Nerve escrita por LustForJohn


Capítulo 22
Polarizado


Notas iniciais do capítulo

O fim vem aí...



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Minha música matinal favorita toca notas baixinhas ao mesmo tempo que abro os olhos, me xingando mentalmente por ter deixado a cortina aberta. Detesto sol na cara assim que me acordo. Miles ronrona nas minhas pernas, se espreguiçando junto comigo. É bom estar formado.

Desligo o despertador e checo minhas notificações, com esperança de tudo ter acabado, mas parece pior do que ontem. Já passou um mês desde que desafiei NERVE e fugi daquela armadilha, desde então metade dos Observadores me viram como herói, enquanto a outra metade me chamam de covarde. Se eu iria ou não levar um tiro, nunca vou saber, mas prezo pela minha vida, isto que importa.

Deslizo por todas as mensagens que recebi em todas as redes sociais até encontrar uma especifica, fazendo meu coração derreter. Minha barriga ronca e eu levanto da cama, não antes de fazer carinho no Miles. Dez minutos depois, já estou fora de casa. A primeira semana foi terrível, minha casa era infestada por Observadores pedindo pronunciamentos e jornalistas sedentos por uma matéria. Não hesitei em nenhum momento: disse tudo que pude com a intenção de derrubar esse jogo maluco. Não deu em nada, é claro, inclusive próximo sábado já deve ter uma nova edição novinha em folha. Espero que os jogadores tenham me ouvido. Não posso impedi-los de jogar NERVE, mas posso dar dicas de como sobreviver nas Grandes Finais. Iniciar uma rebelião é um bom começo.

Também consegui convencer meus pais que fui sequestrado. É meio mentira, fui por conta própria, mas no momento que me trancaram quando decidi desistir a história muda. Eles me chamaram de corajoso por todos os desafios perigosos que fiz, mas mesmo assim me deixaram de castigo para o resto da vida — ou pelo menos até entrar na faculdade. Tive que fazer um esforço para convencer eles a ficar com meu emprego no Discos e Livros, depois tive que convencer meu chefe a mudar minha carga horária para manhã, por causa do castigo. Também fiz migué para me darem patins novos, não sou bobo.

No final, sai ganhando. Meus pais finamente acreditaram que eu não tentei me matar quando tomei todos aqueles comprimidos antidepressivos. Foi loucura e desespero. Isso diminui duas vezes a preocupação deles comigo, mas não diminui meu castigo. Apenas me deixam sair pelas manhãs de sábado para um breve passeio na praça, depois direto pra casa. Gosto de ficar em casa, de qualquer forma. Meus pais me compraram um violão numa venda de garagens no final da rua. Com ele, aperfeiçoo minhas técnicas em música antes de entrar na minha faculdade desejada. Ainda vou precisar entregar bastante coisa no meu emprego.

Caminho até o meu Monza vermelho parado na frente da garagem. O dia está ensolarado, o clima caloroso. Foi um ótimo combo vestir bermuda e camisa. Estou sendo básico? Não importa, já deixei claro que fama não é para mim. Não agora.

Aaliyah sai correndo e entra na porta do passageiro. Nem lembrava que prometi a ela uma carona para a casa da amiga dela. Fica no caminho, de qualquer forma. Depois de cinco minutos, paro no meio fio de um condomínio e minha irmã bate a porta do carro, marchando na direção de algumas garotas de sua idade que estavam curtindo o sol na escada do prédio. Adeptos da vitamina D?

Dirijo pelos subúrbios de Seattle e estaciono na praça, onde um surrado Ford Del Rey chama minha atenção. Caminho pela praça até onde um homem usando óculos escuro me esperava sentado em um banco. Ele estende o braço e eu aperto, com intenção de o ajudar a levantar, mas ele me puxa, me fazendo cair no seu colo, depois me beija na boca sob a sombra de uma árvore. Ouvi barulho de foto?

Amo seus beijos calorosos, mas repreendo-o em seguida.

— Nick!

Escorrego do seu colo e me aninho ao seu lado, com seu braço envolto dos meus ombros. Ele fica engraçado com esses óculos escuros. Nick está usando um calção preto fininho, mostrando panturrilhas saradas e uma regata branca que realçam seus bíceps definidos. Ah, vou passar mal.

— Que foi, docinho?

Uma semana depois de NERVE, tivemos nossa primeira briga feia. Tínhamos que conversar sobre a montanha-russa, de qualquer forma. Ele me ouviu calado enquanto o reprendia sobre sua atitude. Depois, eu ouvi calado quando ele se desculpou e mostrou seu ponto de vista, demonstrando total arrependimento. É claro que eu acreditei e acabamos nos beijando no meio da praça, ainda quando os Observadores nos perseguiam.

— A última coisa que quero é ser fonte de matérias pervertidas — respondo, ainda com um pouco de humor. — Ainda somos famosos.

Nick dá de ombros, fazendo carinho no meu braço.

— Quem liga além de fofoqueiros? Não vamos deixar de demonstrar afeto por causa de alguns flashes. Afinal, lembra do que decretamos?

É verdade. Percebemos que os paparazzi anônimos só estão interessados em nossas fotos quando tentamos nos esconder. Eles desistem imediatamente quando começamos a posar, e nos xingam ao mesmo tempo que declaram que a fama subiu a nossa cabeça. Aposto que subiu mais nas deles.

— Sim. — Levantamos em uma forma desajustada, fazendo a gente rir. — Vamos para a cafeteria logo, as meninas vão já chegar e só tenho uma hora livre.

Caminhamos de mãos dadas embaixo do sol pelos tijolos cinza da praça, a brisa refrescante assopra meus cabelos para trás. Quanto tempo faz desde que cortei? Talvez peça para minha mãe dar um trato amanhã, só ela sabe como gosto do meu penteado.

Nick e eu nos assustamos quando uma garota, pelo menos um ano mais nova do que eu, salta detrás de uma árvore apontando seu celular para nós. Ela usa óculos e possui o nariz perfurado por uma argola discreta. Reviro os olhos. Não tenho um único dia de paz.

Nick me cutuca, sorrindo divertidamente.

— Parece que ela quer algumas fotos.

— Opa! — exclamo, entrando no personagem. — Por que não pediu logo?

A menina franze o cenho quando Nick coloca as mãos atrás da minha cintura e faz uma cara digno de modelo mundialmente conhecido. Eu faço o mesmo, só que sem o talento de meu parceiro. Mudando de pose, Nick segura meu rosto e me puxa para um beijo carinhoso. Eu agarro seus braços e ficamos parado na pose. Depois, olhamos para nossa paparazzo.

— Ficou boa? — Pergunta Nick.

— Se eu tiver ficado feio você apaga e tiramos outra.

Ela joga os cabelos para trás e revira os olhos, guardando o celular.

— Vocês pensam que são alguém?

Ela sai marchando, se eu me esforçar posso ver chamas acima do seu cabelo colorido.

— Espera, volta aqui!

Nick desce as mãos pelas minhas costas de novo, me puxando para mais perto. Ele me beija romanticamente — dessa vez pra valer. Não durou muito, porque o lembrei que temos que nos apressar.

Quando entramos no Cafeinamente, vou direto para nossa mesa enquanto Nick vai pedir as bebidas. Nossa cabine preferida é a segunda depois da porta, bem ao lado da vidraça. É a mesma onde nos beijamos pela primeira vez, naquele desafio bobo do bolinho, mesmo sem nenhuma paixão — ah, isso veio depois.

Uma batida chama minha atenção na vidraça ao meu lado: Gigi sorri alegremente enquanto balança as pulseiras. Ela usa uma saia longa com um uma blusa de manga longas enfiada dentro da barra. Como sempre, ela usa salto alto. E também usa óculos escuros, só que elegantes. Ela corre e entra na cafeteria, dando um tapinha disfarçado no ombro de Nick e sentando no assento a minha frente.

— Como vão as coisas? — Ela pergunta.

— Quente — respondo, brincando com os guardanapos. — Como está com Zayn?

Zayn, além de Gigi, foi o único que me pediu desculpas por aquela noite. Pessoalmente. Ele veio na minha casa e quase matou meus pais de medo dizendo que precisava falar comigo. Zayn disse que foi uma das exigências para Gigi reatar com ele, mas suas palavras foram bem reais. E eles voltaram, inclusive com os vídeos de casais para o canal famoso deles. A primeira semana foi bombardeada com assuntos sobre NERVE.

— Legal — ela diz enquanto levanta os óculos para cima da cabeça, realçando seus olhos azul-esverdeado perfeitos. — Os paparazzi permanecem na nossa calçada, mas prefiro assim. Você sabe, NERVE me ofereceu a chance de ser modelo para uma revista universalmente conhecida. Agora que tudo foi pro espaço, tenho que batalhar para conquistar meus sonhos.

Sorrio para ela. Gosto do otimismo de Gigi e concordo. Também estou batalhando.

A próxima a entrar é Camila, usando uma jardineira de jeans com uma blusinha amarela por dentro e um tênis escolar combinando. A marca todo mundo sabe.

Ela vem saltitando e senta ao meu lado, me dando um abraço rápido, depois levanta e senta ao lado de Gigi, trocando olhares amigáveis. Quando apresentei elas duas, percebi que se dariam bem de primeira. Ela até esqueceu de Lauren. Ela estaria disposta a entrar no trisal?

Camz não ficou nenhum pouco brava comigo depois que contei tudo que aconteceu naquela noite, principalmente sobre a ligação que tive que mentir falando mal dela. Descobri que, de fato, ela não estava assistindo aos jogos. Na verdade, ela tinha ido para o quarto da Lele para dar uns pegar na Lauren e liguei bem no meio de alguns beijos. Falando em Lele, só vejo ela nas notícias de tabloides quando pesquiso matérias sobre mim. Claro que ela adentrou um personagem onde erámos melhores amigos antes de eu virar famoso por causa de NERVE.

— Boas novas — Camz anuncia. — Depois de semanas afastado do emprego, Gerald finalmente teve seu contrato encerrado e foi demitido, além de estar permanentemente proibido de entrar em qualquer loja da franquia Cafeinamente. Tudo isso por promover um jogo bizarro e perigoso envolvendo jovens e armas. Mandou bem em pegar a identidade dele, Shawn.

Mandei mesmo, se ferrou.

Mas não foi o suficiente. A investigação da polícia não deu em nada por falta de evidências, como se minhas cicatrizes e os vídeos da partida não fossem provas o suficiente. Martin, Charli e Bella também não ajudaram em nada. NERVE deve tê-los subornados para falarem o que os foi ordenado. Os cretinos. Esse tal de Gerald nem sequer sabia de algo, o pagamento para o camarote foi feito em dinheiro para uma pessoa mascarada.

Nick volta com uma bandeja de papel completa por quatro copos de café diferentes enfiados nos buracos. Ele cumprimenta as garotas e senta ao meu lado, selando um beijo bem demorado nos meus lábios. Apesar de eu ter entrado em abstinência de cafeína após meu primeiro desafio, onde tive que beber um copão de café quente de uma vez, estou voltando a saborear a bebida aos poucos.

Beberico meu café puro, do jeito que gosto. Nick também me trouxe um muffin pequeno. Dou uma mordida e sorrio. Delicioso como seus beijos.

— O que estão fofocando? — Ele coloca o braço atrás da namoradeira, chegando perto de mim. Eu tiro seus óculos escuros, enganchando-o na sua regata.

— O nosso refém foi demitido — anuncia Gigi, satisfeita.

— Já estava na hora. — Nick dá um honesto gole no seu café. Ele gosta com leite.

Camz faz barulho enquanto suga seu café gelado pelo canudo de plástico.

— Nem acredito que tiveram coragem de fazer um cara de refém.

— Ou isso, ou não estaríamos aqui para contar história — conto. Ao mesmo tempo que dou uma mordida no meu bolinho, Nick se inclina e também dá uma mordida, fazendo minha bochecha queimar estrelas. Amo seus atos carinhosos.

O tempo passa rápido e tenho que voltar para casa. Nick me acompanha até meu Monza. No meio fio, ele me encosta no meu carro e se inclina para um beijo demorado de despedida, e então eu sigo meu caminho de volta para casa. Não há trânsito, chego em casa em menos de dez minutos.

Meus pais estão assistindo ao noticiário matinal, enquanto tomam chá fresquinho. Eca.

— Como foi o passeio, querido? — Minha mãe questiona amigavelmente enquanto beberica sua xícara. Meu pai ainda está sonolento.

— Legal. Nick mandou lembranças.

Ela sorri com a notícia. Quando contei que estava com Nick, ela me obrigou a trazê-lo aqui para o encher de perguntar sobre a vida: passado, presente e futuro. Três Espíritos do Natal. Agora, ela o chama de genro perfeito e quer que eu invista no meu coração. Bem, estou tentando. Se vamos durar, não sei.

— Chegou uma encomenda para você — minha mãe anuncia. — Chegou assim que você saiu.

Ela aponta com os lábios para um pacotinho no meio da mesa de centro. É uma caixa de papelão compacta. O que será? Não tenho um tostão para comprar algo. Pego a caixa e subo correndo a escada, ignorando os avisos de minha mãe sobre como isso é perigoso.

Sento-me à minha escrivaninha e examino a encomenda. O remetente é de uma empresa famosa da cidade de Cupertino, em Califórnia. Espero que não seja o que estou pensando. Com meu estilete, rompo todos os adesivos e abro o pacote. Uma caixa branca e comprida com uma imagem em cima faz calafrios percorrerem todo o meu corpo. Abro-a e vejo todo meu pesadelo retornar: é o mesmo celular que NERVE me ofereceu para fazer o desafio de beijar Nick — a maçã mordida atrás comprova. Isto é uma piada ou é pra valer?

Dentro da caixa do celular encontro um papel branco com um texto escrito à mão por uma caneta de ponta fina. Apenas cinco palavras foram o suficiente para me fazer estremecer.

A última entrega foi concluída.”

Só pode ser brincadeira. Algum dia vão deixar de me infernizar? Morro de medo deste aparelho estar grampeado e lotado de vírus ou rastreadores, mas quero ficar. É caro e mil vezes melhor que o meu celular terrível. E o plástico adesivo me passa confiança por estar impecavelmente encaixado, comprovado que nele não mexeram. Eu acho.

Deito na cama e ligo meu novo celular. Tudo normal por enquanto, e ele ainda não se autodestruiu.

Abro a câmera frontal e fico abismado com a diferença de qualidade, consigo ver todos os meus poros e meu cabelo bagunçado, fio por fio. Aproveito a luz do sol que invade meu quarto e queima meus olhos, e tiro uma foto com meio sorriso. A primeira foto. Luto contra minha vontade de querer jogar o celular no lixo ao mesmo tempo que vou me arrepender se eu fizesse isso. Estou polarizado, assim como a fotografia nítida.

Meu celular antigo, em cima da mesa, toca notas que chama minha atenção.

Dadá.

O som que sai dele é aquele mesmo toque de criança psicodélica balbuciando.

Levanto da cama e caminho todo apreensivo para ler a mensagem que chegou.

AINDA NÃO APLICAMOS O CASTIGO, SHAWN.


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Notas finais do capítulo

Obrigado a todos que chegaram até aqui! ♥

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Ciao.



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