Rise escrita por Lua Chan


Capítulo 7
Respire




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Respire...

Já não era capaz de distinguir entre sonho e realidade. Não sabia se a voz de Eleonor era projetada apenas na minha cabeça ou era ela mesma que tentava me acalmar.

Enoch, não me deixe. Por favor!—Queria responder. Dizer que nunca o faria e que a amaria para sempre, mas minha voz ainda era reprimida. Meu coração dava pulsos brutais de vez em quando -Por favor, precisamos levantar!

O corte era profundo. A dor também. Minhas mãos trêmulas se apoiaram na nuca da menina. Não sabia se Eleonor seria capaz de me erguer, mas deixei toda minha confiança nela. Seguimos um percurso menos movimentado. Minha camisa estava agora ungida por um vermelho forte, chamaria muita atenção se alguém  me visse. Aproveitamos para nos esconder em escombros de algumas obras antigas que foram abandonadas.

Não queria ir para tia May, tinha medo dela ter um infarto ao me ver nesse estado.

Não queria ir para casa de El, não queria ser um fardo para eles.

Acima de tudo, não queria morrer. Esse não era meu momento. Tinha ainda muito tempo para viver, algo dentro de mim dizia isso.

—Vamos para a casa de seus pais. Acho que podem dar um jeito. -Elogiei, internamente, a bravura da menina. Sempre a admirei, mas nem tanto quanto o faço agora.

Já estava de tarde. Por que eu não poderia apenas desmaiar? Eu e El acabamos de chegar em minha casa. A campainha foi tocada e um homem moreno a atendeu, pasmo ao me ver.

—Deus! -Pai exclamou, puxando seus cabelos -O q-que aconteceu com meu filho? Minha nossa!

—Enoch foi esfaqueado e está perdendo muito sangue. Precisa de sua ajuda, por favor! -Eleonor suplicou, me segurando.

Meu pai foi esperto e cauteloso. Me carregou ao estilo noiva até seu laboratório sem que mamãe percebesse -ela surtaria. Sua camiseta já estava banhada pelo meu sangue.

—El, querida. -Ele a chamou, sua voz oscilante e frágil -Espere aqui, sim? Preciso ver que posso fazer para ele.

—Quero ajudar, sr. O'Connor -Rebateu -Me deixe ficar com vocês. -Meu pai não tinha muitas escolhas, foi o que aconteceu.

Entramos na sua sala preciosa, Eleonor encarando os equipamentos. Samuel retirou todos os objetos de cima da primeira mesa que achou e me colocou sobre ela.

—Me passe uma tesoura, por favor. -El o obedeceu. Samuel rasgou parte da minha camisa, revelando uma peculiar linha que tecia na minha pele. O machucado.

—Ele vai ficar bem? -Perguntou a garota, tristemente.

—Espero que sim. -Meu pai falou, respirando pesadamente e com a aura abatida. Ele apontou para algo brilhante, próximo a prancheta que anotava os nomes dos cadáveres -Agora, por favor. Pegue aquela seringa.

A seringa estava cheia de um líquido amarelado e viscoso. Eu estava com medo. Suspirei brevemente, esperando que aquela fosse a minha última respiração.

Olhei para El como se fosse a última vez que veria seu belo rosto.

Olhei para meu pai como se fosse meu último adeus.

Olhei para o nada como se ele fosse me envolver na escuridão.

Senti algo pontudo perfurando minha pele. Era uma agulha. O líquido fluia pelas minhas veias e a dor foi cessando. Depois disso, não me recordava mais de nada.

Apenas de ter nadado num paraíso negro.

—Ele está acordado? -Uma voz masculina ecoou na minha cabeça. Forcei meu corpo a levantar, mas logo fui parado pela mesma pessoa -Ei, garoto. Vamos com calma, certo?

—Acho que a resposta está bem na sua frente. -El respondeu com um sorriso fraco. A menina acariciava meus cabelos negros e minha bochecha -En? Você está bem?

Já tinha me esquecido da última vez que tentei pronunciar alguma palavra intelingível, mas resolvi tentar.

—S-sim. -Gaguejei -Acho que sim.

—Graças a Deus. -Samuel falou.

Meu pai me ajudou a levantar. Minha camisa ensanguentada havia sido substituída por outra. Na verdade, percebi que toda minha roupa fora trocada. Senti minhas orelhas arderem de tanta vergonha. Será que...

—Espere... Eleonor me viu, uh...-Não queria terminar a frase, seria incrivelmente constrangedor.

—N-não! -Protestou -Por que eu viria trocar sua roupa? -Corou. Me senti aliviado.

Sorri para os dois. Meus anjos da guarda. Pedi um minuto a sós com Eleonor e meu pai concedeu, sorrindo terrivelmente para mim, como quem dissesse "então essa é a minha nora?"

—Obrigado. -Sussurrei, ainda feliz pela sua ajuda -Acho que já estaria morto se você não me salvasse.

Ela olhou para baixo, abrindo um sorriso tímido.

—Não precisa agradecer, En. E vou fazer isso por você. Por nós dois.

Doeu.

Não por saber que ainda seríamos só amigos e sim, porque ela teria que namorar o canalha do Trevor. Por mim.

Completamente por minha causa.

—Eu vou estar ao seu lado para te apoiar, sempre. -Respondi, adquirindo uma expressão mais triste e inconformada.

Promete?

Prometo.


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