Nerve escrita por LustForJohn


Capítulo 12
Quarto escuro


Notas iniciais do capítulo

Vocês votaram sim.



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Quando saio do closet, encontro Nick sentado em uma das poltronas. Ele se aproxima de mim, mostrando uma expressão melhor no rosto: suas olheiras amenizaram e seu cabelo está arrumado. Ele sorri. Parece estar mais refrescado, assim como eu.

— Vamos por aqui — ele segura meus dedos e começa a andar lentamente pela minha frente.

— Você parece melhor — comento. Ele olha para mim e sorri de novo.

— Você também.

Saímos da sala de recepção e entramos no corredor escuro. As luzes no final indicam que é para lá que temos que ir, então caminhamos sob um longo tapete vermelho, como os de premiações famosas ou festa de gala. É tudo escuro, me sinto guiado apenas por Nick que também não parece ver muita coisa. Quando nos aproximamos do fim do corredor, ouvimos várias risadas. As risadas vêm de dentro de uma porta aberta e fonte da iluminação que vimos de longe. É a penúltima sala, a última porta do corredor parece estar trancada. O que será que tem lá dentro?

Dos dois lados da porta, ainda no corredor, encontramos seis poltronas de veludo, distribuídas igualmente em rosa e azul. Quem iria querer sentar neste corredor escuro? Como se não fosse estranho o suficiente, as poltronas apontam para a parede, que não mostra nada além de uma cortina bordada de uma forma infantil, mas as cores deixam parecer chique.

Antes de entramos, Nick me abraça aconchegadamente. Depois, ele beija a minha bochecha, me fazendo ferver estrelas. Fui pego de surpresa.

— Eu só quero que saiba que eu vou te proteger de qualquer coisa que aconteça lá dentro. Não deixe ninguém fazer a sua cabeça. Eles vão ver que você é fraco mentalmente, e podem tentar te manipular.

Ei, não sou tão fraco assim. Minha sanidade subiu e desceu essa noite. Mas acho que atualmente está no topo.

— Não se preocupe tanto — respondo rápido. Nick sorri.

Juntos, entramos na sala. As risadas cedem ao ficarmos parados no adorno da porta, fazendo todos os outros jogadores olharem para nós. São todos jovens bem abaixo da meia idade. O lugar é como se fosse um quartinho de tão pequeno que é. Vamos passar três horas aqui dentro? Ao olhar para as laterais do teto, encontro quatro câmeras, uma em cada canto. O Grande Irmão está de olho em você.

A suíte é coberta por um extravagante carpete carmesim. Na parte direita da sala não tem nada além de um grande espaço vazio, enquanto no outro lado tem duas namoradeiras e quatro poltronas, colocadas ao redor de uma pequena mesa de tampo de vidro redondo. Mas a mesa é diferente: em vez de ter quatro pernas, ela é suspensa por quatro fios metálicos presos no teto.

Reconheço instantaneamente três dos outros cinco jogadores.

A primeira é a garota que fez o desafio de trocar o sutiã em público. Os outros dois são aquele casal da última encomenda de ontem à noite. Aquele homem de nome esquisito e aquela garota infiltrada na moda.

O cara de penteado bonito curva as sobrancelhas quando me vê, mas as ergue quando vê Nick. Como se já se conhecessem. Pergunto para Nick, mas ele nega com a cabeça, o olhar firme. Sinto que está mentindo, como das últimas vezes.

— Aqui vai ficar apertadinho — ronrona um outro rapaz que não conheço.

A garota da encomenda de ontem sorri para mim, mostrando seus dentes perfeitos. As centenas de pulseiras no seu braço fazem barulho. Ela está diferente de ontem, parece que se bronzeou bastante nas últimas vinte e quatro horas.

— Olha, Z, é aquele entregador.

Mordo minhas bochechas forçando um sorriso.

Sentamos atrás da parede da qual entramos, nas poltronas, e analiso os outros Jogadores. As molas sensíveis do assento me fazem subir e descer por um instante, o que é irritante.

A namoradeira da esquerda ao lado de Nick está o casal de ontem: o rapaz de topete prateado está usando uma blusa de lã preta gola alta com mangas cumpridas, enquanto a sua namorada está usando um vestido dourado solto de alcinha e salto alto, as pulseiras tintilando e um boá rosa claro ao redor dos ombros finos.

Já a namoradeira da direita ao meu lado está a garota que mostrou os seios, usando uma saia curta e colorida com botas estilo exército, uma blusa de alcinha curta revelando o piercing no umbigo e caracterizada como a bandeira dos Estados Unidos, além de uma mini jaqueta de couro sintético vermelho. Agarrado nela está o rapaz de rosto fofo e estranho ao mesmo tempo, com o cabelo curtinho e bagunçado. Ele usa uma blusa branca básica com várias referencias a DJs e uma jaqueta de couro sintético preto. Além disto, não consigo notar mais nada de especial nele. O jeito como ele contorna o pescoço da sutiã deixa a entender que eles também são um casal.

Na minha frente, sentada em uma das outras duas poltronas vermelhas, está uma garota bonita com um volumoso cabelo ruivo, segurando um celular mil vezes melhor que o meu. Ela está sozinha, por quê? Ela está usando uma saia azul escuro cobrindo seus joelhos, um par de tênis escolar vermelho e uma blusa — também de alcinha — toda preto com roxo e vários adereços gótico-infantis. Ela não para de mexer no celular.

Quando desvio meu olhar para aquele homem de ontem, ele está olhando para Nick. Espremo os olhos para ele, mas sou ignorado. Olho disfarçadamente pra Nick, e ele também está encarando-o. Alguma coisa está acontecendo.

Grasno alto, chamando a atenção de Nick.

Ele olha para mim e sorri.

— Está tudo bem? — murmura para mim.

Não.

— Sim. — Sorrio.

Quando volto a olhar para o homem, ele está trocando carinho com sua namorada, a loira chique. Ela deve ser a @EstrelaCadente, já que ela parece ter saído de Hollywood. À nossa esquerda, a sutiã e o rapaz do rosto estranho estão se pegando. Ele só pode ser o @AN1M4L, já que ele beija sua parceira como um.

Depois de alguns segundos, a sutiã começa a puxar assunto, fazendo todos, incluindo Nick, conversarem entre si. Ainda não estamos acostumados um com os outros, mas as risadas já estão garantidas.

Nick direciona a voz para a garota ruiva sozinha.

— Por que você está sozinha?

— Minha parceira falhou — ela responde, indiferente.

Antes de alguém perguntar o motivo, o celular dela recebe uma notificação de NERVE — facilmente identificável por causa do dadá psicodélico. Depois de ler, ela levanta e caminha até a porta por onde entramos, empurra e fecha. Meu estomago embrulha.

— Por que você fez isso?! — Pergunta furiosamente a sutiã.

— NERVE me ofereceu 50 dólares para fechar. — Ela sorri jogando os longos cabelos para trás, e sentando-se de volta na poltrona do meu lado oposto.

Antes que alguém proteste, as luzes da sala enfraquecem, e um painel gigante no meio do fundo da sala é ligado, piscando várias cores coloridas rapidamente. Espero que ninguém aqui seja epilético. Depois do pisca-pisca natalino, aparecem os rostos de Guy e de uma mulher que usa um vestido rosa elegante colado e cabelos bem escuros. Ela deve ter a mesma idade de Guy.

A ruiva do meu lado oposto, em vez de se contorcer para assistir, apenas levanta sua cabeça. Sigo seu olhar, e noto que um projetor estava camuflado no meio dos cabos de metais da mesa suspensa, produzindo a mesma imagem em baixa qualidade acima da minha cabeça.

— Bem-vindos aos desafios do grande prêmio! — gritam eles dois em harmonia.

Não sabia que isso seria tão chato assim. A tela volta a piscar, mostrando a saudação “BEM-VINDOS!” em cada canto da tela, seguida por gifs explosivos e notas altas musicais, tema de torneio. Depois de cinco segundos voltamos a ver nossos anfitriões. Eles estão em cima de um palco provisório cercado por uma multidão agitada. Não sabia que Observadores também têm tratamento VIP.

Guy apresenta a mulher, Gayle, e então a si mesmo. Ela deve ter entrevistado o Nick. O que será que eles conversaram — algo sobre mim? Minhas bochechas fervem estrelas.

Guy aponta um dedo para a câmera, como se fosse para nós.

— Vamos repetir as regras: agora vocês estão em uma equipe única. Se alguém desistir, ninguém leva o prêmio.

O rapaz do rosto estranho olha para mim com uma ruga na testa.

— É melhor que ninguém desista.

Sinto o energético descer. Já estou sendo ameaçado?

A tela mostra apenas Gayle.

— Vamos começar com alguns desafios para quebrar o gelo. Relaxem e divirtam-se.

A garota das pulseiras bate na mesa suspensa com um sorriso, fazendo ela balançar até as pernas do outro casal antes de parar de volta no centro em meio a contornos.

— A gente ganha alguma monetização por estarmos sendo assistidos?

Também tenho esta curiosidade. Gayle sorri através da tela, mas a câmera foca em Guy.

— Boa pergunta, Gigi. Para cada mil Observadores assistindo ao vivo, vocês ganham um bônus de quinze dólares!

Só isso? A não ser que tenhamos uma tonelada de espectadores, vamos ganhar apenas troco de bala.

Gayle estende os braços.

— Estão curiosos para saber quanto já faturaram? Duzentos dólares para quem me der um número exato, cem para quem me der o mais próximo. Um desafio simples para quebrar o gelo, como eu disse antes.

Soltamos números altos em disparada. Mas Bella, a ruiva, chegou mais perto chutando meio milhão de espectadores. Apesar dos anfitriões não revelarem o número total, são bastante pessoas assistindo. Estou chocado, assim como todos na sala. Vou sair rico daqui. É incrível como essas empresas conseguem arrancar dinheiro de gente boba tão fácil.

Gayle joga os cabelos para trás com um sorriso. Me pergunto se eles também foram anfitriões no mês passado. Pode ser que mudem em cada edição para evitar investigações.

— A plateia está ansiosa para dar um desafio para vocês!

Nossos anfitriões somem e quatro palavras brilham colorido atrás de um fundo preto.

OLHA QUEM ESTÁ ASSISTINDO!

Cinco adolescentes espalhados em uma cama de casal aparecem na tela. Um deles, de cabelo espetado e tingido de rosa, começa a ler um texto no laptop:

— Hora das apresentações para começar a coisa de um jeito amigável. Por um bônus de cinquenta dólares individualmente, fiquem de pé, batam na cabeça e esfreguem a barriga dizendo o seu primeiro nome e de que cidade você é. — Ele faz o símbolo do rock and roll com as mãos. — Boa sorte galera! — A imagem dele desaparece.

Em questão de instantes estamos todos de pé, fazendo essa idiotice que nos foi proposto. É difícil, mas com o tempo vou pegando o jeito. Cada um de nós vamos nos conhecer finalmente. Eu acho que depois desta noite a gente poderia sair para beber e rir de tudo isso. Claro que isso nunca vai acontecer.

A garota ruiva se chama Bella, ela vem de Portland, Oregon. O rapaz do rosto estranho, que ameaçou me pegar se eu desistir, se chama Martin, e sua parceira é a Charli — ela deixou claro que é apenas um i no final. Ambos estavam em Las Vegas, Nevada. Os três pegaram um voo imediatamente para cá, Seattle, depois do último desafio que cumpriram. A garota chique é Gigi; ela é a parceira de Zayn, o idiota que fez aquele desafio comigo. Ambos são daqui, assim como Nick e eu.

Martin decide me insultar depois que me apresento.

— Alguém coloca um tapete neste Chão. — Ele e Charli não seguram as gargalhadas.

Como não sou trouxa para deixar me esculacharem em rede nacional, revido:

— Seu nome é igual ao de uma zebra.

Realmente será impossível uma futura reunião.

Enquanto ele tenta pensar em uma resposta, as luzes da sala diminuem novamente, e Guy e Gayle estão de volta no painel. Guy pede para Zayn abrir uma porta do outro lado da sala e em seguida o armário vermelho. Ela reforça a frase, quase como se fosse uma ameaça, dizendo que é para abrir apenas o armário vermelho.

Ele vai até o local e os poucos neurônios na cabeça dele parecem fritar, mas eu também estou confuso, já que não há nenhuma porta. Porém, com um flash brilhante, um botão é iluminado. Depois de apertar, uma porta é escorrida mecanicamente para o lado, revelando vários armários do teto ao chão, todos de uma cor diferente.

Ele abre a gaveta na altura da cabeça dele, liberando um som de freezer. Charli se contorce na sua cadeira, tentando ver o que é. Também estou curioso, mas reviro os olhos quando descubro ser apenas cerveja.

Martin urra ao meu lado direito, e caminha comemorando na direção de Zayn. Charli e Gigi seguem seus parceiros. Bella solta uma risadinha camuflada enquanto vê os rapazes se esforçando para abrir as garrafas com as próprias mãos.

— Tem um abridor aqui, seus bobocas — Charli diz tirando de dentro do armário vermelho um objeto metálico.

Martin revida com um beijo em seu pescoço.

— Boboca é quem me chama, meu amigo aqui embaixo é quem te ama.

Dessa vez é Nick quem ri, sentado ao meu lado esquerdo. Esse é o nível de humor das pessoas aqui dentro? Certamente NERVE propôs um desafio para torrar as engrenagens nas cabeças dessas pessoas.

O painel se acende de novo, mostrando uma frase intuitiva.

PARA CADA CERVEJA CONSUMIDA,

MAIS CINQUENTA DÓLARES!

Nick me cutuca.

— Cinquenta dólares não fariam mal — ele sopra no meu ouvido.

Eu balanço meu pescoço em sintonia com a música que toca dentro da sala VIP.

— Vamos beber um pouco e sem exagero — proponho.

Quando nos aproximamos do grupo, Zayn agarra duas garrafas e Martin as abre, depois Zayn nos dá. Nick solta um sorriso encabulado, o que me faz ferver de incomodo. Eles se conhecem? Não vejo motivo em manter isso em segredo.

Deixando a paranoia de lado, eu analiso a garrafa com olhos de águia em busca de algo estranho fora do lugar, mas ela não parece com nada além de cerveja. Se tivesse alguma coisa, todo mundo já estaria no chão. Falando em chão, o carpete me fascina de uma forma que eu não entendo. Ele tem uma textura de borracha com pontinhas que afundam quando pisam em cima. Ele também parece ter um design em forma de círculos ou espirais que apontam para o meio da sala.

— Vai — diz Nick, tirando minha atenção do carpete. — É ruim, mas vale os cinquenta dólares.

Dou de ombros e viro um pouco para dentro. O gosto de nozes me lembra da cerveja que tomei escondido dos meus pais em um churrasco na casa dos meus tios. Mas essa é sem dúvidas mais gostosa, porém ainda é amarga como toda cerveja é. Como eles conseguem o patrocínio dessas marcas internacionais? Não me importo, contanto que eu permaneça com minha bolsa de estudos.

Me distraio olhando para trás e descubro que a parede ao lado da porta por onde entramos é completamente coberta por um espelho — do teto ao chão. Fico analisando meu reflexo por um momento, antes de Nick colocar um braço discreto na minha cintura e me guiar para perto da multidão contra minha vontade, mas entendo a estratégia dele: se enturmar. Todos estão relembrando idiotices que já fizeram por estarem bêbados.

Bella também está lá, mas não fala nada. Apenas passa o dedo pelo gargalo da garrafa e bebe um gole a cada trinta segundos.

Nick começa a declarar uma vez em que ele bebeu tanto que subiu em um cavalo de carrossel e falou "atrás deles, meu Pégaso indomável!". Bebo outro gole, e sinto uma vontade insaciável de urinar. Na última vez que eu bebi uma garrafa de cerveja eu mijei cinco vezes seguidas.

Martin está agindo como se fosse a primeira vez que ingerisse cerveja:

— Isto aqui é delicioso. E caro. E alemão.

Nick se aproxima de mim e sussurra ao meu ouvido:

— Os poucos miolos que ele tem conseguiram descobrir de onde veio a cerveja.

Eu solto uma gargalhada animada em resposta.

Martin aponta sua garrafa para nós dois.

— Do que os pombinhos estão rindo?

Nick gesticula com as mãos.

— Estamos tentando adivinhar quais nozes usaram na criação desta cerveja. Shawn acha que foi castanha de mamão, enquanto eu acho que foram avelãs das geleiras latinas.

A expressão confusa dele nos faz rir novamente. Martin bebe um gole demorado antes de responder.

— E eu acho que vocês são lelés da cuca.

Nick começa a puxar papo com a Bella, falando sobre festivais alternativos. Solto um sorriso sempre que ela olha para mim, apenas por Nick ainda estar segurando minha cintura. Seu aperto ao meu redor me deixa confortável. Mas o olhar que Zayn troca de vez em quando com Nick me deixa desconfortável.

Um techno metal começa a tocar na sala, e quase todo mundo começa a balançar as garrafas. Um zumbido soa e uma mensagem aparece no painel:

OLHA QUEM ESTÁ ASSISTINDO!

Uma garota com boina e estilo gótico aparece na tela sorrindo, revelando um piercing escondido acima da gengiva.

— Ciao, jogadores, falo de Forks. NERVE vai dar cem dólares adicionais para quem começar a dançar.

A câmera afasta dela, mostrando uma multidão. Eles dançam freneticamente ao som da mesma música que está tocando na nossa sala VIP.

Finalmente um desafio que seja do meu agrado. Eu amo dançar. Com ou sem companhia. Não sou tímido; sou confiante em relação à dança. Nick faz movimentos laterais com a cintura, como se estivesse requebrando, ao mesmo tempo que balança o pescoço.

Eu rio e me remexo perto dele, segurando seus braços e fazendo-o agitar de uma forma mais chamativa, menos suave. Apesar de parecer tímida, Bella também está se esforçando para dançar, mas como se estivesse sendo obrigada.

Com as garrafas de cerveja nas mãos, Nick e eu dançamos um ao redor do outro como dois pássaros apaixonados, rodopiando ao redor do carpete vermelho emborrachado com aparência estranha. Todos os outros jogadores estão menos tensos e dançando conosco, até mesmo Martin está sorrindo para mim. Estamos parecendo um bando de adolescentes em uma roda punk, esbarrando uns nos outros.

A música acaba em menos de cinco minutos, mas ainda me sinto agitado — estou todo suado. Agora toca notas suaves e românticas, mas me recuso a chegar perto de Nick nesse estado. Ele também está brilhando estrelas em suor. Martin e Charli são os únicos que não ligaram para o suor e estão dançando aninhados.

Nick balança uma mão em sua própria direção, como se quisesse cochichar ao meu ouvido. Eu me aproximo dele.

— Nem mesmo Careless Whisper vai te fazer dançar coladinho em mim?

Finjo cara de nojo, depois sorrio. Por dentro, meu coração palpitou.

— O clima ficou suado demais para algo romântico — respondo, sem soltar o sorriso.

Permanecemos nos balançando de um lado pro outro durante três minutos, depois o mesmo zumbido soa e os rostos de Guy e Gayle estão de volta na telona.

— A plateia amou o jeito como vocês dançaram todos juntos em harmonia. — Guy mostra dois polegares e um semblante sorridente.

Gayle bate palmas, concordando com seu parceiro. Ela continua:

— Vamos para o último desafio amigável. Na mesma parede dos armários coloridos há quatro outras portas, cada uma levando a uma sala privada. Entrem nas salas formando grupos com os jogadores que quiserem para uma partida de Sete Minutos no Paraíso. Preciso explicar as regras, ou já estão familiarizados? — Ninguém responde, e ela solta uma risadinha. — A equipe ou o jogador que apresentar o espetáculo mais interessante para a plateia ganha quinhentos dólares. O segundo lugar leva cem. Todos os outros ficam só com o tempo no paraíso. Não sejam tímidos!

A tela apaga, e uma trilha sonora de corrida frenética eletrônica começa a tocar depois de uma abertura em escala.

Nick encosta seu nariz em minha nuca, dando um beijinho ali. Opa.

— Eu sei que você quer.

É claro que eu quero. Só Nick sabe o quanto eu quero o pegar de jeito depois dessa noite, e pelo brilho em seus olhos, ele sente o mesmo.

— Vamos — grasno, e pigarreio. — Vamos dar uma olhada nas salas privadas.

Pensei que entrariam em um grupo único, mas Martin e Charli entram na primeira porta, enquanto Zayn e Gigi entram na segunda. Todos riem como se fossem fazer algo proibido na casa da avó deles.

Do lado direito da porta dos armários, toco no último dos botões e uma porta desliza para o lado. A sala é como se fosse um quartinho bem pequeno, tendo espaço apenas para uma cama de solteiro e um criado-mudo. Uma lâmpada fraca brilha no teto, perto de um espelho. A iluminação é tão baixa que me sinto em um quarto escuro, de revelar fotos. Há duas câmeras nos cantos do teto, uma do lado oposto da outra. Mais nada. Imagino que tenha algumas coisas na gaveta do criado-mudo que não quero saber. Nick enfia a cabeça do meu lado e espia o quartinho. Ele ri e diz que poderíamos tirar um cochilo. Claro. Como se eu conseguisse dormir perto desses estranhos.

Olho por sobre o ombro e vejo Bella sozinha, sentada nas poltronas chacoalhantes. Tadinha. Pelo menos ela se diverte tirando selfies com o cabelo cobrindo um olho.

— Sete minutos. Dê o seu melhor — proponho. Nunca pensei que eu fosse fazer passar Sete Minutos no Paraíso na minha vida. Muito menos com um desconhecido. Se bem que ele não é mais tão desconhecido assim, já conheci seus lábios várias vezes hoje...

A porta fecha automaticamente após entrarmos. Me sinto espremido perto dele. A sala é ambientada com um ar-condicionado fraco, apenas para não fazer a gente morrer de calor.

Nick se aproxima de mim, me fazendo sentir o cheiro da cerveja em seu hálito. Ele está com um sorriso de quem vai aprontar no semblante, me fazendo sorrir também. Não tenho a menor ideia do que fazer aqui. Talvez, se eu me sentir no corpo da Lele, eu possa tentar algo. Também não sou nenhum santo.

Ele caminha mais em minha direção, e eu dou um passo para trás, batendo na parede. Ele me prende com seus braços fortes e fica me encarando. Na minha cabeça, sinto que estamos perdendo tempo com essa enrolação, então me inclino para beijá-lo, mas ele recua para trás e ri cinicamente.

— Apressado.

De repente, ele me beija ferozmente. Sinto meu coração sair pela boca e entrar na dele. Não sei se foi pelo susto, ou pelo prazer, mas é uma sensação boa. Agarro seus bíceps que me prendem a parede, e deslizo até seu pescoço. Por mais que ele seja um pouco menor do que eu, ele consegue me levantar e me segurar pelas minhas cochas, apertando-as como um animal.

Agarro com força suas costas, e sinto suas mãos subirem para mais além. Ele começa a apertar forte, me fazendo soltar um suspiro abafado em sua boca. Ele me equilibra entre seu peitoral suado e a parede, e tira a minha camiseta de flanela azul, deixando à mostra a minha blusa branca. Faço o mesmo com seu casaco vermelho. Depois que seus bíceps ficam nus por causa de uma regata cinza bem justa, ele ataca meus lábios novamente.

Ele me carrega até a cama e se deita nela, me deixando por cima dele, ainda me beijando. Suas mãos continuam agarrando firmemente meu quadril, me fazendo arfar mais ainda em sua boca. Sinto uma saliência singular em Nick enquanto nossos corpos se atritam, e acredito que ele também deve sentir uma em mim.

Deslizo meus dedos pelo seu pescoço suado e levanto sua regata, curioso para saber como é seu corpo: um tanquinho levemente malhado com uma estrada fina de pelos abaixo do umbigo e peitoral modesto, porém definido. Ele é impecável. Uma expressão envergonhada toma conta de seu rosto e ele abaixa a regata, sorrindo de lado.

— Você é muito curioso, Shawn. — E volta a me beijar.

Cada vez que ele pronuncia meu nome, meu coração erra uma batida. Suas mãos estão cada vez mais descontroladas, até que uma voz vinda de algum lugar do quarto avisa que os sete minutos tinham passado.

Sua língua continua dentro de minha boca, me fazendo forçá-lo a parar. Dou um pulo para fora da cama.

Ele se senta na beirada e olha para mim sorrindo, os olhos ainda semicerrados. Enquanto visto minha camiseta azul de volta, ele me puxa para um abraço. Levanta minha blusa e beija minha barriga, provocando cocegas molhadas. Rio enquanto o empurro para trás. Ele ajeita sua blusa e veste o casaco vermelho.

Saímos da sala privada de mãos dadas. Vejo uma visão do estranho do Martin abaixando sua blusa enquanto sai da sala com a Charli, que está lutando contra seus seios para fechar o zíper de sua mini jaqueta. Zayn e Gigi também saem da sala. Zayn está sem expressão e Gigi está rindo como uma idiota — ela tem um corpão que nunca reparei. Decidimos ficamos em pé perto dos outros na parte vazia da sala, meus ouvidos curiosos ouvem atentamente o relato de Charli, contando toda a safadeza que fizeram. Tenho vergonha de falar o que fiz e o que não pude fazer, então fico apenas prestando atenção no que eles falam.

Os painéis da sala mostram três gifs dos três quartos usados para fazer o desafio, confirmando que Charli não mentiu — eles dois foram um pouco mais explícitos —, mas descubro que ficaram em segundo lugar quando a cabeça de Guy aparece no painel anunciando que Nick e eu fomos os vencedores escolhidos pela plateia.

Dou de ombros. Aposto que acham surreal quando dois garotos se beijam.

Mas a reação de Nick é mais animada, me abraçando e levantando meu corpo num giro duplo. Depois, me pegando de surpresa, ele me beija animadamente — e pela primeira vez na frente dos outros jogadores.

Ouço Charli murmurar alguma coisa, deve estar com inveja por não ganhar quinhentos fáceis. Gigi não parece se importar em ter ficado em terceiro lugar.

A cabeça de Gayle aparece na tela ao lado da de Guy.

— Chega de brincadeira de criança. A partir de agora irão iniciar os desafios do Grande Prêmio, onde é obrigatório cada um de vocês completarem para ganhar suas recompensas finais. Vamos começar!

Martin estica o braço segurando uma segunda garrafa de cerveja, urrando como louco alegremente. Até o final ele vai estar só o mingau.

— Espera — anuncia Zayn, o cara gato do topete platinado. — Eu acho que este jogo parado precisa de um pouco mais de emoção.

Ele se separa de sua parceira, Gigi, e vem caminhando com um sorriso suspeito na minha direção. Por algum motivo, Nick tenta parar ele, mas é ignorado. A partir daí, tudo fica muito confuso.

Principalmente quando Zayn me empurra na parede atrás de mim antes de me beijar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, meus queridos Observadores.

Não esqueça de deixar seu comentário.

Beijos.



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