Rise escrita por Lua Chan


Capítulo 21
O último suspiro - parte I




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Aquilo não poderia ser real. Seria eu mesmo a 6° alma? Era esse o meu destino? Eu li e reli o papel, agora amassado, mais vezes do que eu poderia contar e mesmo assim a ficha não fazia o favor de cair.

— Enoch? O que aconteceu? - Horace pergunta, coçando a cabeça como quem tivesse acabado de acordar de um sono profundo.

— Vo... você não lembra do que aconteceu? - Minhas mãos trêmulas mal puderam segurar o caderno direito, por isso, o deixei repousando no sofá. Aproximei-me de Horace e segurei seus ombros, transtornado e afogado pelo medo.

— Calma! Não posso dizer nada se você não me ajudar.

Tomei distância dele novamente, respirando fundo e com mais paciência. Roubei de uma das almofadas a caderneta, abrindo na página dos nomes. Praticamente a enfiei em sua cara, apontando para o meu nome completo.

— Isso aconteceu! - As palavras tropeçavam da minha boca. Horace arregalou os olhos - Estas são as 6 almas. E este é meu nome. Você o escreveu!

— Tenho certeza que não fui eu. Isso não se parece com nada que teria feito. - O garoto ajustou o monóculo em seu olho direito e suspirou - E se por acaso foi, temo que minha peculiaridade teve algum defeito.

— Não importa. Tenho que salvá-los... - Falei tão baixo que nem sei como minha própria consciência pôde ouvir - É isso. Tenho que salvá-los!

— Enoch, você não pode mudar o que já é determinado pelo futuro.

— Que se dane o futuro! - Gritei, erguendo-me do sofá. Não poderia ficar parado - Se eu puder salvar ao menos uma pessoa...

— Enoch...

— Cale a porcaria da sua boca. Eu estou farto disso tudo! - Gritei, estressado ao extremo. Deixei o garoto falando sozinho e corri ao portão do orfanato, o coração já estava perfurando meu peito.

Ao chegar no gramado, quase engasguei ao não encontrá-los. Saí da mansão com cautela, esperando que Alma não me notasse. Só parei de andar apenas quando ouvi um barulho pelos arbustos, mas depois prossegui.

Tinha acabado de chegar na divisa que me levaria para o mundo dos normais, provavelmente para outro século. Não sabia ao certo quanto tempo eu teria, se ficasse por lá. Talvez minutos ou horas. Na pior das hipóteses, com poucos segundos eu me transformaria num velhote de barba branca. Após um suspiro irregular, tomei um passo a frente e encarei meu destino.

Uma onda de energia lançou-se grosseiramente contra meu corpo. Estava claro que eu tinha deixado minha fenda. Felizmente, não foi tão difícil encontrar os 5.

— Richard, você trouxe nossas coisas? - Ouvi Jasmine falando. Eu me escondia atrás de umas pedras para não chamar atenção.

— Sim. Nossos documentos e roupas estão aqui. - Na mesma hora o garoto respondeu, dando uma breve olhada em sua mochila.

Por um passe infalso, eu deixei meu caderno cair para longe de mim. Não sei se o pior de tudo foi o ruído que isso provocou ou por ter parado nos pés de Marie. A menina entortou as sobrancelhas e pegou o objeto com estranheza, passando as mãos no papel enrugado.

— Enoch. - Expeliu venenosamente - Ande, apareça!

Não disse nada, até segurei a respiração, mesmo sentindo que isso não iria funcionar.

— E não funcionou, O'Connor. - Marie replicou, lendo meus pensamentos. Praguejei pela minha falha e saí detrás das rochas. Todos estavam surpresos com minha vinda, mas sequer dei atenção.

— Incrível o quão rápido eu fui rebaixado a simplesmente "O'Connor". - Balbuciei, revirando os olhos. Victor empurrou Richard para longe e veio com fúria.

— O que pensa que está fazendo aqui, Enoch? Já disse para nos deixar!

— Sinto muito se eu me importo com vocês, Victor! - Revidei - Não posso deixar que se matem.

— Então vá embora. - Disse Richard - Você nos dará azar, será que ainda não percebeu?

Eu falaria algo a mais, só que parei assim que Caleb se curvou. Senti um arrepio no peito, lembrando da morte de Nigel.

— Qual é o problema, Ca? - Marie diz, correndo para perto de seu irmão. Caleb hiperventilava como se estivesse tendo um ataque cardíaco. Quando me aproximei dele, notei que seus braços estavam mais moles que o normal. Em seu rosto, algumas rugas se originaram.

— O processo de envelhecimento... está começando. - Concluí, nervoso.

— E por que não estamos envelhecendo também?

— Nossos organismos são diferentes, ora! - "Oh, Richard, não me diga", pensei, escolhendo deixar a pergunta no ar - Vamos levá-lo ao orfanato de novo. Ele pode morrer daqui a pouco!

— Então vamos logo.

Erguemos o garoto com uma certa dificuldade. Caleb cambaleava, mesmo com nossa ajuda. Procuramos ser mais ágeis, afinal, a vida de uma das "almas" estava em jogo.

Vimos uma velha e desgastada ponte de tijolos por perto. Os outros 5 resolveram atravessá-la sem relutância. Eu, por outro lado, fiquei pensando no sonho de Horace, no qual Morte esperava pelas 6 almas do outro lado. Respirei fundo e seguimos em frente. Tudo corria relativamente bem, até ouvimos barulhos semelhantes a ginchos agonizantes.

Não podíamos encontrar o que fazia tal ruído, o qual revirou meu estômago com tamanha facilidade. Mas é claro.

Isso é porque não podíamos vê-los.

—E-Etéreos! - Marie sussurrou. Pelas suas caretas, presumo que a garota conseguiu captar os sinais cerebrais de cada monstro. Apertamos o passo, não era algo novo para mim. Infelizmente, o pesadelo parecia estar se tornando realidade.

Richard foi o primeiro a atravessar a ponte. Depois seguiam Jasmine, Victor, Caleb, Marie e finalemente, eu. Os rugidos apenas aumentaram, era como se eles estivessem por toda a parte. Ah, como seria útil ter um Abraham Portman por aqui.

— Richard, cuidado! - Jasmine esperneou, quando percebeu que a ponte estava se desestruturando por causa dos etéreos.

Era tarde demais. A última coisa que vimos antes de completar a travessia foi o corpo de Richard Brown, atirado no rio que percorria por debaixo da ponte da Morte. Marie soltou um grito tão grave que quase chegou a abafar o dos monstros. Seu irmão a puxou, enquanto isso, eu fazia as anotações em minha cabeça.

Richard Brown ❌

— Temos que seguir, Marie. Seja forte, irmãzinha. - Caleb resistiu, acariciando, apressadamente, suas bochechas esburecidas.

A ponte nos arrancou uma alma. Apesar disso, tive uma pontada de esperança no peito, algo que durou por pouquíssimos minutos. Um outro etéreo puxou Jasmine pelas pernas e a arrastou até uma árvore. Procuramos atirar pedras no que parecia ser o monstro, mas não obtivemos ótimos resultados.

Victor, um dos mais insatisfeitos com a visão, resolveu partir para cima do etéreo, que agora possuía algumas manchas de lama e pólvora. O garoto foi lançado para longe, chocando a cabeça contra uma pedra. Os únicos movimentos que ele fazia eram oriundos de sua fraca respiração. Ainda estava vivo, mas não pude dizer o mesmo de Jas.

Jasmine Truman ❌

— Enoch, carregue Victor! - Marie rugiu. Ela segurava seu irmão pelo braço direito. Fiz o que pediu e corremos até os portões do orfanato. Já estava copiando os passos de Marie, estava praticamente chegando na casa, mas um peso enorme se colocou por cima das minhas costas.

Gritei de dor. No momento, cerca de dois ou três arranhões se estendiam na minha pele. Marie clamou pelo meu nome, o mesmo fez seu irmão. Não esperava que nada mais acontecesse, a não ser minha fatídica morte.

Os rugidos cresceram e dominaram o local, ao ponto de somente ouvir a estes. Cerrei os olhos, era o melhor a se fazer agora. Torci para que Marie e Caleb pudessem ter chegado à srta. Peregrine em paz, que desse tudo certo. Mais uma vez, estava estupidamente errado. Eu ouvia barulhos vindos de Marie e de seu irmão, era como se eles tentassem despistar os monstros. Lutei para falar algo, mas nenhuma palavra veio para fora.

A dor voltou. Não sabia se um etéreo teria mordido meu tornozelo ou se eram ainda os arranhões que me incomodavam. Meus olhos pesaram, minha respiração se desestruturou. Meu coração estava oco, mal pude ouvir seus batimentos. Fiz o favor de criar minha própria conclusão.

Enoch Shepherd O'Connor ❌


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Notas finais do capítulo

Hello there! Desculpa pela demora. Bem, como perceberam, esse capítulo será dividido em duas partes. A próxima provavelmente terá menos palavras por questão de organização de ideias. Espero que estejam gostando ^^' Até loguinho, folks.

xoxo



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