Rise escrita por Lua Chan


Capítulo 8
Marcas da dor




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Novembro, 1908

Já se passou um pouco mais de um ano desde o incidente. Ainda tenho a cicatriz da costura que meu pai precisou fazer para fechar o buraco da facada. Eleonor andava cada vez mais distante de mim, mas não porque ela queria.

Ela precisava.

Trevor Wartch a ameaçava, dizendo que se a visse perto de mim, arrancaria minhas tripas e daria para as galinhas comerem. Não acreditava naquilo -nem ela, por sinal -mas não duvidávamos que ele planejava algo ruim à nós dois.

Eu tinha acabado de chegar na escola, Eleonor estava lá sentada ao lado de Trevor, desgostosa. Ele deve ter notado minha presença, assim que coloquei os livros na minha carteira, ele roubou um beijo demorado de El. Ela olhou para trás, quase cuspindo -acho que só não o fez por causa da multidão.

—E aí, Aberração? -Fredley, um dos amigos mais próximos de Trevor, me chamou. Ele começou a sentar ao meu lado, já que sua antiga cadeira fora ocupada forçadamente pela minha melhor amiga. Quase pensei que Fred estivesse enciumado -Gostando do visual?

Ele apontou com o olhar para o casal de amantes que não se amavam realmente. Muitas das vezes Fredley me obrigava a assistir Eleonor e Trevor se beijando -ou melhor dizendo, Eleonor sendo ferozmente submissa à ele.

Trevor me fitava, de vez em quando, como se checasse se eu estava mesmo observando os dois. A verdade é que eu sempre o fazia. Fiz uma promessa à Eleonor ano passado e eu estava disposto a cumprí-la.

—Filho de uma... -Não terminei a senteça. O alarme tocou, mostrando que nossas aulas começariam agora mesmo. Nossos professores tinham uma bizarra pontualidade (até os segundos eram considerados).

—Bom dia, alunos. Hoje iremos aprender sobre... -As aulas passaram lentamente, como de costume. Continuei olhando os dois, até que El pediu para ir ao banheiro. Com poucos segundos, outra pessoa pediu.

—Srta. Fritz? Posso ir ao mictório? -Era Trevor. Meu coração congelou só em pensar no que estaria aprontando. A professora concedeu o pedido, deixando-o ir.

As classes terminaram, finalmente. Organizei minhas coisas e corri para a direção de El que estava longe de Trevor e seus amigos. Éramos só eu e ela na sala.

—En? O que está fazendo aqui? Sabe que Trevor pode voltar a qualquer momento! -Ela me lembrou, apavorada. A garota cobria, estranhamente, a parte esquerda do rosto, evitando esbarrar seus olhos nos meus.

—Eu não ligo pra ele, nem tenho medo. -Falei -El, ele te fez alguma coisa? -Pedi, tentando chamar sua atenção. Ela olhava para baixo, quase chorando.

—Não, ele só... -Parou. Não conseguia terminar a frase, como se estivesse com vergonha. Eleonor se afastava de mim, cada vez que eu me aproximava dela.

—El. Deixe-me ver isso. -Insisti, me referindo ao que tanto queria esconder debaixo da sua palma. Ela cedeu. Retirou lentamente a mão do rosto, revelando uma mancha vermelha, recém-formada, parecendo de uma mão.  Me engasguei, o coração acelerando -El... isso é o que eu estou pensando?

A menina não respondeu, mas por fim, virou seus olhos para minha direção e me abraçou fortemente.

—Me desculpe, En. -Ela começou a chorar, o que só me fez ter certeza do que aconteceu com ela. Trevor a agrediu, talvez no momento em que Eleonor saíra para o banheiro. Eu ergui seu queixo para o meu nível e vi o quão bonitos eram os seus olhos, mesmo quando tristes.

Surpreendentemente, fiz com que nossos lábios se tocassem, envolvendo-nos num doce e verdadeiro beijo. Nunca me senti tão feliz em ficar tão perto de uma garota. Ela correspondeu e então nos separamos, respirando. Seu rosto estava vermelho, assim como o meu, e até que enfim mostrou-me um sorriso caloroso.

—Não precisa se desculpar, amor. -Falei, deslizando meus dedos sobre a parte machucada de sua bochecha -Não se preocupe. Eu vou resolver seu problema. Aquele idiota vai ter o que merece.


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