Nerve escrita por LustForJohn


Capítulo 11
Entrevista


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demorinha, mas está aqui, Observadores.
Vocês não estão comentando, estou ficando desmotivado e triste :(



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/716091/chapter/11

Permanecemos dentro do elevador, tremendo de frio. Estamos perto o suficiente para sentirmos a respiração um do outro, o calor. O chão está tremendo levemente por causa da balada no primeiro andar.

— É agora — ele silaba as palavras como se não fossem nada.

— É agora — repito, indiferente. — Três horas por três anos de faculdade. Vamos lá.

— Vamos.

Saímos do elevador. Caminhando pelo extenso e estreito corredor, passamos por outro elevador, mas mais largo e com uma placa que intitula "Serviços". Passa pela minha cabeça o quanto minha mãe vai ficar furiosa, mas talvez um pouco aliviada ao descobrir que não terão que gastar o suado dinheiro economizado para a minha faculdade. É uma boa economia, mas mesmo assim eu continuarei de castigo — é inevitável.

A última e única porta fica no final do corredor, ela é bem grande, de uma madeira rústica, porém não tem nada indicando que devemos seguir este caminho, a não ser que era tudo uma piada e o nosso grande desafio seja voltar pelo outro elevador e curtir a balada de graça com a galera. Quem estou enganando? Não posso dar pra trás agora.

Quando desvio o meu olhar para Nick, ele está muito mais assustado do que eu, nem parece que ele é aquele homem que eu conheci hoje pela manhã — forte e corajoso. É minha vez de dar apoio moral:

— A gente consegue. Serão apenas três horas, eu também estou com medo. Mas, eu te prometo, a gente consegue.

Eu pego sua mão e levo até o meu rosto, dando um beijinho nela. Ele olha para mim e sorri torto, ainda expressando medo. Qual foi? Também posso ser carinhoso.

Como eu disse, apenas três horas. Já assisti filmes mais longos na esperança de não perder o meu tempo. Espero que aqui eu também não perca. Temos que terminar isso.

Nick, que ainda olhava para mim, me dá um breve abraço e se inclina para beijar minha bochecha.

Eu empurro a porta, que não range ao ser aberta. É decepcionante, pois pensei que ela tivesse vindo diretamente de um cenário de filme de terror clássico.

Ficamos parado pertinho um do outro dentro de uma sala quadrada com um corredor estreito à frente. Uma única luz de neon violeta balança com movimentos lentos no teto. Como na sala do primeiro andar, não tem muita coisa aqui além de um balcão de recepção vazio e três poltronas de couro apontadas para uma mesinha de centro com um cinzeiro em cima, um único cigarro ainda queima e deixa um rastro de fumaça. Alguém fumou aqui.

Ao lado do balcão, duas portas comuns chamam nossa atenção porque mostram nossos nomes escritos em papelão azul e rosa, grudado com fita adesiva. “Nick”, na da direita e “Shawn” na da esquerda.

O som do bebê balbuciando no meu celular me faz saltar.

ENTREM NA SALA PARA A ENTREVISTA.

— Boa sorte — diz Nick. Ele me abraça antes de entrar na sala com o seu nome.

Assopro alto. Meu coração já errou várias batidas nos últimos segundos. Estou muito nervoso, como se estivesse na minha primeira entrevista de emprego. Preciso seguir em frente.

Abro a porta com meu nome, fazendo um aroma doce de maçã verde escapar. Entro e me deparo com vários cabides em uma parte da parede. Estou dentro de um closet? Na verdade, achei genial. Apesar de eu saber da farsa, colocaram uma mesa no cantinho com uma pequena cadeira aconchegante, além de parafusarem um espelho bem grande sobre a mesa, rodeado de lâmpadas que brilham estrelas.

Cansado de tudo isso, eu me sento na cadeira e me sinto no paraíso. Passei uma hora sentado no carro do Nick, mas eu continuo exausto. Espero que na suíte VIP tenha cama e não se importem comigo dando uma de Bela Adormecida. Não consigo tirar os olhos do meu rosto derrotado através do espelho. Eu envelheci tanto em apenas em uma noite?

Brinco com um pequeno cartão-postal que deixaram em cima da mesa. Ele é todo caracterizado com meu nome em um fundo preto com várias linhas de cores brilhantes em forma de neon. É dele que vem o cheiro de maçã verde. Seria comestível? Estou faminto.

Na parte detrás do cartão não tem nada de importante, a não ser uma única frase escrita em três linhas dizendo que eu posso usar qualquer item que eu encontrar nas gavetas da penteadeira. Mas primeiro, conecto meu celular em um cabo de alimentação que encontro no cantinho da mesa. Não me importo se estão roubando meus dados, meu celular estava dando seus últimos suspiros depois dessa noitada.

A primeira gaveta tem uma porção de cosméticos de diversas marcas chiques e caras. Maquiagem, frascos em miniatura de perfumes e até mesmo gel de cabelo, mesmo que estejamos em 2017. Na gaveta debaixo encontro embalagens de biscoitos e chips. Imediatamente abro um pacote de batatas e coloco cinco de uma vez na boca. Hum, ainda bem que essa marca deliciosa está patrocinando NERVE. Se eu estivesse com minha mochila, levaria tudo comigo e estocava para a semana toda.

Do outro lado, um frigobar disfarçado de armário. Garrafas de água e refrigerante me hipnotizam. Agarro uma garrafa de água com gás e bebo metade do conteúdo. Nick e eu paramos em uma lanchonete faz uma hora, mas me sinto como se não tivesse me alimentado há dias. E essa água está bem gelada.

Ainda com o frigobar aberto, eu encontro várias latas de diversos energéticos diferentes. Abro uma e beberico, quero estar preparado e acordado para essas três horas que vêm pela frente.

Um efeito sonoro de balada toca de algum lugar que não consigo identificar antes de uma voz robótica anunciar:

— Você tem três minutos antes de começarmos a entrevista.

Tudo bem, não quero parecer um zumbi na entrevista que provavelmente vai ser assistida por todo o país. Abro a primeira gaveta e tiro um lenço antisséptico de dentro de uma caixinha e o passo gentilmente em meu rosto, tirando todo o suor e a oleosidade. Bebo mais um gole profundo do energético e encontro uma escova pesada que deixa meus cabelos macios e renovados com apenas algumas deslizadas. Para finalizar, escolho um perfume doce e cheiroso, borrifando no meu pescoço com um jeitinho soberbo. Tudo certo, finalmente me livrei daquela aparência terrível que eu estava apresentando. Nick gostava de mim daquele jeito?

Fico olhando para o fundo dos meus olhos castanho-claro antes do espelho magicamente escurecer, o que deixa a entender que era na verdade uma tela ou monitor. Onde está a câmera? Calafrios sobem pelo meu corpo quando um homem aparece na tela, soltando uma risadinha abafada. Droga, que susto do cacete. Ele parece estar na casa dos quarenta. É bronzeado, tem cabelos claros e olhos escuros e usa uma roupa hipster que não combina nada com ele.

— Olá, Shawn — ele diz. — Meu nome é Guy.

Nome engraçado. Este cara está mais para coroa.

Não sabia que existia de fato pessoas locutando NERVE. Quando meus amigos me mostravam vídeos antigos do jogo, era apenas possível ouvir vozes robotizadas. Vai ver era para esconder a identidade deles. E se, em vez de locutores, eles são os próprios donos de NERVE? Seria Guy o grande chefão?! Estou chocado. Camz vai adorar saber disto.

Esfrego as mãos juntas.

— Ah, oi. — Minha voz me trai. — Desculpe, estou tão acostumado em receber ordens pelo aplicativo que não pensei que fosse ter contato visual com alguém.

Eu falei demais? Estou transpirando nervosismo. Guy esfrega as mãos igual eu fiz, mas quando ele faz isso parece como se estivesse bolando um plano.

— Desta forma seria mais confortável e amigável para nossos finalistas.

NERVE não se importa com nada que vá ajudar os jogadores. Eu quase morri naquela montanha-russa, porra. Finjo que acredito e deixo essa passar.

— Pensei que isso fosse um espelho. — Não sei por que estou puxando assunto. — Eu estava me vendo agora a pouco.

Ele solta uma risadinha, revelando seus dentes brancos e brilhantes.

— Tem uma câmera bem no meio da tela, deve estar na altura do meu olho direito. Diga “X”.

Agora que ele falou, vejo um pontinho minúsculo gritando por atenção. Tenho certeza que eles decidiram usar uma câmera de qualidade excelente para a plateia assistir eu me arrumando como um desesperado por beleza. Assistam ao palhaço por alguns trocados!

Ele pousa o queixo em um punho com dedos magros.

— O que está achando do jogo até agora, Shawn?

Só de estar vivo já é um ponto positivo para mim.

— Eu pensei que fosse um jogo bobo de fazer desafios fáceis e ganhar prêmios de lavada — comento. — Mas, apesar de eu gostar das recompensas, os desafios são bastante complicados.

— Tipo o desafio com Eleonora?

Onde ele quer chegar com esta entrevista?

— É.

— Tem algo para dizer a ela?

Isso está ficando tedioso.

— Não. Lele é uma garota falsa que se preocupa mais com sua reputação do que com as pessoas ao redor dela. Festa estranha com gente esquisita não faz dela uma rainha, apenas quer dizer que ela é fonte de diversão gratuita. Ninguém se importa com ela e se não fosse por mim, ninguém falaria isto. — Minha garganta coça. — Bem, eu tenho algo para dizer a ela: vá se foder.

Guy arregala os olhos e abre a boca, e eu ouço uma plateia imaginaria na minha cabeça urrando e me aplaudindo. Pensei que esta entrevista fosse mais estética com perguntas prontas, em vez de pessoal. Qual é, perguntem minha cor favorita!

— Sendo assim, não vamos falar sobre Lele. — Ele se inclina para frente, como se estivesse pronto para me contar um segredo. — Vamos falar sobre Nick. O que acha dele? — Ele pergunta em um sussurro. Eu não gostaria de falar sobre ele, mas deve ser sobre o que os Observadores estão interessados.

Nick me lembra felicidade. Ele está sempre sorrindo e gosto disso nele.

— Nick é durão — digo, indiferente.

— A plateia insinua que você está apaixonado por ele. — Guy não demonstra nenhuma expressão ao falar isto.

Minhas bochechas fervem estrelas. Como eles podem afirmar algo que nem eu sei?

— Eu insinuo que a plateia é muito enxerida. — Pestanejo.

Ele mostra os dentes com uma gargalhada humorada.

— O veredito vai ficar em aberto. Vocês vão continuar mantendo contato depois de hoje à noite?

Esta entrevista também é enxerida.

— Não sei. — Dou de ombros. — Eu gostaria de continuar com nossa amizade calorosa.

Amizade colorida, só se for. Acorde, Shawn, a vida não é um sonho.

— Pela forma que você demonstra, o beijo dele deve ser bastante caloroso.

Opa.

Franzo o cenho.

— Hum, você espera que eu afirme?

O semblante de Guy é neutro.

— Não precisa.

É caloroso, afirmo no meu pensamento. Mas prefiro que apenas eu saiba — e quem quer que ele tenha beijado anteriormente.

— Deixando a conversa íntima de lado, o que te fez se inscreve no NERVE? Seus amigos falam que isso não combina com você.

Meus amigos são uns fofoqueiros, mas estão certos. Eu comecei a jogar apenas para testar, mas o jogo foi ficando tão interessante e me oferecendo prêmios irrecusáveis que consegui chegar até onde estou. Bem, consegui ser melhor que Lele.

Sorrio com meus pensamentos oblíquos.

— Mudar faz bem.

Ele curva a boca nos dois cantos, aprovando minha frase de efeito.

— O público acha que realmente fez muito bem mudar: você é uma nova pessoa.

Não me sinto tão diferente assim.

— Acho que esse sempre fui eu, NERVE apenas me deu a dose de carisma que eu precisava.

— Você tem todas as palavras na ponta da língua, por isso os Observadores te adoram. Quer mandar algum recado a eles?

Recado? A única coisa que me vem em mente é o desafio da montanha-russa, onde eu pensei que fosse morrer. Pela segunda vez. Eu olho bem fundo nos olhos de Guy, onde agora fica a câmera escondida, e falo:

— Olá, Observadores. Obrigado por me apoiarem em todos os desafios, especialmente no da montanha-russa, onde vocês não fizeram anda enquanto eu fiquei parado de cabeça para baixo com a trava de segurança aberta. Eu quase morri lá. Um beijo do fundo do meu coração para todos vocês.

O sarcasmo na minha voz é inevitável. Guy olha para baixo por um instante, como se estivesse ouvindo uma mensagem que apenas ele pode escutar.

— Você tem total razão por estar zangado, Shawn. — Eu sei que tenho. — Queríamos nos desculpar em relação a isto. Realmente, foi muito perigoso para a sua saúde e sanidade. Era um brinquedo com falta de manutenção e não tínhamos conhecimento. Mas aposto que está ansioso para começar o próximo desafio!

Me poupe, dar a volta numa montanha-russa não é um desafio nem para uma criança, apesar de eu ter medo de altura. Aquele acidente teve sim o dedo de NERVE no meio. Porém, finjo que acredito e deixo essa passar de novo.

— Só estou um pouco nervoso — afirmo.

Ele balança a cabeça.

— Mesmo que este seja o nome do jogo, relaxe, Shawn. Sua vida é uma caixa de Pandora que está sempre aberta para coisas novas e um mundo novo, e você lida muito bem com isso. Sua caixa de Pandora também vai abrir diversas vezes nas próximas horas. Antes dela ser aberta, vamos conversar sobre pontos fundamentais do jogo.

— Ok.

E vamos às regras.

Ele levanta o dedo indicador.

— Primeiro, você está jogando como parte de uma equipe com mais seis jogadores. Se um de vocês não cumprir o desafio do grande prêmio, todos perdem. Mas não se preocupe: haverá pequenos desafios para quebrar o gelo, provas opcionais cujo único objetivo é a diversão.

Eu sinto que sempre falam estas exatas mesmas frases recapituladas em todas as edições, mas prefiro guardar o comentário para mim. Eu balanço a cabeça conforme ele fala.

— Mais uma coisa importante: se fizer algo que viole a integridade de um desafio, o NERVE pode impor um castigo que vai de acordo com os termos que você aceitou ao se inscrever no jogo.

Droga. Malditas letras miúdas!

— Como eu vou saber que estou violando a integridade?

Ele gesticula devagar, me odiando por fazer os questionamentos que eles foram treinaram para nos responder.

— É um jeito chique de dizer que você está trapaceando. Contanto que você siga as regras, nada vai acontecer.

— Entendi.

Ele mostra os dentes perfeitos.

— É o que eu queria ouvir! Boa sorte, Shawn. Outra coisa menos importante: nossos patrocinadores vão gostar se quiser usar qualquer item das gavetas.

Ele me manda uma piscadela antes de seu rosto sumir e voltar a mostrar um espelho que agora sei que é falso. Já que posso levar o que quiser, não vou deixar essas marcas caras e de qualidade passar. Não uso maquiagem, mas soco algumas embalagens nos bolsos da minha calça. Camila vai ficar feliz.

— É para minha amiga — digo para o espelho, caso ainda estejam me gravando e se perguntando para que vou querer levar isto. Sei que ainda estão me observando, bem como os Observadores fazem.

E estou pronto para os desafios finais do Grande Prêmio, onde todos me observarão.

Estou aqui para vencer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, meus queridos Observadores.

Não esqueça de deixar seu comentário, por favor!

Beijos.