Rise escrita por Lua Chan


Capítulo 14
Acontecimentos peculiares




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/715994/chapter/14

Fiquei um bom tempo no orfanato da srta. Jay. Me senti mais livre por aqui, conhecendo pessoas como eu: julgadas pela sociedade por serem diferentes, os peculiares.

Falando em peculiares, comecei a namorar a Marie. Tinha que admitir, sempre sentia um peso nas costas quando me lembrava da El, ela foi meu primeiro amor e ainda sentia sua falta, mas agora com pouca intensidade. A garota raramente aparecia nos meus sonhos ou pesadelos, tudo era calmo demais. Minha vida ficou calma demais.

Até hoje, o dia em que tudo mudou novamente.

— O que planeja fazer agora, Enoch? - Marie enganchava os dedos em seus cabelos volumosos. Sua cabeça descansava em meu peito, sentia sua respiração quente acompanhar a minha.

— Que tal ficar perto de você? - Sugeri, sorrindo como um idiota.

— Já está perto de mim, monstrinho. - Retrucou, usando o apelido que me dera ano passado.

— Você sabe o que eu estou dizendo, Marie. - Falei, com um tom maior de seriedade - E se ficarmos assim para sempre?

A garota engasgou. Seus olhos se voltaram para mim com espanto. Esperei alguma resposta, que por sinal, demorou a ser dita.

— Enoch, você não estaria...? -Não pôde terminar a frase, suas mãos tremiam. Não consegui ver nela o sorriso que tanto desejava.

Sem jeito, fiquei de joelhos em sua frente, fitando seus olhos marejados. Segurei, delicadamente, uma de suas mãos - estava gelada, me assustei.

— Marie... há muito tempo nos conhecemos. Você tem sido uma pessoa excepcional em minha vida. Desde o dia em que cheguei no orfanato, você cuidou de mim, se ofereceu a me ajudar a esquecer da morte de Eleonor, o que não foi uma tarefa fácil. - Suspirei, olhando para baixo, desta vez -Desde então, tenho uma admiração completa por você. Quero poder estar ao seu lado para todo sempre, algo que não pude fazer antes...

— Enoch...

— Marie Wander, você aceita se casar comigo?

A resposta demorou. Fiquei nervoso, envergonhado de receber um "não". Antes que Marie pudesse falar, um ruído foi gerado pela casa, acompanhado por um tremor que se assemelhava a um terremoto.

— O que está acontecendo? - Gritei. Caleb invadiu o quarto, extasiado, seus olhos se arregalaram de uma forma assustadora.

— São eles! - Berrou, sua voz já rouca e desgastada - Os monstros estão nos atacando, fujam!

Me virei para Marie, ela fez o mesmo, roçando os dedos nos lábios como quem estivesse confusa. Desejei que nada tivesse acontecido, que eu não tivesse pedido a mão dela, de não ter passado por esse vexame. Corremos para a porta, eu a deixei passar primeiro.

De longe, mais barulhos de bombas foram emitidos do lado de fora do orfanato. Gostaria de ter Nigel conosco nesse momento, ele seria útil.

— Crianças, se escondam! - Pearl alarmou, mal a reconheci dessa forma, a imagem da mulher serene, rígida e séria havia se desmanchado - Não sabemos quantos etéreos estão nos atacando, mas tomem cuidado de qualquer forma! - De repente, uma mão fria se apoia na minha, a de Marie. Olhei para seus olhos cheios de tristeza e medo, sabia que gostaria de fazer algo por todos nós.

— Senhorita, acho que posso ajudar. - Marie afirmou. Seu irm ão pôs-se em sua frente, numa tentativa de protegê-la contra alguma ameaça invisível.

— Irmã, não seja tola. - Rugiu - Isso não é um maldito jogo de cartas!

Um grupo de meninas, junto a três garotos se posicionaram a favor de Caleb, todos dizendo que qualquer passo a tomar seria arriscado. Por mais que meu coração implorasse para ela não fazer nada, senti uma pontada de culpa.

— Por que não deixamos Marie falar? - Ela sussurrou um "obrigada" e se voltou a todos.

— Posso tentar ler a mente dos etéreos, saberemos quantos deles estão no jardim. Quanto aos soldados... - Piscou os olhos, sua boca formando uma linha curva - Não tenho forças para ler tantas cabeças. Enquanto isso, vocês trancam todas as portas e possíveis aberturas.

— Acho que podemos seguir esse plano. - Jasmine suspirou, olhando para uma das janelas, quebradas devido o impacto de uma bomba.

Não segui os outros, como sugerido, Marie me pediu para ficar ao seu lado. Eu a apoiei, segurei sua mão como se fosse a última vez que eu fosse vê-l a. Olhei para seu rosto delicado, com a intensão de marcá-lo de tantos beijos. E se eu a perdesse também?

Concentre-se, Enoch.

Uma voz no meu interior murmurou, mas não era a minha, e sim, a de Eleonor Jones. Ouví-la me fez sentir cócegas no estômago, sorri como uma criança numa loja de brinquedos; Marie me encarava com dúvidas.

— Vou precisar me concentrar, Enoch. - Disse - Será que poderia vigiar a porta pra mim? - Assenti com a cabeça, mesmo sem deixá-la sozinha no lugar.

Antes de sair, estudei as expressões faciais da garota, eram sempre caretas. Mesmo relutante, obedeci às suas ordens.

...

— Quais são nossas chances, Richard? - Srta. Jay perguntou para um de seus pupilos. Richard Brown, a criança prodígio e a mais inteligente dos peculiares (se não, de todas as pessoas), fitou seu relógio de pulso como se este fosse dar os resultados que tanto queria. A esse ponto, Marie conseguiu rastrear 12 dos monstros no jardim.

— Querem uma resposta honesta? - Todos, inclusive eu, assentiram com medo - Bom... temos cerca de 40,8% de chances de sermos devorados pelos etéreos; 28,7% de sermos mortos pelos soldados; 19,2% do orfanato ser destruído por bombas. Isso nos dá exatamente 11,3% de chances de sobrevivência.

Ninguém ousou dizer nada, Richard nunca errava nos cálculos, eles eram espécies de premonições. Olhei para Marie e beijei seus cabelos, posicionando meu queixo no topo de sua cabeça.

— Tudo bem, faremos o seguinte. - A mulher começou - Formaremos grupos de 4 à 5 pes... cof! cof!—Pearl parou para tossir, algo que, na verdade, todos fizeram. Algo saía pelas aberturas das janelas que me fez sentir uma dor no peito - o que, pela Ave, é isso?

A resposta foi logo obtida. Uma bomba de gás foi lançada pela chaminé da residência, fazendo-nos arquear para tossir. Meus pulmões se encheram de ardor, como se estivesse engolindo ácido.

— O que cof! cof! é isso, senhorita?! - Eugine, outro pupilo, perguntou para nossa mentora. O menino se contorcia no chão, tentando despistar o cheiro das narinas.

— Isso é gás mostarda! - Richard respondeu por ela - Nós seremos aniquilados em poucos segundos, se não saírmos daqui!

Foi difícil pronunciar mais palavras, mas pude ouvir Pearl sussurrar para irmos ao porão. Procuramos por um piso falso, o lugar onde teria uma portinha para os fundos que nunca chegamos a ir. A srta. Jay julgava ser um lugar perigoso demais para simples garotos como nós.

Descemos as escadas, alguns segurando os corpos de outros -para o nosso azar, 2 peculiares nos deixaram, por não resistirem ao gás. -Vendo um portão azulado, semelhante a uma porta de madeira, Pearl ordenou que todos fizessem um círculo ao redor da figura. Mesmo sem entender, fizemos o que pediu.

— Crianças, foi um enorme prazer ser sua tutora legítima, mas temo que não tenha condições de progredir com meu dever de cuidar de vocês. - Pearl falou, seus cabelos pareciam mais esvoaçantes do que em qualquer momento que já viveu - Não mais.

— Do que está falando, Srta. Jay? - Arrisquei-me, apoiando o corpo ainda vivo de Marie no meu ombro.

— Meus peculiares, a partir de hoje, essa fenda estará oficialmente fechada.

— O quê?! - Todos dali gritavam, meu coração sentiu uma pontada de dor ao ouvir a frase.

O quarto se encheu de mais dúvidas e vozes desesperadas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tam taaaaam.

FELIZ ANO NOVO, PESSOAS! ♡ >< ^-^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rise" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.