Nerve escrita por LustForJohn


Capítulo 15
Espirais


Notas iniciais do capítulo

Eu só queria avisar para vocês que deixar um comentariozinho não vai doer, certo? Isso me motivaria bastante.
Boa leitura c:



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Os painéis apagam. Ficamos em silêncio, Gigi rói as unhas e Martin solta uma gargalhada histérica. Não sei se usaram a palavra vítima no sentido figurado ou literal. Nick acaricia minha mão no braço da poltrona. Temos que escolher alguém dentro da sala? Esfrego as mãos tremulas e aqueço meu rosto com o calor delas. A sala de repente ficou fria, ou já estava antes? Estou congelado de medo.

Nick encosta seu rosto no meu pescoço, fazendo-me arrepiar todo.

— Eles só estão tentando nos assustar — ele murmura ao meu ouvido.

Zayn passa a mão no cabelo. Seu hematoma no olho está mais escuro, mas menos inflamado. Nick é tão forte assim?

— As coisas vão finalmente ficar mais interessantes. — Ele acaricia o cabelo de Gigi.

Nick revira os olhos, me fazendo rir. Quando olho para Zayn, ele pisca para mim. Quê?

Acredito que nossos anfitriões estão tomando uísque caro enquanto assistem a gente se matando de curiosidade. Tenho medo de votar em alguém e o jogarem do terraço do prédio, ou de ser votado e acontecer o mesmo comigo.

— Aposto que o mais votado vai ter que cutucar o traseiro do Martin sem levar uma mordida — Nick murmura ao meu ouvido.

— Ou encostar no olho roxo do Zayn — suponho, entrando na brincadeira.

Todos olham para a gente quando gargalhamos alto demais.

— Qual a piada? — Indaga Charli, franzindo o cenho. Martin está com um braço envolta de seu pescoço.

— Qualquer que seja, eu voto nele — ele aponta um dedo torto para mim. — O nome dele é Chão porque deve ser onde vai estar.

Charli solta uma risadinha com a mão na boca.

— O Chão também tem meu voto.

Que vaca. Não acredito que ela me fez pensar que era aliada enquanto comíamos sanduíches de sorvete. Eu deveria votar nela, mas não vou gastar meu voto à toa.

Eu pigarreio.

— Vocês ainda não notaram que querem nos transformar em galos de briga?

A risada de nossos anfitriões ecoa distantemente pelos alto-falantes. A música permanece alta. Zayn, com um joelho segurando a outra perna, bate na mesa suspensa com o pé, que balança até Martin, e ele joga a mesa de volta, fazendo cara feia para Zayn.

— Fica frio, garoto — diz Zayn, apoiando os braços nas costas da namoradeira. — Está com medo de uma votação?

Por que do nada ele resolveu começar a falar?

— Ele está com medo de ser o mais votado e virar vítima dos meus bíceps — diz Martin. Ele levanta as mangas de sua blusa branca e beija músculos que só ele acredita que existem.

Nick range os dentes.

— Seus bíceps vão virar vítimas dos meus se encostar nele.

Charli gargalha.

— Não sei qual o mais pateta. — Mesmo assim, Martin beija sua bochecha.

Zayn dá de ombros.

— Já que Shawn está se mijando por já ter recebido dois votos, eu escolho o Nick.

Fico aliviado com um voto a menos em mim, porém não queria que Nick recebesse algum voto. Um apito soa pela sala e a música para. Então eu ouço Guy murmurando com alguém, seguido por uma risadinha. Ainda não podemos vê-los.

— Com isso, temos dois votos para Shawn e um para Nick — diz Guy. — Prossigam, por gentileza.

As pulseiras de Gigi tintilam enquanto ela desliza dedos pelos fios de cabelo.

— Shawn é legal, então também vou no Nick.

Pelo menos ela não me traiu como Charli fez. Bella coça o ombro, sua expressão não mudou durante a noite toda.

— Foi mal, Shawn, mas você fica com meu voto. Só para evitar qualquer tipo de desempate, caso só possa haver uma vítima.

Não sei se tenho o direito de ficar bravo com ela; ela tem razão. Ninguém sabe ainda se todos os votados serão vítimas, ou se o mais votado será a única vítima. E a maioria já votou em mim. Se esse for o caso, o que mais podem fazer comigo, tirar os meus prêmios? Não quero ser otimista, mas e se dobrarem meus prêmios, em vez disso? Conta outra.

Nick pigarreia.

— Pelo olho roxo nesse otário e pela plena lei do tudo que vai volta, fica claro que meu voto vai no Zayn.

Zayn força um sorriso debochado para Nick.

— Também não faz sentido eu votar em alguém que não seja o Martin. — Dou de ombros.

Martin me manda um beijinho, mas finjo que desvio balançando uma mão na frente do meu rosto. Exceto por Bella, todos os outros jogadores se levantam e se reúnem na parte vazia da sala, pegando mais cerveja do armário vermelho. Resolvemos ir para lá também, só para não parecer que estamos demonstrando medo.

Nick e eu dividimos um refrigerante de cereja que encontramos no armário.

— Deve ser só uma pegadinha e o mais votado terá que fazer alguma bobagem — diz Nick, bebericando a garrafa na minha mão.

Permito que meus dedos andem pelo braço dele, sentindo seus bíceps duros. Sinto falta dos Sete Minutos no Paraíso.

— Se a pegadinha for me jogar dentro de um ringue enjaulado com Martin, eu dou no pé e ninguém ganha nada.

Ele ri e assente.

— Você quem manda, meu docinho.

Enquanto bebo o refrigerante, fico olhando nosso reflexo através do espelho grande no canto da sala. De costas, os ombros de Nick são bem largos e posso ver seus músculos definidos, mesmo por baixo de seu casaco vermelho. A nossa diferença de altura é ainda mais gritante vista por este ponto de vista.

Já faz um tempo desde que esperamos por alguma coisa. Uma música eletrônica superlenta começa a tocar, e Nick instintivamente me puxa romanticamente para seus braços. Permanecemos nesta posição por um longo tempo, sentindo o calor um do outro. Ele me aquece, e meu nervosismo vai desaparecendo com o tempo. Os outros continuam bebendo cerveja. Não aguento mais tentar decifrar por que tivemos que escolher uma vítima. Sinto uma vontade insuportável de urinar e me largo de Nick.

— Estou apertado — anuncio em voz alta. Sei que NERVE está escutando. Ouço as risadas dos meus companheiros, mas decido ignorar.

Martin termina mais uma garrafa. Ele também não está apertado? Já deve ter tomado dez cervejas.

— Os príncipes também fazem necessidades — ele diz. Desta vez, ele tira uma lata de energético do armário.

Reviro os olhos. A bexiga dele vai explodir a qualquer momento.

— Também estou apertada — Gigi comenta, mordendo o que deve ser o último sanduíche de sorvete do armário.

Ouço Gayle falar suavemente:

— Shawn, uma porta irá brilhar em tons de azul e rosa. Lá é o banheiro.

Aguardo pacientemente. Depois de dois segundos, um formato quadrado de porta começa a brilhar da mesma cor que foi dito. A porta do banheiro fica ao lado da porta dos armários coloridos, entre uma das portas do desafio dos Sete Minutos no Paraíso.

— É bom você sair logo, eu também estou me mijando — diz Charli, com a mão em cima da sua parte intima.

Aperto um botão, que também começou a brilhar, e entro. O ar aqui dentro é bem mais químico, que entra e sai através de uma minúscula janela de ventilação no alto do banheiro. Por mais que não seja tão cheiroso, é bem menos enjoativo do que aquela fumaça de boate dentro da sala VIP. É o menor cômodo da suíte: um quadrado com uma privada, pia e espelho.

Desabotoo a calça, abaixo o zíper e deito a cabeça para trás enquanto faço o que vim fazer. A maioria votou em mim para ser a vítima. O que será que vai acontecer comigo? Se estiverem certos e a única vítima for o mais votado, não quero nem saber o que vai acontecer comigo. Serei forçado a comer algo nojento, empurrar uma velhinha ou, no pior dos casos, saltar de um trampolim bem alto em uma piscina sem água. Por outro lado, se vítima for antífrase para beneficente, tomara que depositem um milhão na minha conta.

Fecho o zíper e dou descarga. Olhos vermelhos e marejados me encaram de volta através do espelho pequeno. Estou cansado dessa merda. Eu quero chorar, mas não quero ser conhecido como o que se derrama por qualquer coisa em rede nacional. Depois de levar as mãos, eu seco as lagrimas com a manga da minha camisa azul. Estou sendo tão fraco, mas não me importo. Só quero que acabe logo.

Qual é a possibilidade de haver câmeras aqui? Merda. Será que milhares de Observadores viram o meu Shawn Júnior? Mas não tem nada de anormal no banheiro que demonstre ser uma câmera, talvez possa estar escondido? Meu Deus.

Balanço a cabeça. Isso já é paranoia. Talvez esteja na hora de eu dizer mil vezes adeus para elas e encarar o que está por vir. Eu sou a vítima, certo? Lavo o rosto e avalio meu reflexo. Os olhos continuam vermelhos, mas estou mais apresentável.

Quando saio do banheiro, dou de cara com Gigi, de braços cruzados.

— Finalmente, eu estava prestes a fazer xixi nas calças. — Ela me empurra para o lado e entra no banheiro.

Noto que Nick voltou para as poltronas, enquanto os outros permanecem em pé no carpete de borracha, movimentando quase que imperceptivelmente as pernas com o ritmo da música.

Esfrego as mãos na calça e caminho lentamente para o meu assento saltitante. Nick me abraça de ladinho, acariciando com seus dedos o meu rosto. Eu suspiro, soltando um soluço em seguida. Do outro lado da sala, Martin olha para mim maleficamente.

— Então o príncipe se trancou no banheiro para ficar chorando?

— Não é da sua conta o que eu faço dentro de um lugar projetado para se fazer coisas especificas — retruco.

Ele arqueja para mim. Consigo imaginar um ponto de interrogação bem grande em cima da cabeça dele.

— Como é que é?

Nick ri.

— O cérebro dele é pequeno demais para entender seus discursos complexos, meu docinho — ele murmura ao meu ouvido.

Eu dou uma risadinha e beijo sua boca. Sinto falta de seus lábios, e ele me beija de volta, mas os braços das poltronas impedem que a gente chegue mais perto um do outro.

— Vou pegar algo para mastigar — digo para Nick e levanto.

No caminho para o armário vermelho, passo por Martin e posso jurar que ele rosnou para mim. Pego um chocolate meio amargo e permaneço em cima do carpete por um momento, analisando. Mordo um pedaço do doce e estudo as espirais espalhadas pelo carpete. Até que são bonitas. É difícil de olhar para onde elas apontam, já que o pessoal está bem em cima. Se eu espremer os olhos, consigo ver buracos. O que seria isso?

Pulo de susto quando a porta do banheiro é aberta bem atrás de mim.

Gigi sai do banheiro com sua maquiagem retocada. Suas pulseiras tintilam quando ela abraça Zayn e estala um tapa nada camuflado na bunda dele. Olho para Bella: ela está mexendo no seu celular sem parar. O que ela está fazendo? Jogando ou recebendo informações dos administradores de NERVE? Ela não me cheira bem. Ou isso é outra paranoia? Mil vezes adeus.

Ignoro a Bella e volto minha atenção para o carpete. As espirais me incomodam tanto que tenho vontade de empurrar todo mundo só para ver de perto para onde elas apontam. Esfrego com força o tênis no carpete, e me estremeço por causa da textura. Ainda não consigo compreender por que optaram por um carpete de borracha, em vez de um comum de manta.

Um apito me assusta, e por um momento, penso que vão me punir por olhar demais para o chão. Mas é apenas a voz de Guy anunciando a próxima etapa de jogos. Putz, que susto.

— Estamos quase acabando, jogadores!

Nick levanta e chega perto de mim, apalpando minhas costas.

— Posso sentir o seu suor através de duas camadas de tecido — ele diz ao meu ouvido. — Relaxa.

— Estou relaxado — digo de volta. — Só estou encucado com essa ideia de vítima, e este carpete é muito bizarro.

Gigi balança os cabelos ondulados e acaba jogando-os na cara de Zayn, que cospe com nojo. Onde estão Guy e Gayle? Talvez estejam se trocando, ou talvez o jogo tenha ficado realmente sério. Não poder ver a imagem deles me deixa arrepiado.

— Gigi. — A voz de Gayle é molhada e breve. — Abra apenas o armário verde.

As pulseiras de Gigi tintilam enquanto ela caminha até o maior armário, o mais abaixo.

— Espero que seja uma pizza bem grande! Estou com fome.

Minha barriga ronca. Automaticamente volto meu olhar para o carpete de borracha. O pessoal permanece em cima de onde as espirais apontam, mas quando olho para trás, noto então que as outras pontas das espirais também possuem buracos. Por que tem buracos nesse carpete? Tentando disfarçar, me curvo para frente e espremo os olhos, lutando contra a baixa iluminação da sala. Não são buracos, são ralos. Ralos dentro de uma sala VIP para um carpete de borracha? Minha cabeça ferve estrelas com tamanha complexidade.

— Puta merda — grita Gigi, fechando o armário e me tirando do meu transe.

Zayn chega atrás dela. Charli rói uma unha. Minhas pernas estão inquietas.

— Abre isso logo — grunhe Martin. — Eu quero ver.

Bella, curiosa, aparece no meio da multidão. Gigi prende a respiração e, com as pulseiras em silencio absoluto, abre o armário lenta e completamente.

Nick aperta minha mão em um ato de medo. Até Martin se estremece.

Penduradas atrás da porta do grande armário verde estão sete pistolas.


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Notas finais do capítulo

Lembrando: DEIXAR UM COMENTÁRIO NÃO VAI DOER!

beijoxxxooo e até o próximo



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