Nerve escrita por LustForJohn


Capítulo 21
Observadores


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo, Observadores! :(



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Nick abre a porta por onde vem a música. Flashes em azul e rosa invadem minha vista, e a música fica mais alta e clara. Olho para baixo: pessoas dançando, bebendo e curtindo. Típico de uma noite de sábado na balada. Nada de anormal, nada de ninjas assassinos ou capangas do jogo — apenas jovens adultos curtindo.

Com Nick na minha frente e Gigi atrás, descemos uma pequena escada em espiral, na parte escura da pista de dança. Até agora, ninguém percebeu nossa presença. Quando olho por sobre o ombro para Gigi, porém, ela está tirando uma selfie. Hashtag fugindo.

Quando nos afastamos da escada, seguro no ombro de Nick, que se enrijece sob o toque. Ele olha para mim e deixa um suspiro de alivio escapar. Acabei sujando seu casaco com o sangue na minha mão, mas os vermelho do moletom camufla o do sangue. Com minhas sobrancelhas, aponto para um letreiro que anuncia a saída bem mais a frente. Com uma rápida olhada para trás, fico surpreso que Gigi ainda nos segue. Boate parece fazer o estilo dela. Ofereço a mão a ela e seguimos nós três unidos.

Olhos desconfortáveis começam a nos encarar simultaneamente, fazendo meu estomago revirar. Um cara segurando uma latinha de energético aponta para nós e anuncia:

— São aqueles jogadores de NERVE!

Então, a música abaixa e a multidão explode com perguntas uma atrás da outra, me deixando confuso. Paramos no meio da pista de dança porque o aglomerado nos impede de continuar. Sinto que minha privacidade foi pro espaço.

Vocês ganharam? Já acabou ou tem mais? Aquelas armas eram de verdade? Você tem alergia a bombom, Shawn? Qual foi seu castigo? Nick te pegou de jeito antes de chegarem aqui? Você também corta para os dois lados assim como seu namorado, Gigi? Bella era um manequim, ela respirava? Martin te beijou quando estava em cima de você, Shawn? Vocês foram desafiados a quebrar aquele vidro? Pararam de transmitir ao vivo desde então.

Estou nauseado.

O quanto eles sabem e quanto não sabem? Quando olho acima do palco, vejo que cenas do jogo estão repassando de diversos ângulos diferentes por um projetor de alta qualidade. Atualmente, estou vendo uma cena rápida de Nick e eu dentro do quartinho, fazendo meu coração acelerar e minhas bochechas queimarem estrelas. Eu fiz isso? A cena muda para Gigi em um quarto escuro. Ela está com a mão na boca e parece que vai vomitar por causa dos espasmos. Coitada. Quando olho para Gigi, ele olha para os lados e cobre o rosto com o cabelo, cheia de vergonha. Eles também me viram. Quanto pavor.

De repente, começam a nos empurrar em direção ao palco. Ah, não! Eu não mereço tamanha humilhação. Nick até tenta impedir eles de encostarem em nós, mas é inútil e só param quando chegamos perto do DJ. A multidão entra em coro pedindo discurso repetidamente sem parar. Nos entreolhamos. O que querem que a gente diga?

— Olha só quem chegou aqui! — berra o DJ, como se fossemos famosos. Eu sou? — Querem dar umas palavrinhas?

Quero ir embora. Mas pego o microfone e pigarreio.

— Meu nome é Shawn — digo, nada criativo.

Em resposta, a multidão uiva. Além disto, levantam celulares caros com capas chamativas e decoradas. Os flashes parecem código Morse antes de estabilizarem, deixando claro que agora estão gravando. Minha primeira entrevista ao vivo? Quando espremo os olhos, posso ver Liam e o grupo dele que estava na lanchonete — incluindo aquele asiático birrento. Eles também nos gravam.

— Vocês devem estar se perguntando o que estamos fazendo aqui agora. Nós fugimos, esta é a verdade. NERVE é bem mais bizarro quando você escolhe jogador em vez de Observador, porque fazem de tudo para te matar. As armas eram reais e todo mundo sabia que o desafio final seria para puxar o gatilho. Não culpo Martin, bons prêmios deixam as pessoas malucas. Não sejam assim, não joguem isso! Não vale a pena passar por todos esses pesadelos.

É inútil esperar que eles nos deem ouvidos. Alguns pararam de dançar, outros voltam a conversar, alguns vaiam e poucos aplaudem. Não era esse o discurso que pediram? Aposto que esperavam por mentiras, mostrando pontos positivos do jogo e dizendo que é tudo de mentira. Que pena que estraguei seus sonhos, acredita quem for inteligente.

O DJ puxa o microfone da minha mão e Nick me puxa furtivamente para fora do palco.

— Muito bem, esses foram o destemido Shawn, o corajoso Nick e a fabulosa Gigi! — A voz do DJ ecoa por todos os lados enquanto nos esprememos pela multidão. — Bora aumentar o som!

Do começo, começa a tocar uma música lenta, mas vai ficando agitada aos poucos. Está tão alto que preciso colocar ambas as mãos nas orelhas para proteger meus ouvidos. Nick é meu fiel escudeiro empurrando as pessoas para que possamos passar.

Apesar de tampar os ouvidos, posso ouvir as pessoas ainda fazendo perguntas sobre o jogo, alguns até pedem autógrafos e fotos, mas não estou disposto a nada. Por causa disso, sou alvo de ofensas terríveis e xingamentos homofóbicos. Ótimos, voltamos à década de 60. Minha próxima ameaça será me dar um choque na cabeça?

Subimos por uma larga escada perto do bar e chegamos na porta de saída, onde é brutalmente aberta por homens da polícia empunhando armas. Opa. A festa caiu? Nem acredito que realmente chamaram a polícia, mas a essa altura eu já estaria sangrando por causa de um tiro. Embora eu esteja esperando pela chegada deles, não quero mais me envolver, não agora. Já estou fora, eles que subam lá por conta própria. O restante dos jogadores já deve ter se mandado com o dinheiro e os cartões daquele cara da lanchonete, enquanto ele deve estar até agora esperando pelo seu resgate, como se fosse a verdadeira vítima.

Gigi, Nick e eu viramos a cabeça na mesma hora, esperando que passem. Concordamos que chega de encrenca por hoje. Saímos da boate e consigo finalmente respirar ar puro — nada de ar-condicionado ou fumaça de balada. Está frio, mas é quentinho ao mesmo tempo. Algumas pessoas estão fumando aqui fora, e pelo cheiro acredito que não seja cigarro. Nada de Observadores por enquanto. Nos entreolhamos e soltamos todo o ar, aliviados.

— Acabou — diz Nick, esfregando as mãos.

— Acabou para a minha roupa. — Dou uma voltinha, revelando rasgos por toda a minha camisa de flanela e um corte desastroso na minha calça, na altura da panturrilha.

Nick ri por um momento, depois sua expressão fica seria.

— Minha nossa! Você está sangrando, Shawn.

— Eu sei — respondo, tocando no corte na minha mão, causado na hora de atacar Martin com aquele caco de vidro. Ainda está dolorido, mas o sangue coagulou. — Estou bem, em casa eu faço alguns curativos elaborados e tudo fica bem.

Como no elevador, ele me abraça outra vez, só que agora é mais gentil e caloroso. Estamos tão apaixonados que nos beijamos de uma forma automática sem nem notarmos, como se estivéssemos juntos há doze meses em vez de doze horas. Amos seus beijos, porque ele é voraz e carinhoso ao mesmo tempo — sou facilmente conduzido pelo seu afeto.

— Bem — diz Gigi, nos atrapalhando de novo. — Vou dar no pé.

— Espera. Não quer uma carona? — Oferece Nick, com benevolência na voz.

Ela balança a cabeça, sorrindo.

— Vocês precisam de mais tempo sozinhos, e eu também.

— Ainda está com a identidade daquele cara? — Pergunto, desta vez sério.

— Aham. — Ela tira o documento de dentro do sutiã e o segura na minha frente. Não posso evitar de fazer cara feia. — Que foi? Meus seios são cheirosos. E é o lugar mais seguro para se guardar algo no meio de uma multidão.

Dou de ombros e aceito, sem segurar o riso.

— A gente se vê por aí. Shawn, Nick.

Com seu salto estalando e as pulseiras tintilando, ela caminha para fora do estacionamento fazendo um telefonema e se agasalhando no seu boá rosa. Como pombos buscando por migalhas, os Observadores surgem da rua, surpreendendo-a com flashes. Nick e eu cogitamos ajudá-la, mas são apenas adolescentes inofensivos; Gigi os ignora com orgulho.

— Agora somos só você e eu — diz Nick, chegando perto e cruzando os dedos das mãos atrás da minha cintura. Ele me dá um selinho rápido, me arrepiando. — Casa?

Balanço a cabeça, afirmando. Tudo que eu quero é um banho bem quente e minha cama aconchegante — a verdadeira, não aquela replica de NERVE.

No caminho para o estacionamento VIP, alguns Observadores nos abordam e preciso me conter para não mandar eles para onde eles merecem. Diferente de mim, eles me xingam por não parar para falar com eles. Malucos.

Quando entramos no Del Rey de Nick, ficamos parados por um momento, apenas apreciando o momento. Nick mantem as mãos no volante, apertando-o com força, fazendo veias saltarem e seu corpo tremer.

— Quer que eu dirija? — Ofereço, passivamente.

Ele me observa com olhos sonolentos, depois nega com a cabeça. Ele desliza dedos gentis pelo meu rosto, quase me fazendo adormecer.

— Não — ele responde. — Eu estou puto. Isso foi muito estressante, fizeram sacanagem conosco. E Martin te machucou. Se eu pudesse, eu juro que—

— Nick — repreendo-o, olhando para minhas coxas. — Já acabou. Deixa para lá. Não quero defender ninguém, mas quando tem uma coisa muito importante em mãos, é normal virar outra pessoa. Eu estaria disposto a ouvir pedidos de desculpas de todo mundo que foi contra nós dois lá dentro e adoraria curtir com eles depois. São todos legais quando não estávamos falando de jogo. Sou benevolente. Pode me criticar, mas não vai me mudar.

Ele batuca o volante gentilmente e dá de ombros.

— Não vou te criticar — ele responde, por fim. — Gosto desse seu lado. — Ele sorri para mim e liga o carro. — Quer que eu te leve para casa?

— Não. — Respiro fundo. — Volta para a praça. Preciso dar uma última volta no meu carrinho lascado antes de colocarem grades na minha janela.

— É um motivo justo. — Ele responde, sorrindo.

Nick dirige lentamente pelas ruas de Seattle, desviando de alguns carros pelas avenidas. Nenhum Observador nas ruas, ninguém nos seguindo. Nunca estive tão despreocupado. Uma garoa se forma, se transformando numa chuva barulhenta.

Ele para na frente do Cafeinamente, onde posso ver meu Monza vermelho estacionado mais a frente. Um atendente que não conheço está quase dormindo no balcão da lanchonete, posso ver apenas dois clientes tomando café lá dentro. Só de ver meu carrinho me sinto aliviado, e ele está inteiro. Isso só comprova que NERVE não é tão maldoso a ponto de mandar as pessoas vandalizarem as coisas dos pobres.

Nick e eu aproximamos nossos rosto e encostamos as testas, de olhos fechados. Quando foi que nos apaixonamos tanto, no elevador de obra para o guindaste ou dentro da sala VIP no Club Poppy? Não, acho que foi no desafio do bolinho, onde nos beijamos pela primeira vez. Foi engraçado.

— Depois que a gente tiver uma boa noite de sono, eu te ligo — ele diz, afastando para trás e segurando sua cabeça com um braço apoiado no volante.

— Você ainda nem tem meu número — revelo, nada surpreso.

Sua expressão muda, revelando surpresa no semblante.

— É verdade, não me lembrei dessa parte.

Ele se inclina para o meu lado e abre o porta-luvas, tirando de dentro uma caneta surrada quase sem tinta. Ele me passa e sorri.

— Tatue seu número onde quiser. Seja criativo.

Criatividade não é comigo, mas vou tentar fazer algo diferente.

Deslizo uma mão atrás da cabeça de Nick e o puxo para perto de mim. Sua boca veio mirando nos meus lábios, achando que eu o chamava para um beijo, porém, eu inclino sua cabeça para baixo, deixando seu pescoço completamente visível.

— Sério isso? — Ele contesta enquanto ri.

— Fica paradinho, senão vou borrar.

A ponta fina da caneta o faz se contorcer em risos, mas consigo terminar de anotar meu número em seu pescoço. Agora sim, eu o puxo para um beijo bem romântico e demorado. Eu sentia falta desses momentos enquanto estávamos na sala VIP: Nick e eu nos divertindo como dois adolescentes apaixonados. Não somos adolescentes, mas estamos apaixonados.

Devagarzinho, vou me afastando para trás, mordendo os lábios. Nick possui luxuria no seu semblante, mas seu sorriso deixa tudo estupidamente mais romântico. Ele desliza os dedos pelo meu rosto uma última vez.

— Foi muito bom passar essa noite com você, Shawn.

— Foi melhor ainda para mim, Nick. Boa noite.

Sem esperar por uma resposta, salto do carro e bato a porta. Nick me espera até que eu entre no meu carro, fugindo apressadamente da gélida chuva. Ele liga o dele e passa por mim, buzinando bem alto, sem se importar com a vizinhança alheia ao que acontece na madrugada. Nick pisca para mim e segue seu caminho.

Ah. Finalmente acabou e eu saí vivo. Deveria ligar para alguém, mas meu celular morreu faz meia hora. Tomara que Camila ainda seja minha amiga e tenha falado com meus pais pessoalmente que aquela ligação era apenas um trote de mal gosto. Falando nos meus pais, espero que estejam bem, nem me importo com o castigo que vou receber. Também vou levar um cacete, mas valeu a pena.

NERVE foi uma aventura aterrorizante.

Nick foi tudo o que eu precisava.


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Notas finais do capítulo

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Beijos, até o próximo.



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