Nerve escrita por LustForJohn


Capítulo 14
Balinhas coloridas


Notas iniciais do capítulo

Finalmente será explicado o que aconteceu com o Shawn no prólogo. Não acharam que ver um cara cair do céu foi tudo, né?



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A voz rouca de Martin me dá calafrios.

— Se você tiver ferrado a gente, eu vou ferrar você.

Passo a mão no cabelo e percebo que meus fios estão oleosos.

— Como se você se importasse com alguém além do seu próprio rabo — digo, impaciente.

Ele larga Charli e se inclina na namoradeira, estralando dedos barulhentos.

— Com o que eu me importo não é da sua conta, mas garantir nossos prêmios é da conta de todo mundo, incluindo da sua, príncipe. Sendo assim, reze para nossa punição não incluir coisas que machuquem, pois não vou ter dó de usar.

Ótimo, voltei a ser ameaçado pelo Cão dos Baskerville. E se Martin for minha verdadeira punição? Vai ver eles sabiam que eu iria violar as regras do jogo, e decidiram jogar esse maluco aqui para acabar com a minha raça.

Martin empurra a mesa de vidro levemente, fazendo ela balançar suavemente pelos cabos presos no teto. O movimento da mesa transforma o clima de boate da sala em suspense. Todavia, Nick, do outro lado, para a mesa com sua pegada forte.

— Do jeito que você age, acredito que toma remédios controlados para a raiva — diz Nick, chamando o olhar de Martin como um afronte.

— Vou te fazer tomar remédios para dor se não ficar na sua — responde, prestes a se levantar, mas Charli puxa com delicadeza sua jaqueta de couro sintético preto.

— Fica calmo, docinho. Esse plebeu acha que vai ter o coração do príncipe de volta agindo como um machão, mas não passa de um frangão.

Martin cai na gargalhada e os dois se beijam. Charli está certa, Nick demonstra total arrependimento no semblante, mas meu orgulho é grande mais para deixar para lá tão facilmente. Apesar disto, preciso de um aliado forte e Bella não demonstra nada além de tédio.

Não sei como será nas finais, Bella também pode ser uma inimiga? E ela está bem ao meu lado, pode dar o bote a qualquer hora. Cobra é cobra.

A fim de criar uma aliança, puxo assunto com Bella:

— Será que como punição eles me trancarão em uma sala com Martin para que ele quebre minha cara?

Ela levanta uma sobrancelha.

— Não. Eu acho que esse castigo vai cair na cabeça de cada um de nós, não acho que NERVE vá deixar barato.

— Ah, eu me sentiria mal por fazer os outros pagarem pelo meu erro.

Martin solta uma risadinha para me provocar. Ele está ouvindo nossa conversa? Não sei se vou aguentar este idiota.

Não tenho nenhum assunto com Bella; ela tem gostos distantes dos meus e, pelo que me contou, é rica. Não sei como alguém que pode ter tudo o que quer se daria o trabalho de virar parar num lugar como este. Pelo visto, outras pessoas precisam de um pouco de atenção além de grandes prêmios.

— Espero que tenham aproveitado o intervalo, jogadores. — Guy aparece novamente na tela, com as mãos juntas.

— Já está tudo preparado para a próxima rodada. — Ela mostra os dentes com um sorriso convincente. — Estão prontos?

Martin é o único a responder:

— Sim!

Ainda resta duas horas de jogo, e eu terei minha faculdade garantida. Se eu aguentar, e é bom que eu aguente — não quero ver Martin cumprindo com a promessa. Também estou ansioso pela punição. “Quando julgarmos oportuno”, NERVE disse. Isso quer dizer que podem vir atrás de mim quando eu tiver noventa anos sentado em um asilo? Devia ter lido as letras miúdas quando me inscrevi nisso.

Guy bebe uma água bem gelada.

— A próxima rodada foi personalizada para cada um de vocês. Na mesma parede onde se encontra o maior telão há quatro portas que levam a salas especiais. São duas portas do lado esquerdo, e duas portas do lado direito. Vamos conduzir a rodada em dois grupos. Quando ouvir seu nome, dirija-se à porta aberta.

Uma porta estreita ao lado do telão é aberta. As portas nesta sala são muito bem escondidas, não possuem nenhuma fresta. Presumo que as outras três estão lado a lado.

Guy convoca Nick como o primeiro. Ele respira bem fundo antes de se levantar, aposto que ele está super nervoso. Estou me coçando para não o abraçar e desejar boa sorte, para confortá-lo. Nossos olhares se cruzam por um momento, mas desvio em nervosismo.

— Um último aviso — diz Gayle. — Após a porta se fechar, um timer será acionado, e a porta apenas será aberta novamente depois de quinze minutos, a menos que haja um incêndio e o alarme dispare. — Essa deve ser mais uma das falar roteirizadas, já que ela falou como um robô, e o único incêndio que poderá haver lá dentro seria proposital.

Quando a porta fecha atrás de Nick, fico com um aperto no coração do que pode acontecer com ele lá dentro, e um calafrio corre pela minha espinha quando Gayle anuncia o resto dos jogadores, mas eu não estou incluído. Em vez de mim, os outros jogadores são Martin, Bella e Zayn. Sendo assim, Gigi, Charli e eu entraremos quando eles saírem. Eles entram nas suas salas respectivamente a ordem que foram anunciados.

Quinze minutos são rápidos, mas parece uma eternidade. As garotas e eu decidimos ir atrás de quitutes no armário vermelho e descobrimos sanduíches de sorvetes de marca famosa. Apesar da fome, estou morrendo de curiosidade para saber o que está acontecendo com eles lá dentro.

Charli revira os olhos para mim e agarra uma embalagem.

— Fica frio com o Martin. Ele nem é tão valentão assim, chega a ser um doce às vezes. — Ela força um sorriso, como se lembrasse de algo. — Acontece que ele está nervoso com tudo o que está acontecendo, e você fica provocando-o.

— Hum. — Mordo o sorvete. — Acho que se você não tivesse o acalmado, ele teria decido o cacete no Nick.

Ela ri.

— Você não conhece a expressão “cão que ladra não morde”? Ele só quer parecer durão e mostrar que está aqui para vencer nem que aja como um animal. Igual aquele nome de usuário patético dele.

Então eu estava certo sobre Martin ser o @AN1M4L. A julgar pelo nome, @BellaTempestade é para a Bella, e Zayn é obviamente o @ZzzZzz, o que resta apenas @XCX e Charli. O que a abreviação significaria? Quem sabe Kiss Charli Kiss.

Deixando meus pensamentos de lado, também decido comentar sobre meu parceiro:

— Nick é incrível. — Não estou mentindo. — Ele foi babaca comigo e eu quero perdoá-lo, só não sei como. Ele não fez por mal. — Deixo essa escapar, apesar do grau de gravidade. — Além disso, Nick é adepto desses que juram por tudo que NERVE vai impedir qualquer pessoa de se machucar, que colocaram amortecedores lá embaixo caso eu caísse. — Reviro os olhos, fingindo que acredito. — Mas por outro lado isso me ajudou a enfrentar meus medos. Pessoal — acrescento, deixando claro que não vou me aprofundar no assunto.

Charli mastiga seu sorvete e faz um barulho de irritado, revirando os olhos bem lentamente.

— Tá na cara que ele gosta muito de você e que te quer de volta. E o quanto está arrependido de ter feito o que fez por ter te machucado. Vocês deveriam deixar essa birra de lado logo e se resolverem quando o jogo acabar. Você também sente falta dele.

Tocou na ferida. Charli está certa, e ela é uma ótima conselheira. E acho que suas sugestões são as mesmas que meus instintos.

Permanecemos em silêncio por um momento, apenas apreciando o lanche. Gigi segura o sanduíche com tamanha delicadeza para que não encoste no sorvete. Me viro e encaro meu reflexo sonolento no espelho, que me encara de volta com olhos curiosos.

— Acham que alguém aqui foi plantado no jogo? — Tento puxar assunto e fazer amizades. Zayn é meio maluco e Martin baba de raiva às vezes, me aliar às parceiras deles me dará vantagens.

— Aquela tal de Bella é bem quieta — responde Gigi, indiferente.

Charli balança a cabeça, concordando.

— Estou com a modelo. Além disso, não confio em ruivos.

Gigi solta um gemido ao meu lado, mudando de assunto aleatoriamente.

— Eles devem saber que tenho medo de barata e vão me trancar numa sala repleta de baratas. Então vou surtar enquanto todas voam em bandos para cima de mim e me devorarão como fazem com as carcaças de animais mortos. Vou sair daqui digerida entre o estômago de milhares de baratas. — Ela se estremece.

Encontro um refrigerante comum dentro do armário vermelho e beberico enquanto como meu sorvete.

— Relaxa — digo. — Baratas não são piranhas. Sem contar que você só precisa pisar em cada uma para não te incomodarem.

— Imagina o fedor — comenta Charli.

Gigi agarra outro sorvete no armário e o devora em poucos segundos.

— Ela está nervosa. — Charli murmura me cutucando, depois ri. — Vai congelar seu cérebro, garota.

As garotas não são tão malvadas quantos seus parceiros. Talvez cada dupla tenha os dois lados diferentes da laranja. O bom e o ruim, o quente e o frio. Eu sou introvertido e Nick extrovertido. Martin é malvado e Charli é amigável. Zayn é um babaca e Gigi super descolada. Bella é inteligente e sua parceira eu nunca irei saber. Acho que NERVE nos colheu exatamente por compartilharmos essa divergência.

Meus pensamentos são interrompidos quando ecoa notas de vitória pelos alto-falantes. A primeira porta escorre e Nick surge com passos lentos. Ele está chorando, mas nenhum sinal de tristeza no seu rosto. Seus olhos me procuram, declarando trégua, e eu o ajudo a sentar.

Deslizo suavemente meus polegares pelo seu rosto, enxugando lágrimas quentes.

— Você está bem?

Ele soluça baixo.

— Eu acabei de reviver meu maior pesadelo. Não faço ideia de como descobriram.

Não dá para continuar bravo com ele quando ele está em seu pior momento. Passo dedos gentis pelo seu cabelo que nunca bagunça.

— Sinto muito.

Ele funga e pisca várias vezes, fazendo mais gotas percorrer seu rosto.

— Obrigado por se importar.

Sem pensar duas vezes, eu pego seu corpo em um abraço forte e profundo. Sinto ele me apertar de volta, e começa a soluçar. Oh céus, quando tudo isso acabar vamos ter uma baita de uma conversa, mas meu coração mole não teria suporte para ficar longe dele nesse momento ruim. Queria poder entrar dentro de seus pensamentos e entender o que está acontecendo.

Em seguida, Zayn sai atordoado. Ele senta ao lado de Gigi, que o abraça da mesma forma que fiz com meu parceiro, só que menos emocional. Tento não ser intrometido, mas ouço ele murmurar algumas palavras — não consigo associar nada. Ele parece estar prestes a chorar, mas segura com orgulho.

Martin sai pela porta correndo e soca a parede perto das poltronas antes de grunhir.

— Eu era apenas uma criança. Eu era apenas uma criança!

Pelo visto, até os cães valentes possuem um ponto fraco. Mas, espera, criança? Não quero nem imaginar, me sinto péssimo por Martin. Ele pega uma cerveja do armário e senta ao lado de Charli, que beija sua bochecha em um ato carinhoso.

A última a sair é Bella. Indiferente, ela senta na poltrona e parece não demonstrar surpresa ao me ver ao lado de Nick de novo. Queria poder perguntar como ela está, mas, assim como nas últimas horas, ela está com sua mesma expressão que não demonstra um único sentimento. Ela joga os cabelos ruivos para trás e cruza as pernas.

Com um sorriso no rosto, Guy parabeniza o primeiro grupo.

— Agora, Gigi, entre na primeira sala.

Acho que Gigi é de fato a mais medrosa de todos nós, mas eu fico logo atrás. Ela amarra o cabelo com um prendedor que estava em seu braço cujo até agora eu acreditava ser uma de suas pulseiras e se aproxima da porta. Guy anuncia que devo entrar na segunda porta. Não sou tão independente, a maioria dos desafios eu só completei por causa de Nick, não sei se vou conseguir passar por isso sozinho. Não tenho escolha. Antes de me levantar, Nick me puxa para um abraço carinhoso e me deseja boa sorte.

Respiro fundo.

Um calafrio percorre meu corpo enquanto olho o corredor escuro na minha frente. Dou alguns passos e um vento sopra atrás de mim. A porta é lacrada com um baque, deixando tudo escuro, porém pequenas luzes fracas de pisca-pisca são acendidas no chão, revelando uma rampa que parece descer eternamente — talvez para o inferno.

O corredor é muito estreito, espaço para apenas uma pessoa passar por ele. Vou descendo cuidadosamente, com passos abafados por um piso de pano ou veludo, não vou encostar para descobrir. Depois de descer algo em torno de três metros, o corredor faz curva para a direita, revelando duas portas uma de frente pra outra, mas as luzes indicam que devo entrar na da direita. Como Martin passou por aqui antes de mim, acredito que a dele tenha sido a da direita.

A porta é básica, e range quando a abro. É um cômodo bastante escuro, mas uma fraquíssima luz no teto me permite ver o contorno dos objetos nele presente. Tem um pequeno guarda-roupa escuro encostado na parede bem na frente da porta, e uma escrivaninha do lado oposto da sala. Do lado direito do quarto tem uma cama de casal velha e bagunçada. Meu desafio vai ser tirar um cochilo?

A voz de Guy ecoa pela sala.

— Sinta-se em casa, Shawn.

Com meu livre-arbítrio, dou alguns passos pela pequena sala. A porta se fecha silenciosamente, mas já estou acostumado com portas automáticas dentro deste lugar. Devagar, a gaveta da escrivaninha é aberta, mostrando uma caixa cheia de balinhas coloridas e com um cartão escrito “me coma o quanto quiser”, seguido por um rostinho sorridente. É suspeito, mas pego uma e coloco na boca. Tem gosto de chocolate, mas é elástico, como se fosse de goma. Coloco outra na boca e mastigo com prazer.

Em cima da escrivaninha tem um laptop decorado com a bandeira dos Estados Unidos, assim como o meu. Sento na cadeira e ouço um miado artificial vindo debaixo da cama, onde meu gato costuma ficar. Quando levanto a tela do laptop, ele mostra a imagem de uma montagem do meu plano de fundo original, mas repleto da palavra NERVE. Agora que me dei conta: estou em uma réplica do meu quarto.

É nitidamente mais estreito, porém ainda assim é igual meu quarto. Desconfio que seja o meu laptop de verdade, mas não tem a marca do arranhão que ele ganhou um mês depois de tê-lo comprado. Eu fiquei tão puto.

— Coloca uma música, Shawn! — ouço a voz de Guy sair dos alto-falantes do laptop.

Eu poderia agora mesmo abrir a chamada de emergência, mas não tem essa opção. Todos os ícones são do player de música. Lógico que eles pensaram no que eu pensaria antes mesmo de eu pensar.

Quando abro a biblioteca, uma música começa a tocar automaticamente. Com o intuito de ouvir melhor, aumento o som e consigo ouvir notas de uma canção eletrônica e melancólica que costumo ouvir o tempo todo. Não tenho ideia de como descobriram que gosto dessa música, mas até agora não vejo nenhum pesadelo.

A música vai chegando ao seu clímax lentamente, e eu pego mais duas balas, colocando-as ao mesmo tempo na boca. Pego mais outra, e outra, e outra. Ela é gostosa, mas se desmancha muito rápido.

Pego a caixa de balas, deito-me na cama e relaxo. Está tão tranquilo que eu penso em realmente tirar uma soneca. Mastigo mais três balas e começo a refletir sobre como será minha faculdade de música. Finalmente aprenderei algo além de Dó-Ré-Mi-Fá-Sol-Lá-Si-Dó? Antes de colocar mais algumas balas na boca, sinto minha respiração falhar. Tento respirar fundo, mas sinto um aperto forte dentro do meu pulmão, provocando uma tosse seca atrás da outra. De repente, as luzes se apagam.

Jogo longe a caixa de balinhas coloridas, que me lembra dos antidepressivos que eu tomava, e elas caem como bolas de gude saltitantes. Agora entendi quando Nick disse que reviveu seu maior pesadelo. Levanto da cama e tateio a parede por onde entrei até encontrar a porta: tão trancada quanto meus pulmões. A música aumenta crescentemente. Eles colocaram alguma coisa nas balinhas, ou jogaram gás tóxico na ventilação? Não paro de tossir.

Agora sinto vontade de vomitar. Minhas pernas amolecem e eu caio no chão, lutando contra a ânsia. Este só pode ser o meu castigo. Eles me envenenaram por ter violado a integridade daquela bobagem, ou isso faz parte do desafio e meu castigo vai vir quando eu menos esperar?

Estou começando a ficar sonolento, do mesmo jeito que fiquei naquela noite. As paredes parecem se fechar de pouquinho em pouquinho, e minha cabeça começa a balançar bem forte, como se eu estivesse bêbado ou chapado.

Com as pernas bambas, fico de pé.

— Por favor, abram a porta!

Não ouço nem o eco da minha voz. Não adianta pedir socorro, e eu não vou perder tempo procurando um isqueiro para provocar um incêndio e fazê-los abrir a porta. Não sei quantos minutos já se passaram.

Cambaleio até a cama e deito logo em seguida — estou cansado, com frio e com medo. Será que meus amigos estão assistindo? Não vou perder tempo pedindo ajuda, pois sei que NERVE vai dar um jeito de cortar a minha fala. Estou suando frio e, sem perceber, estou enrolado no cobertor confortável. Tudo fica mais aconchegante. A temperatura da sala caiu? Me sinto dentro de um freezer. Ou é o efeito do veneno? Eles não me envenenariam de verdade.

A porta tem fechadura? Eu devo ter vários clipes em uma de minhas gavetas. Fechaduras podem ser abertas com clipes, certo? Tenho certeza que fazem isso em filmes. A vontade de vomitar abaixou, e o sono aumentou, como se tivesse tomado doses exageradas de soníferos.

Estou revivendo aquela noite que tanto batalho para esquecer.

Eu estava nos meus momentos de depressão e luto. Luto por um cara que eu nem conhecia, e perdeu a vida neste jogo, que parece querer me matar também. Eu estava tão triste que pensei que as pílulas coloridas seriam bem mais eficazes se eu tomasse várias de uma vez só, igual acabei de fazer com essas balinhas.

Eu não queria me matar, muito pelo contrário, mas é claro que ninguém acreditou. Até hoje sou grato à minha irmã, Aaliyah, por ter me encontrado a tempo e me fazer vomitar tudo. Meus pais pensaram que tentei suicídio, fui levado a um grupo de apoio assim que deixei o hospital.

De repente, me dou conta que estou na mesma posição que eu estava na minha cama naquela noite. Deitado de lado, encolhido, chorando em silêncio e ouvindo essa música sem parar — apenas um garoto do ensino médio enfrentando seus problemas sozinho. NERVE está planejando a minha morte do mesmo jeito que eu deveria ter morrido naquela noite. E eu estou cedendo a eles.

Porém, um apito toca dentro do quarto, a música para e a porta se abre.

Fico em pé de imediato, e percebo que não tenho mais nenhum sintoma que estava sentindo nos últimos minutos. A febre passou, não sinto mais nenhuma vontade de vomitar e minha respiração está impecável. Eu estava delirando? Ou vai ver colocaram o antidoto na ventilação. Mesmo assim, minhas pernas permanecem trêmulas.

Sigo as luzes no chão e subo a rampa com os braços cruzados, ainda me recuperando do frio. Consigo ouvir a música de balada abafada e me faz sentir confortável, apesar de estar cansado de tudo isso. No fim da rampa, a porta desliza quando chego perto, e a luz da sala VIP está piscando de uma maneira eletrizante.

Nick, que me esperava sentado na poltrona, levanta assim que me vê. Silenciosamente chego nele e o abraço, transmitindo para ele todo o medo que eu senti lá dentro. Ele me aperta com braços firmes e afaga minhas costas. Eu precisava desse abraço. Sinto seu aroma com uma inspirada bem funda.

— Ei, ei. Você está bem, Shawn?

— Sinto como se tivessem me envenenado — digo.

— Quer conversar?

Balanço a cabeça.

— Não agora. Que tal continuarmos abraçados?

Ele ri.

— Acho uma ótima ideia.

Porém, começa a tocar uma música bastante agitada. Nick começa a balançar os quadris, o que me faz rir, então me junto a ele. É uma ótima maneira de quebrar o gelo. Nos separamos e começamos a dançar sem harmonia nenhuma, mas em perfeita harmonia ao mesmo tempo.

Vejo que o resto dos jogadores também estão dançando por conta própria; a música é realmente contagiosa. Não notei a reação de Charli ou Gigi, mas acredito que tenham saído atordoadas assim como todo mundo. Acho que o verdadeiro intuito desse desafio foi mexer com o psicológico de todo mundo, mas não pensaram que uma música agitada deixaria tudo mais fácil.

Paramos de dançar quando as luzes se apagam, mostrando Guy e Gayle na tela. Eles trocaram de roupa mais uma vez, dessa vez parecem que acabaram de sair de uma festa de fraternidade.

— Vejo que já estão se divertindo! — comemora Guy.

Precisávamos de uma distração. Entretanto, acredito que o que vier pela frente não vai ser tão amigável assim.

— Antes de irmos para a próxima rodada de desafios, vocês possuem mensagens de uma plateia muito especial no coração de vocês!

O som de bebê psicodélico balbuciando sai do celular de todos os jogadores. No meu celular, toco na notificação que diz “OLHA QUEM ESTÁ ASSISTINDO” e aguardo enquanto um vídeo carrega. Reconheço o rosto de Louis e Lauren, no meio está alguém que eu menos esperava: Ross, minha antiga paixonite.

Louis passa a mão no cabelo e Lauren sorri. Ross faz continência com dois dedos para mim. Depois, ele fala:

— Uau, Shawn, olha onde você está.

Louis entra na sua frente.

— Shawn, eu estou muito orgulhoso de você! Nunca pensei que um garoto bobo como você poderia chegar tão longe.

Ele ri, me provocando outra risada. Palhaço. Lauren joga os cabelos para trás e encara a câmera — como se fosse meus olhos. Com a voz rouca, ela diz:

— Você tem que ir até o fim pela gente! Estamos todos torcendo por você: Camila, Liam, até mesmo a Lele.

Nem a pau acredito que Lele está torcendo por mim. Ross volta a falar.

— A gente sabe que você consegue. Você é o melhor! Represente Seattle!

Os três mandam um beijinho ao mesmo tempo e o vídeo encerra. Uma chama se acendeu no meu peito. Quanto pagaram ao Ross para gravar isso? Pensei que ele estivesse ocupado com a Lele. Acredito nos meus outros amigos, e eles estão contando comigo. Eles citaram a Camila. Então ela não está brava comigo? Isso é um alívio, não quero desapontá-la!

Olho para Nick e vejo que ele está com um sorrisinho lateral enquanto assiste seu vídeo. Todos os outros participantes também parecem felizes. Martin fala sozinho, como se conversasse com seu celular. Acho que esse empurrãozinho realmente está funcionando.

Gayle sorri de uma forma amigável.

— Com isso, vamos prosseguir para o último desafio das rodadas do Grande Prêmio!

A tela escurece e a música aumenta. Sento-me nas poltronas com Nick e ficamos brincando com o sobe e desce das molas abaixo do assento. Bella batuca os dedos no braço de sua poltrona. Zayn beija Gigi no ritmo da música, e Martin e Charli dançam como loucos. Poderia ser assim o resto da noite, sem Zayn despertando a fúria no Nick ou sem Martin ameaçando me quebrar as fuças, porém notas de música clássica anunciam o desafio, e dá palco para um texto bem grande no painel:

TUDO QUE PRECISAM FAZER É

ESCOLHER UMA VÍTIMA.


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Notas finais do capítulo

Comentários? Não esqueçam que isso motiva bastante o autor.

xxxooo



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