Nerve escrita por LustForJohn


Capítulo 4
Proposta negada


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, boa noite para quem está lendo o capítulo assim que saiu!
Adorei a recepção, 17 acompanhando e 15 comentários ♥ espero que aumente mais, mas não custa nada favoritar!
Espero que gostem do capítulo, terá mais de Nick pela frente.
Boa leitura.



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Certo, tenho um celular em mãos e vou ganhar ele. Para isso, eu só tenho que a) convencer um desconhecido a dividir a comida dele e b) beijá-lo por 10 segundos para enfim c) ganhar o meu grande prêmio.

Suspiro. Vai ser fácil. Olho para Camila e ela olha para mim. Levo meu olhar junto com o dela para Nick. Ele está rindo com a mulher ao seu lado. Ela parece estar gravando eles dois com o celular dela — grande e com capinha protetora rosa. Isso é algum tipo de rede social de casal? Espero que não, é bizarro. Nick lança um rápido beijo em sua bochecha. Eles pedem dois bolinhos rapidamente e se sentam na segunda cabine depois da entrada. Ele nem olhou para mim.

— É agora — diz Camz.

Levanto o celular.

— E aí, Observadores — digo para a câmera. Olho para a Camila. — É agora. — Confirmo.

Mudo para a câmera traseira, entrego meu celular para Camz e me levanto da mesa. Ela aponta o celular para mim, rindo baixo enquanto murmura algo. Pestanejo para ela e sinto meu coração bater mais rápido. Eu nunca roubei um beijo, muito menos de um estranho.

Caminho lentamente até a mesa deles. Ele leva um dos bolinhos até boca da mulher, que abocanha, e continuam rindo, e ela continua gravando. Ela quebra o sorriso repentinamente e começa a mexer no celular, depois o guarda na sua bolsinha de lado. Nick passa o celular dele para ela e ela começa a usar a câmera dele. A atitude deles me deixa mais nervoso ainda.

Enquanto vou me aproximado, vou diminuindo mais ainda a velocidade. Olho por sobre o ombro para Camz — ela permanece gravando de longe. Está me dando no nervo, não é à toa que esse é o nome do jogo. Começo a bolar um plano, tenho que fazê-lo aceitar.

Sento-me na frente deles. Pela primeira vez, o olhar de Nick se cruza com o meu, me fazendo congelar. Ele é mais lindo ainda pessoalmente.

Pigarreio.

— Oi. — Minha voz me trai. — Isso pode parecer intrusivo, mas eu estou passando uma tremenda fome e não tenho um tostão. Poderia me dar um pedaço do seu bolinho?

Nick olha para mim com o cenho franzido, enquanto a mulher ao seu lado solta uma risadinha. Era óbvio que eu seria fonte de risos novamente.

— Peça à sua amiga — ele responde apontando para Camila. — Eu vi vocês cochichando.

Então ele de fato me notou?

— Olhe, foi mal. Eu realmente preciso de uma mordida deste bolo.

Nick muda de postura na mesa e apoia os dois braços nela. Sinto seu rosto chegar perto de mim, mas ainda está longe.

— Compre seu próprio bolo — diz ele com um sorriso irônico. — Você não tem cara de quem anda com menos de vinte dólares no bolso.

Ele está errado. Na verdade, não tenho nada. Gastei minha última economia no café de ontem.

— Eu faço qualquer coisa — imploro. — Por favor.

Ele olha para sua parceira — ela agora nos grava. Ah, merda, ele realmente é um Jogador, não é? Ou ela está me filmando para postar nas redes sociais com o título “mendigo se humilha por comida”? Esvazio os bolsos, mostrando apenas um bombom velho que eu nem lembrava que tinha e uma multa de estacionamento da semana passada.

— Viu só? Eu não tenho nada, e você foi a única pessoa que comprou esse muffin que eu estava de olho faz um tempão. Estou com um desejo enorme de dar pelo menos uma mordida. Eu faço qualquer coisa — repito, dessa vez mais desesperado. Qual é, preciso daquele celular.

Ele estrala os dedos.

— Qualquer coisa — seus lábios se movimentam lentamente. — O quê, por exemplo?

Merda. Não pensei que ele fosse sentir pena de um bolinho de um dólar.

— Eu posso cantar.

É o que consegui pensar. Não nego, sou ótimo cantor. Participei do coro da escola durante todo o ensino fundamental e início do médio. Minhas notas nunca foram tão boas durante esse tempo — e preciso dessas aulas extras se quiser passar na faculdade de música.

Nick parece se divertir com minha proposta, e, depois de bolar seu plano, ele anuncia:

— Cante Love Rollercoaster. Agora. Ao vivo e em estéreo. E em pé, é claro.

Em pé? Droga. Tudo isso por causa de um bolinho, que filho da mãe penoso. Nunca vou parar de me humilhar enquanto estiver jogando NERVE.

Levanto-me e limpo a garganta. Ainda nem comecei a cantar e as pessoas já começaram a me espiar com olhares curiosos. Essa música é antiga e bem específica. Começo a tocar ela mentalmente, aquele ritmo fácil, mas pulo para o refrão.

— You love is like a rollercoaster baby — as palavras saem da minha boca junto com o ritmo na minha cabeça. — I want to ride. Your love is like — canto alto. Vai que a música precise aparecer no meu vídeo. — A rollercoaster baby, I want to ride!

— Your love is like a rollercoaster baby. — Nick canta comigo, seguindo o mesmo tom. Graças aos céus, pelo menos não vou passar vergonha sozinho. — I want to ride. — Cantamos em harmonia. Eu deixo um sorriso escapar, a parte fácil já foi.

Ele me aplaude.

— Ok, ok. Você me convenceu, canta muito bem. Mesmo. Pode dar uma mordida no meu muffin.

Ufa. Ele aceitou, agora é só beijá-lo para concluir meu desafio.

Sento-me ao seu lado, apoiando meu braço direito nas costas da cadeira e o esquerdo na mesa. Ele se afasta um pouco, espremendo a mulher do outro lado na parede. Prendo a respiração e olho para ele, e depois para a sua boca — os lábios são lindos e carnudos —, e rapidamente colo meus lábios nos dele. Coloco a mão em seu pescoço para o puxar para mais perto, e ele tenta me empurrar, mas eu forço mais ainda contra ele. Seus lábios têm um gosto bom e são quentes. Ele continua tentando se afastar, mas depois de cinco segundos ele desiste e, estranhamente mesmo, me beija de volta. Acho que já passou de 15 segundo. Separo nossos lábios com um estalo e vejo que a mulher ainda estava gravando; ela está de boca aberta e com um sorriso suspeito.

Opa! Não estou querendo participar de um trisal, valeu. Passo a mão na boca e enrubesço.

— Pois é, tchau.

Levanto-me da poltrona e ando rapidamente até Camila, sentando na frente dela. Ela me entrega o meu celular e a câmera se fecha sozinha. Aparece uma tela piscando em rosa com as palavras escritas "DESAFIO COMPLETO". Nem acredito que fiz isso! Celular novo, vem pro papai.

— Minha nossa, Shawn. Você mandou muito bem — parabeniza Camz. Depois ela espreme os olhos, coçando uma barba imaginária. — Mas você durou mais do que dez segundos.

— Bem, não é sempre que eu beijo um cara lindo, né?

— Ele não ficou uma fúria? — Pergunta.

— Não fiquei para ver, mas ele acabou me beijando de volta. — Demonstro estar chocado. — Vamos dar o fora daqui logo, antes que ele venha tirar satisfação ou me dar um soco.

Antes de nos levantarmos, Camila arregala os olhos e aponta para trás.

— Oh-oh, alerta de Romeu vindo atrás de sua Julieta. Ou Júlio. Tarde demais.

Olho para trás e vejo Nick caminhando na nossa direção, segurando o mesmo bolinho com uma mão e seu celular com a outra, como se estivesse se filmando. Putz, no que isso vai dar? Quando ele para na frente da nossa mesa, ele canta olhando para mim:

— Your Love is like a rollercoaster baby! I want to ride.

Ele sorri. Meu olhar se encontra com o de Camila, e conseguimos transmitir confusão um para o outro. O que está acontecendo? Nick guarda seu celular no bolso da calça e senta ao lado de Camila, estendendo uma mão para mim.

— Oi, eu sou—

— Eu sei quem você é — interrompo-o. — Nick. Sou Shawn.

Mesmo assim trocamos um aperto de mãos — sua pegada é forte. Ele reage indiferente, como se soubesse que eu o conhecia, ou se soubesse o meu nome. Depois, ele coloca o bolo na minha frente.

— É seu. Você mereceu, sua voz é maravilhosa.

Eu mereci o celular, mas não vou recusar um lanchinho. Mas o elogio me pegou desprevenido, estou envergonhado.

— Obrigado.

— Não foi nada. Uau. Bem, você me beijou. O que foi aquilo? Minha namorada, Demi — ele aponta para a mulher, — ficou um pouco irada. Eu só queria trocar umas ideias com você para esclarecer as coisas.

— Ah, desculpe. — Balanço o celular para ele. — Foi um desafio de NERVE. Eu tinha que fazer. Sério, peço perdão. E por que você terminou de cantar a minha música?

— Bem... Ok, eu menti. — Ele tira o celular do bolso e o chacoalha na minha frente, mostrando o mesmo texto brilhante de desafio completo. — Foi um desafio, eu tive que cumprir. — Ele sorri.

Eu meio que já sabia, mas sorrio de volta. Hoje em dia todo mundo joga isso como se fosse uma rede social de desafios, outros apenas assistem e gravam. Por que NERVE quis que cruzássemos o caminho do outro?

— Certo. — Levanto-me da mesa junto com Camila. Não sei se quero continuar essa conversa. Por mais gato que ele seja, estou envergonhado. — Vou me mandar. Desculpe novamente pelo beijo, mas até que valeu a pena.

Ele se levanta junto comigo. Agora que estamos de pé um na frente do outro, consigo notar que ele é pelo menos vinte centímetros menor que eu. Quando foi a última vez que eu beijei alguém baixinho? Sua postura denuncia orgulho da altura, pelo menos.

— O que você ganhou? — Pergunta. Olho de realce para a namorada dele, e ela está me fuzilando com os olhos. Estremeço. Ela está atuando? E se também for Jogadora?

— Um celular. E você?

— Um laptop.

Arregalo os olhos. Quê?

— Por cantar o final de uma música?

— Não, essa parte de cantar foi meu bônus pessoal aos Observadores. Meu desafio em si foi mais complexo. Geralmente quando se tem vários Observadores, NERVE oferece desafios bônus para quebrar o galho. Quando o vídeo sair, acho que ele terá umas 500 visualizações. E aposto que sua recompensa foi tão boa quanto a minha. Vai dizer que você ganhou apenas um celular?

Ele sorri com uma sobrancelha arquejada. Eu solto uma risada e olho para meu tênis. Ele tem razão, não foi apenas um celular. Mas ele disse que seu desafio foi outro. Tipo o quê, fazer eu me humilhar por um bolinho?

— Quem sabe um bônus e algumas coisas a mais — confirmo. — Pelo visto você é bem famoso no jogo.

Ele guarda o celular e coça a cabeça, seu cabelo não bagunça.

— Na verdade, esse foi meu primeiro desafio depois do desclassificatório. Acabou que eu fiz algo surreal, mas os Observadores só gostaram de me ver com a blusa branca molhada de água. Recebi muitos comentários sujos, mas estou acostumado a receber os mesmos nas redes sociais. Virei favorito bem rápido.

Opa, eu também gostaria de ver — jogadores também precisam pagar para ver? Não minto que estou mais curioso para saber qual foi o desafio, apesar de ele ser bem gato.

— Aconteceu o mesmo comigo — comento. — Mas, em vez de água, minha blusa estava encharcada de café. Nada de mamilos polêmicos — acrescento.

— Eu gostaria de ter visto. — Ele disse a mesma coisa que eu pensei, como se pudesse ler minha cabeça.

— O papo foi bom, mas a gente precisa ir — diz Camila, me arrastando para fora.

Olho para trás e Nick, com um sorriso entristecido, balança a mão para mim. Eu aceno de volta e sigo rumo até minha casa com Camila, caminhando lentamente e conversando sobre meus atos rebeldes no Cafeinamente. Quando vou receber meu celular novo? Estou ansioso.

Quando chegamos, abraço Camila.

— Obrigado Camz. Você é uma ótima amiga. Somos tipo Parceiros do Crime.

— De nada. — Ela sorri. — É para isso que servem os amigos, não é?

— Faria o mesmo por você, mas você não joga.

— Não, e nem você deveria.

Sentamos no gramado e dividimos o bolo que Nick me deu.

— Vamos começar essa conversa de novo? Aquilo que aconteceu comigo foi só um deslize. Não vai acontecer de novo. Eu estou bem e queria aquele celular. Além do mais, não vi nada de perigoso neste jogo. Quero dizer, qual vai ser o próximo desafio, abaixar as calças em público?

Camila revira os olhos e cobre sua visão da luz solar com uma mão, as unhas pintadas brilhando estrelas.

— Certo, desculpe, desculpe. Faça o que você quiser, já tem dezoito. — Pigarreia. — Vai à festa da Lele?

— Vou. Você vai? Pensei que não se falassem — argumento.

— E não nos falamos. Mas todo mundo vai e eu gosto de festas. Te encontro lá?

— Sim. — Sorrio para ela. — Até mais tarde.

Nos levantamos e ela vai embora. Eu entro saltitando na minha casa e subo para o meu quarto. Jogo-me na cama, exausto. Miles dá um pulo, se deita ao meu lado e se esfrega em mim. Pego meu celular e abro o aplicativo do NERVE. Meu vídeo beijando aquele cara já tem mais de 700 visualizações! Aposto que a maioria eram os Observadores dele. Dane-se, estou popular!

Dou uma risadinha para mim mesmo. Leio os comentários — tudo a mesma coisa. Um anúncio aparece no aplicativo.

VEJA QUEM ESTÁ JOGANDO.

Clico no anúncio e sou direcionado para alguns desafios de graça para assistir. Legal, talvez assim eu possa aprender técnicas novas. Toco em um vídeo que me chama a atenção, mostrando uma garota. Ela parece ser um pouco mais velha que eu. Ela usa óculos escuros com formato de coração e batom exagerado nos lábios. Os cabelos volumosos e escuros estão soltos e balançam com o vento.

O vídeo começa com ela mandando beijo para a câmera, ela usa roupas curtas, e está em algum lugar que parece ser a calçada de uma rua movimentada. Ela tira a parte de cima da blusa, em seguida, ela desabotoa o sutiã e o joga no chão. Faço cara de desaprovação. Pelo menos NERVE colocou tarjas de flores para censurar. Várias pessoas olham para ela e a repreendem com olhares maldosos, enquanto outros tiram fotos dela e gravam vídeos, provavelmente os Observadores. Credo, isso é mesmo necessário? Ainda bem que está censurado... O vídeo segue com ela se abaixando para pegar outro sutiã dentro de uma sacola de marca famosa e o coloca, depois veste a blusa de volta. Olha de volta para a câmera e manda outro beijo, e a tela de desafio completo aparece.

Dou meu celular novo apostando que isso não foi um dos desafios desclassificatórios. Aposto que foi igual o meu, um desafio pra valer. Estou curioso para saber o que ela ganhou, mas tenho que me manter ocupado fazendo as tarefas de casa.


Me admiro no espelho do visor do meu Monza antigo e pisco os olhos. Pego minha camisa de flanela azul xadrez jogada no banco do passageiro e visto por cima da minha blusa branca de adereços musicais, mas não abotoo.

Saio e tranco o carro. A casa da Lele está fazendo um barulho alto. No jardim tem algumas pessoas sentadas no chão, bebendo e conversando. Entro pela porta escancarada e logo procuro pelos meus amigos.

O som está bem mais alto aqui dentro. Ela não tem medo de alguém chamar a polícia? Não, aposto que até os policiais estão aqui curtindo. Ela é a preferida do NERVE, só não sei o porquê. Nunca assisti um vídeo de Lele, o que será que ela fez para se tornar tão popular? Um dia serei popular por jogar NERVE, igual Lele? Eu quero ser famoso desse jeito. Só que sem nenhuma festa na minha casa, minha mãe colocaria todo mundo para correr com a vassoura.

Sinto um beijo molhado na minha bochecha, é Camila. Ela sorri para mim e me arrasta mais para o fundo. Várias pessoas estão aqui, dançando e se esfregando umas nas outras. Corro meus olhos a procura do cara que estou a fim.

— Você viu o Ross? — Pergunto gritando para Camila.

— Sim — responde. — Eu o vi. Ele deve estar por aí. Vem, vamos beber algo.

Ela me arrasta até a cozinha e abre a geladeira. Eu peço apenas um Mountain Dew. Aqui na cozinha o som está mais abafado, dá para conversar melhor. Aproximam-se de nós Lauren e Louis, nossos amigos. Camila vira um copo de vodca na boca e olha para mim, arregalando os olhos. Camz é caidinha pela Lauren. Eu também teria: Lauren é gata, olhos claros, morena e tem um corpo maravilhoso. Nesta noite, ela está usando um vestido sem alça colado vermelho e um par de botas pretas com cadarço. Louis usa uma jaqueta de jeans e seu topete está feito como sempre. Já nos beijamos uma vez apenas por interesse, mas decidimos que não sentimos nada um pelo outro. Apenas amizade. O bigodinho dele é engraçado.

— Olha só quem veio nos dar a honra por aqui — diz Lauren.

— O novo favorito de NERVE — completa Louis. — Não deixe a Lele saber que eu disse isso.

Olho para baixo e dou uma risadinha. Droga, ainda não sei como reagir a fama, mesmo que sejam meus amigos. Que tal agir naturalmente?

— Parabéns, Shawn — diz Louis, agora mais sério. — Você merece. Atacou com vontade aquele cara. Eu sou Observador, assisti assim que o vídeo saiu.

— Galera! — grita Lauren. — O Shawn está aqui! Ele é meu amigo e fez dois desafios bobos do NERVE!

Quando ela termina, ouço vários uivos animados como resposta. E, depois, começam a gritar meu nome em uníssono várias vezes. Que vergonha, quero me jogar no chão e fingir síncope.

— É só mandar o desafio que ele faz! — grita Louis, ainda no clima.

Ele me abraça, me parabenizando de novo e perguntando o que eu ganhei. Lauren troca algumas palavras com Camz, mas a Camila está muito nervosa. Eu daria um desafio para ela: "Beije Lauren por 10 segundos e ganhe um namoro com ela". Ainda bem que NERVE não pode ouvir meus pensamentos, ela morreria de vergonha. Eles não podem, né?

— Cadê a Lele? — Pergunto, mudando o foco.

— Deve estar por aí curtindo com o pessoal — responde Lauren. — Vamos comemorar suas vitórias, Shawn!

— Claro.

Bebo o resto do refrigerante e me enfio no meio de todo mundo a procura de Lele. Está muito apertado e está muito calor. Um ar-condicionado custa três vezes menos que estas caixas de som. Alguém agarra minha mão, olho para trás e vejo uma Camila apavorada.

— Eu não ia ficar sozinha com a Lauren! — grita. Eu concordo com a cabeça e volto à caça.

Onde será que está Ross?

Camz continua me segurando pelo braço. Chego perto das caixas de som e caminho por um corredor, indo em direção ao quarto dela. Lele deve estar se arrumando. Abro a porta e vejo-a encostada na janela, se agarrando com um cara. Está escuro, não consigo ver quem é. Estou atrapalhando algo?

Ligo as luzes, e ouço um suspiro fundo da Camila ao meu lado. O cabelo amarelo tingindo de Lele combina com o louro natural dele. É o Ross. Lele e Ross estão se pegando. Ouço um "apaga a luz" e eu não hesito. Bato forte a porta do quarto e saio pela multidão, enfrentando as lágrimas que ameaçam cair.

Saio rapidamente da festa e sento no meio-fio, perto do meu carro, traio minha dignidade e choro igual criança. Lele é a pior das cobras. Ela deixou claro que sabia que eu estava gostando dele. Ela fez de propósito. Só falta colocar a culpa no NERVE. Desafio uma ova.

Enxugo minhas lágrimas na manga da minha camisa quando vejo Camila se sentar ao meu lado. Ela deita a cabeça em meu ombro e murmura meu nome. Meu celular recebe uma notificação. É aquele mesmo toque de bebê balbuciando. Estão tentando me provocar me chamando de bebê? Prefiro esquecer este jogo por um momento.

— Shawn — repete. — Você está bem?

— Sim. Eu só precisava respirar um pouco, lá estava me sufocando.

— Shawn... Essa garota é uma vaca. Ela não vale os prêmios que ganha.

Suspiro. Ela é uma boa jogadora, talvez até deva valer.

— Você está mesmo bem?

— Melhor do que nunca.

— Não vai ver a mensagem no celular?

— Não sei se importa. Você deveria ir falar com a Lauren.

Ela estala a língua e estica os braços para cima, se espreguiçando.

— Eu não quero. Quero ficar aqui com você. Está menos barulhento, e o ar puro faz bem. — Ela ri. — É melhor você ver a mensagem.

Reviro os olhos. Retiro o celular do bolso da minha calça e toco na notificação. Sinto um choque de realidade quando leio a mensagem.

— Puta merda. — Minha voz nem treme mais.

— O que foi?

— Eu fui classificado! Vai ter uma partida ao vivo em Washington e eles me querem!

— Fala sério, jura!?

— Sim, estão me oferecendo o dia de criança que eu nunca tive naquele parque temático famoso na Flórida. — Sempre quis usar aquelas orelhinhas redondas de rato. — Não pensei que fosse chegar tão longe assim. Tenho dez minutos para dar uma resposta.

Camila levanta, limpando a saia e chutando o asfalto.

— Shawn, você é um bom jogador, cumpriu dois desafios, mas não acha que já está na hora de parar? Eu vi o que aconteceu nas partidas ao vivo com o pessoal da última edição. Eles ficaram traumatizados.

Balanço a cabeça. Estou confuso. Eu quero continuar. Mas pode dar errado, e eu sei que vai dar.

Camila pisca seus grandes olhos e sorri.

— Não quer que eu te leve para casa? A gente pode pedir pizza e passar a madrugada toda assistindo filme.

Me levanto e abraço-a. Tenho a melhor amiga do mundo.

— Você é muito especial para mim, Camila. — Sorrio. — Depois dos meus pais, você é a pessoa que mais quer meu bem, muito obrigado por se preocupar e por me ajudar.

Ela sorri e prende a respiração.

— Então, você vem comigo?

— Não mesmo.


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam do capítulo, e se estiverem gostando favoritem por favor!