.

— Eu sei, eu vi de longe. — Sua voz é suave. — Sinto muito, espero que esteja bem.

Batuco com uma unha o porta-luvas.

— Claro que eu estou. Já estive bem pior, você não faz ideia pelo que já passei.

Ele morde o lábio inferior com força e bate no volante. Opa, não queremos bater.

— Eu estou furioso pelo que fizeram, não pensei que pudessem ser tão sujos. NERVE está passando de um jogo de desafios para um jogo de sobrevivência.

Ele enfia o pé no acelerador, quase alcançando a velocidade que eu quero. Sua expressão é angústia, como eu nunca vi antes. Estou acostumado com seu sorriso alegre o tempo todo. Teria NERVE causado uma pane no sistema de Nick?

— Esfria a cabeça. Eu estou bem agora — afirmo com calma. — Por acaso seu desafio seria me levar até a festa da traidora da Lele a 65km/h?

— É — ele responde. — Por que traidora?

Merda, não queria tocar nesse assunto com ele. Entretanto, só nesta noite eu deixei de gostar do Ross e fiquei caidinho pelo Nick — e parece ser recíproco. Sendo assim...

— Lele se dizia minha amiga, mas flagrei ela aos beijos com Ross, um cara da escola que eu estava a fim. — Mando essa, como se estivesse em uma consulta psiquiátrica.

Uma elevação no cantinho da boca de Nick denuncia um sorriso.

— Você está rindo de mim! — alego, quase gritando.

— Não é isso, desculpa mesmo. Só julguei não ser algo que uma amiga faça — comenta, ainda com aquele sorrisinho. — Qual é o seu desafio?

Cruzo os braços.

— Deixar você me levar até a festa da Lele — minto. Talvez seja melhor eu esconder o meu verdadeiro desafio, por enquanto. Só por precaução. — O seu desafio é chegar a 65km/h, certo? Acelera aí.

Ele dá de ombros e enfia o pé no acelerador, provocando uma ventania entrar pela janela aberta ao meu lado. Quando ele chega na velocidade que o desafio pede, eu aperto o botão para tirar o sinto de segurança e respiro fundo. É a segunda vez que eu fico sem segurança em um desafio. Todos os meus desafios parecem seguir padrões.

Nick desvia o olhar para mim, antes de voltar a olhar para a rua.

— O que você pensa que está fazendo?

— Meu desafio.

O meu celular abre automaticamente o aplicativo de NERVE, junto com a câmera. Meu reflexo parece um zumbi: estou com um semblante terrível e pálido, o cabelo bagunçado e olhos inchados. Preciso de um descanso.

Mas só depois de concluir este desafio.

Digo para Nick não diminuir a velocidade enquanto coloco metade do meu corpo para fora do carro, sentando na janela e apoiando meu tórax no teto. Ele tenta segurar minhas pernas, mas isso não vai me impedir. Vai ser difícil, espero que meu celular não escorregue. Puxo minhas pernas do aperto forte e firme de Nick, colocando todo o meu torso no teto do carro. Meu traseiro está apontado para quem quer que passe ao lado.

— Por favor, desce! — Grita Nick, mas uma buzina alta abafa o que ele disse em seguida.

O motorista buzina uma segunda vez quando se aproxima do carro de Nick. Dessa vez, sou eu quem grito. Alguém acabou de bater na minha bunda?

— Delícia!

Opa. Os Observadores pervertidos estão à solta. Tenho vontade de me jogar em cima de quem fez isso e dar um soco, mas não estou em um filme do Indiana Jones para saltar de um carro para outro.

Ainda estou escalando quando Nick se aproxima de um sinal amarelo. Ele acelera e ultrapassa, me fazendo cair no teto do carro com minha perna ainda dentro. Volto a escalar para cima do carro e puxo todo o resto do meu corpo, permanecendo deitado. Ok, já estou em cima do carro, só tenho que ficar em pé.

Tento me equilibrar, mas Nick fica andando em ziguezague desviando de outros carros, o que não ajuda muito. Bato no teto do carro e peço para ele ir reto. O celular em minha mão dificulta o desafio, mas eu tento me gravar mesmo assim.

Fico de joelhos. Vejo vários Observadores enquanto passamos em alta velocidade, apenas uma variedade de fios de flashes como caudas na avenida. Coloco uma perna na frente, com um impulso eu fico em pé de uma vez. Me desequilibro e quase caio, mas tomo de volta o equilibro. Estou em pé.

Levanto a mão com o celular — a câmera precisa gravar tudo. Meu corpo, o carro, a pista, e vou contando mentalmente junto com o timer do aplicativo os trinta segundos. Agacho pela metade para ganhar firmeza, me sentindo como um surfista pegando onda. Eu acho, nunca surfei. Bem, agora estou.

Vou orientando nervosamente meu parceiro:

— Sim, assim está bom. Continue. Cuidado com o táxi! Belo desvio, Nick! Ótimo, mantenha a velocidade.

— O sinal vai ficar vermelho — Nick grita do carro.

— Acelera!

— Nem a pau, não vai dar!

— Acelera! — repito esgoelando.

Ele obedece e acelera mais ainda o carro, ultrapassando o sinal vermelho e quase me derrubando com a falta de equilibro. Uma buzina alta soa de um caminhão que cruza a avenida bem atrás de nós, soprando um ar nas minhas costas e me empurrando para frente. Então eu rio com diversão, rio bem alto para qualquer um que esteja me filmando pelas calçadas. E me equilibro para não cair.

O timer chega zera e eu urro de felicidade, dessa vez me deitando no carro. Mais um desafio completo! Nick diminui a velocidade enquanto chega na casa da Lele. Dou um salto de cima do carro para o chão, quase caio, mas fico pulando de alegria. Isso foi arriscado e divertido.

— Não acredito que você fez isso. — Nick sai do carro, sorrindo.

Ele me abraça e, com braços musculosos, me ergue para cima, girando nós dois. Eu não teria conseguido sem ele. E quando menos percebo, ele me beija. Sorrio com nossos lábios colados, fazendo a gente rir.

Nos separamos quando NERVE envia mensagens para nós. Dadá. Outro desafio? Não é um pra valer, é um desafio bônus. Pelo que tenho eu fazer, NERVE quer se aprofundar no meu lado pessoal. Leio a mensagem mentalmente:

POR $800,

COMPRE BRIGA COM LELE.

Oitocentos paus só por brigar com aquela imunda? Vai ser fácil — e divertido.

— Vamos entrar — digo, cruzando meu braço no de Nick.

— Não vão se importar com um estranho lá dentro? — Pergunta ele, desconfiado.

Até parece.

— Lele não conhece metade do pessoal lá dentro. Vamos beber algo, estou com uma sede do cacete.

Puxo Nick e atravessamos o gramado, com vários Observadores no gramado jogando flashes nos nossos rostos, mas eles não entram. Me sinto famoso quando vários dos convidados da festa nos cumprimentam ao entrarmos, nos parabenizando pelos desafios cumpridos. O som continua alto tal qual como as pessoas agitadas.

Vejo no fundo, sentadas perto do DJ particular, algo que eu estava desejando há séculos: Camila e Lauren se pegando. Opa. Parece que não sou o único se divertindo esta noite. Eu até iria lá, mas não quero atrapalhar — Camz merece.

Louis me cutuca atrás de mim, com um enorme sorriso no rosto. Ele se empolga:

— Caramba, Shawn, você está vivo! Pensei que você fosse morrer na montanha-russa, depois eu pensei que fosse morrer novamente em cima do carro. Mas olha você aqui, tão vivo quanto Jesus quando ressuscitou. — Ele aplaude. — Meus parabéns.

Me sinto especial quando meus amigos me elogiam.

— Ei, Lou, muito obrigado.

Ele me abraça amigavelmente, mas, por algum motivo, Nick nos separa e ergue uma sobrancelha em desaprovação. Que isso agora, ciúmes?

— Um pouco de espaço, por favor — ele silaba, rígido.

Hum? Eu cuido do meu próprio espaço pessoal.

— Nick, está tudo bem. Este é Louis, meu amigo. Lou, você viu a Lele?

O som para e todos ficam em silêncio. Alguns Observadores que estão na festa começam a gravar. Parasitas.

— Todos me viram. Sou a favorita de NERVE.

De repente um caminho se abre entre os convidados na direção de Lele, próxima da Camila perto das caixas de som. Seus cabelos loiros e assanhados brilham com a luz forte que alguém acendeu. Ela está usando uma minissaia amarelo xadrez com uma blusa curta decotada e de alça. Ela vira garganta abaixo algum líquido dentro de um copinho de plástico. Noto atrás dela Ross, sentado em um banco e mexendo no celular. Argh, Nick me fez esquecer paixões antigas, mas sinto que tive uma recaída.

— Pois eu nunca te vi jogando. — Não estou mentindo. — Às vezes penso que sua fama é forjada. Afinal, se você é a favorita como tanto se intitula, por que NERVE não te escolheu para as partidas ao vivo?

Ela amassa o copo e o arremessa no chão.

— Porque decidiram aumentar a fama de um pobre coitado que não pode nem ir até a esquina sem os pais tomando conta.

Ai. Mas eu gosto da proteção dos meus pais.

Relaxo o braço em que seguro o celular, gravando o desafio discretamente. Além de mim, vários Observadores da festa também estão gravando com flashes fortes. O áudio do meu celular é o suficiente para concluir o desafio.

— Vai ver eles perceberam que você estava ocupada demais destruindo nossa merda de amizade. Aliás, que amizade?

— Que amizade, você disse, Shawn! Eu sempre estive ao seu lado. Até um dia você aparecer totalmente bizarro, parecia um zumbi. Isso acabou com a minha reputação. Lógico que eu me distanciei discretamente de você. Eu não quero um fracassado sendo a minha sombra.

Sinto um soco no estômago, mas não abaixo a voz. Ela não sabe pelo que passei meses atrás. Pelo menos eu espero.

— Não, Eleonora. Eu quem não quero ser um dos seus puxa-sacos. Eu quase morri duas vezes nessa droga de jogo, e você está aí pouco se importando. Eu passei esses anos todos te dando o que você não merece. Opiniões inúteis, favores pessoais, atividades escolares... até o cara que eu estou a fim.

A multidão solta um ruído de surpresa. Estou definitivamente sendo dramático.

— Opa, espera aí, está falando do Ross? — Ela aponta para ele, que se desperta ao ouvir seu nome. — Ah, desculpa Shawn. Eu não sabia que você era o único que podia ficar com garotos hoje. Todos nós vimos aquele beijo que você deu em um desconhecido. Um desconhecido, e ainda por cima o trouxe na minha festa. É justo você ficar com... duas pessoas, e eu com nenhuma? Está sendo narcisista como sempre foi. Você quase morreu porque não me ouviu quando eu disse para você parar. Como a boa amiga que eu sempre fui.

Nick segura minha mão e cochicha algo no meu ouvido, mas com a multidão inquieta fica entender sussurros. Estou tão distraído que não percebi Camila ao meu lado, puxando a manga da minha camisa azul. Ela está acompanhada de Lauren, que mexe no cabelo.

— O que está acontecendo? — Murmura Camz.

— Parece que Shawn mostrou as garras e tentou alfinetar a Lele — comenta Lauren, segurando um sorriso. Ela tem razão, aposto que vou parecer um bebezão zangado quando os vídeos saírem no servidor.

— Vem, Shawn, vamos embora. A festa ficou chata. — Louis puxa meu braço, mas Nick nos separa novamente, dessa vez com uma veia saltando na têmpora.

— Eu disse para não tocar nele.

Por que Nick está tão furioso? Ele realmente está com ciúmes, ou Louis o irritou em uma realidade alternativa?

— Nick, eu disse que está tudo bem. Ele é meu amigo.

— Eu apenas não quero que ele te toque.

Estaria Nick com ciúmes? É até fofo, mas Camila joga os cabelos para trás e manda um contra-argumento:

— Por que não? Você não tem o menor direito de reclamar das amizades do Shawn. Você nem conhece ele, apenas estão juntos por causa do NERVE.

Ergo os braços.

— Vamos parar, por favor — digo, mas todos me ignoram.

— É melhor eu sair daqui. — A voz de Louis é deprimida, e ele saindo em meio à multidão.

Olha só no que esse desafio se tornou! Porém, oitocentos dólares são oitocentos dólares.

— Lou, espera!

Tento correr atrás dele, mas Lele surge e segura meu braço, me impedindo de continuar.

— Volta aqui, vamos continuar a nossa conversa, estava divertindo e te dando visualizações. Tudo o que você sempre quis. — Ela separa os cabelos em duas mechas e joga para frente do busto. — Você sempre se diz que eu era a sua amiga, mas nunca me disse o motivo de ter ficado estranho. Você acha que eu sou cega? Eu vi o que estava acontecendo.

Essa agora. As pessoas não podem deixar segredos em segredo?

— Não foi nada, eu já disse. Você é paranoica.

— Eu, paranoica? Eu sei de tudo, ou pelo menos uma boa parte. E eu faria qualquer coisa para ver pelo que você passou.

Ela volta pelo caminho aberto até a mesa do DJ e pede para tocar uma música punk dos anos noventa, depois vira para mim com olhos incendiários. Como ela sabe o que aconteceu? Camila não contaria e Lele não fala com os meus pais, a não ser que ela tenha o poder de ler mentes. Ou o poder de receber informações confidenciais de NERVE.

Ela ergue a voz para Nick.

— Ei, Nick, este é o seu nome, certo? Te desafio a se pendurar em um lugar bem alto. Não vai arregar, vai?

Ah, merda. Agora todos os meus pensamentos se distanciam, dando lugar àquela mesma cena que me deixou escondido de tudo e de todos. Só que na minha cabeça eu troco o rosto daquela pessoa pelo de Nick, despencando de uns vinte andares. Eu pestanejo com a notificação que chega no celular de Nick quase que imediato.

Agarro o celular da mão dele e abro a mensagem que chegou. É claro que é de NERVE, os administradores por trás do jogo devem ter ouvido o que a Lele disse pelos Observadores. Aqui não são as paredes, mas os celulares que têm ouvidos.

Leio o desafio baixo o suficiente para apenas o meu parceiro, colando sua testa na minha, ouvir:

POR $2000,

VÁ ATÉ A CONSTRUÇÃO ANEXADA.

SUBA NO GUINDASTE E SE PENDURE POR 5 SEGUNDOS.

ISTO NÃO É UM DESAFIO BÔNUS.

Merda.

— Certo.

— Não, Nick. Por favor. — Tento, mas sei que é inútil.

Lauren tira o celular da sua bolsa e começa a gravar a cena, junto com todos os outros Observadores. Eu piraria, mas é o que ela tem que fazer. Nick vai em direção à saída, e eu o sigo. Fico surdo quando todo mundo na casa uiva o nome dele.

— Nick! Nick! Nick!

— Shawn! — grita Camila atrás de mim. Ela está tão petrificada quanto eu.

— Camz, desculpa. Prometo que depois nós conversamos, ok?

Sem ouvir o que ela tem a dizer, volto a ir atrás de Nick. Perto do seu carro, agarro seu braço e ele vira para mim, me olhando com uma expressão espantada, assustada. Ele está assustado, com medo, não quer fazer isso. Devo tentar impedir.

— Oi — ele diz depois de desviar o olhar para os lados.

— Não faz isso. Não vale a pena — suplico, quase ajoelhando.

— O prêmio vale a pena. — Ele dá de ombros. — Agradeça à sua amiga.

Ele entra no carro e bate a porta. Sem permissão, instintivamente entro no carro e também bato a porta. Ele liga o carro e vai dirigindo rapidamente até uma construção aqui perto, mais para o meio do centro. Parece que vai ser um edifício industrial ou habitacional de mais ou menos uns quinze ou vinte andares. Dá para ver o enorme guindaste amarelo preso bem lá no alto. Como NERVE sabia que tinha isto aqui em menos de um segundo? Isso é bizarro.

— Você é louco, porra? — Insisto em fazer ele desistir. — Olha o tamanho disso. Se você cair, já era.

Meu discurso clichê não convenceria nem um neném. Ambas nossas mãos tremem.

— Eu não vou cair — gagueja. — Eu só preciso ficar pendurado por cinco segundos. Eu consigo. Sou forte.

Esses músculos deixam explícito que ele é forte, ainda assim acho uma péssima ideia.

— Não faz isso, por favor.

— Qual é, Shawn? Você não pode ficar com todos os desafios arriscados e perigosos — comenta, com um pouco de ironia.

— Isso não é hora para piadas.

Estacionando na frente do prédio, ele sai carro e vai pisoteando para dentro da construção, eu vou andando atrás dele. Parece um prédio abandonado, mas a plaquinha denuncia que a construção está dentro do tempo de entrega. Entramos no elevador de carga e Nick o manuseia, subindo lentamente.

— Você pelo menos já fez esse tipo de coisa antes?

Ele olha para mim e lança um sorriso torto, sem mudar a expressão assustada.

— Não, nunca.

— Nick, sério, não faz isso. Vamos desistir. Este jogo vai matar nós dois. Ele está nos deixando cegos e sedentos por coisas caras. Eles prometem nos dar o que nós mais queremos em troca de algo que não vale a pena: nossa própria vida.

Dessa vez não estou sendo dramático, estou sendo lúcido. Mesmo assim, Nick argumenta:

— Não vai. Isso já aconteceu uma vez, um garoto morreu jogando NERVE, saiu em todos os jornais. Por isso eles devem estar tomando o dobro de cuidado com os jogadores. Possivelmente vai ter um amortecedor ou uma rede lá embaixo caso dê errado. Vai ficar tudo bem.

Isso foi notícia nacional? Não tenho ideia, já que passei uma eternidade no meu quarto depois do que aconteceu. Minha contestação sai igual uma criança desesperada:

— Eu sei dessa notícia mais do que você. Eu presenciei esse desafio há alguns meses. O desafio era exatamente o mesmo: se pendurar em um lugar bem alto. Eu não sabia disso, eu não imaginava. Eu não era jogador ou Observador, apenas estava voltando de um passeio com a minha amiga. Esse cara estava fazendo o desafio, mas deu tudo errado e ele despencou do alto de um prédio de vinte e poucos andares bem na minha frente. Foi traumatizante pra caralho; eu o vi morrer na minha frente. Eu não quero que o mesmo aconteça com você.

Ele olha para os próprios pés e coça a nuca. Ele deve ser a primeira pessoa para quem eu me abro sobre este assunto.

— Porra, Shawn. Sinto muito que tenha passado por isso. Eu só te conheci hoje, mas pelo tanto que nos aproximamos tudo que eu menos quero fazer é te magoar.

Sinto um frio congelante subir as minhas costas. Ele passa a mão no cabelo, olha para mim e me abraça. Ele me agarra como se fosse uma despedida, mas não quero me soltar dos seus braços fortes e de seu casaco aconchegante. Depois, ele fica na ponta dos pés e me beija. Seus lábios estão tão secos quanto os meus, e ele treme, mas não deixo de beijá-lo. Também estou com medo.

O elevador para.

— Não faça isso — suplico uma última vez.

— Me desculpe, por favor, mas eu não vou desistir agora. — É sua palavra final.

Ele abre as portas e saímos do elevador. O telhado está completamente vazio, mas aos poucos vem chegando Observadores pelas escadas, com seus preciosos flashes.

Nick entrega seu celular para um Observador gravar, e tira seu casaco vermelho, ficando apenas com a regata cinza e fazendo a multidão gritar com os braços musculosos desnudos. Ele vem até mim e me abraça forte. Seu calor me protege do frio que faz aqui em cima, e eu não quero soltá-lo. Mas ele coloca seu casaco quentinho em mim e beija minha mão antes de me soltar.

Me perco em pensamentos ouvindo a multidão gritar seu nome. O local, onde apenas havia nós dois, está lotado de Observadores. Como eles sabem onde nós estamos? Estão nos seguindo? Que falta de privacidade!

Quando olho de volta para frente, Nick já está subindo no guindaste. Tem uma estreita escada que leva até lá em cima, onde ele escala rapidamente.

Este jogo de repente ficou mais perigoso, apesar dos meus últimos desafios arriscados. Eles estão arriscando as nossas vidas nisso. Quero acreditar que tem um amortecedor lá embaixo, mas eu não quero que Nick descubra por conta própria com um deslize acidental.

Estou abraçando a mim mesmo quando vejo um minúsculo Nick lá no alto, se equilibrando para não cair. Ele engatinha lentamente até a ponta do guindaste, eu me aperto sempre que um vento forte bate. Ele pode cair a qualquer momento e eu não quero olhar. Eu tenho um azar com garotos. Um é um babaca e o outro está prestes a morrer. Que droga a minha vida amorosa, hein?

Chegando na metade do guindaste, todo mundo fica em silêncio, como se estivessem concentrados, e lágrimas de desespero escorrem pelos meus olhos. Por favor, não caia. Todo mundo, incluindo eu, deixa um suspiro escapar quando Nick deixa seu corpo cair, mas ele consegue se manter pendurado, suspenso lá no alto.

Fecho os olhos, mas sou forçado a abrir quando a multidão começa a contar em voz alta como um coro os segundos:

— Um!... Dois!... Três!... Quatro!... Cinco!

Todos comemoram e eu agradeço a todos os deuses por terem cuidado dele. Caio sentado no chão, nauseado. Minha cabeça gira e eu sinto que vou desmaiar, não estou me sentindo tão super. Vejo um Nick voltar engatinhando pelo guindaste, que de repente parece ser maior que a Interestadual 90.

Escondo minha cabeça no meio de minhas pernas. Graças a todos os deuses ele não caiu. Graças a todos os deuses não deu errado. E a multidão continua gritando de alegria. Qual é o problema deles? Isso poderia dar errado de uma forma terrível. Eles deveriam estar agradecendo, não gritando.

Sino um abraço forte, calmante e quente me enrolar. Levanto a cabeça, e vejo o sorriso de Nick. Abraço ele com força, me derramando em lágrimas como uma criança. Ele me aperta, e eu enterro minha cabeça em seu ombro.

— Eu estou aqui. Me desculpe.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, meus queridos Observadores.

Não esqueça de deixar seu comentário.

Beijos.