Rise escrita por Lua Chan


Capítulo 13
Adeus, velho amigo




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Ela me beijou. Eu a beijei. Fitei seu rosto gracioso e me perdi em seus olhos. Elevei minha cabeça do seu colo e segurei suas bochechas rosadas. Eu pressionei seus lábios contra os meus novamente, como se tivesse esquecido de tudo. Como se olhar para ela, sentir sua presença me fizesse esquecer do meu passado, das minhas preocupações.

Um ruído foi ouvido por ambos do lado de fora da porta, mas não me importei. Bem...

...eu deveria.

—Marie, eu só queria... -Era Caleb, o irmão da garota. O cara que não simpatizava comigo. Ele nos assistia, enquanto abria a porta do quarto -O que deveria ser isso?!

Nos apartamos, tentando fazer com que nada tivesse realmente acontecido. Meu rosto ficou rubro, o dela também. Olhei para baixo, evitando contato visual com Caleb.

—O que você pensa que está fazendo com a minha irmã, seu canalha?! -Ele gritou, se dirigindo à mim, usando sua habilidade.

—Dor... - O garoto sussurrou, bastavam pequeninas palavras serem pronunciadas para que meu corpo inteiro se contorcesse.

Era assim que funcionava sua peculiaridade: controle emocional.

Minha cabeça flamejava, eu coloquei minhas mãos nela, ele tinha controle sobre mim agora.

—Caleb, pare! -Marie suplicou, quase batendo em seu irmão.

—Ele só quer se aproveitar de você, Marie! Não percebe? -Rebateu, intensificando a sensação de formigamento. Agora, todo o meu corpo sentia o choque.

—Não, ele tem boas intenções, Caleb! Por que seu ciúme é maior que você? Pare com isso, eu não preciso de sua proteção!

Eu quase não ouvia suas palavras. Meus ouvidos zuniam.

—Não importa. Não vou te perder que nem nossos pais. -Lágrimas escorriam pelas suas bochechas, vermelhas de tanta raiva.

Observei enquanto Marie chegava perto dele. Ela pôs sua mão no ombro do garoto. Os olhos do menino estavam paralisados e voltados para ela, como se o hipnotizasse. Caleb desistiu de mim e abraçou Marie, enterrando o rosto nos seus ombros pálidos.

Aliviei meu corpo, jogando-me ao chão. O baque chamou a atenção de ambos que correram para minha direção.

—Me desculpe, Enoch. -Caleb se arrependeu, curvando as sobrancelhas. Eu, honestamente, merecia aquilo, mas não me aproveitava de Marie. Meu coração apenas bateu mais forte quando ela estava perto de mim.

—Sem problemas. -Ele me ajudou a levantar.

—Sabemos como é perder alguém, mas você não precisa se isolar ou ficar se culpando. -Caleb sussurrou -Você tem a nós.

Ele estendeu a mão. A fitei, antes de qualquer coisa, mas fiz o que parecia ser certo. Apertei sua mão, mostrando um sorriso confiante.

Era o enterro de Nigel. Não fazíamos isso normalmente, faz muito tempo que um peculiar morreu em nossas terras. Srta. Jay preparava o corpo, enfeitando o garoto com flores e passando gel em seus cabelos emaranhados, até parecia que estava num profundo sono. Decidi não olhar pra ele, na esperança de ter outro surto como hoje mais cedo.

Pearl exprimia algumas palavras no ouvido de Nigel em sua língua nativa. Era como se, por meio dela, eles conseguissem se comunicar, mesmo o menino estando morto.

—Que a morte seja apenas uma passagem de tempo, meu querido. -Falou, dessa vez em inglês -Que você encontre a paz em Abaton -Nossa mentora beijou sua testa alisou seus cabelos.

Era a minha vez. Decidi ser o último a pronunciar algo, doeria menos.

—Você foi o meu refúgio depois que eu perdi a El. Foi o meu melhor amigo, o meu irmão. Me dói dizer isso, mas espero que possa ser feliz seja lá onde estiver. -Sorri fracamente, era melhor do que chorar.

Peguei um dos meus humúnculos -passei a apelidar meus bonecos dessa forma -e o pressionei contra o corpo de Nigel, deixando-o sobre seu blazer negro.

—Enoch, não precisa fazer isso... -A srta. Jay me deu um olhar triste, mas eu a ignorei completamente, ainda olhando para o boneco e para o morto.

—Esse é meu melhor soldado. Eu costumava chamá-lo de El, creio que já saiba do porquê... -Ri, "falando" com o menino -Quero que fique com ele. El irá te proteger, mesmo que você esteja, bem... enterrado. Ele é um ótimo companheiro, sempre foi para mim. Agora, ele é seu.

Olhei para o boneco que significava tudo para mim. O boneco que Eleonor Jones me deu de presente de aniversário -me perguntava como ainda não o perdi. El era tão desajeitado quanto a primeira vez que o vi.

Me fez lembrar dela, rapidamente. Sussurrei um "adeus" para Nigel, sabendo que isso seria para sempre e então...

Eu chorei, feito um garotinho perdido e desjeitoso. Os braços da srta. Jay enlaçavam meu corpo trêmulo, até que Nigel se foi completamente das nossas vidas.

Depois das despedidas, seu corpo foi coberto pela terra escura e umidecida.

— Adeus, velho amigo. - Sussurrei entre os soluços - Sentirei sua falta.


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