Nerve escrita por LustForJohn


Capítulo 19
Perspicácia


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pela demora, Observadores.
Estou trabalhando em um novo projeto e, acreditem, eu passei essas duas semanas todas tentando escrever apenas o primeiro capítulo.
Mas aqui está, espero que gostem ♥



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Grito, deixo a arma escapar de minha mão e me jogo no chão com a mão na cabeça. A música de terror durou apenas cinco segundos, agora volta a tocar hinos de baladas. Isso foram realmente disparos? Três armas apontavam para mim e eu não sinto nada. Sobrou para o Nick? As luzes permanecem apagadas e todos estão em silêncio.

Por mais que eu odeie a pistola, tateio o chão procurando por ela. Detesto a textura de borracha do carpete. Encosto em pele humana e contenho um grito.

— Shawn? — A voz de Nick me acalma como um abraço. Ele não soa machucado.

Levanto a cabeça. Não sei mais onde estou. Posso estar no meio da sala, ou ao lado do vira-lata do Martin. Abomino a escuridão, pelo menos encontrei minha pistola.

— Estou bem — murmuro alto. — Você atirou?

— Não — ele murmura de volta. — Presumo que você também não. Foi bem alto, parece que veio de trás de mim.

Devem ter aumentado pelo menos um pouquinho de nada da iluminação, porque agora posso ver o contorno de Nick. Ele não está deitado no chão como eu, mas está ajoelhado ao meu lado. Dou uma breve olhada para os outros jogadores: ninguém mais está apontando a arma. A maioria também está agachada, apenas Gigi se jogou no chão como eu.

— E você falando que eu não tenho a capacidade de segurar uma pistola, Shawn. — Ouço a voz de Martin, ele parece estar rindo.

— Eu não atirei, babaca — revido como se rosnasse.

— Meu cu. Foi um de vocês, o tiro veio daí.

— A gente também ouviu — argumenta Nick —, o jogo deve estar tentando nos enganar e fazer a gente atirar.

— Quem confia? — Ouço a voz de Zayn. O tiro deve ter o despertado. — Estou sentindo cheiro de pólvora.

É a vez de Bella entrar na conversa:

— Eu ouvi cinco tiros. A não ser que eu esteja louca, vieram todos dos alto-falantes. Fizeram as luzes piscarem feito loucas para parecer que tinha alguém realmente atirando.

— E podem ter jogado pólvora pela ventilação para parecer realista — complementa Nick. — Querem que a gente acrescente conteúdo para o jogo. Se um de nós tivesse atirado, certamente alguém estaria chorando no chão a essa altura.

Esta é a única solução plausível. Graças a todos os deuses ninguém puxou o gatilho. Lentamente me levanto e permaneço agachado ao lado de Nick, que me mantem próximo com um braço no meu ombro. Consigo ver o contorno de Martin com sua cabeça apontada para nós. Ele ouve o que Charli tinha para contar ao ouvido e os dois riem baixinho. Zayn ajuda Gigi a se levantar. Bella é a única que deixa os joelhos desnudos no carpete de borracha nojento.

Um som de bip ecoa e todos olham para o texto que aparece bem claro no chão.

VOLTEM A MIRAR COM SUAS ARMAS.

PERMANEÇAM ASSIM PELOS PRÓXIMOS

VINTE MINUTOS RESTANTES DO JOGO.

AGORA.

Como agora parece ser seguro, todo mundo levanta da posição agachada.

— Engraçado que não dão nenhuma explicação — protesta Charli, a voz amarga.

— E é melhor nem exigir — comenta Bella, baixinho.

As duas levantam o braço para mim. Martin já estava, o que não me impressiona. Zayn e Gigi também apontam para Nick. Eu olho para ele e, após uma breve conversa de sobrancelhas, apontamos nossas armas também — eu para Martin, Nick para Zayn. Não temos escolha, não abrirão as portas.

Nick toca minha mão.

— Vai ficar tudo bem.

— É claro que vai. — A voz diplomática de Martin vem do outro lado da sala.

— Não enche — revida Nick, mas sua voz não demonstra rivalidade.

Acabei de ver Martin dar um passo para frente?

— Ou o quê, vai atirar em mim?

— Não. Mas foi exatamente assim que nos assustaram para que disparássemos. Começou com uma briga e explodiram nossos tímpanos com barulhos de tiro. Você é idiota?

Martin apenas ri em resposta, mas decidiu permanecer quieto.

A mensagem no chão some, deixando a sala completamente escura novamente. Não deixaram nem aquela iluminação fraquinha, sinto que voltamos à estaca zero. A música também parou. Está tão silencioso que posso ouvir meu coração batucando. Mesmo segurando com duas mãos, a pistola ainda é pesada. Nick segura com apenas uma mão, adquirindo uma pose de filme de Hollywood.

— Isso está ficando bizarro — sussurro para Nick.

— Também acho — ele concorda. — Se não dermos o fora daqui, pode ser que o próximo desafio seja puxar o gatilho.

Uma lâmpada imaginaria se acende na minha cabeça.

— Tive uma ideia: você me dá um golpe com a pistola forte o suficiente para me fazer cair duro. Eles parariam o jogo para me socorrer, né? — Minha voz é baixa e cheia de esperança.

Ele gargalha alto o suficiente para todos na sala ouvirem, depois volta a sussurrar:

— Eu não vou te dar uma coronhada, Shawn.

Dou de ombros.

— Eu te daria.

— Isso está fora de cogitação. Pelo bem da minha cabeça. — Seu tom é sarcástico.

Me sinto preso em uma caixinha cheia de surpresas, a qualquer minuto algo pode acontecer, igual como Guy disse na entrevista sobre a caixa de Pandora. Quando derrubei minha arma engatilhada no chão, ela não disparou. Ou ela não é nem um pouco sensível, ou realmente é falsa. Bem, não quero descobrir.

Os Observadores estão assistindo a isso? Duvido, alguém já teria chamado a polícia, a não ser que o suborno seja grande. Ou então estão se divertindo bastante em ver a gente pirando aos poucos. Aposto até que pagariam um pouco a mais para assistir bem de pertinho.

Hum. Pagariam? Tem algum Observador perto de nós que não posso ver? De repente, lembro de que antes de entrarmos na sala, passamos por algumas poltronas de veludo rosa e azul de frente para uma cortina na parede. Na teoria, a primeira fileira de poltronas estaria apontando para bem atrás de mim, onde se encontra o grande espelho, enquanto a segunda apontaria para os assentos no outro lado, em volta da mesa suspensa, exatamente onde o projetor apontava, servindo de segunda tela. Não pude ver nada no lado de fora por causa das cortinas, mas agora tenho quase certeza que esse espelho na verdade é um vidro coberto por um adesivo fumê bem forte: refletivo por um lado, transparente pelo outro. Seria lá o verdadeiro espaço VIP em vez de aqui dentro?

Cutuco Nick com um movimento sorrateiro.

— Oi — ele responde baixo, suavemente.

— Pensei numa coisa — sussurro. Mesmo sem poder ver nada por causa da escuridão, olho para trás, onde o espelho se encontra.

— De novo essa história de machucar o outro? — Uma risadinha demonstra que ele está levando na brincadeira. Mas estou sério.

Pigarreio, fortificando minha voz. Mas sempre a mantendo bem baixo, evitando que alguém ouça com facilidade do outro lado — também posso ouvi-los cochichando.

— Escuta. Acho que nossa liberdade está mais perto do que imaginamos. Lembra que existe um espelho bem atrás de nós? Então, acho que não é um espelho de verdade, mas sim uma vidraça que serve de camarote para quem tem bastante dinheiro poder ter uma visão melhor do jogo e ao vivo. A porta está trancada, mas nada impede que a gente possa quebrar o vidro e dar no pé. Quem vai parar nós dois, um bando de velhos que não tem com o que gastar? Estamos armados se tentarem algo.

Sinto que foi a coisa mais inteligente que eu falei desde que nasci.

— Como conseguiu pensar nisso tudo? Me conta depois. É uma boa ideia. Temos que pensar em algum jeito de destruir o espelho. Deve ser forte o suficiente para eu usar meus punhos.

Dou de ombros.

— E se a gente atirasse?

— Pirou? — Sua voz eleva uma oitava, depois ele abaixa novamente: — Não queremos ferir ninguém.

Ouço Martin limpar a garganta.

— O que os dois otários estão cochichando?

— Nada que seja da sua conta. — Agora minha voz agora é alta e clara. — Não vi em nenhum lugar que é proibido conversar.

Sua risada em resposta é irônica.

— Não aguento mais essa merda chata — diz Zayn. — Sinto que meu braço vai cair.

— Você é um fraco — rosna Martin.

— E você um babaca. Aposto que está até agora se tremendo por causa dos tiros.

— Você quem estaria se não estivesse dormindo em pé.

Nossas principais ameaças estão começando a brigar? Êba! Isso só pode ter sido um empurrão dos deuses.

Aproveito a brecha da cachorrada e dou alguns passos para trás, minha arma ainda mirando para onde eu acredito que esteja Martin. Continuo sem enxergar nada, mas paro quando me esbarro no espelho. Ele não balança, demonstrando firmeza, mas reproduz um quase mudo som de baque.

— Que foi isso? — A voz de Martin me faz estremecer.

Pigarreio, mas Nick quem responde por mim.

— Nada. Shawn tropeçou no carpete e se espatifou no chão. Inclusive, detesto ter que guardar segredo, então vou falar logo de uma vez: quando você foi ao banheiro Charli disse que seu bafo fede a fezes.

— Quê? — A voz de Charli falha. — Seu ridículo.

— É verdade? — Martin soa decepcionado e triste.

— Claro que não, gatinho. Não sei de onde o idiota tirou isso.

Estou amando a novela, mas não quero ficar para ver como acaba. Dou algumas batidas com o punho fechado, confirmando minha teoria de parecer não ter uma parede atrás dele. As batucadas fazem barulho, mas ninguém escutou por causa da discussão, onde Zayn conseguiu ser encaixado no meio e Bella também. Gigi não dá um pio.

— Nick. — Minha voz sai como um sopro. Noto ele chegar perto de mim todo sorrateiro. Sinto sua respiração próxima do meu rosto e me contenho para não o beijar. Ainda não posso vê-lo, minha única visão é a audição. — Vamos tentar bater com as pistolas até quebrar o vidro. Está com sua arma apontada? Não quero que soem todas as sirenes da sala dizendo quem a integridade do jogo foi quebrada de novo antes da hora.

Meu cabelo começa a soar de nervosismo e ansiedade. E euforia.

Nick expira bem alto.

— Estou — ele silaba. — Tem certeza disso? Parece arriscado, e alguém lá pode atirar na gente para tentar nos impedir. Não quero que se machuque.

— Não temos nenhum plano melhor. É isso ou esperar acabar os vinte minutos e pedirem para puxarmos o gatilho para ganhar o Grande Prêmio. Quem sobreviver, vence.

— Tudo bem. Vamos lá. — Ele parece estar mil vezes mais nervoso que eu, porém não hesita.

Lembro-me então que podemos estar muito perto dos Observadores. Eles teriam ouvido nosso plano? Acho que não. Nem mesmo NERVE nos ouviu, se não já teriam mandado homens enormes entrar na sala e dar um sossega-leão em mim e Nick. Ou fizeram vista grossa e querem ver no que vai dar.

Com as mãos tremulas, paro de apontar para Martin e dou uma leve batida na altura da minha cintura no espelho. Ninguém parece ter ouvido. O vidro é bem grosso, precisaria colocar mais potência. Nick, porém, é mais bruto e usa o dobro da minha força para bater contra o vidro. Crack. Tenho certeza que até os administradores de NERVE ouviram isso.

A sala toda fica em silêncio.

Martin grita:

— Que porra foi essa?

Nick adota um personagem novinho em folha:

— Eu fiz de tudo pra te proteger e você joga a culpa em mim! — ele grita, o que me assusta por um momento, mas percebo que ele quer que eu atue junto dele.

— Não estou jogando nada! Falei os fatos, aceita se quiser, mas não finja que não aconteceu.

— Quantas vezes você quer que eu peça desculpas esta noite? Você quer que eu me humilhe pelo seu perdão? Isso não vai acontecer, pode esquecer.

Ele bate mais uma vez no vidro, com um ato bem disfarçado. Faço um som de soberba com a garganta, como se não estivesse chocado.

— Eu deveria saber que você não teria coragem de mover um músculo por mim. Você não merece o amor que tenho a oferecer — soluço forçadamente, para pensarem que estou prestes a chorar. Além disto, também bato no vidro com maior força. A rachadura está aumentando?

Zayn assobia.

— Os pombinhos estão trocando farpas afiadas.

— Nem a pau — rosna Martin. — Eles estão aprontando alguma coisa.

Estou ouvindo passos sobre o carpete de borracha? Bato mais uma vez no espelho, desta vez mais forte. Os passos pararam, o som do vidro é o mesmo que faz quando recebe uma rachadura fragmentada. A respiração forte de Nick entra no ritmo das batidas do meu coração.

— É agora ou nunca — anuncio, sem me importar com a tonalidade da minha voz.

Com um último impulso, nossas armas batem ao mesmo tempo na rachadura, fazendo um barulho de trovão bem alto retumbar nos ouvidos de todo mundo. Um feixe de luz entra dentro da sala, junto dos gritos em coro que vêm do lado de fora.

Consigo ver o sorriso no rosto de Nick.

E um em mim também se forma.

Carpe diem.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, meus queridos Observadores.

Não esqueça de deixar seu comentário.

Beijos.



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